Amélie-Gabrielle Boudet

Amélie-Gabrielle Boudet (Thiais, Departamento do Sena, 21 de novembro de 1795 - Paris, 21 de janeiro de 1883) foi a esposa de Allan Kardec e sua fiel companheira no trabalho de codificação e propagação do Espiritismo. Formada em Letras e em Belas Artes, atuou ainda como professora e artista plástica. Após a desencarnação do Codificador, a viúva assumiu oficialmente os encargos administrativos das instituições fundadas pelo esposo, mantendo-se absolutamente coerente com as idieas kardecistas.

Gaby, como era chamada intimamente, era filha do tabelião Julien-Louis Boudet e de sua esposa, Julie-Louise Seigneat de Lacombe. Cursou o primário na sua cidadezinha natal e em seguida, estabelecendo-se em Paris, formou-se pedagoga na Escola Normal Leiga, que seguia o método educacional pestalozziano.



Além de lecionar, foi poetisa e artista plástica, com domínio das técnicas tradicionais. Foi também professora de Letras e Belas Artes, tendo sido autora das seguintes obras: "Contos Primaveris" (1825), "Noções de Desenho" (1826) e "O Essencial em Belas Artes" (1828).

Canuto Abreu assim a descreve, por ocasião do jantar especial em comemoração ao lançamento de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857:

"Miudinha, graciosa, muito vivaz, aparentava a mesma idade do marido, apesar de nove anos mais velha. Os cabelos crespos e bastos, outrora castanhos, repartidos ao meio e descidos até os ombros, onde as pontas dobradas se prendiam por sobre a nuca num elo de tartaruga, começavam apenas a grisalhar, dando-lhe ao semblante um ar de amável austeridade. As faces cheias, coradas ao natural, quase sem rugas, denotavam trato e boa saúde. A testa larga e alta, encimando sobrancelhas circunflexas, acusava capacidade intelectual. Os olhos pardos e rasgados, indicavam sagacidade e doçura. O nariz fino e reto, impunha confiança em seu caráter. Os lábios delicados, prontos a sorrir, amparavam seu olhar perscrutador, desarmando prevenções, mas exigindo constante respeito."

O Livro dos Espíritos e sua Tradição Histórica e Lendária, Canuto Abreu - Cap. 6.

Casou-se em 9 de fevereiro de 1832 com o também professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail — o futuro codificador espírita, para o que adotaria o pseudônimo de Allan Kardec. Junto ao esposo, foi cofundadora e professora do Instituto Técnico, que dispunha de cursos de várias disciplinas. Participou ativamente das campanhas do Prof. Rivail em prol da reorganização e democratização do ensino para o seu país, até que em 1833, pela lei Guizot, o ensino primário na França fosse oficialmente estabelecido.

Em 1835, o Instituto sofreu um golpe financeiro, entrou em liquidação e teve de encerrar suas atividades. Rivail passou a trabalhar como contador de casas comerciais. No entanto, permanecia no casal o ideal educacional e os dois passaram a oferecer cursos gratuitos na própria residência, o que se deu entre os anos 1835 e 1840.


Além de trabalhar também como tradutor de livros e artigos, seu esposo dedicou-se a escrever obras pedagógicas — por exemplo, Catecismo gramatical da Língua Francesa (1848) e Programa dos Cursos ordinários de Química, Física, Astronomia, Fisiologia (1849) — que foram adotadas por diversos estabelecimentos de ensino, inclusive a Universidade de França. As publicações deram prestígio ao professor e, com isso, o casal alcançou uma boa tranquilidade financeira.

A Era Espírita

A partir de quando seu esposo ingressou no estudo e pesquisa acerca do fenômeno das Mesas Girantes, Amélie foi testemunha e também contribuinte dessa nova fase do pedagogo, que, com o lançamento de O Livro dos Espíritos, em 18 de abril de 1857, passou a adotar o pseudônimo Allan Kardec.

Amélie apoiou e participou ativamente dos desdobramentos daquela empreitada revolucionária. A própria residência do casal, situada à Rua dos Mártires, n°8, em Paris, por muito tempo abriu as portas para a multidão que se oferecia para participar das sessões experimentais de Espiritismo, até que fosse fundada a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, cuja sede foi estabelecida no Palais-Royal.

Essa sustentação doméstica da Madame Kardec foi determinante para que o codificador pudesse dedicar-se ao intenso ofício que abraçara e cuja responsabilidade que só aumentava, pois que mais adiante viria a lançar a Revista Espírita, editada mensalmente.

Ela também acompanhou o líder espírita em algumas de suas viagens missionárias em prol da propagação da doutrina — embora custeadas pelas receitas particulares do casal.

O reconhecimento das qualidades de Amélie fica evidente nas citações de seu esposo a respeito, tal como nessa carinhosa declaração, em meio a uma prestação de contas à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas:

"(...) minha mulher, que nem é mais ambiciosa, nem mais interesseira do que eu concordou plenamente com meus pontos de vista e me apoiou em minha tarefa laboriosa, como o faz ainda, por um trabalho muitas vezes acima de suas forças, sacrificando sem pesar os prazeres e distrações do mundo, aos quais sua posição de família a tinham habituado."

Allan Kardec, Revista Espírita, Junho de 1865 - Relatório da caixa do Espiritismo

Estava com 74 anos de idade quando, em 31 de Março de 1869, ficou viúva. Por ocasião do velório, um velho confrade espírita, o Sr. Muller, discursou: "Falo em nome de sua viúva, da qual lhe foi companheira fiel e ditosa durante trinta e sete anos de felicidade sem nuvens nem desgostos, daquela que lhe compartiu as crenças e os trabalhos, as vicissitudes e as alegrias, e que se orgulhava da pureza dos costumes, da honestidade absoluta e do desinteresse sublime do esposo; hoje, sozinha, é ela quem nos dá a todos o exemplo de coragem, de tolerância, do perdão das injúrias e do dever escrupulosamente cumprido."

Madame Kardec recebeu numerosas e efusivas manifestações de simpatia e encorajamento, da França e do estrangeiro, o que lhe trouxe novas forças para o prosseguimento da obra do seu amado esposo. Assumiu a administração da Sociedade Anônima para a continuação das obras espíritas — uma das últimas providências de Allan Kardec —, que detinha os direitos da Livraria Espírita e da Revista Espírita. Continuou também representando o posto do esposo na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas.

Com a idade já avançada, teve como mandatário nas atribuições doutrinárias Pierre-Gaëtan Leymarie, um dos mais próximos discípulos de Kardec. Contudo, nos seus últimos anos, ela teve o desprezar de constatar desvios administrativos e doutrinários daquele seu encarregado, então inclinado a se aventurar em novas ideologias e doutrinas ocultistas (como o Roustainguismo e o Teosofismo), encontrando amparo sincero nos amigos Gabriel Delanne e sua esposa e sua principal confidente Berthe Fropo, esta que, através da obra Beaucoup de Lumière (Muita Luz), encarregou-se de denunciar publicamente os desmandos de Leymarie e seus signatários. Para fazer frente a isso, viúva Kardec, Madame Fropo e Delanne fundariam em 24 de dezembro de 1882 uma nova instituição: a União Espírita Francesa (Union Spirite Française) e, por conseguinte, o seu jornal correspondente, intitulado Le Spiritisme.

