Aviso calmante

O trabalho eficiente deve ser planejado, mas não olvide que as circunstâncias procedem da vida superior.
O tempo é um rio de surpresas.
Use o apoio da bondade e a bateia da tolerância para colher o ouro da Providência Divina no
cascalho dos fatos desagradáveis.
A conversa fastidiosa talvez seja o veiculo da valiosa indicação.
A visita que não se espera provavelmente traga uma bênção.
O obstáculo com que não se contava, em muitas ocasiões, traduz o amparo da Espiritualidade
Maior, antes que certa dificuldade apareça.
O aborrecimento de um minuto pode ser a pausa de aviso salvador.
A enfermidade súbita, quase sempre, é o processo de que se utiliza o Plano Superior para se impedir uma queda espetacular.
Atenda ao seu programa de ação, conforme os seus encargos, mas não se esqueça da paciência
na trilha das suas horas.
Cada um de nós é chamado para a execução de tarefa determinada, mas a habilitação para isso
vem da lei de Deus.

Espírito: ANDRÉ LUIZ
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: “Buscas e Acharás" - EDIÇÃO IDEAL

Rogando paz

Senhor Jesus!

Tu disseste: “a minha paz vos dou...”.
Entretanto, Senhor,
Muitos de nós andamos distraídos;
Atribulados, às vezes, por bagatelas;
Aflitos sem razão;
Sequiosos de aquisições desnecessárias;
Irritadiços por dificuldades passageiras;
Dobrados ao peso de cargas formadas por desilusões e discórdias que nós mesmos inventamos;
Ocupados em dissensões infelizes;
Hipnotizados por tristeza e azedume que nos inclinam à separatividade e ao pessimismo...
Entendemos, sim, Jesus, que nos disseste:
- “A minha paz vos dou...”.
Diante, porém, de nossas inibições e obstáculos, nós te rogamos, por acréscimo de misericórdia:
- Senhor, concedeste-nos a paz, no entanto, reensina-nos a recebê-la.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier

Regressão da memória

Se fomos trazidos à Terra para esquecer o nosso passado, valorizar o presente e preparar em nosso benefício o futuro melhor, porque provocar a regressão da memória do que fomos ou fizemos, simplesmente por questões de curiosidade vazia, ou buscar aqueles que foram nossos companheiros, a fim de regressar aos desequilíbrios que hoje resgatamos?

A nossa própria existência atual nos apresentará as tarefas e provas que, em si, são a recapitulação de nosso passado em nossas diversas vidas, ou mesmo, somente de nossa passagem última na Terra fixada no mundo físico, curso de regeneração em que estamos integrados nas chamadas provações de cada dia.

Oração fraternal

Irmão nosso, que estás na Terra, Glorificada seja tua vontade, em favor do Infinito bem.
Trabalha incessantemente pelo Reino Divino, com tua cooperação espontânea.
Seja atendida a tua aspiração elevada, com esquecimento de todos os caprichos inferiores.
Tanto no lar da Carne, quanto no Templo do Universo.
O pão nosso de cada dia, que vem do Celeste Celeiro, usa com respeito e divide santamente.
Desculpa nossas faltas para contigo, assim como a lei do Eterno Pai tem perdoado nossa dividas em comum.
Não permitas que a tua existência se perca pela tentação dos errados pensamentos.
Livra-te dos erros que procedem do próprio coração.
Porque te pertence, agora, a gloriosa oportunidade de elevação para o reino do poder, da justiça, da paz, da glória e do amor para sempre.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Correio Fraterno" - EDIÇÃO FEB

Ninguém morre

Não reclames da Terra
Os seres que partiram...

Olha a planta que volta
Na semente a morrer.

Chora, de vez que o pranto
Purifica a visão.

No entanto, continua
Agindo para o bem.
Lágrima sem revolta

É orvalho da esperança.
A morte é a própria vida
Numa nova edição.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Caravana do Amor" - EDIÇÃO IDE

Essas outras crianças

Quando abraças teu filho, no conforto doméstico, fixa essas outras crianças que jornadeiam sem lar.

Dispões de alimento abundante para que teu filho se mantenha em linha de robustez.
Essas outras crianças, porém, caminham desnorteadas, aguardando os restos da mesa que lhes atira, com displicência, findo o repasto.

Escolhes a roupa nobre e limpa de que teu filho se vestirá, conforme a estação.
Todavia, essas outras crianças tremem de frio, recobertas de andrajos.

Defendes teu filho contra a intempérie, sob o teto acolhedor, sustentando-o à feição de joia no escrínio.
Contudo, essas outras crianças cochilam estremunhadas na via pública quando não se distendem no espaço asfixiante do esgoto.

Abres ao olhar deslumbrados de teu filho, os tesouros da escola.
E essas outras crianças suspiram debalde pela luz do alfabeto, acabando, muita vez, encerradas no cubículo das prisões, à face da ignorância que lhes cega a existência.

Cada dia

Se te queixas do pouco que te garante a vida,
Pensa na criancinha que adormeceu com fome;
No amigo sem trabalho, vendo os filhos sem pão,
Na mulher esmolando para o filho doente,
Reflete nos que sofrem muito mais que nós mesmos.

E, meditando em ti, darás graças a Deus.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Passos da Vida" - EDIÇÃO IDE

Ante o além

A vida não termina
Onde a morte aparece.

Não transformes saudade
Em fel nos que se foram.

Eles seguem contigo,
Conquanto de outra forma.

Dá-lhes amor e paz,
Por muito que padeças.

Eles também te esperam
Procurando amparar-te.

Todos estamos juntos.
Na Presença de Deus.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Religião dos Espíritos" - EDIÇÃO IDE

Dinheiro

O dinheiro não é luz, mas sustenta a lâmpada.
Não é a paz, no entanto, é um companheiro para que se possa obtê-la.
Não é calor, contudo, adquire agasalho.
Não é o poder da fé, mas alimenta a esperança.
Não é amor, entretanto, é capaz de erguer-se por valioso ingrediente na proteção afetiva.
Não é tijolo de construção, todavia, assegura as atividades que garantem o progresso.
Não é cultura, mas apoia o livro.
Não é visão, contudo, ampara o encontro de instrumentos que ampliam capacidade dos olhos.
Não é base da cura, no entanto, favorece a aquisição do remédio.
Em suma, o dinheiro associado à consciência tranquila, alavanca do trabalho e fonte da beneficência, apoio da educação e alicerce da alegria, é uma benção do Céu que, de modo imediato, nem sempre faz felicidade, mas sempre faz falta.

Espírito: BEZERRA DE MENEZES
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Caridade" - EDIÇÃO IDE 

Ação da prece

Você é o lavrador.
O outro é o campo.
Você planta.
O outro produz.
Você é o celeiro.
O outro é o cliente.
Você fornece.
O outro adquire.
Você é o ator.
O outro é o público.
Você representa.
O outro observa.
Você é a palavra.
O outro é o microfone.
Você fala.
O outro transmite.
Você é o artista.
O outro é o instrumento.
Você toca.
O outro responde.

A melancolia

Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? É que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo físico que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. 

Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo físico lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no Espírito de todos os humanos as aspirações por uma vida melhor, mas, não as fixeis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos benevolentes, para instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para ajudar a romper os liames que vos mantém cativo o Espírito. 

Murmurações

“Fazei todas as coisas sem murmurações nem contendas”. – Paulo. (FILIPENSES, 2:14).

Nunca se viu contenda que não fosse precedida de murmurações inferiores. É hábito antigo da
leviandade procurar a ingratidão, a miséria moral, o orgulho, a vaidade e todos os flagelos que
arruínam Espíritos neste mundo para organizar as palestras da sombra, onde o certo, o amor e a verdade são focalizados com malícia.

Quando alguém comece a encontrar motivos fáceis para muitas queixas, é justo proceder a rigoroso auto-exame, de modo a verificar se não está padecendo da terrível enfermidade das murmurações.

Os que cumprem seus deveres, na pauta das atividades justas, certamente não poderão cultivar
ensejo a reclamações.

