Vampirismo - parte 2

 

Processo parasitário e efeitos

A literatura espírita é rica em exemplos de parasitismo psíquico, evidenciando as causas e os efeitos dessa ligação danosa entre os psiquismos envolvidos, pelo que podemos compreender melhor o processo de vampirismo.

A base do processo se dá pela conexão entre as formas-pensamentos de um indivíduo para com outro — sejam eles encarnados ou desencarnados. Inicialmente, um dos indivíduos dirige (mal intencionalmente ou não) suas formas-pensamentos e estas, encontrando receptividade e hospedagem num outro psiquismo, instalam lá as bases dos filamentos e depositam larvas mentais — que Kardec chamou de "fluidos perniciosos" —, cujos efeitos são sempre nocivos, em maior ou menos intensidade.

 

Essas larvas psíquicas (formas-pensamentos) são geradas por mentes descuidadas e motivadas por sentimentos negativos, como tristeza, medo, inveja, raiva, ódio etc.; também por sensações desregradas e viciosas, tais como por tabagismo, toxicomania, glutonaria, desvios sexuais etc. Uma vez vinculadas a um hospedeiro, essas criações sombrias, saturadas de magnetismo, agem para parasitar as energias vitais da vítima, dominando seus estímulos nervosos a fim de incitá-los na produção de mais nutrientes viciantes pelo que obsessor e obsediado encontram afinidade.

Allan Kardec reconhece a possibilidade desse tipo de vinculação através das propriedades do perispírito, comum tanto às almas dos homens quanto aos Espíritos: 

"Como o perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, ele os assimila com facilidade, como uma esponja se embebe de um líquido. Esses fluidos exercem sobre o perispírito, por sua expansão e sua irradiação, uma ação tanto mais direta, quanto o perispírito se confunde com eles. Atuando esses fluidos sobre o perispírito, este perispírito, por sua vez, reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular. Se as emanações são de boa natureza, o corpo ressente uma impressão saudável; se são más, a impressão é penosa. Se elas são permanentes e enérgicas, as emanações más podem ocasionar desordens físicas; esta é a causa de certas enfermidades"

A Gênese, Allan Kardec - cap. XIV, item 18

Entre muitas passagens da obra espiritual de André Luiz a respeito dessa temática, temos a seguinte transcrição de um processo vampirístico, conforme os apontamentos de um instrutor tarefeiro: 

"(...) Nas moléstias da alma, como nas enfermidades do corpo físico, antes da afecção existe o ambiente. As ações produzem efeitos, os sentimentos geram criações, os pensamentos dão origem a formas e consequências de infinitas expressões. E, em virtude de cada Espírito representar um universo por si, cada um de nós é responsável pela emissão das forças que lançamos em circulação nas correntes da vida. A cólera, a desesperação, o ódio e o vício oferecem campo a perigosos germens psíquicos na esfera da alma. E, qual acontece no terreno das enfermidades do corpo, o contágio aqui é fato consumado, desde que a imprevidência ou a necessidade de luta estabeleça ambiente propício, entre companheiros do mesmo nível. Naturalmente, no campo da matéria mais grosseira, essa lei funciona com violência, enquanto, entre nós, se desenvolve com as modificações naturais. Aliás, não pode ser de outro modo, mesmo porque você não ignora que muita gente cultiva a vocação para o abismo. Cada viciação particular da personalidade produz as formas sombrias que lhe são consequentes, e estas, como as plantas inferiores que se alastram no solo, por relaxamento do responsável, são extensivas às regiões próximas, onde não prevalece o espírito de vigilância e defesa.

(...) Semelhantes larvas são portadoras de vigoroso magnetismo anima. Naturalmente que a fauna microbiana, em análise, não será servida em pratos; bastará ao desencarnado agarrar-se aos companheiros de ignorância, ainda encarnados, qual erva daninha aos galhos das árvores, e sugar-lhes a substância vital."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 4

 As vinculações psíquicas fundadas na interdependência de um individuo para outro acabam por produzir efeitos diversos, começando por uma fragilidade mental — tanto naquele que obsedia (porque acomoda-se na falsa vantagem de nutri-se às custas dos recursos alheios e assim não desenvolve sua autossustentação), quanto naquele que é obsediado (pois é cada vez mais arrastado à incapacidade de reagir contra o assédio hipnótico do algoz).

