Os milagres

Com o título de Um Milagre, o Sr. Mathieu, antigo farmacêutico do Exército, acaba de publicar uma relação de vários fatos de escrita direta, dos quais foi testemunha. Os fatos se produziram em circunstâncias mais ou menos idênticas aos que foram por nós relatados no número de agosto. Não apresentam nada de mais característico, pelo que não os relataremos. Mencionamo-los apenas para mostrar que os fenômenos espíritas não são privilégio de ninguém e aproveitamos a ocasião para felicitar o Sr. Mathieu pelo zelo com que os propaga. Várias outras pequenas brochuras e artigos do mesmo autor, publicadas em diversos jornais, são prova disto.


O Sr. Mathieu é um homem de ciência que, como tantos outros, e como nós próprio, passou pela fieira da incredulidade. Cedeu, porém, à evidência, porque diante dos fatos é necessário depor as armas. Permitimo-nos tão somente criticar o título dado à sua última publicação, não por uma questão de jogo de palavras, mas porque acreditamos que o assunto tem uma certa importância e merece um exame sério.

O lar de uma família Espírita

Há três anos a Sra. G... ficou viúva, com quatro crianças. O filho mais velho é um rapaz amável, de dezessete anos, e a filha mais moça uma encantadora menina de seis. Desde muito tempo essa família se dedica ao Espiritismo, e antes mesmo que esta crença se tivesse tornado tão popular como hoje, marido e mulher tinham uma espécie de intuição que diversas circunstâncias haviam desenvolvido. O pai do Sr. G... havia aparecido para ele várias vezes, na mocidade, sempre para preveni-lo de coisas importantes ou para lhe dar conselhos úteis. Fatos semelhantes também se haviam passado entre os seus amigos, de sorte que para eles a existência de além-túmulo não era objeto da menor dúvida, assim como não o era a possibilidade de nos comunicarmos com nossos entes queridos.


Quando o Espiritismo surgiu, foi apenas a confirmação de uma ideia bem assentada e santificada pelo sentimento de uma religião esclarecida, pois aquela família é um modelo de piedade e de caridade evangélica. Na nova ciência aprenderam os meios mais diretos de comunicação. A mãe e um dos filhos tornaram-se excelentes médiuns. Mas, longe de empregar essa faculdade em questões fúteis, todos consideravam-na precioso dom da Providência, do qual não era permitido servir-se senão para coisas sérias. Assim, jamais a praticavam sem recolhimento e respeito, e longe das vistas dos importunos e curiosos.

Como afastar os maus espíritos

A intromissão dos Espíritos enganadores nas comunicações escritas é uma das maiores dificuldades do Espiritismo. Sabe-se, por experiência, que eles não têm nenhum escrúpulo em tomar nomes supostos e até mesmo nomes respeitáveis. Há meios de afastá-los? Eis a questão. Para isto, certas pessoas empregam aquilo que poderíamos chamar processos, isto é, fórmulas particulares de evocação, ou espécies de exorcismo, como por exemplo fazê-los jurar em nome de Deus que dizem a verdade, fazê-los escrever alguma coisa, etc. Conhecemos alguém que, a cada frase, obriga um Espírito a assinar o nome. Se é o verdadeiro, escreve-o sem dificuldade; se não o é, para ao meio, sem poder concluí-lo. Vimos essa pessoa receber comunicações as mais ridículas, de Espíritos que assinavam um nome falso com grande aprumo. Outras pessoas pensam que um meio eficaz é fazer confessar Jesus encarnado ou outros princípios da religião.


Pois bem, declaramos que se alguns Espíritos um pouco mais escrupulosos se detêm ante a ideia de um perjúrio ou de uma profanação, outros juram tudo o que quisermos, assinam todos os nomes, riem-se de tudo e afrontam a presença dos mais venerados signos, de onde se conclui que entre as coisas que podem ser chamadas processos não há nenhuma fórmula e nenhum expediente material que possa servir de preservativo eficaz.

Pneumatografia ou escrita direta

A Pneumatografia é a escrita produzida diretamente pelo Espírito, sem qualquer intermediário. Difere da Psicografia, pois esta é a transmissão do pensamento do Espírito por meio da escrita manual do médium. Inserimos esses dois vocábulos no Vocabulário Espírita, no início da nossa Instrução Prática, com a indicação da sua diferença etimológica. Psicografia, do grego, psykhê = borboleta, alma, e graphô = eu escrevo; Pneumatografia, de pneuma = ar, sopro, vento, Espírito.


Num médium escrevente a mão é um instrumento, mas a sua alma, o Espírito nele encarnado, é o intermediário, o agente ou intérprete do Espírito estranho que se comunica. Na Pneumatografia é o próprio Espírito estranho que escreve diretamente, sem intermediário.

Mobiliário de além-túmulo

Extraímos a passagem seguinte de uma carta que uma correspondente da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas nos enviou do departamento do Jura:


“...Como vos disse, senhor, os Espíritos gostavam da nossa velha habitação. Em outubro último (1858), a senhora Condessa de C..., amiga íntima de minha filha, veio com seu filhinho de 8 anos passar uns dias em nossa mansão. A criança dormia no mesmo quarto que sua mãe, e a porta de comunicação para o quarto de minha filha ficava aberta, a fim de prolongar as horas do dia e da conversa. O menino não dormia e dizia à mãe: ‘Que é que a senhora vai fazer com esse homem que está sentado junto à sua cama? Ele está fumando um grande cachimbo. Veja como enche o quarto de fumaça! Mande-o embora, pois está sacudindo as cortinas.’