Deus e nós

Deus nos garante a vida.
Cabe a nós outros aperfeiçoá-la e engrandecê-la.
Deus nos provê de inteligência.
Respondemos pela formação da cultura.
Deus nos ilumina com razão.
O discernimento ocorre por nossa conta.
Deus nos alimenta através do amor.
Obteremos sempre do amor o que fizermos com ele.
Deus suscita as circunstâncias.
De nós depende a escolha da ação para utilizá-las.
Deus cria a possibilidade.
O trabalho é obra nossa.
Deus concede o dom de falar.
A palavra nos diz respeito.
Deus espalha recursos.
Somos chamados a valorizá-los e desenvolvê-los.
Deus sugere o bem.

Conquista íntima

Todos os estados enfermiços do Espírito se assemelham, no fundo, aos estados enfermiços do
corpo físico, solicitando remédio adequado que lhes patrocine a cura.

E a impaciência que tantas vezes gera rixas inúteis, é um deles, pedindo o especifico da calma
que a desterre do mundo íntimo.

Como, porém, obter a serenidade, quando somos impulsivos por vocação ou por hábito?

Justo lembrar que assim como nos acomodamos, obedientes, para ouvir o professor trazido a
ensinar-nos, é forçoso igualmente assentar a emotividade, na carteira do raciocínio, a fim de educá-la, educando-nos; e, aplicando os princípios de fraternidade e de amor que abraçamos, convidaremos os nossos próprios sentidos à necessária renovação.

Feito isso, perceberemos que todo instante de turvação ou desequilíbrio, é instrumento de teste
para avaliação de nosso próprio aproveitamento.

Cada pessoa

Cada pessoa é aquilo que crê; fala do que gosta; retém o que procura; ensina o que aprende; tem o que dá e vale o que faz.

Sempre fácil, portanto, para cada um de nós reconhecer os esquemas de vivência em que nos
colocamos.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Agora é o tempo" - EDIÇÃO IDEAL

Crítica

Se você está na hora de criticar alguém, pense um pouco, antes de iniciar.
Se o parente está em erro, lembre-se de que você vive junto dele para ajudar.
Se o irmão revela procedimento lamentável, recorde que há moléstias ocultas que podem atingir
você mesmo.
Se um companheiro faliu, é chegado o momento de substituí-lo em trabalho, até que volte.
Se o amigo está desorientado, medite nas tramas da obsessão.
Se o humano da atividade pública parece fora do eixo, o desequilíbrio é problema dele.
Se há desastres morais nos vizinhos, isso é motivo para auxílio fraterno, porquanto esses mesmos desastres provavelmente chegarão até nós.
Se o próximo caiu em falta, não é preciso que alguém lhe agrave as dores de consciência.

Prece do pão

Senhor!
Entre aqueles que se confiam à tua proteção, estou eu também, servidor humilde a quem mandaste extinguir o flagelo da fome.

Partilhando o movimento daqueles que te servem, fiz hoje igualmente o meu giro. 

Vi-me frequentemente detido, em lares faustosos, cooperando nas alegrias da mesa farta, mas vi pobres mulheres que me estendiam, debalde, as mãos!...

Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como se estivessem fitando um tesouro perdido.

Encontrei humanos tristes, transpirando suor, que me contemplavam agoniados, rogando em
silêncio para que lhes socorresse os filhinhos largados ao extremo infortúnio...

Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio, mas de mim, para que pudessem atender
ao estômago torturado!...

Não te queixes

Quando te queixas de alguém ou de alguma cousa, é possível que estejas recusando a presença
da pessoa ou desprezando o amparo que a Divina Providência te enviou para livrar-te de males
maiores que talvez te aguardem pela frente.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier -
Livro: "Livro de Respostas" EDIÇÃO GEEM

Somos companheiros

Às vezes, nós outros, os companheiros desencarnados, em solicitando serenidade e confiança aos nossos amigos, em lutas e dificuldades na Terra, assemelhamo-nos, ou melhor, podemos parecer bombeiros tranquilos exortando à paciência dos irmãos que sofrem na tensão alta de incêndio, mas não é bem assim.
Somos companheiros da mesma construção, colegas da mesma causa.

Espírito: BEZERRA DE MENEZES
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Bezerra, Chico e Você" - EDIÇÃO GEEM

Bombeiros de Deus

Temos diversas formas de auxiliar:
suprimir a penúria;
estender a beneficência;
criar a generosidade
consolar o sofrimento.

Existe porém, uma delas ao alcance de todos e que pode ser largamente exercida em qualquer lugar: o donativo da calma nos momentos atribulados da vida.
Recorda os bens espirituais que consegues distribuir e não marginalizes semelhante recurso.
Diante de reclamações e críticas, usa a tolerância que estabeleça a harmonia possível entre acusados e acusadores; recebendo injúrias e ofensas, silencia e esquece os desequilíbrios de que porventura te fizeste vítima, sustando calamidades da delinquência; perante a agressividade exagerada de alguém, guarda a serenidade que balsamize corações e pacifique ambientes; encontrando veículos de discórdia, emprega o entendimento que afaste choques e conflitos capazes de suscitar azedume e perturbação.

Cólera

A cólera apresenta dez negativas complexas que induzem a melhor das criaturas à pior das frus
trações:
1. Não resolve. Agrava
2. Não resgata. Complica
3. Não ilumina. Escurece
4. Não reúne. Separa
5. Não ajuda. Prejudica
6. Não equilibra. Desajusta
7. Não reconforta. Envenena
8. Não favorece. Dificulta
9. Não abençoa. Maldiz
10. Não edifica. Destrói

Evite a cólera como quem foge ao contato destruidor de alta tensão.
Mas se você amanhece de mau humor, antes que o flagelo se instale de todo na sua cabeça e na
sua voz, comece o dia rogando à Divina Bondade o socorro providencial de uma laringite.

Espírito: ANDRÉ LUIZ
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "O Espírito da Verdade" - EDIÇÃO FEB

Oração diante da palavra

Senhor!

Deste-me a palavra por semente de luz.

Auxiliou-me a cultivá-la.

Facultou-me envolvê-la na sombra que projeto.

Ensinou-me a falar para que se faça o melhor.

Ajudou-me a lembrar o que deve ser dito e a lavar da memória tudo aquilo que a tua bondade espera se lance no esquecimento.

Onde a irritação me procure, instruiu-me ao silêncio, e, onde lavre o incêndio da incompreensão ou do ódio, orientou-me que pronuncie a frase calmante, para que possa apagar o fogo da ira.

Em qualquer conversação, inspirou-me o conceito certo que se ajuste à edificação do bem, no momento exato, e alertou-me a ser vigilante para que o erro não me use, em louvor da perturbação.

Favor divino

Não te queixes de Deus porque dificuldades te povoem a vida.

Certamente Deus conhece todos os programas de ação que te estruturam a existência.

O parente difícil, a casa em provas, as tarefas árduas, a conquista de simpatia, o relacionamento espinhoso...

Tudo isso poderia Deus suprimir num momento.

Entretanto, sem os familiares incompreensivos, não conhecerias o amor; fora dos obstáculos domésticos, não adquiririas responsabilidade; fugindo aos encargos de sacrifício, não terias experiência; longe da procura de apoio, não praticarias fraternidade e desertando das lutas de equipe, acabarias desconhecendo o valor da cooperação.

Confia sempre

Não percas a tua fé entre as sombras do mundo.
Ainda que os teus pés estejam sangrando, segue para frente, erguendo-a por luz celeste, acima de ti mesmo.
Crê e trabalha.
Esforça-te no bem e espera com paciência.
Tudo passa e tudo se renova na Terra, mas o que vem do Céu permanecerá.
De todos os infelizes, os mais desditosos são os que perderam a confiança em Deus e em si
mesmos, porque o maior infortúnio é sofrer a privação da fé e prosseguir vivendo.
Eleva, pois, o teu olhar e caminha.
Luta e serve. Aprende e adianta-te.
Brilha a alvorada além da noite.
Hoje, é possível que a tempestade te amarfanhe o coração e te atormente o ideal, aguilhoando-te com a aflição ou ameaçando-te com o desencarne...
Não te esqueças, porém, de que amanhã será outro dia.


Espírito: MEIMEI
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Cartas do Coração" - EDIÇÃO LAKE

Perdoa agora

Não te detenhas!
Torna à presença do companheiro que te feriu e perdoa, ajudando-o a recuperar-se.
Reflete e ampara-o!
Quantas dores e quantas perturbações lhe vergastaram o Espírito, antes que a palavra dele se
erguesse para ofender-te, ou antes, que o seu braço, armado pela incompreensão, deferisse contra
ti o golpe deprimente?
Guarda a calma e auxilia, sem cessar.

