Obras póstumas - Parte 2.I

Previsões concernentes ao espiritismo

Minha primeira iniciação no espiritismo

A minha primeira iniciação no Espiritismo Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi falar das mesas girantes. Encontrei um dia o magnetizador, Sr. Fortier, a quem eu conhecia desde muito tempo e que me disse: “Já sabe da singular propriedade que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem e caminhem à vontade.” “É, com efeito, muito singular” — respondi —; “mas, a rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e fazer que eles se movam.” Os relatos, que os jornais publicaram, de experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades, não permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.

Algum tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: “Temos uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova, magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde.” “Isto agora” — repliquei-lhe —, “é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um conto para fazer-nos dormir em pé”.

Era lógico este raciocínio: eu concebia o movimento por efeito de uma força mecânica, mas, ignorando a causa e a lei do fenômeno, afigurava-se-me absurdo atribuir-se inteligência a uma coisa puramente material. Achava-me na posição dos incrédulos atuais, que negam porque apenas veem um fato que não compreendem. Há 50 anos, se a alguém dissessem, pura e simplesmente, que se podia transmitir um despacho telegráfico a 500 léguas e receber a resposta dentro de uma hora, esse alguém se riria e não teriam faltado excelentes razões científicas para provar que semelhante coisa era materialmente impossível. Hoje, quando já se conhece a lei da eletricidade, isso a ninguém espanta, nem sequer ao camponês. O mesmo se dá com todos os fenômenos espíritas. Para quem quer que não conheça a lei que os rege, eles parecem sobrenaturais, maravilhosos e, por conseguinte, impossíveis e ridículos. Uma vez conhecida a lei, desaparece a maravilha, o fato deixa de ter o que repugne à razão, porque se prende à possibilidade de ele produzir-se.

Obras póstumas - Parte 2.II

Futuro do Espiritismo

O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às Leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar. Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo, aos quais alguns homens foram levados pelos incessantes abusos dos que se dizem ministros de Deus, pregam a caridade com uma espada em cada mão, sacrificam às suas ambições e ao espírito de dominação os mais sagrados direitos da Humanidade. Um Espírito

10 de junho de 1860

(Em minha casa; médium: Sra. Schmidt)

Minha volta

Pergunta (à Verdade) – Acabo de receber de Marselha uma carta em que se me diz que, no seminário dessa cidade, estão estudando seriamente o Espiritismo e O livro dos espíritos. Que se deve augurar desse fato? Será que o clero toma a coisa a peito?

Resposta – Não podes duvidar disso. Ele a toma muito a peito, porque lhe prevê as consequências e grandes são as suas apreensões. Principalmente a parte esclarecida do clero estuda o Espiritismo mais do que o supões; não creias, porém, que seja por simpatia; ao contrário, é à procura de meios para combatê-lo e eu te asseguro que rude será a guerra que lhe fará. Não te incomodes; continua a obrar com prudência e circunspeção; tem-te em guarda contra as ciladas que te armarão; evita cuidadosamente em tuas palavras e nos teus escritos tudo o que possa fornecer armas contra ti.

Prossegue em teu caminho sem temor; ele está juncado de espinhos, mas eu te afirmo que terás grandes satisfações, antes de voltares para junto de nós “por um pouco”.

Obras póstumas - Parte 2.III

A Constituição do Espiritismo, Allan Kardec a inseriu na Revista de dezembro de 1868, mas sem os comentários que lhe acrescentou antes de morrer e que reproduzimos textualmente. A morte corpórea o deteve, quando se preparava para formular os Princípios fundamentais da Doutrina Espírita reconhecidos como verdades definitivas, o que os nossos leitores certamente lamentarão, como nós, porquanto esses princípios teriam completado aquela Constituição por meio de apreciações lógicas e judiciosas. É o último manuscrito do mestre e nós o lemos com profundo respeito.

Constituição do Espiritismo

Exposição de motivos

I – Considerações preliminares

O Espiritismo teve, como todas as coisas, o seu período de gestação e, enquanto todas as questões, principais e acessórias, que dele derivam não se acharem resolvidas, somente pode dar resultados incompletos. Entreviu-se-lhe a finalidade, pressentiram-se-lhe as consequências, mas apenas de modo vago. Da incerteza sobre pontos ainda não determinados haviam forçosamente de nascer divergências sobre a maneira de os considerar; a unificação tinha que ser obra do tempo e se efetuou gradualmente à medida que os princípios se foram elucidando. Unicamente quando tiver desenvolvido todas as partes em que se desdobra é que a Doutrina formará um todo harmônico e só então se poderá julgar do que é o Espiritismo.

Enquanto ele não passava de uma opinião filosófica, não podia contar, da parte de seus adeptos, senão com a simpatia natural que a comunhão de ideias produz; nenhum laço sério podia existir entre eles, por falta de um programa claramente traçado. Esta, evidentemente, a causa fundamental da débil coesão e da instabilidade dos grupos e sociedades que logo se formaram. Por isso mesmo, constantemente procuramos, e com todas as nossas forças, afastar os espíritas do propósito de fundarem prematuramente qualquer instituição especial com base na Doutrina, antes que esta assentasse em alicerces sólidos. Fora exporem-se a fracassos inevitáveis, cujo efeito teria sido desastroso, pela impressão que produziriam no público e pelo desânimo em que lançariam os adeptos. Semelhantes fracassos talvez retardassem de um século o progresso definitivo da Doutrina, a cuja impotência se imputaria um insucesso devido, na realidade, à imprevidência. Por não saberem esperar, a fim de chegarem no momento exato, os muito apressados e os impacientes, em todos os tempos, hão comprometido as melhores causas. (24)

Obras póstumas - Parte 2.IV

CREDO ESPÍRITA

Preâmbulo

Os males da Humanidade provêm da imperfeição dos homens; pelos seus vícios é que eles se prejudicam uns aos outros. Enquanto forem viciosos, serão infelizes, porque a luta dos interesses gerará constantes misérias.