André Luiz discorre sobre esse processo de dominação mental, fazendo um paralelo com o parasitismo dos animais primitivos: 

"(...) Estabelecida essa operação de ajuste, que os desencarnados e encarnados, comprometidos em aviltamento mútuo, realizam em franco automatismo, à maneira dos animais em absoluto primitivismo nas linhas da Natureza, os verdugos comumente senhoreiam os neurônios do hipotálamo, acentuando a própria dominação sobre o feixe amielínico que o liga ao córtex frontal, controlando as estações sensíveis do centro coronário que ai se fixam para o governo das excitações, e produzem nas suas vítimas, quando contrariados em seus desígnios, inibições de funções viscerais diversas, mediante influência mecânica sobre o simpático e o parassimpático. Tais manobras, em processos intrincados de vampirismo, prestigiam o regime de medo ou de guerra nervosa nas criaturas de que se vingam, alterando-lhes a tela psíquica ou impondo prejuízos constantes aos tecidos somáticos."


Evolução em Dois Mundos, (André Luiz) Chico Xavier - cap. XV "Vampirismo Espiritual"

Tratamento e prevenção

Em assédios vampirescos mais simples e esporádicos o processo pode se desfazer facilmente, por exemplo, por uma reação de resistência do obsediado ou por desinteresse do algoz nos recursos de vitima. Já nos processos avançados de parasitismo espiritual, quando a vinculação perniciosa entre os envolvidos apresenta feixes de filamentos mais resistentes e o obsessor detém domínio sobre sua vítima, pode ser necessária a intervenção de terceiros, de maior ascendência evolutiva sobre os cúmplices, para o socorro fraterno.

Em síntese, a libertação (desobsessão) e prevenção contra qualquer tipo de assédio obsessivo estão no fortalecimento das virtudes e correção das imperfeições.

E como sempre são bem-vindas as lições do codificador espírita, convém aqui relembrarmos as anotações de Kardec a respeito dos meios de se combater a obsessão: 

"Os meios de se combater a obsessão variam de acordo com o caráter que ela reveste."O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249

 Para os casos simples, a recomendação básica é: 

"Duas coisas essenciais se têm que fazer nesse caso: provar ao Espírito que não está iludido por ele e que lhe é impossível enganar; depois, cansar-lhe a paciência, mostrando-se mais paciente que ele. Desde que se convença de que está a perder o tempo, irá se retirar, como fazem os importunos a quem não se dá ouvidos"

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249.

 Já em situações tais de um assédio mais obstinado... 

"Porém, isto nem sempre basta e pode levar muito tempo, porque há Espíritos teimosos, para os quais meses e anos não são nada. Por isso, o médium deve dirigir um apelo fervoroso ao seu anjo bom, assim como aos bons Espíritos que lhe são simpáticos, pedindo-lhes que o ajudem"

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249. 

Em casos mais graves, quando há uma interligação obsessiva mais complexa, a exemplo do parasitismo, Kardec então adverte para a possível necessidade de um interventor amigo: 

"A subjugação corporal tira muitas vezes ao obsidiado a energia necessária para dominar o mau Espírito. Daí o fato de se tornar preciso a intervenção de um terceiro, que atue, ou pelo magnetismo, ou pelo império da sua vontade. Em falta do auxílio do obsidiado, essa terceira pessoa deve tomar ascendente sobre o Espírito; porém, como este ascendente só pode ser moral, só a um ser moralmente superior ao Espírito é dado assumi-lo e seu poder será tanto maior, quanto maior for a sua superioridade moral, porque, então, se impõe àquele, que se vê forçado a se inclinar diante dele. Por isso é que Jesus tinha tão grande poder para expulsar aquele a que naquela época se chamava demônio, isto é, os maus Espíritos obsessores.

Aqui, não podemos oferecer mais do que conselhos gerais, porque nenhum processo material existe, como, sobretudo, nenhuma fórmula, nenhuma palavra sacramental, com o poder de expelir os Espíritos obsessores. Às vezes o que falta ao obsidiado é força fluídica suficiente; nesse caso, a ação magnética de um bom magnetizador pode lhe ser de grande proveito. Contudo, é sempre conveniente procurar os conselhos de um Espírito superior ou do anjo guardião por um médium de confiança."