Mais tarde, é possível que não possas, por tua vez, suportar o horrendo assalto da ira e reclama-
rás, igualmente, o bálsamo da alheia compreensão.

Retorna ao teu lar ou à tua luta e espalha, de novo, a bênção do amor, com todos os corações que
jazem envenenados, pelo fel da crueldade ou pela peçonha da calúnia.
Não hesites, porém!
Perdoa agora, enquanto a oportunidade de reaproximação te favorece os corretos desejos porque,
provavelmente, amanhã, o ensejo luminoso terá passado e não encontrarás, ao redor de ti senão a
cinza do arrependimento e o choro amargo da inútil lamentação.

Espírito: EMMANUEL
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "Assim Vencerás" - EDIÇÃO IDEAL

Perdão e liberdade

Aprendamos a perdoar, conquistando a liberdade de servir.
E imprescindível esquecer o erro para que o certo se efetue.

Onde trabalhas, exercita a tolerância construtiva para que a tarefa não se escravize a perturbações...

Em casa, guarda o entendimento fraterno, a fim de que a sombra não te algeme o Espírito ao
desespero...

Onde estiveres e onde fores, lembra-te do perdão incondicional, para que o auxílio dos outros te
assegure paz à vida. É indispensável que a compreensão reine hoje entre nós, para que amanhã
não estejamos encarcerados na rede das trevas.
O desencarne não é libertação pura e simples.

Desencarnar-se a o Espírito do corpo físico não é exonerar-se dos sentimentos que lhe são próprios.

Isso é a lei de Deus

Tolera, construindo

Todo o bem que puderes

Não exija dos outros

Dons que ainda te faltam.

Erros nos companheiros

Poderiam ser nossos.

Aceita as provações

Por exames de fé.

Trarás contigo a paz

Diante da lei

O Espírito consciente, transitando através dos milênios, nos domínios inferiores da natureza,

chega à condição de humanidade, depois de haver pago os tributos que a evolução lhe reclama.

À vista disso, é natural compreendas que o livre-arbítrio estabelece determinada posição para

cada Espírito, porquanto cada pessoa deve a si mesma a situação em que se coloca.

Possuis o que deste.

Granjearás o que vens dando.

Conheces o que aprendeste.

Saberás o que estudas.

Encontraste o que buscavas.

Acharás o que procuras.

Obtiveste o que pediste.

Alcançarás o que aspiras.

És hoje o que fizeste contigo ontem.

Serás amanhã o que fazes contigo hoje.

Calma

Se você está no ponto de estourar mentalmente silencie alguns instantes para pensar.

Se o motivo é moléstia no próprio corpo, a intranquilidade traz o pior.

Se a razão é enfermidade em pessoa querida, o seu desajuste é fator agravante.

Se você sofreu prejuízos materiais, a reclamação é uma bomba atrasada, lançando caso novo.

Se perdeu alguma afeição, a queixa tornará você uma pessoa menos simpática, junto de outros

amigos.

Se deixou alguma oportunidade valiosa para trás, a inquietação é desperdício de tempo.

Se contrariedades aparecem, o ato de esbravejar afastará de você o concurso espontâneo.

Tranquilidade

1. Comece o dia na luz da Oração.

O amor de Deus nunca falha.

2. Aceite qualquer dificuldade sem discutir.

Hoje é o tempo de fazer o melhor.

3. Trabalhe com alegria.

O preguiçoso, ainda mesmo quando se mostre num pedestal de ouro maciço, é um cadáver que

pensa.

4. Faça o bem o quanto possa.

Cada criatura transita entre as próprias criações.

O que mais sofremos

O que mais sofremos no mundo 

Não é a dificuldade. É o desânimo em superá-la.

Não é a provação. É o desespero diante do sofrimento.

Não é a doença. É o pavor de recebê-la.

Não é o parente infeliz. É a mágoa de tê-lo na equipe familiar.

Não é o fracasso. É a teimosia de não reconhecer os próprios erros.

Não é a ingratidão. É a incapacidade de amar sem egoísmo.

Não é a própria pequenez. É a revolta contra a superioridade dos outros.

Cinquenta e cinco questões sobre o espiritismo

Sobre este livro

Partindo do princípio, este livro visa explicar ao leitor, no formato de perguntas e respostas, alguns preceitos básicos do espiritismo, sua visão do divino, do mundo, da vida e do pós-vida. O objetivo é expor ao leitor o que é o espiritismo e como ele entende questões básicas sobre a existência, usando como fonte principal o Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, de 1857.

Nós espíritas utilizamos a Bíblia e o chamado “Codec de Kardec” (Livro dos Espíritos, Livro dos Médiuns, A Gênese, Céu e Inferno e O Evangelho Segundo o Espiritismo, todos escritos e publicados por Allan Kardec) como norte para nossos estudos, observando com atenção tudo o que é publicado além disso dizendo ser “espírita”, tendo em mente que nada deve divergir do ponto de vista moral passado por Jesus na Bíblia e dos posteriormente revelados pelos espíritos de luz à Kardec.

Entretanto, para aquele que não é espírita mas tem curiosidade sobre o que pensa o espiritismo acerca de determinado assunto, pode ser um tanto maçante ler todo o Codec de Kardec sem a certeza de que aquilo lhe agradará ou não. Dai surgiu a ideia deste livro. Algo simples e rápido, que busca introduzir ao leitor o conhecimento espírita para assim lhe sanar dúvidas e despertar sua curiosidade.

Dinheiro

PREFÁCIO

Prezado Leitor,

É possível consideres chocante o título deste livro, escrito com a finalidade de satisfazer às solicitações de numerosos amigos.

Não temos, porém, aqui quaisquer indicações para a conquista do dinheiro fácil, nem mapa capaz de localizar determinada maneira de fortuna.

Existem livros e livros, orientando os serviços diversos, indispensáveis à administração da moeda que surge, em todas as regiões do mundo, por símbolo do poder aquisitivo, entretanto, o nosso volume despretensioso se refere unicamente à aplicação dos recursos financeiros, no câmbio do amor ao próximo.

Pedimos vênia para reportar-nos ao dinheiro que se faz dínamo do trabalho e da beneficência.

Não desconhecemos que na base do dinheiro é que se fazem os aviões e os arranha-céus, no entanto, é igualmente com ele que se consegue o lençol para o doente desamparado ou a xícara de leite para a criança desvalida.

Para quantos procurem compreender o assunto em foco, trocando a moeda pelo pão destinado a socorrer as vítimas da penúria ou permutando-a pelo frasco de remédio para aliviar o enfermo estirado nos catres de ninguém, reconhecerão todos eles que o dinheiro também é de Deus. EMMANUEL

Uberaba, 15 de janeiro de 1986.

1 - Dinheiro

O dinheiro não compra o Céu, mas pode gerar a simpatia na Terra, quando utilizado nas tarefas do Bem.

Novo testamento

LEGITIMIDADE

Não é lícito duvidar de que o Novo Testamento, que hoje o possuímos, seja o mesmo que existiu e a Igreja reconheceu, quando foi impresso, pela primeira vez, em grego, no ano de 1516, datado de Basileia, um dos cantões da Suíça, onde faleceu Erasmo, natural da Holanda, nascido em 1467, doutor em Teologia, o homem mais sábio, o escritor mais espiritual do seu tempo, que conheceu a versão grega e dela fez uma tradução latina e uma paráfrase, bem como das edições de São Jerônimo, Santo Atanásio, São Basílio, São João Crisóstomo, etc.

Quanto às épocas anteriores à sua impressão nessas edições, como nas ulteriores, calcula-se em seiscentos o número dos manuscritos que hão sido comparados, alguns dos quais alcançam até ao século 4º; por exemplo: o Códice Sinaítico, descoberto no Convento de Santa Catarina, no monte Sinai, de 1844 a 1859, o mais completo, bem como o Códice do Vaticano, em Roma. Há também os manuscritos, do século 5º, do Código Alexandrino. Supõe-se que o manuscrito Códice Sinaítico seja uma das cinquenta cópias que o Imperador Constantino mandou fazer para Bizâncio, hoje Constantinopla, em 331, sob a vigilância de Eusébio de Cesaréia (da Palestina), chamado — o pai da história eclesiástica.

