Parábola dos servos inúteis

“Disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a fé. E o Senhor respondeu: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. Qual de vós, tendo um servo ocupado na lavoura ou guardando gado, lhe dirá, quando ele se recolher do campo: vai já pôr-te à mesa, e que, ao contrário, não lhe ordene: prepara-me a ceia, cinge-te, e serve-me enquanto eu como e bebo; depois comerás tu e beberás? E quando o servo tenha feito tudo o que lhe foi ordenado, porventura lhe fica o senhor em obrigação? Creio que não. Pois assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi mandado, dizei: Somos uns servos inúteis; fizemos apenas o que devíamos fazer.” (Lucas, 17:5-10).

Como se depreende facilmente do texto supra, ao tempo em que Jesus esteve entre nós, os operários rurais, finda sua jornada de trabalho no campo, tinham ainda outros deveres, quais sejam: preparar e servir a. ceia a seus patrões, e só então é que iam cuidar de si mesmos.

Era, sem dúvida, um regime duro, inaceitável nos dias de hoje, mas, como fazia parte do contrato de emprego, nenhum trabalhador achava, nem poderia achar, que fazia mais do que a obrigação. Nem seus amos, tão-pouco, ficavam a dever-lhes qualquer reconhecimento, por isso.

O Mestre, com sua capacidade extraordinária de improvisar as mais sábias lições, aproveitando-se da paisagem que o circundava ou dos costumes da época, ao ouvir a rogativa dos apóstolos: “Senhor, aumenta-nos a fé”, depois de exaltar os poderes miraculosos desta preciosa virtude, fá-los compreender que, para ser fortalecida, a fé tem que se apoiar em atos de benemerência, em devotamento ao próximo, em renúncia pessoal a benefício dos semelhantes.

Assim como a percepção de maiores rendimentos pecuniários, seja na lavoura, no comércio ou na indústria, depende da produtividade de cada um, também a fé, que é o salário da alma, só pode ser aumentada naqueles que demonstrem espírito de serviço, e se empenhem, com afinco, no campo do altruísmo e da fraternidade cristã.

Sim, porque, como disse Tiago: “a fé sem obras é morta”, e o que está morto não pode crescer, não é passível de desenvolvimento. Só os organismos vivos é que possuem essa faculdade.

Aqueles que dizem: “a fé é uma só”, e supõem seja ela infundida de um jato, como um favor do céu a uns poucos privilegiados, evidentemente laboram em erro.

Ensinando, aos que partilhavam do colégio apostólico, qual o “processo” para aumentá-la, Jesus desmente tal concepção, eis que não há nada estático no Universo, e a fé, como tudo o mais, também é dinâmica, evolve e se aperfeiçoa.

Mister, entretanto, que, na prática do Bem, guardemos sempre uma atitude de sincera modéstia, alijemos de nosso coração qualquer laivo de orgulho, qualquer pretensão de superioridade. Após cada gesto de amor que tenhamos

ensejo de praticar, demos graças a Deus pela. oportunidade de servir que nos ofereceu, dizendo-lhe humildemente: “Somos uns servos inúteis; fizemos apenas o que devíamos fazer.”


Parábolas evangélicas. FEB OnDemand, capítulo 24.

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