Novo testamento

LEGITIMIDADE

Não é lícito duvidar de que o Novo Testamento, que hoje o possuímos, seja o mesmo que existiu e a Igreja reconheceu, quando foi impresso, pela primeira vez, em grego, no ano de 1516, datado de Basileia, um dos cantões da Suíça, onde faleceu Erasmo, natural da Holanda, nascido em 1467, doutor em Teologia, o homem mais sábio, o escritor mais espiritual do seu tempo, que conheceu a versão grega e dela fez uma tradução latina e uma paráfrase, bem como das edições de São Jerônimo, Santo Atanásio, São Basílio, São João Crisóstomo, etc.

Quanto às épocas anteriores à sua impressão nessas edições, como nas ulteriores, calcula-se em seiscentos o número dos manuscritos que hão sido comparados, alguns dos quais alcançam até ao século 4º; por exemplo: o Códice Sinaítico, descoberto no Convento de Santa Catarina, no monte Sinai, de 1844 a 1859, o mais completo, bem como o Códice do Vaticano, em Roma. Há também os manuscritos, do século 5º, do Código Alexandrino. Supõe-se que o manuscrito Códice Sinaítico seja uma das cinquenta cópias que o Imperador Constantino mandou fazer para Bizâncio, hoje Constantinopla, em 331, sob a vigilância de Eusébio de Cesaréia (da Palestina), chamado — o pai da história eclesiástica.

Os manuscritos mais antigos não tinham a forma de livros. Eram feitos em rolos de peles de animais, para uso dos escribas, nos tempos primitivos. Entre tanto, o papiro já era usado pelos egípcios, dois mil anos antes do nascimento do Cristo, segundo Kittos Cyclop, volume 2, página 974. Por muito tempo, essa planta foi o material de escrita de todo o mundo literário, constituindo para os egípcios um artigo de comércio muito lucrativo, razão por que uma das calamidades que o profeta Isaías (capítulo 4, versículo. 7) predisse contra o Egito foi a destruição da planta do papel.

Os manuscritos existentes, porém, pertencem a uma época posterior ao Cristo, de quando o velino e o pergaminho já haviam invalidado o papiro e de quando o livro, até certo ponto, já havia tomado o lugar do rolo. Nem só em grego, porém, existem manuscritos; há-os também em outras línguas, como, por exemplo, a antiga versão siríaca, vulgarmente chamada Peshito (simples, literal), que contém todos os livros do Novo Testamento, exceto a 2ª Epístola de Pedro, as 2ª e 3ª de João, a de Judas e o Apocalipse, versão essa que remonta ao século 2º.

Há ainda a Vulgata Latina, traduzida no mesmo século, e que, depois, revista por Jerônimo, foi o grande meio pelo qual as Escrituras Sagradas se tornaram conhecidas das igrejas ocidentais, ou latinas, durante mais de doze séculos.

Há, igualmente, os Evangelhos Siríacos e há, finalmente, as versões (Copta Thebaica (Egípcias), que datam do 3º século, ou do princípio do 4º século.

Nas obras dos antigos padres da Igreja e mesmo nas dos hereges e inimigos do Cristianismo se encontram citações e referências ao Novo Testamento. Percorrendo-se, desde o primeiro século, os escritos relativos à matéria que deu lugar a acaloradas discussões durante as épocas que se seguiram aos tempos apostólicos, verifica-se que as citações do Novo Testamento, em todos os autores e traduções, concordam, em quase todos os pontos, com os textos atualmente aceitos. Daí bem se infere a legitimidade destes, aliás reconhecida e comprovada por Paulo, na sua Epístola aos Gálatas, capítulo 1, versículo 6 e seguintes.

Quanto ao estilo do Novo Testamento, esse corresponde exatamente ao que se devia esperar do caráter de seus autores: linguagem grega, mas não clássica, grego escrito por judeus, no decurso do primeiro século.

Tratando da legitimidade dos quatro Evangelhos canônicos, cuja autenticidade a Igreja reconhece, notaremos que muitos Evangelhos apócrifos existem, como se vê pelas referências que lhes fez Paulo, na sua Epístola dos Gálatas, capítulo 1, versículo 6. Com efeito, há o Evangelho de São Pedro ou dos Doze Apóstolos; o Evangelho segundo os Egípcios; o Evangelho do Nascimento da Santa Virgem; o Evangelho de São Tomás; o Evangelho de São Judas; o de São Filipe e de São Tiago, o Maior; o de São Bernardo, o de Santo André, o de São Mateus, etc.; o Evangelho Eterno, escrito no 13º século, que pretendia expor uma lei mais perfeita do que a do Cristo. Mas, os evangelistas, isto é, os quatro escritores que relataram a vida, as obras e a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, são: Mateus, Marcos, Lucas e João.