Os manuscritos mais antigos não tinham a forma de livros. Eram feitos em rolos de peles de animais, para uso dos escribas, nos tempos primitivos. Entre tanto, o papiro já era usado pelos egípcios, dois mil anos antes do nascimento do Cristo, segundo Kittos Cyclop, volume 2, página 974. Por muito tempo, essa planta foi o material de escrita de todo o mundo literário, constituindo para os egípcios um artigo de comércio muito lucrativo, razão por que uma das calamidades que o profeta Isaías (capítulo 4, versículo. 7) predisse contra o Egito foi a destruição da planta do papel.

Os manuscritos existentes, porém, pertencem a uma época posterior ao Cristo, de quando o velino e o pergaminho já haviam invalidado o papiro e de quando o livro, até certo ponto, já havia tomado o lugar do rolo. Nem só em grego, porém, existem manuscritos; há-os também em outras línguas, como, por exemplo, a antiga versão siríaca, vulgarmente chamada Peshito (simples, literal), que contém todos os livros do Novo Testamento, exceto a 2ª Epístola de Pedro, as 2ª e 3ª de João, a de Judas e o Apocalipse, versão essa que remonta ao século 2º.

Dia de finados

No dia 2 de novembro de 1864, a Sociedade Espírita de Paris reuniu-se pela primeira vez, com vistas a oferecer uma piedosa lembrança a seus colegas e irmãos espíritas já falecidos. Naquela ocasião, o Sr. Allan Kardec discorreu sobre o princípio da comunhão de pensamentos, como se vê no discurso seguinte:

Caros irmãos e irmãs espíritas,


Estamos reunidos, neste dia consagrado pelo uso à comemoração dos mortos, para darmos àqueles irmãos nossos que deixaram a Terra um testemunho particular de simpatia, para continuarmos as relações de afeição e de fraternidade que existiam entre eles e nós, quando eram vivos, e para invocarmos sobre eles a bondade do Todo-Poderoso. Mas por que nos reunirmos? Por que nos desviarmos de nossas ocupações? Não podemos fazer em particular o que cada um de nós propõe fazer em comum? Não o fazemos individualmente pelos nossos? Não o podemos fazer todos os dias e a cada hora? Qual, então, a utilidade de assim nos reunirmos num dia determinado? É sobre este ponto, senhores, que me proponho tecer algumas considerações.

A benevolência com que foi acolhida a ideia desta reunião é uma primeira resposta a essas diversas questões; é o sinal da necessidade que sentimos de estar juntos numa comunhão de pensamentos. Comunhão de pensamentos! Compreendemos bem todo o alcance desta expressão? É permitido duvidá-lo, pelo menos no que respeita ao maior número. O Espiritismo, que nos explica tantas coisas pelas leis que revela, ainda vem explicar a causa e a força dessa situação do espírito.

Comunhão de pensamento quer dizer pensamento comum, unidade de intenção, de vontade, de desejo, de aspiração. Ninguém pode desconhecer que o pensamento é uma força, mas uma força puramente moral e abstrata? Não: do contrário não se explicariam certos efeitos do pensamento e, ainda menos, a comunhão de pensamento. Para compreendê-lo, é preciso conhecer as propriedades e a ação dos elementos que constituem nossa essência espiritual, e é o Espiritismo que no-las ensina. O pensamento é o atributo característico do ser espiritual; é ele que distingue o espírito da matéria; sem o pensamento, o espírito não seria espírito. A vontade não é um atributo especial do espírito; é o pensamento chegado a certo grau de energia; é o pensamento transformado em força motriz. É pela vontade que o espírito imprime aos membros e ao corpo movimentos num determinado sentido. Mas se tem a força de agir sobre os órgãos materiais, quanto maior não deve ser essa força sobre os elementos fluídicos que nos rodeiam! O pensamento atua sobre os fluidos ambientes, como o som age sobre o ar; esses fluidos nos trazem o pensamento, como o ar nos traz o som. Pode, pois, dizer-se com toda a verdade que há nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como há no ar ondas e raios sonoros.

Uma assembleia é um foco onde irradiam pensamentos diversos; é como uma orquestra, um coro de pensamentos, onde cada um produz a sua nota. Disto resulta uma imensidão de correntes e de eflúvios fluídicos, dos quais cada um recebe a impressão pelo sentido espiritual, como num coro musical cada um recebe a impressão dos sons pelo sentido da audição.

Assim como há raios sonoros harmônicos ou discordantes, também há pensamentos harmônicos ou discordantes. Se o conjunto for harmônico, a impressão é agradável; se discordante, a impressão será penosa. Ora, para isto, não é necessário que o pensamento seja formulado em palavras; a irradiação fluídica não deixa de existir, quer seja ou não expressa. Se todas forem benéficas, os assistentes experimentarão um verdadeiro bem-estar e se sentirão à vontade, mas se se misturarem alguns pensamentos maus, produzirão o efeito de uma corrente de ar gelado num meio tépido.

Tal é a causa do sentimento de satisfação que se experimenta numa reunião simpática; aí reina uma espécie de atmosfera moral salubre, onde se respira à vontade; daí se sai reconfortado, porque aí nos impregnamos de eflúvios fluídicos salutares. Assim também se explicam a ansiedade e o mal-estar indefinível que se sente num meio antipático, onde os pensamentos malévolos provocam, a bem dizer, correntes fluídicas malsãs. A comunhão de pensamentos produz, pois, uma sorte de efeito físico que reage sobre o moral; só o Espiritismo poderia fazê-lo compreender. O homem o sente instintivamente, já que procura as reuniões onde sabe encontrar essa comunhão. Nessas reuniões homogêneas e simpáticas haure novas forças morais; poder-se-ia dizer que aí recupera as perdas fluídicas perdidas diariamente pela irradiação do pensamento, como recupera pelos alimentos as perdas do corpo material.

Essas considerações, senhores e caros irmãos, parecem afastar-nos do objetivo principal de nossa reunião e, contudo, elas nos conduzem diretamente a ele. As reuniões que têm por objeto a comemoração dos mortos repousam sobre a comunhão de pensamentos. Para compreender a sua utilidade, era necessário bem definir a natureza e os efeitos desta comunhão.

Para a explicação das coisas espirituais, por vezes me sirvo de comparações muito materiais e, talvez mesmo, um tanto forçadas, que nem sempre devem ser tomadas ao pé da letra. Mas é procedendo por analogia, do conhecido para o desconhecido, que chegamos a perceber, ao menos aproximadamente, do que escapa aos nossos sentidos; é a essas comparações que a Doutrina Espírita deve, em grande parte, ter sido tão facilmente compreendida, mesmo pelas mais vulgares inteligências, ao passo que se eu tivesse ficado nas abstrações da filosofia metafísica, ainda hoje só teria sido partilhada por algumas inteligências de escol. Ora, desde o princípio importava que ela fosse aceita pelas massas, porque a opinião destas exerce uma pressão que acaba fazendo lei e triunfando das mais tenazes oposições. Eis por que me esforcei em simplificá-la e torná-la clara, a fim de pô-la ao alcance de todos, mesmo com o risco de certa gente contestar-lhe o título de filosofia, porque não é suficientemente abstrata e porque saiu do nevoeiro da metafísica clássica.

Aos efeitos que acabo de descrever, relativos à comunhão de pensamentos, junta-se outro, que é sua consequência natural, e que importa não perder de vista: é a força que adquire o pensamento ou a vontade pelo conjunto dos pensamentos ou vontades reunidos. Sendo a vontade uma força ativa, essa força é multiplicada pelo número de vontades idênticas, como a força muscular é multiplicada pelo número de braços.

Firmado esse ponto, concebe-se que nas relações que se estabelecem entre os homens e os Espíritos possa haver, numa reunião onde reine perfeita comunhão de pensamentos, uma força atrativa ou repulsiva, que nem sempre possui o indivíduo isolado. Se, até o presente, as reuniões muito numerosas são menos favoráveis, é pela dificuldade de obter uma perfeita harmonia de pensamentos, resultante da imperfeição humana na Terra. Quanto mais numerosas as reuniões, mais aí se misturam elementos heterogêneos, que paralisam a ação dos bons elementos e que são como os grãos de areia numa engrenagem. Tal não se dá nos mundos mais adiantados e esse estado de coisas mudará em nosso planeta, à medida que os homens se tornarem melhores.

