Razão e caridade

A

inda estamos longe da educação racional. Permitimos que as emoções nos governem, sem raciocinar e sempre como resposta às palavras ou atitudes alheias, porque muitas vezes agimos de forma desastrosa, movidos por impulsos primitivos. Dessa forma, só teremos controle da nossa vida com condições de assimilar virtudes, se passarmos a dominar e não ser dominados pelas emoções.

O aprendizado vivenciado na prática diária contribui em grande escala para que nos tornemos fortes. A teoria prepara, é verdade, mas é a prática que capacita em realizações. Não basta, pois, o ensinamento, é preciso que sejamos a lição viva, conforme exemplifica o Cristo, trabalhando em harmonia, aprendendo uns com os outros, conforme assevera Emmanuel, estimado benfeitor espiritual: “a conversação é permuta de almas”.

Doamos e recebemos o tempo todo, e o receber é sempre em proporções maiores, já que intensificam todos os sentimentos dos que se afinam conosco, encarnados ou não. É a lei de ação e reação. Aí também o cuidado em filtrar o que vemos e ouvimos a fim de aproveitar o que nos sirva para a construção no melhor.

Homenageando os mortos

Um dia de novembro foi convencionado pela humanidade como o dia dos finados - comemoração dos mortos. O termo "finado” para o Espiritismo é usado de forma equivocada, pois a doutrina ensina que não há fim da vida. A morte é apenas do corpo físico, com o retorno do espírito para o mundo espiritual que é o seu mundo original.

Assim, podemos afirmar como Charles Richet, em carta dirigida a Cairbar Schutel: "A morte é a porta da vida".

A respeito do assunto vejamos o que nos ensina O Livro dos Espíritos, obra básica da doutrina na questão 320, onde Kardec questiona os Espíritos perguntando:

Os Espíritos são sensíveis à saudade dos que os amaram na Terra?

Resposta: muito mais do que podeis julgar. Essa lembrança aumenta-lhes a felicidade, se são felizes e, se são infelizes, serve-lhes de alívio.

Questão 323: A visita ao túmulo proporciona mais satisfação ao Espírito do que uma prece feita em sua intenção?

Falanges do sacrifício

Cristãos perseguidos e até hoje crucificados. Palestinos e muçulmanos oprimidos. Umbandistas discriminados. Crianças e mulheres vítimas de violência social e doméstica, arrastadas por meliantes em fuga, ou espancados. Homoafetivos brutalmente assassinados...

Todos estes Espíritos em passagem pelo mundo, a despeito das nuances talvez complicadas de contexto cármico para cada caso, configuram um grupo especial de reencarnados com a missão sacrificial de espelhar a urgência desta humanidade “se humanizar”. De aprender em definitivo a lição milenar da harmonização entre as diferenças. Do respeito, do amor, da tolerância, para o bem comum.

Para além de cada diferença, efetivamente o que realça e predomina é o humano. O Espírito em trajetória, que verte lágrimas de igual teor, que sorri sorrisos semelhantes de alegria ou de vitória; que sonha, como quaisquer daqueles que pretensamente se arvoram no modelo a ser seguido, em muitas das vezes, baseando-se em preconceitos, convencionalismo equivocado, e num padrão discriminatório multimilenar mofado, que não prosperou nem em tempos de barbárie.

O mau-olhado na ótica espírita – Parte 1

Vamos falar de uma crença comum, talvez até mesmo universal, que, segundo o nosso entendimento, tem base doutrinária, mas, no início, poderá causar estranheza a alguns dos estudiosos do Espiritismo.

Será que o mau-olhado é simplesmente uma superstição ou uma realidade percebida pela sabedoria popular? Eis a questão.

Mau-olhado ou olho gordo é uma crença folclórica(provavelmente muito antiga por ser observada entre vários povos) de que a inveja de alguém, demonstrada pelo olhar ou não, pode vir a ocasionar a degradação do alvo da inveja ou de uma boa sorte. Para tanto, em todas as culturas em diversos tempos da história, foram criados amuletos contra o mau-olhado, como nazar.

Tradicionalmente associado a ideia de “secar com os olhos” […].

Na tradição bíblica, o mau-olhado tem vinculações com a restrição à cobiça (Êxodo 20).

Trouxemos a definição na Wikipédia que, embora não muito confiável, servirá apenas para ressaltar que muitas pessoas veem o mau-olhado como uma crença folclórica. Mas não seria o caso de se questionar: ora, se é uma tradição que se nota “em todas as culturas em diversos tempos da história”, e que a todo o momento são presenciadas e narradas ocorrências que levam pessoas a, pelo menos, suspeitarem da sua existência, por que apenas se considera como produto do imaginário?