Sem dúvida, boas leis contribuem para melhorar o estado social, mas são impotentes para tornar venturosa a Humanidade, porque mais não fazem do que comprimir as paixões ruins, sem as eliminar. Em segundo lugar, porque são mais repressivas do que moralizadoras e só reprimem os mais salientes atos maus, sem lhes destruir as causas. Aliás, a bondade das leis guarda relação com a bondade dos homens; enquanto estes se conservarem dominados pelo orgulho e pelo egoísmo, farão leis em benefício de suas ambições pessoais. A lei civil apenas modifica a superfície; somente a lei moral pode penetrar o foro íntimo da consciência e reformá-lo.

Reconhecido, pois, que o atrito oriundo do contato dos vícios é que faz infortunados os homens, o único remédio para seus males está em se melhorarem eles moralmente. Uma vez que nas imperfeições se encontra a causa dos males, a felicidade aumentará na proporção em que as imperfeições diminuírem.

Por melhor que seja uma instituição social, sendo maus os homens, eles a falsearão e lhe desfigurarão o espírito para a explorarem em proveito próprio. Quando os homens forem bons, organizarão boas instituições, que serão duráveis, porque todos terão interesse em conservá-las.

Lei dos fenômenos espíritas

DOS ESPÍRITOS

1. O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática, consiste nas relações que se podem estabelecer com os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que decorrem dessas relações.

2. Os Espíritos não são, como frequentemente se imagina, seres à parte na criação; são as almas daqueles que viveram sobre a Terra ou em outros mundos. As almas ou Espíritos são, pois, uma única e mesma coisa; de onde se segue que quem crê na existência da alma crê, por isso mesmo, na dos Espíritos. Negar os Espíritos seria negar a alma.


3. Geralmente, se faz uma ideia muito falsa do estado dos Espíritos; eles não são, como alguns o creem, seres vagos e indefinidos, nem chamas como os fogos fátuos, nem fantasmas como nos contos de assombração. São seres semelhantes a nós, tendo um corpo igual ao nosso, mas fluídico e invisível no estado normal.

Morte súbita

Perguntas/Respostas:

Vamos responder a esta questão com o conteúdo da questão 851 de “O Livro dos Espíritos”, que nos diz assim: “A fatalidade existe unicamente pela escolha que o espírito fez, ao encarnar, desta ou daquela prova para sofrer. (…) Falo das provas físicas, pois pelo que toca as provas morais e as tentações o espírito, conservando o livre arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre senhor de ceder ou resistir.”

Os desencarnes coletivos são resgates?

É certo que a Providência Divina reúne, por força das necessidades das criaturas, estas mesmas criaturas em torno de circunstâncias que promovem o desencarne coletivo. Lembrando que o acaso não existe, nos reportemos à questão 737 de “O Livro dos Espíritos”, onde os espíritos nos dizem que Deus fere a humanidade por meio de flagelos destruidores para fazê-la progredir mais depressa.


Qual a situação do espírito no caso da morte súbita. O desligamento do corpo físico também é súbito?

Para responder essa questão temos que entender que a condição evolutiva do espírito desencarnante faz com que este tenha um entendimento mais amplo ou não, que possa avaliar as suas condições no momento do passamento. Existem inúmeros relatos de espíritos que, diante da morte súbita, sequer se dão conta do acontecer e de outros tantos que tomam conhecimento do fato por si mesmos e com o auxílio de amigos espirituais que o antecederam ao fenômeno da morte e o recebem no plano espiritual. Quanto ao desligamento do perispírito, estes laços também serão cortados de forma súbita e para alguns mesmo de forma dolorosa. É como se o próprio corpo físico expulsasse o corpo espiritual e, consequentemente, o espírito.

Romances espíritas

A Doutrina Espírita teve seu início em 18 de abril de 1857 com o lançamento, em Paris, de O Livro dos Espíritos, obra filosófica dessa doutrina e que apresenta os seus postulados.

Os livros básicos que estudam a proposta da Doutrina Espírita são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

No Brasil, sob a psicografia do médium Francisco Cândido Xavier, vieram à lume mais de 400 obras espíritas, a partir de 1932, com assuntos científicos, filosóficos, mensagens evangélicas, contos, poemas, romances etc.

No entanto, muito antes da consagração do médium Chico Xavier, o Espiritismo surgia no Brasil com obras romanescas traduzidas, juntamente com as obras básicas de Allan Kardec.

Tem-se notado uma grande preocupação por parte de alguns Espíritas em relação à literatura romanesca. Percebe-se a crescente atenção do mercado livreiro nessa modalidade, que nem sempre se importa com a qualidade doutrinária dos enredos. Há um receio de que com o interesse comercial pela publicação dessas obras, percam seu objetivo de produtoras de conhecimento espírita para se reduzirem a divulgação rápida de ideias superficiais.

Jejum

MATEUS: capítulo 6o, versículo 16. Quando jejuardes, não vos ponhais tristes como os hipócritas, que desfiguram o semblante para que os homens vejam que eles estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. — 17. Vós, quando jejuardes, perfumai a cabeça e lavai o rosto, — 18, a fim de que o vosso jejum não seja visível aos olhos dos homens e sim aos do vosso Pai, que tem presente a si o que haja de mais secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará.


Compreende-se, é mesmo justo, louvável, meritório que nos privemos de alimentos, que restrinjamos a nossa alimentação ao estritamente necessário, para socorrermos o nosso irmão a quem falte o indispensável; porém, que enfraqueçamos o nosso corpo, deixando de alimentá-lo, em obediência a um preceito supostamente religioso, é simplesmente absurdo. Semelhante preceito só se concebe como obra de fanatismo, como imaginado por obscurantistas, que cifram toda a religião na observância de um formalismo absolutamente estéril. Quando mesmo se pudesse admitir que tais privações ritualísticas fossem do agrado de Deus, certo não o seriam, desde que praticadas publicamente, com ostentação.

Predição de Jesus. Sua fama

MATEUS: capítulo 4o, versículo 23. E Jesus percorria toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino, curando todos os males  e enfermidades do povo. — 24. Sua fama se espalhou por toda a Síria, à sua presença foram trazidos os que se achavam doentes e atormentados por dores e males diversos: — possessos, lunáticos, paralíticos — e ele os curou. — 25. Acompanhava-o grande multidão de gente da Galiléia, de Decápolis, de Jerusalém, da Judéia e de além Jordão.