Para os espíritas, a comunhão de pensamentos tem um resultado ainda mais especial. Temos visto o efeito desta comunhão de homem a homem; prova-nos o Espiritismo que ele não é menor dos homens aos Espíritos, e reciprocamente. Com efeito, se o pensamento coletivo adquire força pelo número, um conjunto de pensamentos idênticos, tendo o bem por objetivo, terá mais força para neutralizar a ação dos Espíritos maus; também vemos que a tática destes últimos é levar à divisão e ao isolamento. Sozinho, um homem pode sucumbir, ao passo que se sua vontade for corroborada por outras vontades poderá resistir, conforme o axioma: A união faz a força, axioma verdadeiro, tanto do ponto de vista moral, quanto do físico.

Por outro lado, se a ação dos Espíritos malévolos pode ser paralisada por um pensamento comum, é evidente que a dos Espíritos bons será secundada; sua influência salutar não encontrará obstáculos; seus eflúvios fluídicos, não sendo detidos por correntes contrárias, espalhar-se-ão sobre todos os assistentes, precisamente porque todos os terão atraído pelo pensamento, não cada um em proveito pessoal, mas em benefício de todos, conforme a lei de caridade. Descerão sobre eles como línguas de fogo, para nos servirmos de uma admirável imagem do Evangelho.

Assim, pela comunhão de pensamentos os homens se assistem entre si e, ao mesmo tempo, assistem os Espíritos e são por estes assistidos. As relações entre os mundos visível e invisível não são mais individuais, mas coletivas e, por isto mesmo, mais poderosas em proveito das massas e dos indivíduos. Numa palavra, estabelecem a solidariedade, que é a base da fraternidade. Cada qual trabalha para todos, e não apenas para si; e trabalhando para todos, cada um aí encontra a sua parte. É o que o egoísmo não compreende. Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; com efeito, é aí que podem e devem exercer a sua força, porque o objetivo deve ser a libertação do pensamento das amarras da matéria.

Infelizmente, a maioria se afasta deste princípio à medida que a religião se torna uma questão de forma. Disto resulta que cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por sua própria conta e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade em relação aos outros assistentes; fica isolado em meio à multidão e só pensa no Céu para si mesmo.

Por certo não era assim que o entendia Jesus, ao dizer: “Quando duas ou mais pessoas estiverem reunidas em meu nome, aí estarei entre elas.” (Mateus, 18:20.73) Reunidos em meu nome, isto é, com um pensamento comum, mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, sua doutrina. Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e ações. Mentem os egoístas e os orgulhosos, quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos.

Chocadas por esses abusos e desvios, há pessoas que negam a utilidade das assembleias religiosas e, em consequência, a das edificações consagradas a tais assembleias. Em seu radicalismo, pensam que seria melhor construir asilos do que templos, uma vez que o templo de Deus está em toda parte e em toda parte Ele pode ser adorado; que cada um pode orar em sua casa e a qualquer hora, enquanto os pobres, os doentes e os enfermos necessitam de lugar de refúgio.

Mas porque cometeram abusos, porque se afastaram do reto caminho, devemos concluir que não existe o reto caminho e que tudo quanto se abusa seja mau? Não, certamente. Falar assim é desconhecer a fonte e os benefícios da comunhão de pensamentos, que deve ser a essência das assembleias religiosas; é ignorar as causas que a provocam. Concebe-se que os materialistas professem semelhantes ideias, já que em tudo fazem abstração da vida espiritual, mas da parte dos espiritualistas e, melhor ainda, dos espíritas, seria um contrassenso. O isolamento religioso, assim como o isolamento social, conduz ao egoísmo. Que alguns homens sejam bastante fortes por si mesmos, largamente dotados pelo coração, para que sua fé e caridade não necessitem ser revigoradas num foco comum, é possível; mas não é assim com as massas, por lhes faltar um estimulante, sem o qual poderiam se deixar levar pela indiferença. Além disso, qual o homem que poderá dizer-se bastante esclarecido para nada ter a aprender no tocante aos seus interesses futuros? bastante perfeito para abrir mão dos conselhos da vida presente? Será sempre capaz de instruir-se por si mesmo? Não; a maioria necessita de ensinamentos diretos em matéria de religião e de moral, como em matéria de ciência. Incontestavelmente, tais ensinos podem ser dados em toda parte, sob a abóbada do céu, como sob a de um templo, mas por que os homens não haveriam de ter lugares especiais para as questões celestes, como os têm para as terrenas? Por que não teriam assembleias religiosas, como têm assembleias políticas, científicas e industriais? Isto não impede as edificações em proveito dos infelizes. Dizemos, ademais, que haverá menos gente nos asilos, quando os homens compreenderem melhor seus interesses do Céu.

Se as assembleias religiosas — falo em geral, sem aludir a nenhum culto — muitas vezes se têm afastado de seu objetivo primitivo principal, que é a comunhão fraterna do pensamento; se o ensino ali ministrado nem sempre tem acompanhado o movimento progressivo da Humanidade, é que os homens não progridem todos ao mesmo tempo. O que não fazem num período, fazem em outro; à proporção que se esclarecem, veem as lacunas existentes em suas instituições, e as preenchem; compreendem que o que era bom numa época, em relação ao grau de civilização, torna-se insuficiente numa etapa mais avançada, e restabelecem o nível. Sabemos que o Espiritismo é a grande alavanca do progresso em todas as coisas; marca uma era de renovação. Saibamos, pois, esperar, não exigindo de uma época mais do que ela pode dar.

Como as plantas, é preciso que as ideias amadureçam, para que seus frutos sejam colhidos. Saibamos, além disso, fazer as necessárias concessões às épocas de transição, porque na natureza nada se opera de maneira brusca e instantânea. Em razão do motivo que hoje nos reúne, senhores e caros irmãos, julguei oportuno aproveitar a circunstância para desenvolver o princípio da comunhão de pensamentos, do ponto de vista do Espiritismo. Sendo o nosso objetivo unir-nos em intenção para oferecer, em comum, um testemunho particular de simpatia aos nossos irmãos falecidos, poderia ser útil chamar nossa atenção quanto às vantagens da reunião. Graças ao Espiritismo, compreendemos a força e os efeitos do pensamento coletivo; melhor explicamos o sentimento de bem-estar que experimentamos num meio homogêneo e simpático, mas igualmente sabemos que se dá o mesmo com os Espíritos, porque eles também recebem os eflúvios de todos os pensamentos benevolentes que, como numa nuvem de perfume, se elevam para eles. Os que são felizes experimentam a maior alegria neste concerto harmonioso; os que sofrem sentem-se mais aliviados; cada um de nós em particular ora, de preferência, por aqueles que o interessam ou que mais estima. Façamos que aqui todos tenham sua parte nas preces que dirigimos a Deus.

 

Fonte: revista espírita. FEB, dezembro de 1864. 

Influência da música sobre os criminosos, os loucos e os idiotas

A Revista musical do Siècle, exemplar de 21 de junho de 1864, continha o seguinte artigo:

Sob o título: Um órfão sob ferrolhos, o Sr. de Pontécoulant acaba de publicar excelente notícia em favor de uma boa causa. Parece que o diretor de uma casa central de detenção concebeu a engenhosa ideia de introduzir a música nas celas dos condenados. Compreendeu que seu dever não era apenas punir, mas corrigir.

Para agir com certeza sobre o caráter do prisioneiro, dorido pelo castigo, serviu-se da música. Começou por criar uma escola de canto. Os detentos que se haviam distinguido por sua boa conduta consideraram como uma recompensa fazer parte desse orfeão.

A penitenciária se achava, assim, transformada. Dentre cerca de mil prisioneiros, escolheram cem, que foram chamados a participar dos primeiros ensaios. O efeito foi muito grande sobre o moral desses infelizes. Uma infração dos regulamentos podia excluí-los da escola; puseram-se de acordo para respeitar as obrigações, que até então desdenhavam.

A fim de fazer melhor compreender a importância que ligam à instituição desses coros, lembrarei que o silêncio lhes é imposto habitualmente. Eles pensam, mas não falam. Poderiam esquecer a sua língua, da qual não mais se servem momentaneamente. É compreensível que, em tais condições, esses trechos musicais, falados e cantados, lhes caiam como um maná do céu. É a ocasião de se reunirem, ouvir vozes, romper a solidão, comover-se, existir. Repito: os resultados são excelentes. De setenta cantores que compunham o orfeão, este ano, dezesseis foram indultados. Não é concludente?