O mau-olhado na ótica espírita – Parte 2

Um pouco mais a frente, detalhando, explica Hermínio de Miranda:

É certo, porém, que forças mentais poderosas podem ser manipuladas pelo pensamento e pela vontade. Não há, portanto, mau-olhado no sentido de que um simples olhar possa fazer murchar uma planta ou adoecer uma pessoa; há, contudo, sentimentos desarmonizados que, potencializados pela vontade consciente ou inconsciente, acarretam distúrbios consideráveis em pessoas, animais ou plantas.

O pensamento é a mais poderosa energia no Universo e circula por um sistema perfeito de vasos comunicantes, através de toda a natureza. Segundo as intenções sob as quais é emitido, tanto pode construir como destruir. Dar vida, como retirá-la. Nada mais que isso.

Ney Prieto Peres, em Manual prático do espírita, trata desse assunto:

O dom divino

Irmão X

Antigo devoto, extremamente apaixonado pelo Senhor, mantinha consigo o velho desejo de encontrá-lo, afagá-lo e ser-lhe útil.

“Oh! se pudesse viver na intimidade do Mestre” – pensava em êxtase – “tudo faria por rodeá-lo de cooperação e carinho.”

Por isso mesmo buscava cultivar todas as virtudes e aperfeiçoar todas as qualidades nobres, a fim de oferecer-lhe dons perfeitos.

Entre esperanças e orações, seguia a esteira infinita do tempo, aguardando o instante sublime de identificar-se com Jesus, quando, num sonho prodigioso, viu que o Senhor o visitava, acompanhando de sublime cortejo. O carro fulgurante do Rei do mundo vinha ladeado de Arcanjos e Tronos, ostentando flores e estrelas do Paraíso.

Mário, o cego

C

erto dia, Jonas, de oito anos, como não tinha nada para fazer à tarde, resolveu andar na rua sem destino; andou bastante, até que resolveu voltar para casa. Fez meia-volta e tomou o caminho de volta. Andara um pouco, quando viu um cego com uma bengala e que parecia perdido. Com pena dele, parou e cumprimentou-o:

— Olá! O senhor está passeando como eu?

— Está falando comigo, garoto? — indagou o homem levantando a cabeça.

— Sim! Achei que o senhor parecia meio perdido!... Quer que eu o leve a algum lugar? Para sua casa talvez? — disse-lhe Jonas com um sorriso.

Surpreso por ouvir um garoto falando com ele, o que nunca acontecia, o homem suspirou, batendo a bengala em algo que notou ser um banco; então se acomodou aliviado, depois respondeu:

A prática do bem

“Vamos falar de uma crença comum, talvez até mesmo universal, que, segundo o nosso entendimento, tem base doutrinária, mas, no início, poderá causar estranheza a alguns dos estudiosos do Espiritismo.” (Paulo da Silva Neto Sobrinho, autor do artigo O mau-olhado na ótica espírita, um dos destaques desta edição.)

Pode parecer estranho, mas há, ainda, muitos preconceitos na prática espírita, o que é difícil de compreender, uma vez que a visão espírita deveria estar livre de tal vício e, bem ao contrário, ser acolhedora de todas as crenças que buscam a verdade e o bem, porque, como diz o apóstolo Paulo, “todos quantos praticam a caridade são discípulos de Jesus, seja qual for o culto a que pertençam”. (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XV, item 10.)

Em alguns grupos e centros tem-se especial aversão a “pretos velhos” e a entidades como índios, lanceiros ou falanges católicas, quando o Espiritismo deveria ser um manancial de bênçãos para todos os que dele se acercam em busca de auxílio, amparo, refazimento.

Paciência: educação para o Espírito

T

odos nós estamos situados em extenso parque de oportunidades de trabalho, renovação, desenvolvimento e melhoria. Ninguém vive deserdado da participação nas boas obras, então, não pequemos por omissão: colheremos o que semearmos, velha verdade sempre nova.

Quando dificuldades surgem na estrada, não nos omitamos fazendo em favor dos outros o melhor que pudermos, a fim de que a nossa esperança se erga sublime em luminosa realização, aceitando as dificuldades à nossa volta, executando as tarefas as quais a Sabedoria de Vida nos estabeleceu na existência em que nos encontramos.

Se alguém nos responde asperamente, se um amigo aparece incompreensivo, se outro companheiro passa a nos dedicar antipatia gratuita, suponhamos que estes irmãos estejam presos mentalmente a problemas de angústia e coloquemo-nos no lugar deles. Certamente nos compadeceremos de cada um, dispondo-nos a auxiliá-los, aprendendo a não desprezar o poder da migalha na obra do auxílio.