A lucidez e a saúde de quem "ainda lia sem o auxílio de óculos" foi bruscamente interrompida em 21 de janeiro de 1883, quando então falecera, com os seus 87 anos, conforme descreve sua amiga Madame Fropo:

"Na sexta-feira, dia 19 de janeiro de 1883, ela teve um mal súbito ao deixar a sua cama; ela caiu e bateu com a cabeça na quina do mármore de sua cômoda, o que fez perder a consciência. Auxiliada por uma criada, eu a coloquei para deitar, mas pelo sorriso (trejeito) de sua boca, eu notei que ela teve uma congestão cerebral (...)

Eu fui buscar o médico, que me declarou que ela já estava morta..."

Beaucoup de Lumière, Berthe Fropo

De acordo com os seus próprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e realizado espiriticamente, saindo o féretro de sua residência, na Avenida e Vila Ségur n° 39, para o Père-Lachaise, onde jaziam os restos mortais do esposo.

Não deixando herdeiros diretos, pois que não teve filhos, seu patrimônio teve a destinação rezada no testamento de Kardec, contemplando a Sociedade Anônima, que logo mais viria a ser causa de disputas diversas, tendo sido P.-G. Leymarie o primeiro a requerer os direitos de herança.

Atualmente, um centro de estudos espíritas em Paris homenageia-a com o seu nome: Institut Amélie Boudet. 

Alexandre Aksakof

Alexandre Aksakof (Ripievka, Rússia, 27 de maio de 1832 - São Petersburgo, Rússia, 4 de janeiro de 1903) foi um filósofo, jornalista, editor, tradutor, diplomata russo e conselheiro do imperador Alexandre III. É lembrado pelo Movimento Espírita como um dos mais respeitados pesquisadores dos fenômenos espirituais que caracterizaram o Espiritualismo Moderno no século XIX, tendo compartilhado estudos acerca das manifestações de Mesas Girantes e, especialmente, as de materialização de Espíritos, ao lado de outros eminentes cientistas, junto aos mais reconhecidos médiuns de seu tempo. Defendeu suas convicções em relação à veracidade dos fenômenos espíritas em obras como Animismo e Espiritismo — um clássico da literatura espírita internacional. Deve-se a ele as primeiras traduções das obras de Allan Kardec para o idioma russo.

Aksakof nasceu em uma família de importante destaque na nobreza russa, com parentesco próximo de célebres membros da literatura e das ciências na Rússia. Estudioso, formou-se em várias disciplinas e foi professor na famosa academia de Leipzig, na Alemanha. Logo mais seria nomeado diplomata e se tornaria um dos mais próximos conselheiros do Czar Alexandre III.

Inclinação à Filosofia e espiritualidade

Desde sua mocidade, Aksakof já demonstrava acentuado interesse em Filosofia e investigações a respeito das coisas relacionadas com a alma e o mundo espiritual, porém, sempre norteado por um caráter científico. Preocupado em melhor fundamentar suas convicções, debruça-se sobre o estudo histórico das religiões, pelo que vai aprender hebraico, grego e latim.

Dedicou-se por longo tempo a esmiuçar a obra do polímata sueco Emanuel Swedenborg e suas revelações espirituais — conquanto fortemente carregada de descrições místicas. Em 1852, com apenas vinte anos de idade, faz um apanhado dessa investida e, em francês (o idioma preferido dos pensadores de seu tempo), publica Uma exposição metódica do sentido espiritual do Apocalipse, segundo o Apocalipse revelado.

Sua iniciação ao Espiritualismo Moderno se deu em 1854, quando caiu em suas mãos a obra de Andrew Jackson Davis: Revelações da Natureza Divina, levando a Aksakof novas aspirações e tendências intelectuais, reconhecendo um mundo espiritual de cuja realidade não mais duvidava.

Em 1855, para fazer um estudo completo, fisiológico e psicológico do homem, Aksakof matriculou-se como estudante livre na Faculdade de Medicina de Moscou, ao mesmo tempo em que ampliava seus conhecimentos sobre Física, Química e Matemática. Nesse período, recebeu uma obra de Beecher: Revista de Manifestações Espíritas — a primeira que sobre esse assunto chegou às suas mãos e, procurando colocar-se ao corrente das publicações sobre tal assunto, e seguir, passo a passo, o movimento espiritista na América e na Europa, fortalecendo os seus conhecimentos com todos os livros sobre Magnetismo e Espiritismo. Neste mesmo ano, Aksakof dá início ao trabalho de tradução das obras básicas de Allan Kardec para a sua língua nativa, o que lhe confere um legítimo curso espírita.

Pesquisas espíritas

Ainda na Alemanha, enquanto professor da Academia de Leipzig, ele funda e dirige o jornal "Psychische Studien" (Estudos Psíquicos), ao passo que intensifica suas pesquisas práticas, inclusive participando de comissões de investigações científicas sobre os fenômenos espirituais, ao lado de outros notáveis cientistas, como William Crookes, Charles Richet, Cesare Lombroso, Ernesto Bozzano, Gabriel Delanne, dentre outros, junto a experimentações mediúnicas através de considerados médiuns, tais como Daniel Dunglas Home, Eusápia Palladino, Elizabeth d'Espérance e Linda Gazzera.

Em 1881, Aksakof patrocinou a fundação e foi diretor do semanário Rebus — primeira publicação de uma revista de assuntos psíquicos na Rússia.

Resposta espírita à teoria do inconsciente

Em 1890, publica Animismo e Espiritismo — que se tornaria um clássico da literatura espiritualista mundial, tendo sido traduzido para várias línguas, inclusive para o português (pela Federação Espírita Brasileira).

O livro é o apanhado das pesquisas de Aksakof e uma resposta à tese proposta pelo filósofo alemão Eduard Von Hartmann, em Der Spiritismus (O Espiritismo), de 1885, pela qual, os chamados fenômenos espirituais seriam apenas manifestações do "inconsciente".

Karl Robert Eduard Von Hartmann (1842-1906) era um célebre discípulo de Schopenhauer (lembrado pela sua filosofia ateia e pessimista) cujas ideias serviram de base para a psicanálise de Sigmund Freud. A negação de Von Hartmann quanto às ideias espíritas continuaram na sua obra-prima Filosofia do Inconsciente, de 1865.

A refutação de Aksakof da ideia de que apenas o inconsciente criaria os fenômenos espirituais foi tão fundamentada que a Revista Espírita, edição de outubro de 1895, que Animismo e Espiritismo "é incontestavelmente a obra mais importante e mais completa que jamais foi escrita sobre o Espiritismo, no ponto de vista científico e filosófico".

