Vampirismo - parte 1

 

Vampirismo é um tipo de obsessão caracterizado pela condição de parasitismo psíquico, quando um ou mais dentre os envolvidos — Espíritos desencarnados, almas encarnadas e a mescla destes — se nutrem das forças vitais de suas vítimas, comumente em associação a prazeres viciosos. É, portanto, um processo obsessivo mais ou menos grave, que consiste no envolvimento de um agente ativo (vampirizador) e outro passivo (vampirizado), havendo ainda casos de ação mútua (quando os mesmos envolvidos ora vampirizam e ora são vampirizados), cuja solução muitas vezes requer uma caridosa intervenção de terceiros em socorro aos, tanto aos vampirizadores quanto aos vampirizados.

O termo vampirismo é empregado no estudo espírita para designar metaforicamente o processo de parasitismo psíquico, em alusão aos parasitas descritos pela Biologia, que são organismos que vivem em associação com outros organismos dos quais sugam os nutrientes para sua sobrevivência. Nesse processo (parasitismo), normalmente o parasita (organismo hóspede) causa dano ao outro (organismo hospedeiro), como nos casos das doenças infecciosas, causadas por parasitas do tipo de alguns vírus e bactérias.



A metáfora em voga se aplica devido a certas semelhanças entre o processo de parasitismo e as clássicas lendas de vampiros — criaturas mitológicas (mistura de humano com morcego) que vêm das trevas e, sempre de noite, atacam seres humanos para lhes sugar o sangue, que seria a fonte da vitalidade daquelas criaturas.

A associação das expressões vampirismo e seus derivados com o parasitismo psíquico é amplamente empregada no meio espírita, especialmente a partir dos dramas narrados pelo Espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, na série A Vida no Mundo Espiritual, que começa com o clássico Nosso Lar, onde encontramos (capítulo 31) o caso de uma mulher (denominada "vampiro") cercada de pontos negros, que, chegada do Umbral, implora socorro do outro lado da cancela, sendo o socorro negado em virtude de tratar-se de um forte vampiro, cujos pontos negros — cinquenta e oito, no total — representavam cada uma das crianças assassinadas ao nascer.

Desta mesma série, encontramos Missionários da Luz, seu livro que melhor pormenoriza o drama vampirístico, onde lemos o autor espiritual nos transcrever a definição colhida junto a um instrutor: 

"Se nos referirmos aos morcegos sugadores, o vampiro, entre os homens, é o fantasma dos mortos, que se retira do sepulcro, alta noite, para alimentar-se do sangue dos vivos. Não sei quem é o autor de semelhante definição, mas, no fundo, não está errada. Apenas cumpre considerar que, entre nós, vampiro é toda entidade ociosa que se vale, indebitamente, das possibilidades alheias e, em se tratando de vampiros que visitam os encarnados, é necessário reconhecer que eles atendem aos sinistros propósitos a qual quer hora, desde que encontrem guarida no estojo de carne dos homens."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 4

A propriedade dessa associação entre a lendária figura do vampiro com o obsessor que particularmente investe contra suas vítimas para nutrir-se de suas energias fica mais emblemática quando observamos as anotações do estudioso Carlos Torres Pastorino ao salientar que, dentro do organismo físico, é no sangue humano que se dá a melhor assimilação com a energia vital — que é o objeto elementar do processo de vampirização. Isso explica por que o baço é ponto mais visado por obsessores dessa qualidade.

Allan Kardec não usou as expressões "vampirismo" e "parasitismo psíquico", mas deixou bem caracterizado semelhante processo dentro da classificação das obsessões, inclusive, colocando-o na mais grave categoria de assédio — a subjugação. 

"Assim como as enfermidades resultam das imperfeições físicas que tornam o corpo acessível às maléficas influências exteriores, a obsessão decorre sempre de uma imperfeição moral, que dá dominação a um Espírito mau (...). Nos casos de obsessão grave, o obsidiado fica como que envolto e impregnado de um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele..."