Todo o mal deriva do egoísmo

“O interesse individual é a demonstração da continuação de nossa animalidade. A humanidade começa no homem com o desinteresse.”

“Três viajantes encontraram, certa vez, um tesouro.

Depois, sentiram fome, e um deles foi comprar-lhes comida. No caminho, pensou: – Por que não colocar veneno na comida? Comerão e morrerão, e ficarei com todo o tesouro.

Entretanto, seus companheiros deliberaram também matá-lo e dividir entre si sua parte. Quando voltou, assassinaram-no, e comeram a comida envenenada e também morreram.”

A bela síntese do conto oriental expressa com fidelidade o resultado invariável das ações egoísticas: tragédias, sofrimentos e lágrimas para todos os envolvidos.

Na Terra, onde predomina o egoísmo, ações dessa natureza multiplicam infinitas vezes as consequências do mal. Daí tantos sofrimentos, tantas lágrimas derramadas neste Orbe!

O estresse

E

stresse, originado da língua inglesa, stress, pode ser definido como toda forma de pressão, a qual, exercida com certa frequência sobre alguém, que a recebe na forma de carga emocional, termina por gerar algum distúrbio comportamental.

O fenômeno não é novo; contudo, como tudo o que diz respeito a nós, seres humanos, nos acompanha desde os tempos mais remotos e tem se intensificado nestes tempos de acontecimentos intensos e atropelados, na velocidade vertiginosa do furacão da denominada “pós-modernidade” ou, para acompanharmos o pensamento de Zygmunt Bauman , da “modernidade líquida”, onde tudo é fluido, amorfo, imponderável.

Nestes dias de tumulto planetário, a perturbação é generalizada, globalizada e, portanto, não respeita as fronteiras geográficas convencionadas pelos homens nem as estratificações artificiais, impostas pelos interesses econômicos, escalando todos os degraus das pirâmides sociais.

A reivindicação

Há muito aspirava Saturnino Peixoto ao interesse de algum homem público para favorecê-lo na abertura de certa estrada.

Para isso, conversou, estudou, argumentou... Concluiu, por fim, que a pessoa indicada seria o deputado Otaviano, recém-eleito, homem ao qual se referiam todos da melhor maneira, pela atenção e carinho com que se dedicava à solução dos problemas da extensa região que representava.

Depois de ouvir o escrivão da cidade, Saturnino redigiu longa carta memorial, minudenciando a reivindicação. E ficou aguardando a resposta.

Correram dias, semanas, meses.

Diante do bem

Diante de cada dia que surge, reflitamos na edificação do bem a que somos chamados.

Para isso, comecemos abençoando pessoas e acontecimentos, circunstâncias e coisas, para que o melhor se realize.

De princípio costumam repontar no cotidiano os problemas triviais do instituto doméstico.

Habitualmente aparece o assunto palpitante da hora, solicitando-nos atenção. Saibamos subtrair-lhe a sombra provável projetando nele a réstia de luz que sejamos capazes de improvisar.

Logo após, de imediato, estamos quase sempre defrontados pelos contratempos de ordem familiar. Renteando com eles, usemos o verbo calmante e conciliador para que as engrenagens do lar funcionem lubrificadas em bálsamo de harmonia.

O palavrão

Dois irmãos ---- imagem caio chorando -----estavam brincando no quintal, quando se desentenderam. Caio, de três anos, achava que somente ele poderia aproveitar e andar de bicicleta. Felipe, de nove anos, queria brincar também, porém o irmãozinho não deixava. Perdendo a paciência, Felipe gritou:

— Você é... é... Não dá pra brincar com você! É incompreensivo mesmo!... Chega! Não vou mais brincar com você!...

Caio, que não entendera aquela palavra, começou a chorar, gritando para a mãe, que estava na cozinha:
— Mamãe!... Mamãe!... O Felipe está me xingando!...

E Caio chorava tanto que a mãe saiu da cozinha, correndo para o quintal onde eles estavam. Querendo saber o que tinha acontecido perguntou a Felipe, que achara graça de o irmão pensar que ele dissera um palavrão, deu uma gargalhada, virando-se para a mãe:

— Mãe, não aconteceu nada! Caio acha que eu disse um palavrão! — E caiu novamente na risada.

— E não disse? — indagou a mãe, surpresa.

— Claro que não!... Eu disse que o Caio é incompreensivo! Ele não entendeu e não gostou! Por isso está chorando.