Prefaciando essa sua obra, Aksakof escreveu:

"Não pude fazer outra coisa mais do que afirmar publicamente o que vi, ouvi e senti; e quando centenas, milhares de pessoas afirmam a mesma coisa, quanto ao gênero do fenômeno, apesar da variedade infinita das particularidades, a fé no tipo de fenômeno se impõe". "Não posso, pois, lamentar ter consagrado toda a minha vida à aquisição desse objetivo, se bem que por caminhos impopulares e ilusórios, mas que eu sei são mais infalíveis do que essa ciência. E, se consegui de minha parte, trazer ainda que só uma pedra à ereção do templo do Espírito — que a Humanidade, fiel à voz interior, edifica através dos séculos com tanto labor, será para mim a única e mais alta recompensa a que posso aspirar."

Alexandre Aksakof, Animismo e Espiritismo - Prefácio 

Principais obras de Aksakof

  • Animismo e Espiritismo (1890)
  • Um Caso de Desmaterialização (1896)
  • Estudo sobre as Materializações de Formas Humanas (1897)
  • Precursores do Espiritismo desde 250 anos
  • Um Momento de Preocupação Científica.

Humberto de Campos

Humberto de Campos Veras (Miritiba, Maranhão, 25 de outubro de 1886 - Rio de Janeiro, RJ, 5 de dezembro de 1934) foi um jornalista, escritor, político, membro da Academia Brasileira de Letras, lembrado pelo Movimento Espírita pelas obras ditadas, depois de sua desencarnação, através da mediunidade de Chico Xavier, especialmente Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho. Algumas dessas obras foram assinadas com o pseudônimo Irmão X, devido implicações de direitos autorais. É também carinhosamente chamado de "Repórter do Além".

Humberto de Campos nasceu em uma família humilde de um vilarejo do Norte Maranhense então chamado Miritiba, que em 1934 foi promovido a município e, em sua homenagem, rebatizado para Município de Humberto de Campos. Aos seis anos ficou órfão do pai e foi com sua mãe morar na capital, São Luiz, onde desde cedo começou a trabalhar no comércio para ajudar no sustento da sua família.

Formou-se em jornalismo e muito rapidamente ganha notoriedade. Depois de passar pelos jornais Folha do Norte e A Província do Pará, em Belém do Pará, transfere-se em 1912 para o Rio de Janeiro, então Capital Federal, onde foi admitido no jornal O Imparcial, trabalhando ao lado de notáveis figuras como Rui Barbosa e José Veríssimo, além de tornar-se amigo de ilustres literatos, como Olavo Bilac.

Além de brilhante repórter, Humberto de Campos ficou famoso por suas crônicas e contos, levando-o em 1920 a ser eleito membro da Academia Brasileira de Letras, sucedendo o amigo Emílio de Menezes na cadeira n° 20, pertencente ao patrono Joaquim  Manuel de Macedo. No ano seguinte, foi eleito Deputado Federal pelo Maranhão, sendo reeleito nas sucessivas eleições até ser cassado pelo golpe de Estado culminado pela Revolução de 1930.

Após um período de grandes dificuldades financeiras e já com sérios problemas de saúde, volta a ganhar destaque nacional em 1933 ao publicar Memórias, em que descreve recordações da infância e juventude. O sucesso de venda e crítica o inspira a compor um segundo volume, que seria publicada postumamente, como Memórias Inacabadas, visto seu desencarne antes da conclusão do livro.

Humberto de Campos e o Parnaso de Chico Xavier

Em 9 de julho de 1932 a Federação Espírita Brasileira publica Parnaso de Além-Túmulo, o primeiro livro psicografado por Chico Xavier, contendo uma coleção de poemas, ditados por Espíritos de eminentes escritores, como Augusto dos Anjos, Castro Alves, Casimiro de Abreu, Cruz e Souza, Artur Azevedo dentre outros. A obra causa grande impacto no meio literário e acirrado debate entre os críticos. Chamados a analisar a obra, alguns imortais da Academia deram seu parecer sobre a legitimidade das autorias e Humberto de Campos foi um dos que opinou favoravelmente à autenticidade das referências, escrevendo para o jornal Diário Carioca:

"Eu faltaria, entretanto, ao dever que me é imposto pela consciência, se não confessasse que, fazendo versos pelas penas do Sr. Francisco Cândido Xavier, os poetas de que ele é intérprete apresentam as mesmas características de inspiração e de expressão que os identificavam neste planeta. Os temas abordados são os que os preocuparam em vida. O gosto é o mesmo e o verso obedece, ordinariamente, à mesma pauta musical. Frouxo e ingênuo em Casimiro de Abreu, largo e sonoro em Castro Alves, sarcástico e variado em Junqueiro, fúnebre e grave em Antero, filosófico e profundo em Augusto dos Anjos."

Humberto de Campos 

Morte e retorno: o Repórter do Além

Humberto de Campos desencarnou em 1934, com tão-somente 48 anos de idade, no auge de seu reconhecimento, depois de sofrer anos com o agravamento de seu estado de saúde, como perda gradual da visão e problemas no aparelho digestivo.

Apenas três meses após sua desencarnação, ele se manifesta ao médium Chico Xavier, oferecendo-se para uma parceria de trabalho que mais tarde resultaria em grandes obras espíritas. A primeira crônica já viria dois meses depois: "A palavra dos mortos", que iria servir de prefácio para o livro Palavras do Infinito, publicado em 1936. No ano seguinte, o Espírito Humberto de Campos ditaria Crônicas de Além-Túmulo.

A grande obra do Repórter do Além pela psicografia de Chico Xavier é publicada em 1938: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho — um clássico da literatura espírita. Sua repercussão motivou um célebre processo judicial que foi acompanhado pela mídia de todo o país.

No ano de 1944, a viúva de Humberto de Campos, Catarina Vergolino de Campos, ingressou em juízo, movendo um processo, que se torna célebre, contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier, no sentido de obter uma declaração, por sentença, de que essa obra mediúnica "era ou não do Espírito de Humberto de Campos", e que em caso afirmativo, se aplicassem as sanções previstas em lei, com o repasse dos direitos autorais à esposa e os três filhos herdeiros do falecido escritor.

Em meio ao processo, mãe de Humberto de Campos, D. Ana de Campos Veras, rompeu o silêncio para ofertar ao médium de Pedro Leopoldo a fotografia do seu próprio filho, com esta expressiva dedicatória: "Ao Prezado Sr. Francisco Xavier, dedicado intérprete espiritual do meu saudoso Humberto, ofereço com muito afeto esta fotografia, como prova de amizade e gratidão. Realmente, li emocionada as Crônicas de Além-Túmulo, e verifiquei que o estilo é o mesmo de meu filho. Não tenho dúvidas em afirmar isso e não conheço nenhuma explicação científica para esclarecer esse mistério, principalmente se considerarmos que Francisco Xavier é um cidadão de conhecimentos medíocres. Onde há fraude? Na hipótese de o Tribunal reconhecer aquela obra como realmente da autoria de Humberto, é claro que, por justiça, os direitos autorais venham a pertencer à família. No caso, porém, de os juízes decidirem em contrário, acho que os intelectuais patriotas fariam ato de justiça aceitando Francisco Cândido Xavier na Academia Brasileira de Letras... Só um homem muito inteligente, muito culto, e de fino talento literário, poderia ter escrito essa produção, tão identificada com a de meu filho."