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 251. 

O benfeitor André Luiz reproduz as lições superioras que dizem que a oportuna intervenção dos amigos espirituais está sempre ativa, contudo, enfatiza a responsabilidade de cada qual. 

"Quanto ao combate sistemático ao vampirismo, nas múltiplas moléstias da alma, aqui também, no plano de nossas atividades, não faltam processos saneadores e curativos de natureza exterior; no entanto, examinando o assunto na essência, somos compelidos a reconhecer que cada filho de Deus deve ser o médico de si mesmo e, até à plena aceitação desta verdade com as aplicações de seus princípios, a criatura estará sujeita a incessantes desequilíbrios."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6

 

Destacando especialmente a força da oração

"(...) Não tenha dúvida, a oração é o mais eficiente antídoto do vampirismo. A prece não é movimento mecânico de lábios, nem disco de fácil repetição no aparelho da mente. É vibração, energia, poder. A criatura que ora, mobilizando as próprias forças, realiza trabalhos de inexprimível significação. Semelhante estado psíquico descortina forças ignoradas, revela a nossa origem divina e coloca-nos em contato com as fontes superiores. Dentro dessa realização, o Espírito, em qual quer forma, pode emitir raios de espantoso poder."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6 

E, a título de ilustração, descreve a beleza do exemplo de superação de um rapaz, outrora vampirizado, libertando-se das ligações viciosas que detinha em consórcio com um obsessor vampiro:

"(...) Comovido com a beleza de suas súplicas, reparei com assombro que o coração se lhe transformava num foco ardente de luz, do qual saíam inúmeras partículas resplandecentes, projetando-se sobre o corpo e sobre a alma do esposo com a celeridade de minúsculos raios. Os corpúsculos radiosos penetravam-lhe o organismo em todas as direções e, muito particularmente, na zona do sexo, onde identificara tão grandes anomalias psíquicas, concentravam–se em massa, destruindo as pequenas formas escuras e horripilantes do vampirismo devorador. Os elementos mortíferos, no entanto, não permaneciam inativos. Lutavam, desesperados, com os agentes da luz. O rapaz, como se houvera atingido um oásis, perdera a expressão de angustioso cansaço. Demonstrava-se calmo e, gradativamente, cada vez mais forte e feliz, no momento em curso. Restaurado em suas energias essenciais, enlaçou devagarzinho a esposa amorosa que se conservava maternalmente ao seu lado e adormeceu jubiloso."

Missionários da Luz, (André Luiz) Chico Xavier - cap. 6 

Sobre os obsessores vampiros

Entre os diversos tipos de vampiros psíquicos estão aqueles que agem danosamente de forma consciente ou inconscientemente; aqueles mal-intencionados contra as suas vítimas por motivações pessoais (vingança ou inveja) ou incitados por preconceito (racismo, xenofobia etc.) ou por uma causa diferente e contrária as de suas vitimas etc. Em seu ato obsessivo, o agente vampirizador demonstra sempre baixeza moral e, por conseguinte, natural impotência contra um indivíduo que melhor espiritualizado. No entanto, para todos os casos, Kardec nos prescreve como devemos tratá-lo: 

"Quanto ao Espírito obsessor — por mau que seja —, deve tratá-lo com severidade, mas com benevolência e vencê-lo pelos bons processos, orando por ele. Se for realmente perverso, a princípio zombará desses meios; porém, moralizado com perseverança, acabará por se emendar. É uma conversão a empreender, tarefa muitas vezes penosa, ingrata, mesmo desagradável, mas cujo mérito está na dificuldade que ofereça e que, se bem desempenhada, dá sempre a satisfação de se ter cumprido um dever de caridade e, quase sempre, a de ter-se reconduzido ao bom caminho uma alma perdida.."

O Livro dos Médiuns, Allan Kardec - cap. XXIII, item 249 

O atendimento fraterno aos obsessores vampiros se dá oportunamente pelos Espíritos missionários no plano espiritual e algumas vezes com a cooperação de voluntários encarnados, como nas sessões chamadas de desobsessão, ou de socorro espiritual, realizadas nas casas espíritas.

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