A mãe conteve o riso para não deixar o caçula mais nervoso ainda, depois explicou pegando-o no colo:

— Caio, querido, o que seu irmão lhe disse não é um palavrão. É uma palavra grande, porém quer dizer que você não entendeu o que ele explicou. Só isso!

— Não!... — gritou o pequeno, irritado — Eu entendi sim! Ele queria me xingar!... Também não brinco mais com ele!

Felipe aproximou-se do irmão, abraçou-o e tentou conversar com Caio, que escondeu o rosto no colo da mãe, para não ver o irmão.

Então, Felipe se afastou indo cuidar de seus deveres escolares. Algum tempo depois, fechado no quarto, ele fazia suas tarefas quando alguém bateu na porta. Ele foi abrir e viu o pequeno Caio que queria entrar.

— O que deseja Caio? Não vou brincar. Estou fazendo deveres da escola.

— Ah! O que é isso? — indagou o pequeno.

— Tenho tarefas para fazer, e se não fizer, terei notas ruins.

— Por quê?

— Porque a professora vai achar que eu não sei fazer tarefas e me dará nota baixa. Só isso!

— Ah!... Se é só isso, quer dizer que você pode brincar comigo e...

Felipe olhou para Caio, que parecia arrependido de ter brigado com ele, e disse:

— Caio, agora não posso. Vá brincar com seu cãozinho, com seus brinquedos, com seus amiguinhos. Eu não posso brincar agora!...

O pequeno baixou a cabeça, triste, quase chorando. Felipe, vendo o estado dele, sentiu pena e, abaixando-se, consolou o irmãozinho:

— Caio, meu irmão, não estou bravo com você. Apenas

tenho coisas mais importantes para fazer e não posso brincar agora. Entendeu?

O pequeno balançou a cabeça mostrando que entendera e saiu do quarto muito triste. A mãe, que limpava a sala, vendo Caio chateado, indagou o que tinha acontecido, ao que o pequeno respondeu:

— É que Felipe não pode brincar comigo. Você pode brincar, mamãe?

A mãe pegou-o no colo, e explicou que ela não podia brincar agora porque estava muito ocupada com as tarefas de casa, mas que assim que terminasse brincaria com ele.

— Ninguém pode brincar comigo!... — reclamou Caio olhando para o chão.

A mãe, com pena dele, olhou em torno e convidou-o para ajudá-la no serviço de limpeza, afirmando que depois ela brincaria com ele:

— Se você me ajudar, logo terminaremos!

Caio aceitou e, muito sério, pegou uma vassoura e pôs-se a varrer o chão. Nisso, seu cãozinho entrou na sala e latiu, puxando-lhe a barra das calças, mas o garotinho olhou sério para o cachorrinho dizendo:

— Totó, eu não posso brincar agora! Estou ocupado com trabalho muito importante! Quando acabar, vou brincar com você.

E, com carinha séria, sentindo-se valorizado, tomou da vassoura e pôs-se a varrer dizendo:

— Eu também tenho tarefas, não é, mamãe?

— Claro, meu filho! Você é pequeno, mas varre muito bem. Parabéns!... Logo poderá fazer outras tarefas mais importantes. Viu como você está crescendo?!

E de vassoura na mão, Caio sentia-se muito melhor e valorizado. Quando o pai chegou do trabalho, viu o seu filho caçula varrendo a entrada da casa e o convidou:

— Caio, quer brincar um pouco com o papai?

Muito sério, ele levantou a cabeça, olhou firme para o pai e respondeu:

— Papai, agora eu não posso. Estou trabalhando. Quando acabar meu serviço, aí nós poderemos brincar, está bem?

Fonte

Revista o consolador, ano 10, nº 501

Pelo Espírito Meimei, recebida por Célia X. de Camargo, em 31/10/2016. 

Nossas escolhas

“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição e muitos são os que entram por ela.” Jesus (Mateus, 7:13-14).

No período em que Jesus esteve entre nós, os povos viviam em cidades cercadas por muralhas, situadas sobre colinas e montes, para que o assédio dos inimigos se tornasse difícil. Jerusalém era uma delas, e para alcançá-la era necessário percorrer caminhos íngremes, e, como as portas da cidade eram fechadas ao pôr do sol, aqueles que voltavam para casa galgavam rapidamente os aclives, porque atrasando-se ficariam de fora.

Assim, o Mestre nos traz um quadro impressionante do caminho cristão, ou seja, o das dificuldades que precisamos vencer para conquistar a vida eterna.

Duas são as estradas que se nos apresentam: a da evolução e a da degradação.