Na noite de 15 de julho de 1944, quando o processo atingia o clímax, o Espírito Humberto de Campos retorna pelo lápis do médium Chico Xavier, tecendo, no seu estilo inconfundível, uma belíssima e emocionante página sobre o triste problema levantado pela incompreensão humana, página que pode ser devidamente apreciada no livro A Psicografia ante os Tribunais. Daí por diante, ele passou a assinar-se, simplesmente, Irmão X, versão evangelizada do pseudônimo Conselheiro XX, que ele adotara no meio literário de quando encarnado. 

A autora da ação, Catarina Vergolino de Campos, foi julgada carecedora da ação proposta, por sentença de 23 de agosto de 1944, do Dr. João Frederico Mourão Russell, juiz de Direito em exercício na 8ª Vara Cível do antigo Distrito Federal. Tendo ela recorrido dessa sentença, o Tribunal de Apelação do antigo DF manteve-a por seus jurídicos fundamentos, tendo sido relator o saudoso ministro Álvaro Moutinho Ribeiro da Costa. 

Obras

  • Palavras do Infinito (1936)
  • Crônicas de Além-Túmulo (1937)
  • Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho (1938)
  • Novas Mensagens (1940)
  • Boa Nova (1941)
  • Reportagens de Além-Túmulo (1943)
  • Lázaro Redivivo (1945)
  • Luz Acima (1948)
  • Pontos e Contos (1951)
  • Contos e Apólogos (1958)
  • Contos Desta e Doutra Vida (1964)
  • Cartas e Crônicas (1966)
  • Estante da Vida (1969)
  • Relatos da Vida (1988)
  • Histórias e anotações (1989)

Erraticidade

 

Erraticidade é o estado em que se encontram os Espíritos errantes, ou erráticos, isto é, não encarnados e em processo de evolução, durante o intervalo de suas existências corporais, conforme definição dada por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns (cap. XXXII: “Vocabulário Espírita”). A duração em que o Espírito permanece na erraticidade e as condições dessa vivência variam, havendo relação direta com o adiantamento espiritual de cada indivíduo e das suas necessidades evolutivas, podendo essa permanência durar muito pouco ou custar longo tempo, em circunstâncias desde o ditoso ao penoso. Não é o mesmo estado de que gozam os Espíritos puros — aqueles que já percorreram toda a trajetória evolutiva e não mais precisam reencarnar para fins de aperfeiçoamento; estes então desfrutam da plenitude da vida espiritual.

Erraticidade na Codificação Espírita

Na Codificação Espírita, as primeiras referências relacionadas encontram-se já no tópico VI da Introdução de O Livro dos Espíritos:

"Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos Espíritos, de onde saiu, para passar por nova existência material, após um tempo mais ou menos longo, durante o qual permanece em estado de Espírito errante.”

(...)

“Os não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e definida; estão por toda parte no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos a todo instante. É toda uma população invisível movendo-se em torno de nós."

Allan Kardec, O Livro dos Espíritos - Introdução ao estudo da Doutrina Espírita, VI.

Na sequência, no mesmo livro, o tema é desenvolvido com mais detalhes no capítulo VI da 2ª Parte: “Da vida espírita”.


Em O Céu e o Inferno, encontramos depoimentos de Espíritos errantes descrevendo suas situações diversas no mundo espiritual, desde entidades extremamente felizes até desgraçados de variadas ordens.

Análise etimológica de Erraticidade

Erraticidade vem de errante, que classicamente tem dois significados básicos: 1) que não tem residência fixa, que vive como nômade, andarilho; 2) vadio, vagabundo. Na definição oferecida pelo codificador espírita, erraticidade está mais alinhada com a primeira significação, no sentido de que o desencarnado está não-alocado num corpo físico, não devendo ser associado com a conotação de alguém que comete erros, um Espírito inferiorizado, uma vez que entre os errantes estão entidades de todos os graus evolutivos abaixo dos Espíritos perfeitos:

A erraticidade é, por si só, um sinal de inferioridade dos Espíritos? 

“Não, pois há Espíritos errantes de todos os graus. A encarnação é um estado transitório, já o dissemos. O Espírito se acha no seu estado normal, quando liberto da matéria.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 225.

Duração de permanência na erraticidade

A fim de alcançar a perfeição a que todos os Espíritos estão destinados, as individualidades precisam desenvolver suas capacidades intelectuais e morais, razão pela qual passam pelas tantas necessárias experiências reencarnatórias. Entretanto, a reencarnação não é necessariamente imediata, podendo assim haver um intervalo mais ou menos longo, durante o qual a alma desencarnada é chamada Espírito errante (O Livro dos Espíritos, questão 224).

A duração da erraticidade guarda relação com a justeza das coisas: as necessidades do Espírito em evolução e das circunstâncias desencadeadas por suas ações em face do seu livre-arbítrio.

No entanto, posto que o Espírito errante carece cursar sua estrada evolutiva, a erraticidade — que pode durar de algumas horas a milhares de séculos — é necessariamente temporária e mais cedo ou mais tarde o desencarnado terá de tornar a uma vivência reencarnatória (O Livro dos Espíritos, questão 224).


Como tudo na natureza tem a sua razão de ser, a duração da erraticidade obedece às circunstâncias do mundo ao qual o Espírito reencarnante esteja vinculado. A estrutura física dos mundos superiores é mais sutil, as condições de sobrevivência são bem amenas e os corpos dos seus habitantes menos materializados, possibilitando que seus encarnados desfrutem facilmente de suas faculdades espirituais, como se estivessem em profundo transe mediúnico, acessando o mundo dos Espíritos; a morte e o processo reencarnatório aí são menos trabalhosos e, por isso, a passagem de uma para outra vivencia reencarnatória é quase sempre imediata.

Por outro lado, nos mundos menos evoluídos, os Espíritos têm corpos mais grosseiros, sofrem limitações físicas e passam pelo processo de morte e renascimento com mais complicações; faz-se necessário então um intervalo na erraticidade mais ou menos longo para que os reencarnantes possam melhor condicionar seus planos evolutivos:

Essa duração depende da vontade do Espírito ou lhe pode ser imposta como expiação?

“É uma consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem. Mas, também, para alguns, é uma punição que Deus lhes impõe. Outros pedem que ela se prolongue, a fim de continuarem os estudos que só na condição de Espírito livre podem efetuar-se com proveito.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 224.

Situação espiritual na erraticidade

Apenas pelo efeito da morte — em decorrência da falência do corpo físico —, o Espírito errante não deixa de ser a continuação da personalidade outrora encarnada e, desta forma, pode conservar na erraticidade as mesmas más paixões e perturbações de quando encarnado, condicionando assim a sua situação no mundo espiritual aos seus méritos. Portanto, sua felicidade ou desdita no plano invisível se relaciona com seu estado evolutivo.