A Gênese, Allan Kardec, - cap. XIV, item 46

A conceituação espírita para vampirismo pode sugerir, num primeiro momento, uma recorrência doutrinária às teorias lendárias, como as histórias do famoso Conde Drácula. Porém, o que é mais exato é considerarmos que as lendas e romances fictícios de vampiros sejam exatamente inspirados nos reais processos obsessivos de parasitismo psíquico, mais uma demonstração de como a dimensão física imita — ainda que inconscientemente — o mundo espiritual.

Diante dessa realidade, a Doutrina Espírita tem o mérito de tornar conhecido esse processo obsessivo — muito frequente, aliás — e, dessa maneira, dar a possibilidade de uma melhor prevenção e tratamento aos casos já correntes.



Tipos e causas de vampirismo

Os casos clássicos de parasitismo psíquico são classificados pelos seguintes tipos:

  • Vampirismo por viciação: Espíritos que, encarnados, tornaram-se apegados às sensações materiais e viciaram-se em prazeres carnais prosseguem, após o desencarne, buscando àquelas mesmas sensações, vinculando-se aos encarnados que vibram em faixa idêntica, compartilhando daquelas paixões desequilibrantes (fumo, álcool, droga, gula, sexo desregrado etc.).
  • Vampirismo por atentado direto: obsessores que, conservando sentimentos negativos (ódio, especialmente) contra determinado indivíduo, motivados por inveja ou vingança (quando se sentem ofendidos por aquele), ligam-se então à sua vítima intencionalmente com o intuito de absorver-lhes a vitalidade, enfraquecendo-a e lhe causando prejuízos.
  • Vampirismo por uma causa contrária: quando um obsessor investe contra outrem, não por motivação pessoal (como no caso anterior), mas em razão de causas contrárias, por exemplo: para desvirtuá-lo de uma religião; para prejudicá-lo em função de preconceito étnico, para cooptá-lo para um determinado lado de duas forças opostas, etc.
  • Vampirismo inconsciente: quando dois indivíduos de planos diferentes, um encarnado e outro desencarnado, permanecem ligados, ainda que por um sentimento afetuoso e sem intenção de causar qualquer dano, mas que acabam prendendo-se, por força de um sobre o outro ou pela ação de ambos, impedindo ou dificultando o seu progresso em virtude de uma saudade demasiada.
  • Vampirismo por pseudonecessidade: quando um indivíduo supõe que necessita — e quase sempre acha que tem o direito — de se valer de outrem para sobreviver ou para alcançar um melhor status e então escora-se continuamente no outro, sugando-lhe as forças e procurando exercendo domínio sobre sua vítima.

 O primeiro caso, de um Espírito para um encarnado, é típico de parasitismo recíproco, já que ambos os envolvidos gozam do mesmo vício — ainda que em algum deles haja um sentimento de remorso. O Espírito procura motivar o encarnado à prática viciante para assim vampirizar as energias resultantes das sensações daquele prazer carnal. O segundo e o terceiro caso são próprios de desencarnados para encarnados. Já os dois derradeiros tipos de vampirismo podem ser acionados por um Espírito para encarnados ou vice-versa.

O principio da existência do vampirismo, assim como de qualquer tipo de obsessão, está no ajustamento do livre-arbítrio de cada Espírito frente à lei de ação e reação, da capacidade de influenciação de um para com o outro e do desenvolvimento das capacidades intelectivas e morais. Nesse contexto, não há razão para o vitimismo, uma vez que o obsediado (suposta vítima do processo vampírico) é, em parte, sempre corresponsável pela vinculação perniciosa, a partir de quando — por fraqueza, descuido ou reciprocidade — deixa-se ser influenciado pelo invasor. Trata-se, em suma, de uma prova ou expiação, para a qual os envolvidos são postos em condições de ajustar-se positivamente.

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