Comunicações além-túmulo. O zuavo de Magenta

1. ─ Rogamos a Deus Todo Poderoso permita ao Espírito de um militar morto na batalha de Magenta vir comunicar-se conosco.

─ Que quereis saber?


2. ─ Onde vos encontráveis quando vos chamamos?

─ Não saberia dizer.

3. ─ Quem vos preveniu que desejávamos conversar convosco?

─ Alguém mais sagaz do que eu.

Comunicações de além-túmulo. Pai César

Pai Cesar, homem livre, de cor, falecido a 8 de fevereiro de 1859, com 138 anos de idade, perto de Covington, nos Estados Unidos, nasceu na África e foi levado para Louisiana com cerca de 15 anos. Os restos mortais desse patriarca da raça negra foram acompanhados ao cemitério por um certo número de habitantes de Covington e uma multidão de gente de cor.


Sociedade, 25 de março de 1859.

1. (A São Luís) ─ Teríeis a bondade de dizer se podemos invocar o preto Pai César, a quem acabamos de nos referir?

─ Sim. Ajudá-lo-ei a responder.

Comunicações de além-túmulo. Goethe

1. (Evocação).

─ Estou convosco.

2. ─ Qual a vossa situação como Espírito: errante ou reencarnado?

─ Errante.

Goethe em 1828, óleo sobre tela de Stieler.

3. ─ Sois mais feliz do que quando vivo?

─ Sim, pois estou desvencilhado do corpo grosseiro e vejo o que não via antes.

Comunicações de além-túmulo. Humboldt

Falecido a 6 de maio de 1859; evocado na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas aos 13 e 20 do mesmo mês.


(A São Luís). Poderíamos chamar o Espírito do Sr. Alexandre Humboldt, que acaba de falecer?

─ Se quiserdes, amigos.

1. (Evocação

─ Eis-me aqui. Como isto espanta!

Intervenção da ciência no espiritismo

A rivalidade entre corporações científicas é um dos argumentos incessantemente invocados pelos adversários do Espiritismo. Por que não trataram elas dos fenômenos das mesas girantes? Se tivessem visto neles algo de sério, alegam, não se poriam em guarda contra fatos tão extraordinários, nem os tratariam com desdém. No entanto, hoje são todas contra vós. Não são os cientistas a luz das nações, e o seu dever não é espalhar a luz? Por que quereríeis que eles a abafassem, quando se apresentava tão bela ocasião de revelarem ao mundo uma força nova?


Para começar, grave erro é pensar que todos os cientistas são contra nós, pois que o Espiritismo se propaga precisamente na classe esclarecida. Não há sábios apenas na ciência oficial e nos corpos constituídos. Pode prejulgar-se a questão pelo fato de não desfrutar o Espiritismo foros de cidadania? É conhecida a circunspecção da ciência oficial em relação às ideias novas. Se ela jamais se houvesse enganado, então sua opinião poderia pesar na balança. Infelizmente, a experiência prova o contrário. Não repeliu ela como quimeras uma porção de descobertas que, mais tarde, ilustraram a memória de seus autores? Deve dizer-se que os sábios são ignorantes? Isso justifica os epítetos triviais que algumas pessoas de mau gosto gostam de aplicar-lhes? Certamente que não. Não há ninguém de bom-senso que não faça justiça aos sábios, reconhecendo, entretanto, que não são infalíveis e que, por isso mesmo, seu julgamento não é a última instância. Seu erro é resolver certas questões um pouco levianamente, confiando demasiado em suas luzes, antes que o tempo se tenha pronunciado, assim se expondo a receber o desmentido da experiência.

Mundos intermediários ou transitórios

A ideia desses mundos não perpassava na mente de nenhum dos assistentes e ninguém nela teria pensado se não fora a espontânea revelação de Mozart (ver Música de além-túmulo), o que constitui uma nova prova de que as comunicações espíritas podem ser independentes de toda opinião preconcebida. Com o objetivo de aprofundar esta questão, nós a submetemos a um outro Espírito, fora da Sociedade e por intermédio de outro médium, que não tinha nenhum conhecimento do assunto.


1. (A Santo Agostinho) Existem mundos que servem de estações aos Espíritos errantes, ou como pontos de repouso, conforme nos disseram?

Música de além-túmulo

O Espírito de Mozart acaba de ditar ao nosso excelente médium, Sr. Bryon-Dorgeval, um fragmento de sonata. Como meio de controle, este último o fez ouvir por diversos artistas, sem lhes indicar a origem, mas lhes perguntando apenas o que achavam do trecho. Cada um nele reconheceu, sem hesitação, o estilo de Mozart. O trecho foi executado na sessão da Sociedade de 8 de abril último, em presença de numerosos conhecedores, pela senhorinha de Davans, aluna de Chopin e distinta pianista, que teve a gentileza de nos prestar o seu concurso. Como elemento de comparação, a senhorinha de Davans executou antes uma sonata que Mozart compusera quando vivo. Todos foram unânimes em reconhecer não só a perfeita identidade do gênero, mas ainda a superioridade da composição espírita. A seguir, com o seu talento habitual, a mesma pianista executou um trecho de Chopin. Não poderíamos perder esta ocasião para invocar os dois compositores, com os quais tivemos a seguinte conversa.