"Não há uma única imperfeição da alma que não importe terríveis e inevitáveis consequências, como não há uma só qualidade boa que não seja fonte de um prazer. Assim, a soma das penas é proporcionada à soma das imperfeições, como a dos gozos à das qualidades. Por exemplo, a alma que tem dez imperfeições sofre mais do que a que tem três ou quatro; e quando dessas dez imperfeições não lhe restar mais que metade ou um quarto, menos sofrerá. Extintas todas, então a alma será perfeitamente feliz. Também na Terra, quem tem muitas moléstias, sofre mais do que quem tenha apenas uma ou nenhuma. Pela mesma razão, a alma que possui dez perfeições, tem mais satisfação do que outra menos rica de boas qualidades."

O Céu e o Inferno, Allan Kardec - cap. VII, item "Código penal da vida futura."

Espíritos mais adiantados têm um perispírito sutil que com facilidade transcorrem os diversos mundos do plano espiritual e melhor interagem com as demais entidades; enquanto isso, os mais atrasados se sujeitam às limitações de seu estado evolutivo, que lhe interdita o acesso aos mundos superiores e lhe priva da convivência com os seres mais adiantados sem a permissão deles. Se bastante materializados, esses Espíritos inferiores continuam atrelados fisicamente ao mundo de onde desencarnou sofrendo as limitações de sua condição material:


Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de Jesus também podem referir-se ao estado próspero ou desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme este se ache mais ou menos purificado e desprendido dos laços materiais, o meio em que ele se encontre, o aspecto das coisas, as sensações que experimente e as percepções que tenha variarão ao infinito.

Enquanto uns não podem se afastar da esfera onde viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos; enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau, atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes isolado, sem consolação, separado dos que constituíam objeto de suas afeições, pena sob o peso dos sofrimentos morais, o justo, em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas moradas, embora não limitadas e nem localizadas.

Evolução na erraticidade e os mundos transitórios

A vida na erraticidade é também uma oportunidade de evolução espiritual:

O Espírito progride na erraticidade?

“Pode melhorar-se muito, conforme a vontade e o desejo que tenha de consegui-lo. Todavia, é na existência corporal que ele põe em prática as ideias que adquiriu.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 230.

Dentre desse plano de ascensão espiritual os errantes podem receber certas incumbências de entidades elevadas e desta sorte realizar missões para promover o bem comum (O Livros dos Espíritos, questões 568 e 569). Dentre estes estão os benfeitores que inspiram a humanidade, por exemplo, para a propagação do Espiritismo.

Para possibilitar o refazimento dos reencarnantes, há no plano invisível infinitas habitações temporárias, estações de repouso e tratamento, chamadas de mundos transitórios, também conhecidas como colônias espirituais, cujo exemplo clássico é o livro Nosso Lar, descrita pelo Espírito André Luiz através da psicografia de Chico Xavier.

“Sim, há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que lhes podem servir de habitação temporária, espécies de acampamentos, de campos onde descansem de uma longa erraticidade, estado este sempre um tanto penoso. São, entre os outros mundos, posições intermédias, graduadas de acordo com a natureza dos Espíritos que a elas podem ter acesso e onde eles gozam de maior ou menor bem-estar”.

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 234.

Os mundos transitórios possibilitam o agrupamento de inteligências e forças que aí constroem verdadeiras oficinas de aprendizado e trabalho colaborativo em prol da evolução dos que lá estão estanciados e ainda daí podem estender semelhantes benefícios a outros mundos.

“Certamente. Os que vão a tais mundos levam o objetivo de se instruírem e de poderem mais facilmente obter permissão para passar a outros lugares melhores e chegar à perfeição que os eleitos atingem.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 235.

Estado dos Espíritos puros

A erraticidade é uma condição de espera para quem necessariamente deve passar por uma reencarnação a fim de evoluir, estado esse que, de alguma forma, tem suas limitações, pois ainda não é o estado de plenitude espiritual própria apenas dos Espíritos da primeira ordem, os Espíritos puros, aqueles que já completaram o transcurso evolutivo.

Não estando mais sujeitos ao processo reencarnatório, os Espíritos puros não se enquadram entre os errantes e gozam da plenitude da vida espiritual:

Desfrutam de felicidade inalterável, porque não se acham submetidos às necessidades, nem às vicissitudes da vida material. Essa felicidade, porém, não é a de desocupação e monotonia, a transcorrer em perpétua contemplação. Eles são os mensageiros e os ministros de Deus, cujas ordens executam para manutenção da harmonia universal. Comandam a todos os Espíritos que lhes são inferiores, auxiliam-nos na obra de seu aperfeiçoamento e lhes designam as suas missões. Assistir os homens nas suas aflições, incentivá-los ao bem ou à expiação das faltas que os conservam distanciados da suprema felicidade, é para eles ocupação gratíssima...

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 113.

Animais e erraticidade

Apesar de inúmeros registros mediúnicos descreverem a presença de plantas e animais no mundo espiritual, segundo a codificação do Espiritismo a interação inteligente no ambiente da erraticidade é uma exclusividade dos Espíritos. Explorando tal questão, Kardec perguntou e os instrutores invisíveis responderam:

Sobrevivendo ao corpo em que habitou, a alma do animal vem se encontrar depois da morte num estado de erraticidade, como a do homem?

“Fica numa espécie de erraticidade, pois que não mais se acha unida ao corpo, mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade. Os animais não dispõem dessa mesma capacidade. A consciência de si mesmo é o que constitui o principal atributo do Espírito. O do animal, depois da morte, é classificado pelos Espíritos a quem cabe essa tarefa e utilizado quase imediatamente. Não lhe é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas.”

O Livro dos Espíritos, Allan Kardec - questão 600.

Desta resposta ponderamos então que os animais têm um elemento espiritual que conserva a sua individualidade, elemento esse que, embora muito distinta da alma humana, é também uma espécie de alma (O Livro dos Espíritos, questões 597 e seguintes), contudo, sem consciência de si e, portanto, sem livre-arbítrio nem responsabilidades por seus atos, que são decorrentes puramente do instinto — que é um grau inferior do mesmo princípio da inteligência. Por essa lógica, os animais não podem ser considerados Espíritos errantes; ao desencarnar, o animal é encaminhado para a reencarnação. Essa definição também exclui a possibilidade de manifestação espiritual de um animal desencarnado, conforme asseveram os Espíritos contribuintes da codificação espírita:

Podemos evocar o Espírito de um animal?

“Depois da morte do animal, o princípio inteligente que havia nele se acha em estado adormecido e é logo utilizado por certos Espíritos encarregados disso, para animar novos seres, em os quais ele continua a obra de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há Espíritos de animais errantes, mas unicamente Espíritos humanos.”

a) — Como é então que, tendo evocado animais, algumas pessoas têm obtido resposta?

“Evoca um rochedo e ele te responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a tomar a palavra, sob qualquer pretexto.”

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXV, item 283.