MARCOS: capítulo 1o, versículo 21. Vieram em seguida a Cafarnaum onde, entrando na sinagoga aos sábados, Jesus os instruía. — 22. Todos se admiravam da sua doutrina, por isso que Ele os Instruía como tendo autoridade para fazê-lo e não como os escribas. 23. — Ora, sucedeu achar-se na sinagoga um homem possuído de um espírito impuro, que exclamou: — 24. Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei quem és: és o santo de Deus. — 25. Jesus, em tom de ameaça, disse-lhe: Cala-te e sai desse homem. — 26. Logo o Espírito impuro, agitando-o em convulsões violentas e soltando um grito estridente, saiu do homem. — 27. Tão grande assombro se apoderou de todos, que uns aos outros perguntavam: Que é isto, que nova doutrina é esta? Ele manda com império mesmo nos Espíritos Impuros e estes lhe obedecem. — 28. Sua fama se espalhou assim, rapidamente, por toda a Galiléia.

Morremos antes da hora?

Muitas vezes nos referimos a morte de uma pessoa como “tendo chegado a hora”, ou ainda “ninguém morre antes da hora”.

Daí a pergunta que muitos fazem: temos pré-determinada a hora de nossa morte? Ninguém morre antes da hora determinada?

Dentro da visão espírita, temos que analisar dois aspectos importantes quando do nascimento (reencarnação) de um ser humano.

O primeiro aspecto é o potencial genético do corpo formado, resultante da fusão de óvulo e espermatozoide, que determinam a formação de um corpo com determinados potenciais e determinadas limitações.

O segundo aspecto é o potencial energético do perispírito, pois este último promove a ligação do espírito com o corpo físico, arrastando para esse corpo energias positivas e/ou negativas, de acordo com as suas características evolutivas específicas. Essas energias provocam alterações nos potenciais genéticos e de funcionamento do corpo físico.

Da interação entre esses dois aspectos no complexo humano (corpo+perispírito+espírito), temos, teoricamente, estabelecido um potencial de vitalidade ou de energia vital que, em tese, determina um potencial máximo de vida para aquele organismo, ou se quiser simplificar, um tempo máximo de vida orgânica.

Jesus no templo entre os doutores

LUCAS: capítulo 2, versículo 41.  Seus pais iam todos os anos a Jerusalém pela festa da Páscoa.  42. Quando ele tinha a idade de doze anos, lá foram, como costumavam, no tempo da festa.  43. Passados os dias desta, regressaram, mas o menino Jesus ficou em Jerusalém, sem que eles dessem por isso.  44. Pensando que o menino estivesse entre os que os acompanhavam, caminharam durante um dia e o procuraram no meio dos parentes e conhecidos.  45, Não o achando, voltaram a Jerusalém, para procurá-lo aí.  46.Três dias depois o encontraram no templo, sentado entre os doutores, ouvindo-os e Interrogando-os.  47. Todos os que o ouviam ficavam surpreendidos da sua sabedoria e das suas respostas.  48. Vendo-o, seus pais se encheram de espanto e sua mãe lhe disse: “Meu filho, por que procedeste assim conosco? Aqui estamos teu pai e eu que aflitos te procurávamos.”  49. Jesus lhes disse: “Por que me procuráveis? Não sabeis ser preciso que me ocupe com o que respeita ao serviço de meu Pai?”  50. José e Maria, porém, não compreenderam o que ele lhes dizia.  51. E Jesus partiu em seguida com ambos e veio para Nazaré; e lhes era submisso. Sua mãe guardava no coração todas estas palavras.  52. E Jesus crescia em sabedoria, em idade e em graça diante de Deus e diante dos homens. (11)


Com relação ao tempo decorrido desde que a sagrada Família regressou do Egito, até o momento em que Jesus reapareceu, entre os homens, período esse a cujo respeito guardam as Escrituras completo silêncio, não nos é dado saber o que fez, nem como viveu o Filho do Homem. Sabe-se tão-somente que, após aquele regresso, ele, já na idade de 12 anos, foi visto a discorrer no templo, entre os doutores da lei, assombrando os anciães de Israel com a inteligência esplendorosa e a madureza de juízo que revelava em tão tenros anos, segundo refere LUCAS (capítulo 2, versículo 47). Já era tal, com efeito, o seu saber, que os judeus, admirados, perguntavam como o possuía ele, sem jamais haver estudado (JOÃO, capítulo 7, versículo 15). E que todos, em geral, o supunham aplicado ao ofício de carpinteiro, na oficina de seu pai.

Concepção e gravidez de Maria

1. Sucedeu que, por aqueles dias, se publicou um edito de César Augusto, para o recenseamento de todo o mundo.  2. Esse primeiro recenseamento foi feito por Cirino, Governador da Síria.  3. Todos iam fazer suas declarações, cada um na sua cidade.  4. José partiu da cidade de Nazaré, que fica na Galiléia, e veio à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por isso que ele era da casa e da família de David.  5, a fim de fazer-se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida.  6. Enquanto ali se achava, sucedeu que se completou o tempo ao cabo do qual devia ela parir;  7, e Maria deu à luz o seu primogênito, envolveu-o em panos e o deixou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. (Lucas, 2, 1 ao 7)


A concepção, em Maria, como tudo mais que a isso se seguiu até ao suposto nascimento do nosso Redentor, tudo considerado uma obra miraculosa, por inexplicável mediante os conhecimentos de então e que inexplicável se conservou até ao advento da Terceira Revelação, mais não foi que o resultado de uma ação magneto-espírita, exercida com o emprego de fluídos apropriados.

Genealogia de Jesus

Confrontando-se os textos desses evangelistas, neste ponto de suas narrativas, notam-se divergências Tão sem importância, porém, são elas, bem como as controvérsias a que tem dado lugar, que Paulo aconselhou a Timóteo se não ocupasse com tais genealogias (1a Epístola a Timóteo, 1, 4 e 5).

Com efeito, Jesus, Espírito perfeito e imaculado, cuja perfeição se perde na noite das eternidades, protetor e governador do nosso planeta, a cuja formação presidiu, é estranho e anterior às gerações humanas que sucessivamente o têm habitado. (João, capítulo 8, versículo 58). Jesus apareceu na Terra, é verdade, mas com um corpo fluídico, de natureza perispirítica visível e tangível, sob a aparência da corporeidade humana, por efeito de incorporação, segundo as leis dos homens superiores.