Mozart


1. Sabeis, sem dúvida, o motivo por que vos chamamos.

Devemos publicar tudo quanto os Espíritos dizem?

Essa pergunta nos foi dirigida por um dos nossos correspondentes.

Respondemo-la da maneira seguinte:


Seria bom publicar tudo quanto dizem e pensam os homens?

Quem quer que possua uma noção do Espiritismo, por superficial que seja, sabe que o mundo invisível é composto de todos aqueles que deixaram na Terra o envoltório visível. Despojando-se, porém, do homem carnal, nem todos se revestiram, por isso mesmo, da túnica dos anjos. Há, portanto, Espíritos de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e de imoralidade. Eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, desatentos e brincalhões; falsos sábios, vãos e orgulhosos de um saber incompleto; hipócritas, malévolos e, o que nos pareceria inexplicável, se de algum modo não conhecêssemos a fisiologia deste mundo, há sensuais, vilões e devassos que se arrastam na lama. Ao lado desses, assim como na Terra, há seres bons, humanos, benevolentes, esclarecidos e dotados de sublimes virtudes. Como, entretanto, o nosso mundo não está na primeira nem na última posição, embora mais vizinho da última que da primeira, disso resulta que o mundo dos Espíritos abrange seres mais avançados intelectual e moralmente do que os nossos homens mais esclarecidos, e outros que estão em situação inferior à dos homens mais inferiores.

Cenas da vida particular espírita

Seguimos os Espíritos, desde que deixam o corpo terreno, e esboçamos rapidamente as suas ocupações. Hoje nos propomos mostrá-los em ação, para o que reunimos no mesmo quadro várias cenas íntimas, cujo testemunho nos foi dado através das comunicações. As numerosas conversas familiares de além-túmulo já publicadas nesta revista podem dar uma ideia da situação dos Espíritos, conforme o seu grau de progresso. Aqui, porém, há um caráter especial de atividade, que nos dá a conhecer ainda melhor o papel que, malgrado nosso, representam entre nós. O tema de estudo, cujas peripécias vamos relatar, se nos ofereceu espontaneamente e apresenta tanto mais interesse quanto o herói principal não é um desses Espíritos superiores, habitantes de mundos desconhecidos, mas um desses que, por sua natureza, ainda estão presos à Terra; um contemporâneo que nos deu provas manifestas de sua identidade. A ação se passa entre nós e cada um de nós tem nela um papel.


Além do mais, este estudo dos costumes espíritas tem de particular a circunstância de mostrar-nos o progresso dos Espíritos na erraticidade e a maneira de concorrermos para a sua educação.

Aforismo espíritas e pensamentos soltos

Os Espíritos se encarnam homens e mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, lhes impõe provas e deveres especiais, no momento de adquirir experiências. Aquele que tivesse de ser sempre homem só saberia aquilo que sabem os homens.


Pela doutrina espírita, a solidariedade não se restringe mais à sociedade terrena: abarca todos os mundos. Pelas relações que os Espíritos estabelecem entre as várias esferas, a solidariedade é universal, porque de um a outro mundo os seres vivos se prestam mútuo apoio.

Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos, abril de 1859.

 

Os canibais

Um dos nossos assinantes dirigiu-nos a seguinte pergunta, rogando-nos a solução pelos Espíritos que nos assistem, se ainda não a tivermos:


“Depois de um lapso de tempo mais ou menos longo, os Espíritos errantes desejam e pedem a Deus a reencarnação, como meio de progresso espiritual. Escolhem as provas e, usando o livre-arbítrio, escolhem naturalmente aquelas que se lhes afiguram mais apropriadas a esse progresso no mundo onde a reencarnação lhes é permitida. Ora, durante sua vida errante, empregada em instruir-se, conforme eles mesmos nos dizem, ficam sabendo quais as nações que mais lhes convêm, a fim de atingirem o fim visado. Veem populações ferozes, antropófagas e têm a certeza de que, nelas encarnando, se tornarão ferozes comedores de carne humana. Certamente não será nesse meio que hão de realizar o progresso espiritual. Seus instintos brutais apenas terão adquirido mais consistência pela força do hábito. Então seu objetivo terá falhado, se houverem escolhido este ou aquele povo.

Fraudes espíritas

Aqueles que não admitem a realidade das manifestações físicas geralmente atribuem à fraude os efeitos produzidos. Alegam que os prestidigitadores hábeis fazem coisas que parecem prodigiosas, se não lhes conhecemos os segredos. Daí concluem que os médiuns não passam de escamoteadores. Já refutamos esse argumento, ou antes, essa opinião, notadamente nos artigos sobre o Sr. Home e nos números da Revista Espírita de janeiro e fevereiro de 1858. Acrescentaremos apenas algumas palavras, antes de tratar de assunto mais sério.


Pelo fato de haver charlatães que vendem drogas na praça pública; pelo fato de também haver médicos que, mesmo não indo à praça pública, abusam da confiança, segue-se que todos os médicos são charlatães e que a classe é atingida em sua reputação? Pelo fato de haver criaturas que vendem tintura para vinho, segue-se que todos os negociantes de vinho são falsificadores e que não mais existe vinho puro?