A interpretação mais ligeira dessas informações é a de que não há absolutamente qualquer atividade na erraticidade envolvendo os animais. A existência deles em relatos mediúnicos poderia ser, dentre outras coisas, um recurso de linguagem ou uma espécie de materialização, formas animais plasmadas por Espíritos, por exemplo, para impressionar os médiuns e a quem mais fossem transmitidas essas impressões, pois ao animal desencarnado “não é dado tempo de entrar em relação com outras criaturas”. 

Certa opinião, por outro lado, pondera que os animais não teriam força própria para se manifestar, mas, uma vez que sua alma também fica de alguma forma “numa espécie de erraticidade”, eles poderiam aí ser utilizados pelos Espíritos incumbidos de classifica-los e, por força destes, poderiam participar de certas atividades no mundo espiritual, inclusive para o aprimoramento dos animais, tal como na descrição de André Luiz:

À maneira de crianças tenras, internadas em jardim de infância para aprendizados rudimentares, animais nobres desencarnados, a se destacarem dos núcleos de evolução fisiopsíquica em que se agrupam por simbiose, acolhem a intervenção de instrutores celestes, em regiões especiais, exercitando os centros nervosos.

(...)

Plantas e animais domesticados pela inteligência humana, durante milênios, podem ser aí aclimatados e aprimorados, por determinados períodos de existência, ao fim dos quais regressam aos seus núcleos de origem no solo terrestre, para que avancem na romagem evolutiva, compensados com valiosas aquisições de acrisolamento, pelas quais auxiliam a flora e a fauna habituais à Terra, com os benefícios das chamadas mutações espontâneas.

Evolução em Dois Mundos, (André Luiz) Chico Xavier - cap. IX e XIII.

Daí por que a presença de animais no mundo espiritual registradas em obras como Nosso Lar (cap. 7: “...Aves de plumagens policromas cruzavam os ares e, de quando em quando, pousavam agrupadas nas torres muito alvas, a se erguerem retilíneas, lembrando lírios gigantescos, rumo ao céu...”, “Das janelas largas, observava, curioso, o movimento do parque. Extremamente surpreendido, identificava animais domésticos, entre as árvores frondosas, enfileiradas ao fundo...”; cap. 33: “– Os cães – disse Narcisa – são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente os homens desencarnados, mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever”).

Vampirismo - parte 2

 

Processo parasitário e efeitos

A literatura espírita é rica em exemplos de parasitismo psíquico, evidenciando as causas e os efeitos dessa ligação danosa entre os psiquismos envolvidos, pelo que podemos compreender melhor o processo de vampirismo.

A base do processo se dá pela conexão entre as formas-pensamentos de um indivíduo para com outro — sejam eles encarnados ou desencarnados. Inicialmente, um dos indivíduos dirige (mal intencionalmente ou não) suas formas-pensamentos e estas, encontrando receptividade e hospedagem num outro psiquismo, instalam lá as bases dos filamentos e depositam larvas mentais — que Kardec chamou de "fluidos perniciosos" —, cujos efeitos são sempre nocivos, em maior ou menos intensidade.

 

Essas larvas psíquicas (formas-pensamentos) são geradas por mentes descuidadas e motivadas por sentimentos negativos, como tristeza, medo, inveja, raiva, ódio etc.; também por sensações desregradas e viciosas, tais como por tabagismo, toxicomania, glutonaria, desvios sexuais etc. Uma vez vinculadas a um hospedeiro, essas criações sombrias, saturadas de magnetismo, agem para parasitar as energias vitais da vítima, dominando seus estímulos nervosos a fim de incitá-los na produção de mais nutrientes viciantes pelo que obsessor e obsediado encontram afinidade.

Allan Kardec reconhece a possibilidade desse tipo de vinculação através das propriedades do perispírito, comum tanto às almas dos homens quanto aos Espíritos: 

"Como o perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito, por sua expansão e sua irradiação, uma ação tanto mais direta, quanto o perispírito se confunde com eles. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este perispírito, por sua vez, reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular. Se as emanações são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão saudável; se são más, a impressão é penosa. Se elas são permanentes e enérgicas, as emanações más podem ocasionar desordens físicas; esta é a causa de certas enfermidades"

A Gênese, Allan Kardec - cap. XIV, item 18

Entre muitas passagens da obra espiritual de André Luiz a respeito dessa temática, temos a seguinte transcrição de um processo vampirístico, conforme os apontamentos de um instrutor tarefeiro: 

"(...) Nas moléstias da alma, como nas enfermidades do corpo físico, antes da afecção existe o ambiente. As ações produzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e consequências de infinitas expressões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da vida. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma. E, qual acontece no terreno das enfermidades do corpo, o contágio aqui é fato consumado, desde que a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleça ambiente propício, entre companheiros do mesmo nível. Naturalmente, no campo da matéria mais grosseira, essa lei funciona com violência, enquanto, entre nós, se desenvolve com as modificações naturais. Aliás, não pode ser de outro modo, mesmo porque você não ignora que muita gente cultiva a vocação para o abismo. Cada viciação particular da personalidade produz as formas sombrias que lhe são consequentes, e estas, como as plantas inferiores que se alastram no solo, por relaxamento do responsável, são extensivas às regiões próximas, onde não prevalece o espírito de vigilância e defesa.

(...) Semelhantes larvas são portadoras de vigoroso magnetismo anima. Naturalmente que a fauna microbiana, em análise, não será servida em pratos; bastará ao desencarnado agarrar-se aos companheiros de ignorância, ainda encarnados, qual erva daninha aos galhos das árvores, e sugar-lhes a substância vital."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 4

 As vinculações psíquicas fundadas na interdependência de um individuo para outro acabam por produzir efeitos diversos, começando por uma fragilidade mental — tanto naquele que obsedia (porque acomoda-se na falsa vantagem de nutri-se às custas dos recursos alheios e assim não desenvolve sua autossustentação), quanto naquele que é obsediado (pois é cada vez mais arrastado à incapacidade de reagir contra o assédio hipnótico do algoz).

André Luiz discorre sobre esse processo de dominação mental, fazendo um paralelo com o parasitismo dos animais primitivos: 

"(...) Estabelecida essa operação de ajuste, que os desencarnados e encarnados, comprometidos em aviltamento mútuo, realizam em franco automatismo, à maneira dos animais em absoluto primitivismo nas linhas da Natureza, os verdugos comumente senhoreiam os neurônios do hipotálamo, acentuando a própria dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que ai se fixam para o governo das excitações, e produzem nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parassimpático. Tais manobras, em processos intrincados de vampirismo, prestigiam o regime de medo ou de guerra nervosa nas criaturas de que se vingam, alterando-lhes a tela psíquica ou impondo prejuízos constantes aos tecidos somáticos."