Assim, a genealogia humana que lhe foi atribuída correspondeu às necessidades da época, tendo-se em vista o desempenho de sua missão, que objetivava a regeneração da nossa Humanidade.

Ela foi devida à necessidade de se materializarem todos os fatos, para que se tornassem acessíveis à matéria, pois que era preciso falar aos homens uma linguagem que eles pudessem compreender e, sobretudo, que fosse escutada, no meio que estava preparado havia tantos séculos.

Segundo as tradições hebraicas e as interpretações dadas às profecias da antiga lei, encontramos na Gênese (capítulo 3, versículo 15), que, dirigindo-se à serpente, símbolo do Espírito do mal, chamado depois “príncipe do mundo” (João, capítulo 14, versículo 30), Deus disse: “Porei inimizades entre ti e a mulher; entre a tua posteridade e a sua. Ela te pisará a cabeça e tu armarás traições ao seu calcanhar.”

A Gênese – Capítulo I

A GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO

CARÁTER DA REVELAÇÃO ESPÍRITA

1. Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação? Neste caso, qual o seu caráter? Em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que maneira foi ela feita? É a Doutrina Espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto vindo do Alto? É absoluta ou suscetível de modificações? Trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação? Qual a autoridade do ensino dos Espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles nos trazem? Precisará o homem de uma revelação? E não poderá achar em si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na vida? Tais as questões que importa nos fixemos.

2. Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu — e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos. Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral, que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química, a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico, Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.

3. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um fato e, por consequência, não existe revelação. Toda revelação desmentida por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir, nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto de uma concepção humana.

A Gênese – Capítulo II

Deus

Existência de Deus

1. Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe, a base sobre que repousa o edifício da Criação, é também o ponto que importa consideremos antes de tudo.

2. Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se julga de uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta. Se, fendendo os ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que hábil atirador o alvejou, ainda que este último não seja visto. Nem sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela existe. Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.

3. Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axioma é o de que todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente.

Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo? Quando se contempla uma obra-prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la. Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana; mas a ninguém acudirá a ideia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, nem, ainda menos, que é trabalho de um animal, ou produto do acaso.

A Gênese – Capítulo III

O bem e o mal

Origem do bem e do mal

1. Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.

2. Se o mal estivesse nas atribuições de um ser especial, quer se lhe chame Arimane, (Arimã ou Arimane para os seguidores do zoroastrismo, é o nome do senhor das trevas; seus métodos são vis e enganadores, ele corrompe os homens com desejos que os desviam da vida correta) quer Satanás, ou ele seria igual a Deus, e, por conseguinte, tão poderoso quanto este, e de toda a eternidade como Ele, ou lhe seria inferior.

No primeiro caso, haveria duas potências rivais, incessantemente em luta, procurando cada uma desfazer o que fizesse a outra, contrariando-se mutuamente, hipótese esta inconciliável com a unidade de vistas que se revela na estrutura do universo.

No segundo caso, sendo inferior a Deus, aquele ser lhe estaria subordinado. Não podendo existir de toda a eternidade como Deus, sem ser igual a este, teria tido um começo. Se fora criado, só o poderia ter sido por Deus, que, então, houvera criado o Espírito do mal, o que implicaria negação da bondade infinita. (Veja-se: O céu e o inferno, cap. IX: Os demônios.)

3. Entretanto, o mal existe e tem uma causa. Os males de toda espécie, físicos ou morais, que afligem a humanidade, formam duas categorias que importa distinguir: a dos males que o homem pode evitar e a dos que lhe independem da vontade. Entre os últimos, cumpre se incluam os flagelos naturais.

A Gênese – Capítulo IV

Papel da Ciência na Gênese

1. A história da origem de quase todos os povos antigos se confunde com a da sua religião, é por isso que seus primeiros livros versavam sobre religião. E como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o da humanidade, elas deram, sobre a formação e a ordem do universo, explicações em concordância com o estado dos conhecimentos da época e de seus fundadores. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, como foram, durante largo período, o código único das leis civis.

2. Nas eras primitivas, sendo necessariamente muito imperfeitos os meios de observação, muito eivadas de erros grosseiros haviam de ser as primeiras teorias sobre o sistema do mundo. Mas, ainda quando esses meios fossem tão completos quanto o são hoje, os homens não teriam sabido utilizá-los. Aliás, tais meios não podiam ser senão fruto do desenvolvimento da inteligência e do consequente conhecimento das leis da natureza. À medida que o homem se foi adiantando no conhecimento dessas leis, também foi penetrando os mistérios da criação e retificando as ideias que formara acerca da origem das coisas.

3. Impotente se mostrou o homem para resolver o problema da Criação, até o momento em que a Ciência lhe forneceu para isso a chave. Teve de esperar que a Astronomia lhe abrisse as portas do espaço infinito e lhe permitisse mergulhar aí o olhar; que, pelo poder de cálculo, determinasse com rigorosa exatidão o movimento, a posição, o volume, a natureza e o papel dos corpos celestes; que a Física lhe revelasse as leis da gravitação, do calor, da luz e da eletricidade; que a Química lhe mostrasse as transformações da matéria e a Mineralogia os materiais que formam a superfície do globo; que a Geologia lhe ensinasse a ler, nas camadas terrestres, a formação gradual desse mesmo globo. À Botânica, à Zoologia, à Paleontologia, à Antropologia coube iniciá-lo na filiação e sucessão dos seres organizados. Com a Arqueologia pôde ele acompanhar os traços que a humanidade deixou através das idades. Numa palavra, completando-se umas às outras, todas as ciências houveram de contribuir com o que era indispensável para o conhecimento da história do mundo. Em falta dessas contribuições, teve o homem como guia as suas primeiras hipóteses.

A Gênese – Capítulo V

Sistemas do mundo antigo e moderno

1. A primeira ideia que os homens formaram da Terra, do movimento dos astros e da constituição do universo, há de, a princípio, ter-se baseado unicamente no que os sentidos percebiam. Ignorando as mais elementares leis da Física e as forças da natureza, não dispondo senão da vista como meio de observação, apenas pelas aparências podiam eles julgar.