Fenômeno de transfiguração

O fato que se segue foi extraído de uma carta que em setembro de 1857 recebemos de um dos nossos correspondentes em Saint-Etienne. Depois de falar de várias comunicações de que foi testemunha, ele acrescenta:

Carmine Mirabelli (à esquerda, em transe), Dr. Carlos de Castro (à direita) e a materialização do poeta italiano do século XVIII, Giuseppe Parini, ao centro.

“Fato dos mais admiráveis se passa numa das famílias de nossas relações. Das mesas girantes passaram à poltrona que fala; depois um lápis foi fixado ao pé da poltrona e ela indicou a psicografia; praticaram-na durante muito tempo, mais como distração do que como coisa séria. Por fim a escrita designou uma das moças da casa e ordenou que lhe passassem as mãos sobre a cabeça, depois de fazê-la deitar-se. Ela adormeceu quase imediatamente e depois de um certo número de experiências, transfigurou-se. A moça tomava os traços, a voz e os gestos de parentes mortos; dos avós que jamais havia visto e de um irmão falecido há alguns meses. As transfigurações ocorriam sucessivamente na mesma sessão. Ela falava um dialeto que não é o de nossa época, segundo me disseram, pois não conheço o atual nem o outro. O que posso afirmar é que numa sessão onde havia tomado a aparência de seu irmão, vigoroso, folgazão, me deu essa jovem de treze anos um rude aperto de mão. Há aproximadamente 18 meses a dois anos o fenômeno se repete constantemente e da mesma maneira, com a única diferença que agora se produz natural e espontaneamente, sem imposição de mãos”.

Médiuns interesseiros

Em nosso artigo sobre os escolhos dos médiuns colocamos a cupidez no rol dos defeitos que podem dar acesso aos Espíritos imperfeitos. Não será inútil desenvolver este assunto. Na primeira linha dos médiuns interesseiros devem colocar-se aqueles que poderiam fazer de sua faculdade uma profissão, dando o que se costuma chamar de sessões ou consultas remuneradas. Não os conhecemos, pelo menos na França.


Como, porém, tudo pode tornar-se objeto de exploração, não seria de admirar que um dia quisessem explorar os Espíritos. Resta saber como eles encarariam o fato, se acaso se tentasse introduzir tal especulação. Mesmo sem iniciação no Espiritismo, compreende-se quanto isto representa de aviltante. Mas quem quer que conheça, por pouco que seja, as difíceis condições nas quais os bons Espíritos se comunicam conosco e quão pouco é preciso para afastá-los, bem como a sua repulsa por tudo quanto representa interesse egoístico, jamais poderá admitir que os Espíritos superiores sirvam ao capricho do primeiro que os evoque a tanto por hora. O simples bom-senso repele uma tal suposição. Não seria ainda uma profanação evocar seu pai, sua mãe, seus filhos e seus amigos por semelhante meio? Sem dúvida que dessa maneira se podem ter comunicações, mas só Deus sabe de que fonte! Os Espíritos levianos, mentirosos, travessos, zombeteiros e toda a caterva de Espíritos inferiores vêm sempre. Estão sempre prontos a tudo responder. São Luís nos dizia outro dia, na Sociedade: Evocai um rochedo e ele vos responderá.

Estudo sobre os Médiuns

Como intérpretes das comunicações espíritas, os médiuns têm um papel de extrema importância e nunca seria demasiada a atenção dada ao estudo de todas as causas que podem influenciá-los, e isto não só em seu próprio interesse, como também no daqueles que, não sendo médiuns, deles se servem como intermediários.


Poderão assim julgar o grau de confiança que merecem as comunicações por eles recebidas.

A infância

Comunicação espontânea do Sr. Nélo, o médium, lida na sociedade a 14 de janeiro de 1859


Não conheceis o segredo que, na sua inocência, ocultam as crianças; não sabeis o que são, nem o que foram, nem o que hão de ser. Entretanto vós as amais, vós as prezais como se fossem uma parte de vós mesmos e de tal modo que o amor da mãe pelos filhos é considerado como o maior amor que um ser possa ter a outro ser. De onde vem essa doce afeição, essa terna benevolência que os próprios estranhos experimentam para com uma criança?

O sono

Pobres homens! Como conheceis pouco os mais ordinários fenômenos que fazem a vossa vida! Tende-vos por muito sábios; pensais possuir uma vasta erudição e a estas simples perguntas que fazem todas as crianças: “O que é que fazemos quando dormimos? O que são os sonhos?” ficais sem resposta. Não tenho a pretensão de vos fazer compreender aquilo que vos quero explicar, porque há coisas às quais o vosso Espírito ainda não pode submeter-se, porque admite apenas o que compreende.


O sono liberta inteiramente a alma do corpo. Quando dormimos, ficamos momentaneamente no estado em que, de maneira definitiva, nos encontraremos depois da morte. Os Espíritos que rapidamente se desprenderam da matéria por ocasião da morte, tiveram sono inteligente; esses, quando dormem, reencontram a sociedade de outros seres que lhes são superiores: viajam, conversam e com eles se instruem. Trabalham até em obras que, ao morrer, acham acabadas. Isto, mais uma vez, deve ensinar-nos que não devemos temer a morte, pois que morremos todos dias, conforme disse um santo.