Esquecia-me de dizer que a experiência foi feita em Melun. É uma experiência a encorajar, um exemplo a seguir. Quem sabe se esses corações endurecidos talvez sintam se lhes fundir o gelo e possam ainda gostar de alguma coisa? Ensinando-lhes a cantar, lhes ensinam a não mais maldizer. Seu isolamento se povoa de seres, a cabeça se acalma e o trabalho pesado lhes parece menos duro. Cumprida a pena, muitas vezes reduzida pela aplicação e pela boa conduta, sairão transformados, e não pervertidos pelo ódio. Um dia visitei a casa de saúde do Dr. B..., em companhia de um alienista. De passagem, dizia este:

A religião e o progresso

Hoje geralmente se pensa que a Igreja admite o fogo do inferno como um fogo moral, e não como um fogo material. Tal é, pelo menos, a opinião da maioria dos teólogos e de muitos eclesiásticos esclarecidos. Contudo, é apenas uma opinião individual, e não uma crença adquirida pela ortodoxia, pois, do contrário, seria universalmente professada. Pode julgar-se pelo seguinte quadro, que um pregador traçou do inferno, durante a última quaresma, em Montreuil-sur-Mer:

O fogo do inferno é milhões de vezes mais intenso que o da Terra, e se um dos corpos que ali queimam sem se consumir viesse a ser lançado no nosso planeta, empestá-lo-ia de ponta a ponta! O inferno é uma vasta e sombria caverna, guarnecida de pregos pontiagudos, de lâminas de espadas afiadas, de navalhas bem cortantes, na qual são precipitadas as almas dos danados!

Seria supérfluo refutar esta descrição; no entanto, poderíamos perguntar ao orador onde colheu um conhecimento tão preciso do lugar que descreve. Por certo não foi no Evangelho, onde não se trata de pregos, nem de espadas, nem de navalhas. Para saber se essas lâminas são bem afiadas e bem cortantes, é preciso tê-las visto e experimentado. Será que, novo Eneas ou Orfeu, ele próprio teria descido a essa caverna sombria que, aliás, muito se assemelha ao Tártaro dos pagãos? Além disso, ele deveria ter explicado a ação que pregos e navalhas poderiam ter sobre as almas e a necessidade de serem bem afiados e de boa têmpera. Já que conhece tão bem os detalhes interiores do local, também deveria ter dito onde está situado. Não é no centro da Terra, pois supõe a hipótese de um dos corpos que ela encerra ter sido lançado em nosso planeta. Então é no espaço? Mas a Astronomia aí fixou o seu olhar muito antes, sem nada descobrir. É verdade que não olhou com os olhos da fé.

Seja como for, o quadro é feito para seduzir os incrédulos? É bastante duvidoso, pois é mais adequado para diminuir o número dos crentes.

Em contrapartida, citaremos o seguinte trecho de uma carta escrita de Riom, e relatada no jornal Vérité, em seu número de 20 de março de 1864:

Ontem, para minha grande surpresa e satisfação, ouvi com os próprios ouvidos esta serena confissão da boca de um eloquente pregador, em presença de numeroso e atônito auditório: Não há mais inferno... o inferno não existe mais... foi substituído admiravelmente pelos fogos da caridade e do amor, que resgatam as nossas faltas! Nossa Divina Doutrina (o Espiritismo) não está encerrada inteiramente nestas poucas palavras?

Contraditores do Espiritismo

A História haverá de registrar a lógica singular dos contraditores do Espiritismo, da qual vamos dar algumas amostras.

Do Departamento do Haute-Marne remetem-nos a pastoral do Sr. bispo de Langres, em que se nota a seguinte passagem:

[...] E eis que os homens que se dizem amigos da Humanidade, da liberdade e do progresso, mas que, na realidade, a sociedade deve contar no número de seus mais perigosos inimigos, se esforçam, por todos os meios, para arrancar (a fé) do coração das populações cristãs. Porque, caríssimos irmãos, é nosso dever vos advertir, nós que somos encarregados de velar pela guarda de vossas almas, a fim de que os nossos avisos vos tornem prudentes e precavidos: Talvez jamais se tenha visto uma conspiração mais odiosa, mais vasta, mais perigosa e mais hábil, isto é, organizada de modo mais infernal contra a fé católica que a que hoje existe. Conspiração das sociedades secretas, que trabalham na sombra para aniquilar o catolicismo, como se isto fosse possível; conspiração do protestantismo que, por uma propaganda ativa, busca insinuar-se por toda parte; conspiração dos filósofos racionalistas e anticristãos, que rejeitam, sem razão e contra toda razão, o sobrenatural e a religião revelada, e que se esforçam por fazer prevalecer no mundo letrado sua falsa e funesta doutrina; conspiração das sociedades espíritas que, pela prática supersticiosa da evocação dos Espíritos, entregam-se e incitam os outros a se consagrarem à pérfida maldade do espírito de mentira e de erro; conspiração de uma literatura ímpia ou corruptora; conspiração dos maus jornais e dos maus livros, que se propagam de modo assustador, à sombra de uma tolerância ou de uma liberdade louvada como progresso do século, como conquista do que chamam espírito moderno, e que não é senão um incitamento ao gênio do mal, um justo motivo de dor para uma nação católica, uma armadilha e um perigo muito evidente para todos os fiéis, seja qual for a classe a que pertençam, não suficientemente instruídos na religião, cujo número infelizmente é grande; conspiração, enfim, desse materialismo prático que não vê, não busca, não persegue senão o que diz respeito ao corpo e ao bem-estar físico; que não mais se ocupa da alma e de seu destino, como se não o houvesse, e cujo exemplo pernicioso seduz e arrasta facilmente as massas. Tais são, em resumo, caríssimos irmãos, os perigos que hoje corre a fé... etc.

Estamos perfeitamente de acordo com o Sr. bispo no que toca as funestas consequências do materialismo, mas é surpreendente vê-lo confundir na mesma reprovação o materialismo, que nega a alma, o futuro, Deus e a Providência, com o Espiritismo, que vem combatê-lo e dele triunfa pelas provas materiais que dá da existência da alma, precisamente com o auxílio dessas mesmas evocações pretensamente supersticiosas. Será porque leva vantagem onde a Igreja é impotente? Partilharia o Sr. bispo da opinião de certo eclesiástico que dizia do púlpito: “Prefiro vos saber fora da Igreja a nela vos ver entrar pelo Espiritismo!” E deste outro que dizia: “Prefiro um ateu, que em nada crê, a um espírita, que crê em Deus e na alma.” É uma opinião como outra qualquer e gostos não se discutem. Seja qual for a do Sr. bispo sobre este ponto, estimaríamos muito que ele respondesse às duas questões seguintes: “Como é que a Igreja, auxiliada pelos poderosos meios de ensino de que dispõe para fazer brilhar a verdade aos olhos de todos, não tem sido capaz de deter o materialismo, ao passo que o Espiritismo, nascido ontem, diariamente converte incrédulos endurecidos? — O meio pelo qual se atinge um objetivo é mais mau do que aquele com cujo auxílio não se o alcança?”

Teoria da presciência

Como é possível o conhecimento do futuro? Compreende-se a previsão dos acontecimentos que devam resultar do estado presente; não, porém, dos que não guardam qualquer relação com esse estado, nem, ainda menos, dos que são atribuídos ao acaso. As coisas futuras não existem, dizem; elas ainda se encontram no nada; como, pois, se há de saber que acontecerão? E, contudo, são muito numerosos os casos de predições realizadas, o que nos leva a conclusão de que ocorre aí um fenômeno para cuja explicação falta a chave, visto não haver efeito sem causa. É essa causa que vamos tentar descobrir e é ainda o Espiritismo, já por si mesmo chave de tantos mistérios, que no-la fornecerá, mostrando-nos, além disso, que o próprio fato das predições não se produz com exclusão das leis naturais. Tomemos para comparação um exemplo nas coisas usuais. Ele nos ajudará a compreender o princípio que teremos de desenvolver.