Eles se encontram indicados, no Apocalipse (capítulo 4, versículos 3, e 7), por quatro animais. O primeiro, semelhante a um leão (Marcos), o segundo semelhante a um novilho (Lucas), o terceiro, um animal com aspecto de homem (Mateus), o quarto, um animal semelhante a uma águia voando (João).

AUTENTICIDADE DO NOVO TESTAMENTO

Admitida a legitimidade dos livros sagrados, não pode haver dúvida de que seus autores se hajam certificado da verdade do que referiram. Os evangelistas eram, inconscientemente, médiuns historiadores, inspirados. Escreveram por intuição e segundo o que lhes fora narrado por aqueles que, como diz Lucas, desde o começo tudo viram com seus próprios olhos e eram os ministros da palavra. Entretanto, como tinham de falar para homens, precisaram humanizar os meios, tornando-se estes, em consequência, imperfeitos, como todas as obras humanas.

Com efeito, Mateus e João, que foram apóstolos do Cristo (discípulos encarregados de pregar o Evangelho), o acompanharam durante o seu ministério e testemunharam os fatos que narram e ouviram as palavras que citam.

Marcos e Lucas não foram apóstolos, mas foram contemporâneos destes e viveram em relações íntimas com os que haviam presenciado os acontecimentos de que falam em seus escritos.

Muitos supõem que Lucas foi um dos 72 discípulos ordenados para a pregação da Boa Nova, conforme ele próprio o diz, no capítulo 10, versículo 1, do seu Evangelho. Assim sendo, conhecera o Salvador quase tanto quanto os mesmos apóstolos. Acresce que Lucas foi, por muito tempo, companheiro inseparável de Paulo e é bem provável que tenha escrito com assentimento e aprovação deste.

Marcos seguiu a Pedro, durante parte considerável de seu ministério, e escreveu sob a imediata direção desse apóstolo.

O livro que se segue aos Evangelhos é o que chamamos Atos dos Apóstolos. O autor desse livro confessa ser o mesmo a quem se atribui o Evangelho de Lucas.

A vista do que fica exposto, é claro que os autores dos cinco livros do Novo Testamento possuíam exato conhecimento das coisas que relataram. Seus escritos revelam integridade, simplicidade, mesmo candura. A convicção que tinham da verdade que ensinavam, eles a ratificaram com o próprio sangue. A cada evangelista cabia, na narrativa, uma parte do quadro geral. Os tradutores e interpretadores falsearam às vezes o pensamento primário.

As palavras dos apóstolos foram transmitidas de boca em boca, antes de serem escritas. Quando, ao escreverem, a interpretação de certos fatos lhes era deixada ao próprio juízo, suas fraquezas de homens deram causa às pequenas divergências que se notam nas narrações. Essas divergências, porém, longe de constituírem contradições, fornecem a prova da autenticidade dos evangelhos. Tudo o que procede da Humanidade contém erros. Essas diferenças, devidas à imperfeição dos narradores, só se verificaram, ao demais, em particularidades de pouca importância e em nada comprometem o que forma a base e os elementos da Revelação Messiânica.

As narrativas, pois, dos evangelistas, fiel cada uma dentro do quadro que abrangeu, se explicam e completam, de modo a constituírem o conjunto da revelação trazida pelo Messias.

FONTES E CRONOLOGIA DO NOVO TESTAMENTO

A Bíblia, quis Deus nos fosse ela dada por inspiração do Espírito Santo, para nos mostrar as relações em que estamos com Ele e para nos ensinar o que importa saibamos, a fim de o glorificarmos na Terra e o amarmos eternamente. Mas, preciso é não esqueçamos que a sua autoridade não veio inutilizar a nossa razão, nem pôr de parte as investigações. Certo é, no entanto, que, onde a razão falece, só a revelação nos pode esclarecer.

O fim da Bíblia, como do Novo Testamento, é mostrar-nos Deus no Cristo, reconciliando com Ele o mundo. (2ª Epístola aos Coríntios, versículo 19.)