As flores

Esta comunicação e a seguinte foram obtidas pelo Sr. F..., o mesmo de quem falamos em nosso número de outubro, a propósito dos obsedados e subjugados. Por aí se pode julgar a diferença entre a natureza de suas comunicações atuais e as de outrora. Sua vontade triunfou completamente da obsessão de que era vítima, e seu mau Espírito não reapareceu. Estas duas dissertações lhe foram ditadas por Bernard Palissy.


As flores foram criadas no mundo como símbolos da beleza, da pureza e da esperança.

O papel da mulher

A mulher é mais finamente burilada que o homem, o que indica, naturalmente, uma alma mais delicada. É assim que em condições semelhantes, em todos os mundos, a mãe será mais bela que o pai, por ser ela que a criança vê primeiro. É para a figura angélica de uma jovem senhora que a criança volta incessantemente o olhar. É pela mãe que a criança enxuga as lágrimas e nela fixa o olhar ainda fraco e incerto. A criança tem, assim, uma intuição natural do belo.


A mulher sabe fazer-se notada principalmente pela delicadeza de seus pensamentos, pela graça de seus gestos, pela pureza de suas palavras. Tudo que dela vem deve harmonizar-se com sua pessoa, que Deus fez bela.

A preguiça

Dissertação moral ditada por São Luis á Srta. Hermance Dufaux

(5 de maio de 1858)

I

Um homem saiu muito cedo e foi à praça para contratar operários. Ora, ali viu dois homens do povo, sentados e de braços cruzados. Chegou-se a um deles e assim o abordou: “Que fazes aí?” Ao que o mesmo lhe respondeu: “Não tenho trabalho.” Disse então aquele que procurava trabalhadores: “Toma a tua ferramenta e vem ao meu campo, na vertente da colina, onde sopra o vento sul; cortarás as urzes e revolverás o solo até o cair da noite. A tarefa é dura, mas terás um bom salário.” O homem do povo pôs a enxada no ombro, agradecendo-lhe por isso, de todo o coração.

Ouvindo isto, o outro operário levantou-se e aproximou-se, dizendo: “Senhor, deixe-me ir também trabalhar no campo.” E, tendo-lhes dito a ambos que o seguissem, marchou à frente, para mostrar o caminho. Depois, quando chegaram à encosta da colina, dividiu o trabalho em dois e se foi.

Quando ele partiu, o último dos operários contratados pôs fogo no mato da gleba que lhe coube por sorte e revolveu a terra com a enxada. Sob o ardor do sol, o suor porejava-lhe de sua fronte. O outro o imitou, a princípio murmurando, mas em breve parou o trabalho e fincando a enxada no chão sentou-se ao lado, olhando o trabalho do companheiro.

Os anjos da guarda

Comunicação espontânea obtida pelo Sr. L., um dos médiuns da sociedade


Há uma doutrina que deveria converter os mais incrédulos, por seu encanto e por sua doçura: a dos anjos da guarda. Pensar que tendes sempre junto a vós seres que vos são superiores; que aí estão sempre para vos aconselhar, para vos sustentar, para vos ajudar a escalar a áspera montanha do bem; que são amigos mais certos e mais dedicados do que as mais íntimas ligações que possais estabelecer na Terra, não é uma ideia consoladora? Esses seres aí estão por ordem de Deus. Foi ele que os pôs ao vosso lado. Aí se acham por amor a ele e realizam bela e penosa missão. Sim, onde quer que estejais, estarão convosco. Os calabouços, os hospitais, os lugares de deboche, a solidão, nada vos separa desses amigos que não vedes, mas cujos suaves impulsos vossa alma sente, como lhes escuta os sábios conselhos.

Sensações dos espíritos – parte 1

Sofrem os Espíritos? Que sensações experimentam? Tais perguntas nos são naturalmente dirigidas e procuramos respondê-las. Inicialmente devemos dizer que para tanto não nos contentamos com respostas dos Espíritos. De certo modo tivemos que considerar a sensação como um fato, através de numerosas observações.


Numa de nossas reuniões, pouco depois de havermos recebido de São Luís uma bela dissertação sobre a avareza, cuja publicação foi feita em nosso número de fevereiro, um dos nossos associados contou o fato que se segue, a respeito daquela dissertação.

Sensações dos espíritos – parte 2

Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões de nossa matéria, queremos referir-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não tem analogia aqui na Terra. Já o mesmo não se dá com aqueles cujo perispírito é mais denso. Esses percebem os nossos sons, os nossos odores, mas não por uma parte limitada do seu ser, como quando vivos. Poder-se-ia dizer que as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o seu ser e assim chegam ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, posto que de maneira diferente e talvez mesmo com uma impressão diferente, o que produz uma modificação na percepção. Eles ouvem o som de nossa voz, entretanto nos entendem sem o recurso da palavra, pela simples transmissão do pensamento, o que vem em apoio àquilo que dizíamos, isto é, que tal penetração é tanto mais fácil quanto mais desmaterializado é o Espírito.


Quanto à visão, ela independe da nossa luz. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma. Para ela não existe obscuridade. No entanto, ela é mais extensa e penetrante naqueles que são mais depurados. A alma, ou Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Na vida corpórea estas são obliteradas pela grosseria de nossos órgãos. Na vida extracorpórea são cada vez menos obliteradas, à medida que se depura o envoltório semimaterial.