Suponhamos um homem colocado no alto de uma montanha, a contemplar a vasta extensão da planície à sua volta. Nessa situação, o espaço de uma légua será pouca coisa para ele, que poderá facilmente apanhar, de um golpe de vista, todos os acidentes do terreno, desde o começo até o fim da estrada que esteja diante de seus olhos. O viajante que pela primeira vez percorra essa estrada sabe que, caminhando, chegará ao fim dela, não passando isso de simples previsão da consequência que terá a sua marcha. Entretanto, os acidentes do terreno, as subidas e descidas, os rios que terá de transpor, os bosques que haja de atravessar, os precipícios em que poderá cair, os ladrões que o espreitam para roubá-lo, as casas hospitaleiras onde poderá repousar, tudo isso independe da sua pessoa; é para ele o desconhecido, o futuro, porque a sua vista não vai além da pequena área que o cerca. Quanto à duração, mede-a pelo tempo que gasta em percorrer o caminho. Tirai-lhe os pontos de referência, e a duração desaparecerá. Para o homem que está em cima da montanha e que o acompanha com o olhar, tudo aquilo está presente. Suponhamos que esse homem desce do seu ponto de observação e, indo ao encontro do viajante, lhe diz: “Em tal momento, encontrarás tal coisa, serás atacado e socorrido”. Estará predizendo o futuro, o futuro para o viajante, não para ele, autor da previsão, visto que, para ele, esse futuro é o presente.

Se, agora, sairmos do âmbito das coisas puramente materiais e entrarmos, pelo pensamento, no domínio da vida espiritual, veremos o fenômeno produzir-se em maior escala. Os Espíritos desmaterializados são como o homem da montanha; o espaço e a duração não existem para eles. Mas a extensão e a penetração da vista são proporcionais à depuração deles e à elevação que alcançaram na hierarquia espiritual. Eles são, com relação aos Espíritos inferiores, quais homens munidos de possantes telescópios, ao lado de outros que apenas dispõem dos olhos. Nos Espíritos inferiores, a visão é circunscrita, não só porque eles dificilmente podem afastar-se do globo a que se acham presos, como também porque a grosseria de seus perispíritos lhes vela as coisas distantes, do mesmo modo que um nevoeiro as oculta aos olhos do corpo.

Autoridade da doutrina espírita

Já abordamos esta questão em nosso último número, a propósito de um artigo especial (Da perfeição dos seres criados), mas ela é de tal gravidade e tem consequências tão importantes para o futuro do Espiritismo, que julgamos dever tratá-la de maneira mais completa.

Se a Doutrina Espírita fosse de concepção puramente humana, não teria por garantia senão as luzes daquele que a houvesse concebido. Ora, ninguém, neste mundo, poderia ter a pretensão de possuir, sozinho, a verdade absoluta. Se os Espíritos que a revelaram se tivessem manifestado a um só homem, nada lhe garantiria a origem, pois seria preciso acreditar, sob palavra, naquele que dissesse ter recebido deles os seus ensinos. Admitindo-se absoluta sinceridade de sua parte, quando muito poderia ele convencer as pessoas de suas relações; conseguiria sectários, mas nunca chegaria a congregar todo o mundo.

Quis Deus que a Nova Revelação chegasse aos homens por caminho mais rápido e mais autêntico; por isso encarregou os Espíritos de irem levá-la de um polo a outro, manifestando-se por toda parte, sem conferir a ninguém o privilégio exclusivo de lhes ouvir a palavra. Um homem pode ser enganado, pode enganar-se a si mesmo; já não será assim, quando milhões de criaturas veem e ouvem a mesma coisa: é uma garantia para cada um e para todos. Além disso, pode fazer-se que desapareça um homem, mas não se pode fazer que desapareçam as coletividades; podem queimar-se os livros, mas não se podem queimar os Espíritos. Ora, ainda que se queimassem todos os livros nem por isso a fonte da Doutrina deixaria de conservar-se menos inesgotável, pela razão mesma de não estar na Terra, de surgir em toda parte e de poderem todos dessedentar-se nela. Na falta de homens para difundi-la, haverá sempre os Espíritos, que atingem a todos e aos quais ninguém pode atingir.

São, pois, os próprios Espíritos que fazem a propaganda, com o auxílio dos inúmeros médiuns que eles vão suscitando de todos os lados. Se tivesse havido apenas um intérprete, por mais favorecido que fosse, o Espiritismo mal seria conhecido. E mesmo esse intérprete, qualquer que fosse a classe a que pertencesse, teria sido objeto das prevenções de muita gente e nem todas as nações o teriam aceitado, ao passo que os Espíritos, comunicando-se em toda parte, a todas as seitas e a todos os partidos, são aceitos por todos. O Espiritismo não tem nacionalidade, não faz parte de nenhum culto particular, nem é imposto por nenhuma classe social, visto que qualquer pessoa pode receber instruções de seus parentes e amigos de Além-Túmulo. Era preciso que fosse assim, para que ele pudesse conclamar todos os homens à fraternidade. Se não se mantivesse em terreno neutro, teria alimentado as dissensões, em vez de apaziguá-las.

Da perfeição dos seres criados

Por vezes pergunta-se se Deus não teria podido criar os Espíritos perfeitos, para lhes poupar o mal e todas as suas consequências.

Sem dúvida Deus o teria podido, já que é Todo-Poderoso; e se não o fez é que, em sua soberana sabedoria, julgou mais útil fosse de outro modo. Não compete ao homem perscrutar seus desígnios e, ainda menos, julgar e condenar suas obras. Desde que não pode admitir Deus sem o infinito das perfeições, sem a soberana bondade e a soberana justiça; desde que tem sob os olhos, incessantemente, milhares de provas de sua solicitude pelas criaturas, deve pensar que tal solicitude não poderia ter falhado na criação dos Espíritos. Na Terra o homem é como a criança, cuja visão limitada não vai além do estreito círculo do presente, e não pode julgar da utilidade de certas coisas. Deve, pois, inclinar-se ante o que ainda está acima de seu alcance. Todavia, tendo-lhe Deus dado a inteligência para se guiar, não lhe é vedado procurar compreender, detendo-se humildemente no limite que não pode transpor. Sobre todas as coisas mantidas no segredo de Deus, o homem não pode estabelecer senão sistemas mais ou menos prováveis. Para julgar qual desses sistemas mais se aproxima da verdade, há um critério seguro: os atributos essenciais da Divindade. Toda teoria, toda doutrina filosófica ou religiosa que tendesse a destruir a mínima parte de um só desses atributos pecaria pela base e estaria, por isto mesmo, eivada de erro. De onde se segue que o sistema mais verdadeiro será aquele que melhor conciliar-se com esses atributos.

Sendo Deus todo sabedoria e todo bondade, não poderia ter criado o mal para contrabalançar o bem; se do mal tivesse feito uma lei necessária, teria voluntariamente enfraquecido o poder do bem, porquanto aquilo que é mau não pode senão alterar e enfraquecer o que é bom. Ele estabeleceu leis que são inteiramente justas e boas; o homem seria perfeitamente feliz se as observasse escrupulosamente, mas a menor infração a essas leis causa uma perturbação cujo contragolpe experimenta; daí todas as suas vicissitudes. É, pois, ele próprio, a causa do mal por sua desobediência às Leis de Deus. Deus o criou livre de escolher seu caminho; o que tomou o mau caminho o fez por vontade própria e não pode acusar senão a si mesmo pelas consequências para si decorrentes. Pela destinação da Terra, só vemos Espíritos desta categoria, e é o que fez crer na necessidade do mal. Se pudéssemos abarcar o conjunto dos mundos, veríamos que os Espíritos que permaneceram no bom caminho percorrem as diversas fases de sua existência em condições completamente diferentes e que, desde que o mal não é geral, não poderia ser indispensável. Mas resta sempre a questão de saber por que Deus não criou os Espíritos perfeitos. Esta questão é análoga a esta outra: Por que a criança não nasce totalmente desenvolvida, com todas as aptidões, toda a experiência e todos os conhecimentos da idade viril? Há uma lei geral que rege todos os seres da Criação, animados e inanimados: a lei do progresso. Os Espíritos são a ela submetidos pela força das coisas, sem o que a exceção teria perturbado a harmonia geral e Deus quis dar-nos um exemplo sintetizado na progressão da infância. Desde que o mal não existe como necessidade na ordem das coisas, pois não é devido senão a Espíritos prevaricadores, a lei do progresso de modo algum os obriga a passar por esta fieira para chegar ao bem; ela só os obriga a passar pelo estado de inferioridade intelectual ou, por outras palavras, pela infância espiritual. Criados simples e ignorantes e, por isto mesmo imperfeitos, ou melhor, incompletos, devem adquirir por si mesmos e por sua própria atividade a ciência e a experiência que de início não podem ter. Se Deus os tivesse criado perfeitos, deveria tê-los dotado, desde o instante de sua criação, com a universalidade dos conhecimentos; tê-los-ia isentado de todo trabalho intelectual, mas, ao mesmo tempo, lhes teria tirado a atividade que devem desenvolver para adquirir, e pela qual concorrem, como encarnados e desencarnados, ao aperfeiçoamento material dos mundos, trabalho que não incumbe mais aos Espíritos Superiores, encarregados somente de dirigir o aperfeiçoamento moral. Por sua própria inferioridade, tornam-se uma engrenagem essencial à obra geral da Criação. Por outro lado, se os tivesse criado infalíveis, isto é, isentos da possibilidade de fazer o mal, eles fatalmente teriam sido impelidos ao bem, como mecânicos bem preparados que fizessem automaticamente obras de precisão. Mas, então, não mais livre-arbítrio e, por conseguinte, não mais independência; assemelhar-se-iam a esses homens que nascem com a fortuna feita e se julgam dispensados de nada fazer. Submetendo-os à lei do progresso facultativo, quis Deus que tivessem o mérito de suas obras, a fim de terem direito à recompensa e desfrutarem a satisfação de haver conquistado suas próprias posições.