Vendo o Sol aparecer pela manhã, de um lado do horizonte, e desaparecer, à tarde, do lado oposto, concluíram naturalmente que ele girava em torno da Terra, conservando-se esta imóvel. Se lhes dissessem então que o contrário é o que se dá, responderiam não ser possível tal coisa, objetando: vemos que o Sol muda de lugar e não sentimos que a Terra se mexa.

2. A pequena extensão das viagens, que naquela época raramente iam além dos limites da tribo ou do vale, não permitia se comprovasse a esfericidade da Terra. Como, ao demais, haviam de supor que a Terra fosse uma bola? Os seres, em tal caso, somente no ponto mais elevado poderiam manter-se e, supondo-a habitada em toda a superfície, como viveriam eles no hemisfério oposto, com a cabeça para baixo e os pés para cima? Ainda menos possível houvera parecido isso com o movimento de rotação. Quando, mesmo aos nossos dias, em que se conhece a lei de gravitação, se veem pessoas relativamente esclarecidas não perceberem esse fenômeno, como nos surpreendermos de que homens das primeiras idades não o tenham, sequer, suspeitado?

Para eles, pois, a Terra era uma superfície plana e circular, qual uma mó de moinho, estendendo-se a perder de vista na direção horizontal. Daí a expressão ainda em uso: Ir ao fim do mundo. Desconheciam-lhe os limites, a espessura, o interior, a face inferior, o que lhe ficava por baixo. (26)

A Gênese – Capítulo VI

Uranografia geral

O espaço e o tempo

1. Já muitas definições de espaço foram dadas, sendo a principal esta: o espaço é a extensão que separa dois corpos, na qual certos sofistas deduziram que onde não haja corpos não haverá espaço. Nisto foi que se basearam alguns doutores em Teologia para estabelecer que o espaço é necessariamente finito, alegando que certo número de corpos finitos não poderiam formar uma série infinita e que, onde acabassem os corpos, igualmente o espaço acabaria. Também definiram o espaço como o lugar onde se movem os mundos, o vazio onde a matéria atua etc. Deixemos todas essas definições, que nada definem, nos tratados onde repousam.

Espaço é uma dessas palavras que exprimem uma ideia primitiva e axiomática, de si mesma evidente, e a respeito dela as diversas definições que se possam dar nada mais fazem do que obscurecê-la. Todos sabemos o que é o espaço e eu apenas quero firmar que ele é infinito, a fim de que os nossos estudos ulteriores não encontrem uma barreira opondo-se às investigações do nosso olhar.

Ora, digo que o espaço é infinito, pela razão de ser impossível imaginar-se-lhe um limite qualquer e porque, apesar da dificuldade com que topamos para conceber o infinito, mais fácil nos é avançar eternamente pelo espaço, em pensamento, do que parar num ponto qualquer, depois do qual não mais encontrássemos extensão a percorrer.

A Gênese – Capítulo VII

Esboço geológico da Terra

Períodos geológicos

1. A Terra conserva em si os traços evidentes da sua formação. Acompanham-se-lhe as fases com precisão matemática, nos diferentes terrenos que lhe constituem o arcabouço. O conjunto desses estudos forma a ciência chamada Geologia, ciência nascida neste século (XIX) e que projetou luz sobre a tão controvertida questão da origem do globo terreno e da dos seres vivos que o habitam. Neste ponto, não há simples hipótese; há o resultado rigoroso da observação dos fatos e, diante dos fatos, nenhuma dúvida se justifica. A história da formação da Terra está escrita nas camadas geológicas, de maneira bem mais certa do que nos livros preconcebidos, porque é a própria natureza que fala, que se põe a nu, e não a imaginação dos homens a criar sistemas. Desde que se notem traços de fogo, pode dizer-se com certeza que houve fogo ali; onde se vejam os da água, pode dizer-se que a água ali esteve; desde que se observem os de animais, pode dizer-se que viveram aí animais.

A Geologia é, pois, uma ciência toda de observação; só tira deduções do que vê; sobre os pontos duvidosos, nada afirma; não emite opiniões discutíveis, por esperar de observações mais completas a solução procurada. Sem as descobertas da Geologia, como sem as da Astronomia, a Gênese do mundo ainda estaria nas trevas da lenda. Graças a elas, o homem conhece hoje a história da sua habitação, tendo desmoronado, para não mais tornar a erguer-se, a estrutura de fábulas que lhe rodeavam o berço.

A Gênese – Capítulo VIII

Teorias sobre a formação da Terra

Teoria da projeção

1. De todas as teorias concernentes à origem da Terra, a que alcançou maior voga, nestes últimos tempos, é a de Buffon,  quer pela posição que ele desfrutava no mundo sábio, quer pela razão de não se saber mais do que ele disse naquela época.

Vendo que todos os planetas se movem na mesma direção, do ocidente para o oriente, e no mesmo plano, a percorrer órbitas cuja inclinação não passa de 7 graus e meio, concluiu Buffon, dessa uniformidade, que eles hão de ter sido postos em movimento pela mesma causa. De igual ponto de vista, formulou a suposição de que, sendo o Sol uma massa incandescente em fusão, um cometa se haja chocado com ele e, raspando-lhe a superfície, tenha destacado desta uma porção que, projetada no espaço pela violência do choque, se dividiu em muitos fragmentos, formando esses fragmentos os planetas, que continuaram a mover-se circularmente, pela combinação das forças centrífuga e centrípeta, no sentido dado pela direção do choque primitivo, isto é, no plano da eclíptica.

Os planetas seriam assim partes da substância incandescente do Sol e, por conseguinte, também teriam sido incandescentes, em sua origem. Levaram para se resfriar e consolidar tempo proporcionado aos seus volumes respectivos e, quando a temperatura o permitiu, a vida lhes despontou na superfície.

Em virtude do gradual abaixamento do calor central, a Terra chegaria, ao cabo de certo tempo, a um estado de resfriamento completo; a massa líquida se congelaria inteiramente e o ar, cada vez mais condensado, acabaria por desaparecer. O abaixamento da temperatura, tornando impossível a vida, acarretaria a diminuição, depois o desaparecimento de todos os seres organizados. Tendo começado pelos polos, o resfriamento ganharia pouco a pouco todas as regiões, até ao Equador.