Fenômeno da bicorporeidade

Um dos membros da Sociedade envia-nos uma carta de um de seus amigos de Boulogne-sur-Mer, datada de 26 de julho de 1856, onde se lê a passagem seguinte:

Depois que por ordem dos Espíritos magnetizei meu filho, ele se tornou um médium muito raro, conforme a revelação que fez em estado sonambúlico, no qual eu o havia posto, a pedido dele, a 14 de maio último e outras quatro ou cinco vezes.


Para mim é fora de dúvida que desperto meu filho conversa livremente com os Espíritos com quem deseja, por intermédio de seu guia, que chama familiarmente de amigo; que à vontade ele se transporta em Espírito aonde deseja. Vou citar um fato cuja prova escrita tenho em minhas mãos.

Um espírito no seu funeral

Os Espíritos sempre nos disseram que a separação da alma e do corpo não se dá instantaneamente. Algumas vezes começa antes da morte real, durante a agonia. Quando se faz notar a última pulsação, o desprendimento ainda não é completo. Ele se opera mais ou menos lentamente, conforme as circunstâncias e até sua completa libertação a alma experimenta uma perturbação, uma confusão que lhe não permitem dar-se conta de sua situação. Ela se encontra no estado de uma pessoa que desperta e cujas ideias são confusas.

Tal estado nada tem de penoso para o homem cuja consciência é pura; sem compreender bem o que vê, está calmo e espera sem temor o completo despertar. Ao contrário, é cheio de angústias e de terrores para aquele que teme o futuro.

A duração dessa perturbação, dizemos nós, é variável. É muito menos longa naquele que durante a vida já elevou seus pensamentos e purificou sua alma; dois ou três dias lhe bastam, enquanto que a outros são precisos, por vezes, oito ou mais dias. Muitas vezes assistimos a esse momento solene e sempre vimos a mesma coisa. Não é, pois, uma teoria, mas o resultado da observação, pois é o Espírito que descreve e pinta a sua própria situação.

O mal e o medo

Problema de fisiologia, dirigido ao Espírito de S/ao Luís, na sociedade de Estudos Espíritas, na sessão do dia 14 de setembro de 1858.

Lemos no Moniteur de 26 de novembro de 1857:

Comunicam-nos o seguinte fato, que vem confirmar as observações feitas sobre a influência do medo.


“Ontem o Dr. F... voltava para casa depois de ter feito algumas visitas aos seus doentes. Numa dessas visitas haviam-lhe dado uma garrafa de excelente rum, importado diretamente da Jamaica. O médico esqueceu no carro a garrafa preciosa. Lembrando-se, um pouco mais tarde, foi procurá-la e disse ao chefe do estacionamento que havia deixado numa das carruagens uma garrafa de um veneno muito violento e o aconselhou a prevenir aos cocheiros que tivessem o maior cuidado em não fazer uso daquele líquido mortal.

Sobre o suicídio

Perguntas dirigidas a São Luís através do Sr. C..., médium falante e vidente, na sessão de 12 de outubro de 1858 da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas

1. ─ Por que motivo o homem que tem a firme intenção de se matar revoltar-se-ia contra a ideia de ser morto por outro e defender-se-ia contra os ataques, no mesmo instante em que vai cumprir o seu desígnio?


─ Porque o homem tem sempre medo da morte. Quando se suicida, está superexcitado, com a cabeça transtornada, e realiza esse ato sem coragem nem medo e, por assim dizer, sem ter conhecimento do que faz, ao passo que se lhe fosse dado raciocinar, não veríamos tantos suicídios. O instinto do homem leva-o a defender a própria vida e, durante o tempo que decorre entre o momento em que o seu semelhante se aproxima para matá-lo e o momento em que o ato é cometido, tem ele sempre um movimento de repulsa instintiva da morte, que o leva a repelir esse fantasma que só é apavorante para o Espírito culpado. O homem que se suicida não experimenta tal sentimento porque se acha cercado de Espíritos que o impelem, que o ajudam em seus desejos e lhe fazem perder completamente a lembrança do que não seja ele mesmo, isto é, dos pais, daqueles que o amam e de outra existência. Nesse momento o homem é todo egoísmo.

Independência sonambúlica

Há muitas pessoas que, aceitando hoje perfeitamente o magnetismo, durante muito tempo contestaram a lucidez sonambúlica. É que, na verdade, essa faculdade veio derrubar todas as noções que tínhamos a respeito da percepção das coisas do mundo exterior. Entretanto, de há muito tínhamos o exemplo dos sonâmbulos naturais, gozando de faculdades análogas que, por um contraste bizarro, jamais foram aprofundadas. Hoje a clarividência sonambúlica é um fato estabelecido, e se ainda é contestado por algumas pessoas, é que as ideias novas custam a lançar raízes, principalmente quando é preciso renunciar às que embalamos durante muito tempo.