Evolução em Dois Mundos, (André Luiz) Chico Xavier - cap. XV "Vampirismo Espiritual"

Tratamento e prevenção

Em assédios vampirescos mais simples e esporádicos o processo pode se desfazer facilmente, por exemplo, por uma reação de resistência do obsediado ou por desinteresse do algoz nos recursos de vitima. Já nos processos avançados de parasitismo espiritual, quando a vinculação perniciosa entre os envolvidos apresenta feixes de filamentos mais resistentes e o obsessor detém domínio sobre sua vítima, pode ser necessária a intervenção de terceiros, de maior ascendência evolutiva sobre os cúmplices, para o socorro fraterno.

Em síntese, a libertação (desobsessão) e prevenção contra qualquer tipo de assédio obsessivo estão no fortalecimento das virtudes e correção das imperfeições.

E como sempre são bem-vindas as lições do codificador espírita, convém aqui relembrarmos as anotações de Kardec a respeito dos meios de se combater a obsessão: 

"Os meios de se combater a obsessão variam de acordo com o caráter que ela reveste."O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249

 Para os casos simples, a recomendação básica é: 

"Duas coisas essenciais se têm que fazer nesse caso: provar ao Espírito que não está iludido por ele e que lhe é impossível enganar; depois, cansar-lhe a paciência, mostrando-se mais paciente que ele. Desde que se convença de que está a perder o tempo, irá se retirar, como fazem os importunos a quem não se dá ouvidos"

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249.

 Já em situações tais de um assédio mais obstinado... 

"Porém, isto nem sempre basta e pode levar muito tempo, porque há Espíritos teimosos, para os quais meses e anos não são nada. Por isso, o médium deve dirigir um apelo fervoroso ao seu anjo bom, assim como aos bons Espíritos que lhe são simpáticos, pedindo-lhes que o ajudem"

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249. 

Em casos mais graves, quando há uma interligação obsessiva mais complexa, a exemplo do parasitismo, Kardec então adverte para a possível necessidade de um interventor amigo: 

"A subjugação corporal tira muitas vezes ao obsidiado a energia necessária para dominar o mau Espírito. Daí o fato de se tornar preciso a intervenção de um terceiro, que atue, ou pelo magnetismo, ou pelo império da sua vontade. Em falta do auxílio do obsidiado, essa terceira pessoa deve tomar ascendente sobre o Espírito; porém, como este ascendente só pode ser moral, só a um ser moralmente superior ao Espírito é dado assumi-lo e seu poder será tanto maior, quanto maior for a sua superioridade moral, porque, então, se impõe àquele, que se vê forçado a se inclinar diante dele. Por isso é que Jesus tinha tão grande poder para expulsar aquele a que naquela época se chamava demônio, isto é, os maus Espíritos obsessores.

Aqui, não podemos oferecer mais do que conselhos gerais, porque nenhum processo material existe, como, sobretudo, nenhuma fórmula, nenhuma palavra sacramental, com o poder de expelir os Espíritos obsessores. Às vezes o que falta ao obsidiado é força fluídica suficiente; nesse caso, a ação magnética de um bom magnetizador pode lhe ser de grande proveito. Contudo, é sempre conveniente procurar os conselhos de um Espírito superior ou do anjo guardião por um médium de confiança."

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 251. 

O benfeitor André Luiz reproduz as lições superioras que dizem que a oportuna intervenção dos amigos espirituais está sempre ativa, contudo, enfatiza a responsabilidade de cada qual. 

"Quanto ao combate sistemático ao vampirismo, nas múltiplas moléstias da alma, aqui também, no plano de nossas atividades, não faltam processos saneadores e curativos de natureza exterior; no entanto, examinando o assunto na essência, somos compelidos a reconhecer que cada filho de Deus deve ser o médico de si mesmo e, até à plena aceitação desta verdade com as aplicações de seus princípios, a criatura estará sujeita a incessantes desequilíbrios."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6

 

Destacando especialmente a força da oração

"(...) Não tenha dúvida, a oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece não é movimento mecânico de lábios, nem disco de fácil repetição no aparelho da mente. É vibração, energia, poder. A criatura que ora, mobilizando as próprias forças, realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qual quer forma, pode emitir raios de espantoso poder."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6 

E, a título de ilustração, descreve a beleza do exemplo de superação de um rapaz, outrora vampirizado, libertando-se das ligações viciosas que detinha em consórcio com um obsessor vampiro:

"(...) Comovido com a beleza de suas súplicas, reparei com assombro que o coração se lhe transformava num foco ardente de luz, do qual saíam inúmeras partículas resplandecentes, projetando-se sobre o corpo e sobre a alma do esposo com a celeridade de minúsculos raios. Os corpúsculos radiosos penetravam-lhe o organismo em todas as direções e, muito particularmente, na zona do sexo, onde identificara tão grandes anomalias psíquicas, concentravam–se em massa, destruindo as pequenas formas escuras e horripilantes do vampirismo devorador. Os elementos mortíferos, no entanto, não permaneciam inativos. Lutavam, desesperados, com os agentes da luz. O rapaz, como se houvera atingido um oásis, perdera a expressão de angustioso cansaço. Demonstrava-se calmo e, gradativamente, cada vez mais forte e feliz, no momento em curso. Restaurado em suas energias essenciais, enlaçou devagarzinho a esposa amorosa que se conservava maternalmente ao seu lado e adormeceu jubiloso."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6 

Sobre os obsessores vampiros

Entre os diversos tipos de vampiros psíquicos estão aqueles que agem danosamente de forma consciente ou inconscientemente; aqueles mal-intencionados contra as suas vítimas por motivações pessoais (vingança ou inveja) ou incitados por preconceito (racismo, xenofobia etc.) ou por uma causa diferente e contrária as de suas vitimas etc. Em seu ato obsessivo, o agente vampirizador demonstra sempre baixeza moral e, por conseguinte, natural impotência contra um indivíduo que melhor espiritualizado. No entanto, para todos os casos, Kardec nos prescreve como devemos tratá-lo: 

"Quanto ao Espírito obsessor — por mau que seja —, deve tratá-lo com severidade, mas com benevolência e vencê-lo pelos bons processos, orando por ele. Se for realmente perverso, a princípio zombará desses meios; porém, moralizado com perseverança, acabará por se emendar. É uma conversão a empreender, tarefa muitas vezes penosa, ingrata, mesmo desagradável, mas cujo mérito está na dificuldade que ofereça e que, se bem desempenhada, dá sempre a satisfação de se ter cumprido um dever de caridade e, quase sempre, a de ter-se reconduzido ao bom caminho uma alma perdida.."

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249 

O atendimento fraterno aos obsessores vampiros se dá oportunamente pelos Espíritos missionários no plano espiritual e algumas vezes com a cooperação de voluntários encarnados, como nas sessões chamadas de desobsessão, ou de socorro espiritual, realizadas nas casas espíritas.

Vampirismo - parte 1

 

Vampirismo é um tipo de obsessão caracterizado pela condição de parasitismo psíquico, quando um ou mais dentre os envolvidos — Espíritos desencarnados, almas encarnadas e a mescla destes — se nutrem das forças vitais de suas vítimas, comumente em associação a prazeres viciosos. É, portanto, um processo obsessivo mais ou menos grave, que consiste no envolvimento de um agente ativo (vampirizador) e outro passivo (vampirizado), havendo ainda casos de ação mútua (quando os mesmos envolvidos ora vampirizam e ora são vampirizados), cuja solução muitas vezes requer uma caridosa intervenção de terceiros em socorro aos, tanto aos vampirizadores quanto aos vampirizados.