A Gênese – Capítulo IX

Revoluções do globo

Revoluções gerais ou parciais

1. Os períodos geológicos marcam as fases do aspecto geral do globo, em consequência das suas transformações. Mas, com exceção do período diluviano, que se caracterizou por uma subversão repentina, todos os demais transcorreram lentamente, sem transições bruscas. Durante todo o tempo que os elementos constitutivos do globo levaram para tomar suas posições definitivas, as mutações houveram de ser gerais. Uma vez consolidada a base, só se devem ter produzido modificações parciais, na superfície.

2. Além das revoluções gerais, a Terra experimentou grande número de perturbações locais, que mudaram o aspecto de certas regiões. Como no tocante às outras duas causas contribuíram para essas perturbações: o fogo e a água.

O fogo atuou produzindo: ou erupções vulcânicas que sepultaram, sob espessas camadas de cinzas e lavas, os terrenos circunjacentes, fazendo desaparecer cidades com seus habitantes; ou terremotos; ou levantamentos da crosta sólida, que impeliam as águas para as regiões mais baixas; ou o afundamento, em maior ou menor extensão, dessa mesma crosta, nalguns lugares, para onde as águas se precipitaram, deixando em seco outros lugares. Foi assim que surgiram ilhas no meio do oceano, enquanto outras desapareceram; que porções de continentes se separaram e formaram ilhas; que braços de mar, secados, ligaram ilhas e continentes.

Quanto à água, essa atuou, produzindo: ou a irrupção ou a retirada do mar nalgumas costas; ou desmoronamentos que, interceptando as correntes líquidas, formaram lagos; ou transbordamentos e inundações; ou, enfim, aterros nas embocaduras dos rios. Esses aterros, rechaçando o mar, criaram novos territórios. Tal a origem do delta do Nilo, ou Baixo Egito; do delta do Ródano ou Camarga.

A Gênese – Capítulo X

Gênese orgânica

Formação primária dos seres vivos

1. Tempo houve em que não existiam animais; logo, eles tiveram começo. Cada espécie foi aparecendo, à proporção que o globo adquiria as condições necessárias à existência delas. Isto é positivo. Como se formaram os primeiros indivíduos de cada espécie? Compreende-se que, existindo um primeiro casal, os indivíduos se multiplicaram. Mas, esse primeiro casal, donde saiu? É um desses mistérios que entendem com o princípio das coisas e sobre os quais apenas se podem formular hipóteses. A Ciência ainda não pode resolver o problema; pode entretanto, pelo menos, encaminhá-lo para a solução.

2. É esta a questão primordial que se apresenta: cada espécie animal saiu de um casal primitivo ou de muitos casais criados, ou, se o preferirem, germinados simultaneamente em diversos lugares? Esta última suposição é a mais provável. Pode-se mesmo dizer que ressalta da observação. Com efeito, o estudo das camadas geológicas atesta, nos terrenos de idêntica formação, e em proporções enormes, a presença das mesmas espécies em pontos do globo muito afastados uns dos outros. Essa multiplicação tão generalizada e, de certo modo, contemporânea, fora impossível com um único tipo primitivo.

Doutro lado, a vida de um indivíduo, sobretudo de um indivíduo nascente, está sujeita a tantas vicissitudes, que toda uma criação poderia ficar comprometida, sem a pluralidade dos tipos, o que implicaria uma imprevidência inadmissível da parte do Criador supremo. Aliás, se, num ponto, um tipo se pode formar, em muitos outros pontos ele se poderia formar igualmente, por efeito da mesma causa.

Tudo, pois, concorre a provar que houve criação simultânea e múltipla dos primeiros casais de cada espécie animal e vegetal.

A Gênese – Capítulo XI

Gênese espiritual

Princípio espiritual

1. A existência do princípio espiritual é um fato que, por assim dizer, não precisa de demonstração, do mesmo modo que o da existência do princípio material. É, de certa forma, uma verdade axiomática. Ele se afirma pelos seus efeitos, como a matéria pelos que lhe são próprios.

De acordo com este princípio: “Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente”, ninguém há que não faça distinção entre o movimento mecânico de um sino que o vento agite e o movimento desse mesmo sino para dar um sinal, um aviso, atestando, só por isso, que obedece a um pensamento, a uma intenção. Ora, não podendo acudir a ninguém a ideia de atribuir pensamento à matéria do sino, tem-se de concluir que o move uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que ela se manifeste.

Pela mesma razão, ninguém terá a ideia de atribuir pensamento ao corpo de um homem morto. Se, pois, vivo, o homem pensa, é que há nele alguma coisa que não há quando está morto. A diferença que existe entre ele e o sino é que a inteligência, que faz com que este se mova, está fora dele, ao passo que está no homem a que faz que este obre.

2. O princípio espiritual é corolário da existência de Deus; sem esse princípio, Deus não teria razão de ser, visto que não se poderia conceber a soberana inteligência a reinar, pela eternidade afora, unicamente sobre a matéria bruta, como não se poderia conceber que um monarca terreno, durante toda a sua vida, reinasse exclusivamente sobre pedras. Não se podendo admitir Deus sem os atributos essenciais da Divindade: a justiça e a bondade, inúteis seriam essas qualidades, se Ele as houvesse de exercitar somente sobre a matéria.

A Gênese – Capítulo XII

Gênese mosaica

Os seis dias

1. CAPÍTULO 1. — 1. No começo criou Deus o Céu e a Terra. — 2. A Terra era uniforme e inteiramente nua; as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus boiava sobre as águas. — 3. Ora, Deus disse: “Faça-se a luz e a luz foi feita.” — 4. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. — 5. Deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia.

6. Disse Deus também: “Faça-se o firmamento no meio das águas e que ele separe das águas as águas.” — 7. E Deus fez o firmamento e separou as águas que estavam debaixo do firmamento das que estavam acima do firmamento. E assim se fez. — 8. E Deus deu ao firmamento o nome de céu; da tarde e da manhã se fez o segundo dia.