Muita gente acreditou, como o faz ainda hoje com as manifestações espíritas, que o sonambulismo pudesse ser experimentado como uma máquina, sem que se levasse em conta as condições especiais do fenômeno. Eis por que, não tendo obtido resultados satisfatórios no momento oportuno, concluíram pela negação. Fenômenos tão delicados exigem uma observação longa, assídua e perseverante, a fim de se lhes captarem as nuanças, por vezes fugidias. É igualmente em consequência da incompleta observação dos fatos que certas pessoas admitem a clarividência dos sonâmbulos, mas contestam a sua independência. Para eles, sua visão não vai além do pensamento dos que os interrogam. Alguns até chegam a admitir que não há visão, mas simples intuição e transmissão do pensamento, e citam numerosos exemplos em apoio a essas ideias.

Aparições

O fenômeno das aparições apresenta-se hoje sob um aspecto de certo modo novo, e projeta uma viva luz sobre os mistérios da vida de além-túmulo. Antes de abordar os estranhos fatos que vamos relatar, julgamo-nos obrigados a reiterar, completando-as, as explicações dadas anteriormente.


Não se deve perder de vista que durante a vida o Espírito está unido ao corpo por uma substância semimaterial que constitui um primeiro envoltório, o qual designamos como perispírito. Tem, pois, o Espírito, dois envoltórios: um grosseiro, pesado e destrutível ─ o corpo; outro etéreo, vaporoso, indestrutível ─ o perispírito. A morte não é mais que a destruição do envoltório grosseiro; é a roupa usada que abandonamos. O envoltório semimaterial persiste e constitui, por assim dizer, um novo corpo para o Espírito.

As metades eternas

A passagem que se segue foi extraída da carta de um dos nossos assinantes.

 “...Perdi, há alguns anos, uma esposa boa e virtuosa e, embora me houvesse deixado seis filhos, sentia-me em completo isolamento, quando ouvi falar de manifestações espíritas. Em breve eu me encontrava num pequeno grupo de bons amigos, que todas as noites se ocupavam desse assunto. Aprendi, então, através das comunicações obtidas, que a verdadeira vida não está na Terra, mas no mundo dos Espíritos; que a minha Clemência ali era feliz e que, como outras, trabalhava pela felicidade dos que aqui havia conhecido.


“Ora, eis um ponto sobre o qual desejo ardentemente que me esclareçais.

A fotografia espontânea – parte 1

Vários jornais relataram o fato seguinte:

 “O Sr. Badet, falecido a 12 de novembro último, após uma enfermidade de três meses, costumava, segundo o Union Bourguignonne, de Dijon, toda vez que lhe permitiam as forças, postar-se a uma janela do primeiro andar, com a face constantemente voltada para a rua, distraindo-se em ver os transeuntes. Há alguns dias a Sra. Peltret, cuja casa fica em frente à da Viúva Badet, percebeu numa vidraça da janela o próprio Sr. Badet, com seu boné de algodão, seu rosto emagrecido etc., enfim tal qual o vira durante a doença. Grande foi sua emoção, para não dizer mais nada.

 “Não só chamou os vizinhos, cujo testemunho poderia ser suspeito, mas ainda homens respeitáveis, os quais viram mui distintamente a figura do Sr. Badet no vidro da janela à qual costumava ficar. Mostraram essa imagem à família do defunto, que imediatamente deu sumiço no vidro.

A fotografia espontânea – parte 2

Decorre das explicações acima (ver artigo A fotografia espontânea – parte 1) que o fato, em si mesmo, não é sobrenatural, nem miraculoso. Quantos fenômenos em condições semelhantes, nos tempos da ignorância, devem ter chocado a imaginação tão inclinada para o maravilhoso! É, pois, um efeito puramente físico, que pressagia um novo passo na ciência fotográfica.

Como se sabe, o perispírito é o envoltório semimaterial do Espírito. Não é apenas depois da morte que dele está revestido o Espírito; durante a vida está unido ao corpo; é o laço entre o corpo e o Espírito. A morte é apenas a destruição do envoltório mais grosseiro; o Espírito conserva o segundo, que mantém a aparência do primeiro, como se essa lhe guardasse a imagem. Geralmente o perispírito é invisível, entretanto, em certas circunstâncias, condensa-se e, combinando-se com outros fluidos, torna-se perceptível à vista e por vezes até mesmo tangível. É o que se vê nas aparições.

A caridade

Pelo Espírito de S. Vicente de Paulo

(Sociedade de Estudos Espíritas, sessão de 8 de junho de 1858)

Sede bons e caridosos, eis a chave do Céu, posta em vossas mãos. Toda a felicidade eterna está contida nesta máxima: “Amai-vos uns aos outros.” Não pode a alma elevar-se às regiões espirituais senão pela dedicação ao próximo; ela não encontra felicidade e consolação senão nos arroubos da caridade. Sede bons, ajudai os vossos irmãos, ponde de lado essa horrível chaga do egoísmo. Esse dever cumprido vos deve abrir as vias da felicidade eterna. Aliás, quem dentre vós não sentiu o coração pulsar e sua alegria íntima expandir-se pela prática de uma obra de caridade? Não deveríeis pensar senão nesta espécie de volúpia proporcionada por uma boa ação, com o que permaneceríeis sempre no caminho do progresso espiritual. Não vos faltam exemplos. Só a boa vontade é que é rara.


Vede a multidão de homens de bem, cuja lembrança piedosa a vossa história relembra. Eu poderia citar aos milhares aqueles cuja moral não tinha por objetivo senão melhorar o vosso globo. Não vos disse o Cristo tudo quanto concerne às virtudes da caridade e do amor? Por que são postos de lado os seus divinos ensinamentos? Por que os ouvidos são tapados às suas divinas palavras e o coração é fechado para todas as suas máximas suaves?

