Jesus carregando a cruz a
caminho da sua crucificação é um episódio da vida de Jesus relatado nos quatro
evangelhos canônicos e um tema muito comum na arte cristã, especialmente nas
catorze estações da cruz, conjuntos que atualmente se encontram em praticamente
todas as igrejas católicas. Porém, o tema aparece também em outros contextos,
incluindo obras singulares e ciclos da vida de Cristo ou da Paixão de Cristo.
Outros nomes são Procissão ao Calvário e Caminho do Calvário, sendo que
Calvário ou Gólgota se referem ao local da crucificação, fora de Jerusalém. A
verdadeira rota seguida é comumente chamada de Via Dolorosa em Jerusalém,
embora o caminho específico tenha variado ao longo dos séculos e continue sendo
tema de debates.
NARRATIVA BÍBLICA
O episódio é mencionado, sem
muitos detalhes, nos quatro evangelhos canônicos: Mateus 27:31-33, Marcos
15:20-22, Lucas 23:26-32 e João 19:16-18. Com exceção de João, todos incluem
Simão Cireneu, que foi recrutado pelos soldados romanos para ajudar a carregar
a cruz. Acadêmicos modernos, baseando-se em descrições de criminosos carregando
a trave horizontal da cruz feitas por Plauto e Plutarco, geralmente interpretam
a descrição evangélico como relatando que Jesus - e depois Simão - carregou
apenas o pesado patíbulo, a trave horizontal, até um poste (stipes), que ficava permanentemente
fincado na terra no Gólgota. Porém, na iconografia cristã de Jesus e Simão,
eles aparecem geralmente carregando a cruz completa.
Apenas Lucas menciona as "mulheres
de Jerusalém", cujo número foi depois, nas obras patrísticas e na arte
cristã, expandido para incluir as Três Marias e a Virgem Maria. Este encontro é
geralmente localizado nos portões da cidade, como na maioria das pinturas, que
também as mostram seguindo Jesus e este virando para falar com elas. Outros
episódios foram elaborados posteriormente, com o véu de Verônica aparecendo a
partir do século XIII, e as quedas de Cristo, eventualmente três, aparecendo
primeiro no final da Idade Média. Lucas menciona que os dois ladrões estavam
também no grupo seguindo para o Gólgota, mas não diz se eles tiveram também que
carregar suas cruzes e, embora seja fácil identificá-los nas representações
artísticas, suas cruzes são muito raramente representadas. Algumas obras, como
Il Spasimo de Rafael, a Procissão ao Calvário, de Pieter Bruegel, o Velho (em
Viena), e a obra de Jacopo Bassano em Londres, mostram as duas cruzes dos
ladrões já montadas no local da execução ao fundo distante.
É também importante o verso Mateus
16:24, no qual São Francisco de Assis baseou a sua primeira regra monástica, de
1221: "Então disse Jesus a seus
discípulos: se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e
siga-me." São Francisco também costumava ser levado com uma corda à
volta do pescoço como um exercício de penitência, a corda sendo um detalhe
adicionado a muitas representações de duas passagens do Antigo Testamento: “Ele foi oprimido, contudo humilhou-se a si
mesmo, e não abriu a boca. Como o cordeiro que é levado ao matadouro, e como a
ovelha que é muda diante dos que a tosquiam; assim não abriu ele a boca.”
(Isaías 53:7) e “Mas eu era como um
manso cordeiro que é levado ao matadouro.” (Jeremias 11:19), ambos muito
citados nos comentários medievais. Na tipologia medieval, Isaac carregando a
madeira para o seu sacrifício é o paralelo mais comum para o episódio,
geralmente mostrado como uma cena complementar.
REFERÊNCIAS DEVOCIONAIS
A mais elaborada e tradicional
referência ao episódio aparece nas chamadas "Estações da cruz", onde
o evento está dividido em diversos incidentes que dão conta da maior parte das
representações esculturais:
O episódio de Jesus levando a
cruz é um dos Mistérios Dolorosos do Santo Rosário e o encontro com Maria é uma
das Sete Dores da Virgem. O Caminho do Calvário ainda é reapresentado em
diversas procissões anuais na Sexta-feira Santa em países católicos, algumas
das quais incluem atores representando os principais personagens e uma cruz. Na
Via Dolorosa propriamente dita, este tipo de evento ocorre o ano inteiro.- Pilatos condena Jesus
- Jesus recebe a cruz
- Primeira queda de Jesus
- Jesus encontra com sua Mãe
- Simão Cireneu ajuda Jesus a carregar a cruz
- Verônica enxuga o rosto de Jesus
- Segunda queda de Jesus
- Jesus se encontra com as mulheres de Jerusalém
- Terceira queda
- Jesus é despojado de suas vestes
- Jesus é pregado na cruz
- Jesus morre na cruz
- Jesus é descido da cruz
- Jesus é colocado no sepulcro
- Jesus vence a morte