9. Disse Deus ainda: “Reúnam-se num só lugar as águas que estão sob o céu e apareça o elemento árido.” E assim se fez. — 10. Deus deu ao elemento árido o nome de terra e chamou mar a todas as águas reunidas. E viu que isso estava bem. — 11. Disse mais: “Produza a terra a erva verde que traz a semente e árvores frutíferas que deem frutos cada um de uma espécie, e que contenham em si mesmas as suas sementes, para se reproduzirem na terra.” E assim se fez. — 12. A terra então produziu a erva verde que trazia consigo a sua semente, conforme a espécie, e árvores frutíferas que continham em si mesmas suas sementes, cada uma de acordo com a sua espécie. E Deus viu que estava bom. — 13. E da tarde e da manhã se fez o terceiro dia.

A Gênese – Capítulo XIII

Caracteres dos milagres

Os milagres no sentido teológico

1. Na acepção etimológica, a palavra milagre (de miracŭlum, admirar) significa: prodígio, maravilha; coisa extraordinária. A Academia definiu-a deste modo: Um ato do poder divino contrário às leis da natureza, conhecidas.

Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se tornou de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender das massas, um milagre implica a ideia de um fato extranatural; no sentido teológico, é uma derrogação das leis da natureza, por meio da qual Deus manifesta o seu poder. Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido próprio, de modo que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida.

Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com exclusão das leis naturais. É tanto essa a ideia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem a encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem explicados. Ela se firmou tão bem sobre esse ponto, que o assimilarem-se os milagres aos fenômenos da natureza constitui para ela uma heresia, um atentado contra a fé, tanto assim que excomungou e até queimou muita gente por não ter querido crer em certos milagres.

A Gênese – Capítulo XIV

Os fluidos

I. Natureza e propriedades dos fluidos

Elementos fluídicos

1. A Ciência resolveu a questão dos milagres que mais particularmente derivam do elemento material, quer explicando-os, quer lhes demonstrando a impossibilidade, em face das leis que regem a matéria. Mas os fenômenos em que prepondera o elemento espiritual, esses, não podendo ser explicados unicamente por meio das leis da natureza, escapam às investigações da Ciência. Tal a razão por que eles, mais do que os outros, apresentam os caracteres aparentes do maravilhoso. É, pois, nas leis que regem a vida espiritual que se pode encontrar a explicação dos milagres dessa categoria.

2. O fluido cósmico universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da natureza. (Cap. X.) Como princípio elementar do universo, ele assume dois estados distintos: o de eterização ou imponderabilidade, que se pode considerar o primitivo estado normal, e o de materialização ou de ponderabilidade, que é, de certa maneira, consecutivo àquele. O ponto intermédio é o da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como termo médio entre os dois estados. (Cap. VI, itens 10 e seguintes.)

Cada um desses dois estados dá lugar, naturalmente, a fenômenos especiais: ao segundo pertencem os do mundo visível e ao primeiro os do mundo invisível. Uns, os chamados fenômenos materiais, são da alçada da Ciência propriamente dita, os outros, qualificados de fenômenos espirituais ou psíquicos, porque se ligam de modo especial à existência dos Espíritos, cabem nas atribuições do Espiritismo. Como, porém, a vida espiritual e a vida corporal se acham incessantemente em contato, os fenômenos das duas categorias muitas vezes se produzem simultaneamente. No estado de encarnação, o homem somente pode perceber os fenômenos psíquicos que se prendem à vida corpórea; os do domínio espiritual escapam aos sentidos materiais e só podem ser percebidos no estado de Espírito. (1)

A Gênese – Capítulo XV

Os milagres do Evangelho

Superioridade da natureza de Jesus

1. Os fatos que o Evangelho relata e que foram até hoje considerados milagrosos pertencem, na sua maioria, à ordem dos fenômenos psíquicos, isto é, dos que têm como causa primária as faculdades e os atributos da alma. Confrontando-os com os que ficaram descritos e explicados no capítulo precedente, reconhecer-se-á sem dificuldade que há entre eles identidade de causa e de efeito. A História registra outros análogos, em todos os tempos e no seio de todos os povos, pela razão de que, desde que há almas encarnadas e desencarnadas, os mesmos efeitos forçosamente se produziram. Pode-se, é certo, contestar, no que concerne a este ponto, a veracidade da História; mas, hoje, eles se produzem às nossas vistas e, por assim dizer, à vontade e por indivíduos que nada têm de excepcionais. O só fato da reprodução de um fenômeno, em condições idênticas, basta para provar que ele é possível e se acha submetido a uma lei, não sendo, portanto, miraculoso.

O princípio dos fenômenos psíquicos repousa, como já vimos, nas propriedades do fluido perispiritual, que constitui o agente magnético; nas manifestações da vida espiritual durante a vida corpórea e depois da morte; e, finalmente, no estado constitutivo dos Espíritos e no papel que eles desempenham como força ativa da natureza. Conhecidos estes elementos e comprovados os seus efeitos, tem-se, como consequência, de admitir a possibilidade de certos fatos que eram rejeitados enquanto se lhes atribuía uma origem sobrenatural.

2. Sem nada prejulgar quanto à natureza do Cristo, natureza cujo exame não entra no quadro desta obra, considerando-o apenas um Espírito superior, não podemos deixar de reconhecê-lo um dos de ordem mais elevada e colocado, por suas virtudes, muitíssimo acima da humanidade terrestre. Pelos imensos resultados que produziu, a sua encarnação neste mundo forçosamente há de ter sido uma dessas missões que a Divindade somente a seus mensageiros diretos confia, para cumprimento de seus desígnios. Mesmo sem supor que ele fosse o próprio Deus, mas unicamente um enviado de Deus para transmitir sua palavra aos homens, seria mais do que um profeta, porquanto seria um Messias divino.

A Gênese – Capítulo XVI

Teoria da presciência

1. Como é possível o conhecimento do futuro? Compreende-se a possibilidade da previsão dos acontecimentos que devam resultar do estado presente; porém, não a dos que nenhuma relação guardem com esse estado, nem, ainda menos, a dos que são comumente atribuídos ao acaso. Não existem as coisas futuras, dizem; elas ainda se encontram no nada; como, pois, se há de saber que se darão? São, no entanto, em grande número os casos de predições realizadas, donde forçosa se torna a conclusão de que ocorre aí um fenômeno para cuja explicação falta a chave, porquanto não há efeito sem causa. É essa causa que vamos tentar descobrir e é ainda o Espiritismo, já de si mesmo chave de tantos mistérios, que no-la fornecerá, mostrando-nos, ao demais, que o próprio fato das predições não se produz com exclusão das leis naturais.