Suicídio por amor

Há sete ou oito meses, Luís G..., sapateiro, namorava a jovem Vitorina R..., pespontadeira de botinas, com a qual deveria casar-se brevemente, pois os proclamas estavam sendo publicados. Estando as coisas nesse ponto, os jovens se consideravam quase definitivamente unidos e, como medida de economia, o sapateiro vinha fazer as refeições em casa da noiva.


Tendo vindo, quarta-feira última, como de costume, cear em casa da pespontadeira, sobreveio uma discussão a propósito de uma futilidade. Obstinaram-se, de uma e de outra parte, e as coisas chegaram ao ponto em que Luís deixou a mesa e se foi, jurando não mais voltar.

Obsedados e subjugados

Muito se tem falado dos perigos do Espiritismo. É de notar-se, entretanto, que os que mais gritaram são exatamente os que quase só o conhecem por ouvir dizer. Já refutamos os principais argumentos que lhe são opostos; a eles, pois, não voltaremos. Acrescentaremos apenas que, se quiséssemos proscrever da Sociedade tudo quanto pode oferecer perigo e dar margem a abusos, não saberíamos muito o que haveria de restar, mesmo daquelas coisas de primeira necessidade, a começar pelo fogo, causa de tantas desgraças; depois, as estradas de ferro, etc. etc. Se se admitir que as vantagens compensam os inconvenientes, o mesmo deve acontecer com tudo o mais. A experiência indica, ao mesmo tempo, as precauções que devem ser tomadas para nos garantirmos contra os inevitáveis perigos das coisas.

Na verdade, o Espiritismo apresenta um perigo real, mas não é aquele que se supõe. É preciso ser-se iniciado nos princípios da Ciência para bem compreendê-lo. Não nos dirigimos àqueles que lhe são alheios, mas aos próprios adeptos, àqueles que o praticam, pois que para esses é que há perigo. Importa que o conheçam, a fim de se porem em guarda. Sabe-se que um perigo previsto é um perigo meio evitado[1]. Diremos mais: para quem quer que esteja bem informado da Ciência, tal perigo não existe; existe apenas para aqueles que têm a presunção de saber, isto é, como em todas as coisas, para aqueles que não possuem a necessária experiência.

Teoria das manifestações físicas - I

É fácil conceber a influência moral dos Espíritos e as relações que possam ter com a nossa alma, ou com o Espírito em nós encarnado. Compreende-se que dois seres da mesma natureza possam comunicar-se pelo pensamento, que é um de seus atributos, sem o concurso dos órgãos da palavra. Já é, entretanto, mais difícil dar-nos conta dos efeitos materiais que eles podem produzir, tais como os ruídos, o movimento dos corpos sólidos, as aparições e sobretudo as aparições tangíveis.

Vamos tentar dar a explicação, segundo os próprios Espíritos e segundo a observação dos fatos.

A ideia que fazemos da natureza dos Espíritos torna à primeira vista incompreensíveis esses fenômenos. Diz-se que o Espírito é a ausência completa da matéria e, pois, que ele não pode agir materialmente. Ora, isto é errado. Interrogados sobre se são imateriais, assim responderam os Espíritos: “Imaterial não é bem o termo, porque o Espírito é alguma coisa; do contrário seria o nada. É material, se se quiser, mas de uma matéria de tal modo etérea que para vós é como se não existisse”. Assim, o Espírito não é uma abstração, como pensam alguns; é um ser, mas cuja natureza íntima escapa aos nossos sentidos grosseiros.

Teoria das manifestações físicas - II

As explicações que demos para as manifestações físicas fundam-se na observação dos fatos e na sua dedução lógica: concluímos de acordo com o que vimos. Como, porém, se processam na matéria eterizada as modificações que a tornam perceptível e tangível?

Para começar, deixaremos falarem os Espíritos a quem interrogamos a respeito, juntando depois os nossos comentários. As respostas que se seguem foram dadas pelo Espírito de São Luís e estão em concordância com o que anteriormente nos havia sido dito por outros Espíritos.

1. ─ Como pode aparecer um Espírito com a solidez de um corpo vivo?

─ Ele combina uma parte do fluido universal com o fluido que se desprende do médium apto para tal efeito. Esse fluido toma a forma que o Espírito deseja, mas geralmente essa forma é impalpável.

2. ─ Qual é a natureza desse fluido?

─ Fluido. Isto diz tudo.

Descrição de Júpiter

Bernard Palissy (9 de março de 1858)

Nota: Por evocações anteriores, sabíamos que Bernard Palissy, o célebre oleiro do século XVI, habita Júpiter. As respostas que se seguem confirmam, em todos os pontos, quanto nos foi dito sobre esse planeta, em várias ocasiões, por outros Espíritos e através de diferentes médiuns. 

1. ─ Para onde foste ao deixar a Terra?

─ Ainda me demorei nela.

2. ─ Em que condições estavas aqui?

─ Sob o aspecto de uma mulher amorosa e dedicada. Era uma simples missão.

3. ─ Essa missão durou muito?

─ Trinta anos.

4. ─ Lembras-te do nome dessa mulher?

─ Era obscuro.