O termo vampirismo é empregado no estudo espírita para designar metaforicamente o processo de parasitismo psíquico, em alusão aos parasitas descritos pela Biologia, que são organismos que vivem em associação com outros organismos dos quais sugam os nutrientes para sua sobrevivência. Nesse processo (parasitismo), normalmente o parasita (organismo hóspede) causa dano ao outro (organismo hospedeiro), como nos casos das doenças infecciosas, causadas por parasitas do tipo de alguns vírus e bactérias.



A metáfora em voga se aplica devido a certas semelhanças entre o processo de parasitismo e as clássicas lendas de vampiros — criaturas mitológicas (mistura de humano com morcego) que vêm das trevas e, sempre de noite, atacam seres humanos para lhes sugar o sangue, que seria a fonte da vitalidade daquelas criaturas.

A associação das expressões vampirismo e seus derivados com o parasitismo psíquico é amplamente empregada no meio espírita, especialmente a partir dos dramas narrados pelo Espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, na série A Vida no Mundo Espiritual, que começa com o clássico Nosso Lar, onde encontramos (capítulo 31) o caso de uma mulher (denominada "vampiro") cercada de pontos negros, que, chegada do Umbral, implora socorro do outro lado da cancela, sendo o socorro negado em virtude de tratar-se de um forte vampiro, cujos pontos negros — cinquenta e oito, no total — representavam cada uma das crianças assassinadas ao nascer.

Desta mesma série, encontramos Missionários da Luz, seu livro que melhor pormenoriza o drama vampirístico, onde lemos o autor espiritual nos transcrever a definição colhida junto a um instrutor: 

"Se nos referirmos aos morcegos sugadores, o vampiro, entre os homens, é o fantasma dos mortos, que se retira do sepulcro, alta noite, para alimentar-se do sangue dos vivos. Não sei quem é o autor de semelhante definição, mas, no fundo, não está errada. Apenas cumpre considerar que, entre nós, vampiro é toda entidade ociosa que se vale, indebitamente, das possibilidades alheias e, em se tratando de vampiros que visitam os encarnados, é necessário reconhecer que eles atendem aos sinistros propósitos a qual quer hora, desde que encontrem guarida no estojo de carne dos homens."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 4

A propriedade dessa associação entre a lendária figura do vampiro com o obsessor que particularmente investe contra suas vítimas para nutrir-se de suas energias fica mais emblemática quando observamos as anotações do estudioso Carlos Torres Pastorino ao salientar que, dentro do organismo físico, é no sangue humano que se dá a melhor assimilação com a energia vital — que é o objeto elementar do processo de vampirização. Isso explica por que o baço é ponto mais visado por obsessores dessa qualidade.

Allan Kardec não usou as expressões "vampirismo" e "parasitismo psíquico", mas deixou bem caracterizado semelhante processo dentro da classificação das obsessões, inclusive, colocando-o na mais grave categoria de assédio — a subjugação. 

"Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às maléficas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá dominação a um Espírito mau (...). Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele..."

A Gênese, Allan Kardec, - cap. XIV, item 46

A conceituação espírita para vampirismo pode sugerir, num primeiro momento, uma recorrência doutrinária às teorias lendárias, como as histórias do famoso Conde Drácula. Porém, o que é mais exato é considerarmos que as lendas e romances fictícios de vampiros sejam exatamente inspirados nos reais processos obsessivos de parasitismo psíquico, mais uma demonstração de como a dimensão física imita — ainda que inconscientemente — o mundo espiritual.

Diante dessa realidade, a Doutrina Espírita tem o mérito de tornar conhecido esse processo obsessivo — muito frequente, aliás — e, dessa maneira, dar a possibilidade de uma melhor prevenção e tratamento aos casos já correntes.



Tipos e causas de vampirismo

Os casos clássicos de parasitismo psíquico são classificados pelos seguintes tipos:

  • Vampirismo por viciação: Espíritos que, encarnados, tornaram-se apegados às sensações materiais e viciaram-se em prazeres carnais prosseguem, após o desencarne, buscando àquelas mesmas sensações, vinculando-se aos encarnados que vibram em faixa idêntica, compartilhando daquelas paixões desequilibrantes (fumo, álcool, droga, gula, sexo desregrado etc.).
  • Vampirismo por atentado direto: obsessores que, conservando sentimentos negativos (ódio, especialmente) contra determinado indivíduo, motivados por inveja ou vingança (quando se sentem ofendidos por aquele), ligam-se então à sua vítima intencionalmente com o intuito de absorver-lhes a vitalidade, enfraquecendo-a e lhe causando prejuízos.
  • Vampirismo por uma causa contrária: quando um obsessor investe contra outrem, não por motivação pessoal (como no caso anterior), mas em razão de causas contrárias, por exemplo: para desvirtuá-lo de uma religião; para prejudicá-lo em função de preconceito étnico, para cooptá-lo para um determinado lado de duas forças opostas, etc.
  • Vampirismo inconsciente: quando dois indivíduos de planos diferentes, um encarnado e outro desencarnado, permanecem ligados, ainda que por um sentimento afetuoso e sem intenção de causar qualquer dano, mas que acabam prendendo-se, por força de um sobre o outro ou pela ação de ambos, impedindo ou dificultando o seu progresso em virtude de uma saudade demasiada.
  • Vampirismo por pseudonecessidade: quando um indivíduo supõe que necessita — e quase sempre acha que tem o direito — de se valer de outrem para sobreviver ou para alcançar um melhor status e então escora-se continuamente no outro, sugando-lhe as forças e procurando exercendo domínio sobre sua vítima.

 O primeiro caso, de um Espírito para um encarnado, é típico de parasitismo recíproco, já que ambos os envolvidos gozam do mesmo vício — ainda que em algum deles haja um sentimento de remorso. O Espírito procura motivar o encarnado à prática viciante para assim vampirizar as energias resultantes das sensações daquele prazer carnal. O segundo e o terceiro caso são próprios de desencarnados para encarnados. Já os dois derradeiros tipos de vampirismo podem ser acionados por um Espírito para encarnados ou vice-versa.

O principio da existência do vampirismo, assim como de qualquer tipo de obsessão, está no ajustamento do livre-arbítrio de cada Espírito frente à lei de ação e reação, da capacidade de influenciação de um para com o outro e do desenvolvimento das capacidades intelectivas e morais. Nesse contexto, não há razão para o vitimismo, uma vez que o obsediado (suposta vítima do processo vampírico) é, em parte, sempre corresponsável pela vinculação perniciosa, a partir de quando — por fraqueza, descuido ou reciprocidade — deixa-se ser influenciado pelo invasor. Trata-se, em suma, de uma prova ou expiação, para a qual os envolvidos são postos em condições de ajustar-se positivamente.