Tomemos, para comparação, um exemplo nas coisas usuais. Ele nos ajudará a compreender o princípio que teremos de desenvolver.

2. Suponhamos um homem colocado no cume de uma alta montanha, a observar a vasta extensão da planície em derredor. Nessa situação, o espaço de uma légua pouca coisa será para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, de um extremo a outro da estrada que lhe esteja diante dos olhos. O viajor, que pela primeira vez percorra essa estrada, sabe que, caminhando, chegará ao fim dela. Constitui isso uma simples previsão da consequência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os cursos de água que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, as casas hospitaleiras onde lhe será possível repousar, os ladrões que o espreitem para roubá-lo, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em perlustrar o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido.” Estará predizendo o futuro, mas, futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, pois que, para ele, esse futuro é presente.

A Gênese – Capítulo XVII

Predições do Evangelho

Ninguém é profeta em sua terra

1. Tendo vindo à sua terra natal, instruía-os nas sinagogas, de sorte que, tomados de espanto, diziam: “Donde lhe vieram essa sabedoria e esses milagres? Não é o filho daquele carpinteiro? Não se chama Maria, sua mãe, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? Suas irmãs não se acham todas entre nós? Donde então lhe vêm todas essas coisas?” E assim faziam dele objeto de escândalo. Mas Jesus lhes disse: “Um profeta só não é honrado em sua terra e na sua casa.” E não fez lá muitos milagres devido à incredulidade deles. (Mateus, 13:54 a 58.)

2. Enunciou Jesus dessa forma uma verdade que se tornou provérbio, que é de todos os tempos e à qual se poderia dar maior amplitude, dizendo que ninguém é profeta em vida.

Na linguagem usual, essa máxima se aplica ao crédito de que alguém goza entre os seus e entre aqueles em cujo seio vive, à confiança que lhes inspira pela superioridade do saber e da inteligência. Se ela sofre exceções, são raras estas e, em nenhum caso, absolutas. O princípio de tal verdade reside numa consequência natural da fraqueza humana e pode explicar-se deste modo:

O hábito de se verem desde a infância, em todas as circunstâncias ordinárias da vida, estabelece entre os homens uma espécie de igualdade material que, muitas vezes, faz que a maioria deles se negue a reconhecer superioridade moral num de quem foram companheiros ou comensais, que saiu do mesmo meio que eles e cujas primeiras fraquezas todos testemunharam. Sofre-lhes o orgulho com o terem de reconhecer o ascendente do outro. Quem quer que se eleve acima do nível comum está sempre em luta com o ciúme e a inveja. Os que se sentem incapazes de chegar à altura em que aquele se encontra esforçam-se para rebaixá-lo, por meio da difamação, da maledicência e da calúnia; tanto mais forte gritam, quanto menores se acham, crendo que se engrandecem e o eclipsam pelo arruído que promovem. Tal foi e será a História da humanidade, enquanto os homens não houverem compreendido a sua natureza espiritual e alargado seu horizonte moral. Por aí se vê que semelhante preconceito é próprio dos espíritos acanhados e vulgares, que tomam suas personalidades por ponto de aferição de tudo.

A Gênese – Capítulo XVIII

São chegados os tempos

Sinais dos tempos

1. São chegados os tempos, dizem-nos de todas as partes, marcados por Deus, em que grandes acontecimentos se vão dar para regeneração da humanidade. Em que sentido se devem entender essas palavras proféticas? Para os incrédulos, nenhuma importância têm; aos seus olhos, nada mais exprimem que uma crença pueril, sem fundamento. Para a maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de sobrenatural, parecendo-lhes prenunciadoras da subversão das leis da natureza. São igualmente errôneas ambas essas interpretações: a primeira, porque envolve uma negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a perturbação das leis da natureza, mas o cumprimento dessas leis.

2. Tudo na Criação é harmonia; tudo revela uma previdência que não se desmente, nem nas menores, nem nas maiores coisas. Temos, pois, que afastar, desde logo, toda ideia de capricho, por inconciliável com a Sabedoria divina. Em segundo lugar, se a nossa época está designada para a realização de certas coisas, é que estas têm uma razão de ser na marcha do conjunto.

Isto posto, diremos que o nosso globo, como tudo o que existe, esta submetido à lei do progresso. Ele progride, fisicamente, pela transformação dos elementos que o compõem e, moralmente, pela depuração dos Espíritos encarnados e desencarnados que o povoam. Ambos esses progressos se realizam paralelamente, porquanto o melhoramento da habitação guarda relação com o do habitante. Fisicamente, o globo terráqueo há experimentado transformações que a Ciência tem comprovado e que o tornaram sucessivamente habitável por seres cada vez mais aperfeiçoados. Moralmente, a humanidade progride pelo desenvolvimento da inteligência, do senso moral e do abrandamento dos costumes. Ao mesmo tempo que o melhoramento do globo se opera sob a ação das forças materiais, os homens para isso concorrem pelos esforços de sua inteligência. Saneiam as regiões insalubres, tornam mais fáceis as comunicações e mais produtiva a terra. De duas maneiras se executa esse duplo progresso: uma, lenta, gradual e insensível; a outra, caracterizada por mudanças bruscas, a cada uma das quais corresponde um movimento ascensional mais rápido, que assinala, mediante impressões bem acentuadas, os períodos progressivos da humanidade. Esses movimentos, subordinados, quanto às particularidades, ao livre-arbítrio dos homens, são, de certo modo, fatais em seu conjunto, porque estão sujeitos a leis, como os que se verificam na germinação, no crescimento e na maturidade das plantas. Por isso é que o movimento progressivo se efetua, às vezes, de modo parcial, isto é, limitado a uma raça ou a uma nação, doutras vezes, de modo geral. O progresso da humanidade se cumpre, pois, em virtude de uma lei. Ora, como todas as leis da natureza são obra eterna da sabedoria e da presciência divinas, tudo o que é efeito dessas leis resulta da vontade de Deus, não de uma vontade acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. Quando, por conseguinte, a humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são chegados os tempos marcados por Deus, como se pode dizer também que, em tal estação, eles chegam para a maturação dos frutos e sua colheita.