Estudos sobre a reencarnação

I - Limites da reencarnação

A reencarnação é necessária enquanto a matéria domina o Espírito. Mas, desde que o Espírito encarnado chegou a dominar a matéria e a anular os efeitos de sua reação sobre o moral, a reencarnação não tem mais nenhuma utilidade nem razão de ser. Com efeito, o corpo é necessário ao Espírito para o trabalho progressivo até que, tendo chegado a manejar este instrumento à vontade, a lhe imprimir sua vontade, o trabalho esteja realizado. Então lhe é necessário outro campo para a sua marcha, ao seu adiantamento para o infinito; é-lhe necessário outro círculo de estudos, em que a matéria grosseira das esferas inferiores seja desconhecida. Tendo se depurado e experimentado suas sensações, na Terra ou em globos análogos, está maduro para a vida espiritual e seus estudos. Havendo-se elevado acima de todas as sensações corporais, não mais tem nenhum desses desejos ou necessidades inerentes à corporeidade: é Espírito e vive pelas sensações espirituais, que são infinitamente mais deliciosas do que as mais agradáveis sensações corporais.

II - A reencarnação e as aspirações do homem

As aspirações da alma conduzem à sua realização, e esta realização se cumpre na reencarnação, enquanto o Espírito está no trabalho material. Explico-me. Tomemos o Espírito em seus primórdios na carreira humana: estúpido e bruto, sente, contudo, a chama divina em si, pois que adora um Deus, que materializa consoante a sua materialidade. Nesse ser, ainda vizinho do animal, há uma aspiração instintiva, quase inconsciente, para um estado menos inferior. Começa por desejar satisfazer seus apetites materiais e inveja os que vê num estado melhor que o seu; assim, numa encarnação seguinte, ele mesmo escolhe, ou, antes, é arrastado a um corpo mais aperfeiçoado; e sempre, em cada uma de suas existências, deseja um melhoramento material; jamais se sentindo satisfeito, quer subir sempre, porque a aspiração à felicidade é a grande alavanca do progresso.

À medida que as sensações corporais se tornam maiores, mais aperfeiçoadas, suas sensações espirituais também despertam e crescem. Então começa o trabalho moral e a depuração da alma se une à aspiração do corpo para chegar ao estado superior.

Primeiras lições de moral da infância

De todas as chagas morais da sociedade, o egoísmo parece a mais difícil de extirpar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais alimentada pelos mesmos hábitos da educação. Tem-se a impressão que, desde o berço, a gente se esforça para excitar certas paixões que, mais tarde, se tornam uma segunda natureza, e nos admiramos dos vícios da sociedade, quando as crianças os sugam com o leite. Eis um exemplo que, como cada um pode julgar, pertence mais à regra do que à exceção.

Numa família de nosso conhecimento há uma menina de 4 a 5 anos, de rara inteligência, mas que tem os pequenos defeitos das crianças mimadas, ou seja, é um pouco caprichosa, chorona, teimosa, e nem sempre agradece quando lhe dão alguma coisa, o que os pais levam a peito corrigir, porque, fora desses pequenos defeitos, segundo eles, ela tem um coração de ouro, expressão consagrada. Vejamos como eles agem para lhe tirar essas pequenas manchas e conservar o ouro em sua pureza.

Certo dia, trouxeram um doce à criança e, como de costume, lhe disseram: “Tu o comerás, se fores ajuizada.” Primeira lição de gulodice. Quantas vezes, à mesa, não acontece dizerem a uma criança que não comerá tal guloseima se chorar. Dizem: “Faze isto ou faze aquilo e terás creme”, ou qualquer outra coisa que lhe apeteça; e a criança é constrangida, não pela razão, mas tendo em vista a satisfação de um desejo sensual que incentivam. É ainda muito pior quando lhe dizem, o que não é menos frequente, que darão a sua parte a outra. Aqui já não é só a gulodice que está em jogo, é a inveja. A criança fará o que lhe pedem, não só para ter, mas para que a outra não tenha. Querem lhe dar uma lição de generosidade? Então dizem: “Dá esta fruta ou este brinquedo a alguém.” Se ela recusa, não deixam de acrescentar, para nela estimular um bom sentimento: “Eu te darei outro.” Assim, a criança só se decide a ser generosa quando está certa de nada perder.

Progresso nas primeiras encarnações

Pergunta – Duas almas, criadas simples e ignorantes, que não conhecem o bem, nem o mal, vêm à Terra. Se, numa primeira existência, uma seguir o caminho do bem, e a outra, o do mal, já que, de certo modo, é o acaso que as conduz, elas não merecem castigo nem recompensa. Essa primeira viagem terrestre não deve ter servido senão para dar a cada uma delas a consciência de sua existência, consciência que antes não tinham. Para ser lógico, seria preciso admitir que as punições e as recompensas só começariam a ser infligidas ou concedidas a partir da segunda encarnação, quando os Espíritos já soubessem distinguir entre o bem e o mal, experiência que lhes faltaria por ocasião de sua criação, mas que adquiririam por meio de sua primeira encarnação. Tal opinião tem fundamento?

Resposta – Embora esta pergunta já esteja resolvida pela Doutrina Espírita, vamos respondê-la, para a instrução de todos.

Ignoramos absolutamente em que condições se dão as primeiras encarnações da alma; é um desses princípios das coisas que estão nos segredos de Deus. Apenas sabemos que são criadas simples e ignorantes, tendo todas, assim, o mesmo ponto de partida, o que é conforme à justiça; o que sabemos ainda é que o livre-arbítrio só se desenvolve pouco a pouco e após numerosas evoluções na vida corpórea. Não é, pois, nem após a primeira, nem depois da segunda encarnação que a alma tem consciência bastante clara de si mesma, para ser responsável por seus atos; não é senão após a centésima, talvez após a milésima. Dá-se o mesmo com a criança, que não goza da plenitude de suas faculdades, nem um, nem dois dias após o nascimento, mas depois de anos. E, ainda, quando a alma goza do livre- -arbítrio, a responsabilidade cresce em razão do desenvolvimento de sua inteligência; é assim, por exemplo, que um selvagem que come os seus semelhantes é menos castigado que o homem civilizado, que comete uma simples injustiça. Sem dúvida os nossos selvagens estão muito atrasados em relação a nós e, no entanto, já se acham bem longe de seu ponto de partida. Durante longos períodos, a alma encarnada é submetida à influência exclusiva dos instintos de conservação; pouco a pouco esses instintos se transformam em instintos inteligentes ou, melhor dizendo, se equilibram com a inteligência; mais tarde, e sempre gradualmente, a inteligência domina os instintos. Só então é que começa a séria responsabilidade.