LIVRO PRIMEIRO - AS CAUSAS PRIMEIRAS
CAPÍTULO IV - PRINCÍPIO VITAL
INTELIGÊNCIA E INSTINTO
75. É acertado dizer-se que
as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais?
Não; o instinto existe
sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele
quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca
se transvia.
a) Por que nem sempre é guia
infalível a razão?
Seria infalível, se não
fosse falseada pela má-educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não
raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio.
Comentário de Allan Kardec
O instinto é uma inteligência rudimentar, que difere da inteligência propriamente
dita, em que suas manifestações são quase sempre espontâneas, ao passo que as
da inteligência resultam de uma combinação e de um ato deliberado. O instinto
varia em suas manifestações, conforme às espécies e às suas necessidades. Nos
seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à
inteligência, isto é, à vontade e à liberdade.
Comentário do Espírito Miramez
NASCENDO
A RAZÃO, O INSTINTO SE ATROFIA?
O
alicerce de uma obra aparentemente desaparece quando o prédio está pronto; no
entanto, passa a existir com muito mais segurança do que antes, pela sua
solidez no seio da terra. O instinto não atrofia ao surgir a razão. Ele perde o
comando mais visível, como existe no animal, entretanto, ajuda a inteligência
nas suas difíceis soluções, no silêncio da própria vida, inerente ao seu
estado.
O
nada se perde atinge igualmente os dons da alma. Os talentos se intercruzam em
uma fraternidade perfeita, uns ajudando os outros, e todos formando um
conjunto, de sorte a trazer ao mundo da consciência a harmonia divina. Compete
a cada Espírito compreender a ordem e trabalhar para que ela se estabeleça, com
todas as suas diretrizes de amor no centro da consciência e esta redistribuir
as bênçãos de felicidade a todo o mundo interno.
O
instinto é a base da conscientização de todo o saber; é como que um livro
invisível, porém real, onde estão escritas todas as leis reguladas pelo tempo.
A razão é esse mesmo instinto na feição de maturidade; é o alicerce da inteligência,
que se apoia neste princípio divino, ordenado e estabelecido por Deus, como sol
da vida.
Podemos
comparar o instinto aos pés dos homens e a inteligência ao exército da razão.
Apesar dos meios de transportes sofisticados da época, eles sempre precisam dos
pés para tudo o que fazem. Mesmo que se lembrem pouco deles, eles são a base da
locomoção dos encarnados. A Doutrina dos Espíritos, no seu conjunto
doutrinário, nos oferece muitos meios e métodos agradáveis, para exercitarmos
todos os nossos dons, de maneira a que eles possam crescer ampliando seus
valores. Uma escada, mesmo usada por muitas criaturas, deve conservar os
primeiros degraus, sem os quais não poderá ser usada, além de que são eles que
garantem a segurança dos outros. O instinto, o raciocínio e a intuição
constituem uma escada evolutiva, são estágios variados do mesmo dom da vida
que, juntos, garantem a estabilidade e nos proporcionam meios mais sólidos para
vivermos em paz. Nada se acaba na vida; tudo se funde e refunde em busca da
perfeição.
O
homem não pode desprezar o instinto porque possui a inteligência, nem o
super-homem pode abandonar a inteligência, por ter conquistado a intuição.
Todos os valores são úteis na engrenagem evolutiva de todos os seres. Entrementes,
deve-se saber usá-los na hora certa, como no momento exato servir-se do
raciocínio. O conhecimento é a base do equilíbrio e a compreensão, o estímulo
de todas as forças do bem que, somadas, esplendem-se no amor. O instinto nunca
se transvia, por ser programação da Divindade, no centro das vidas menores, e a
razão obedece ao livre arbítrio da criatura, que necessita de experiências para
que sua disciplina se alie ao bom senso.
De
fato, o instinto é uma inteligência rudimentar mas, que guarda no seu seio
celeiros imortais que, desenvolvidos, ultrapassam as belezas da própria
inteligência e mesmo da intuição, pelo fato de que o despertamento da alma é
infinito, na extensão grandiosa do crescimento sem limites, do Espírito.