O Velho Testamento é a história da preparação do mundo para o advento do Cristo. O Novo Testamento é a história desse advento e a exposição profética de seus resultados.

Moisés foi um símbolo do Cristo. Abraão viu o seu dia. David escreveu sobre ele. Todos os profetas anunciaram o seu advento e proclamaram a sua glória.

Os apóstolos espalharam o conhecimento do Cristo crucificado, do Cristo exaltado, do Cristo glorificado.

Consta de 39 livros o Velho Testamento, obra de muitos séculos, e se divide em Lei, Profetas e Escrituras Sagradas. A Lei se contém nos cinco livros de Moisés, chamados: Pentateuco. Os Profetas se dividem em antigos e modernos. Os antigos são os livros históricos: Josué, Juízes, Samuel e Reis. Os modernos se subdividem em maiores e menores. Os maiores são Isaías, Jeremias e Ezequiel. Os menores são os que se contam desde Oséias até Malaquias.

As Escrituras são: Salmos e Provérbios, Job, Cântico dos Cânticos, Rute e Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas.

O Pentateuco é o primeiro na ordem dos livros do Velho Testamento, assim como, na ordem cronológica, o livro mais antigo do mundo.

Esses livros constituem a fonte do Novo Testamento, o que se confirma pelas referências que neste se lhes fazem. Só no Evangelho de Mateus, por exemplo, se encontram sessenta referências ao Deuteronômio, Êxodo, Gênese, etc.

Quanto à ordem e sucessão dos acontecimentos, é este um assunto de muito interesse, porém de grande dificuldade.

No tocante ao Novo Testamento, a primeira data que nos interessa é a do Nascimento de Jesus Cristo. Seu advento, como filho de uma Virgem, foi anunciado desde tempos imemoriais, pelos Brâmanes, raça indiana, oriunda das Índias orientais; pelos Bonzos, nome dado aos sacerdotes da China e do Japão; pelos Magos, sacerdotes dos antigos Persas, cultores das ciências ocultas. Também o foi, no extremo da Ásia oriental, por Confúcio, filósofo chinês que viveu quinhentos anos antes de Jesus Cristo e prometeu o verdadeiro santo, que havia de vir do Ocidente; por Job, o idumeu, poeta autor dos mais sublimes versos da poesia hebraica e que, no desespero de profunda dor pela perda de seus filhos, devorado por horrível enfermidade, elevou seu espírito e manifestou a certeza da vinda do Salvador, em tempos ainda remo- tos. Virgílio, o príncipe dos poetas latinos, em sua quarta Égloga aponta o berço auspicioso de um filho do Céu, profetizado nos oráculos da Sibila.

Assim, Indianos, China, Romanos e os mais antigos idólatras; as castas mais exclusivistas vinham de toda parte encontrar-se neste ponto. E todas essas previsões se realizaram, quando soou a hora prometida, a hora da paz propícia ao Nascimento do Messias: o Filho do Homem, que viu os joelhos dos Césares se curvarem diante da sua coroa de espinhos! O Herói, que trouxe o triunfo aos pobres e humildes!

Em conclusão, podemos deduzir, já das referências que nele encontramos, já da própria declaração, feita por Jesus, de que viera confirmar a lei e os profetas, que as fontes do Novo Testamento se acham na Bíblia que, conforme dissemos, é a história da preparação do mundo, para o advento de Jesus, do mesmo modo que aquele é a história desse advento e da comprovação das profecias.

NOTÍCIA GEOGRÁFICA E HISTÓRICA

Afiguram-se-nos também necessários alguns esclarecimentos sobre as terras e lugares por onde andou o nosso Redentor, bem como acerca dos acontecimentos narrados nos Evangelhos.


O primeiro lugar de que, em a inspirada narração, fala, é Belém, onde nasceu David, cidade que se tornou depois conhecida como o torrão natal do Senhor. E uma das mais antigas cidades da Palestina, a cerca de duas léguas ao Sul de Jerusalém. Seu antigo nome era Efrata e, como tal, é tratada em Miqueias (versículo 2). Depois apareceu sob o nome de Bethlehem de Judá, como se vê em Juízes, capítulo 17, versículo 7; em Samuel, capítulo 1 versículos 17 ao 12; onde se lê: “David era filho daquele homem Efrateu, de Bethlehem de Judá”. Essa denominação lhe foi dada, para não ser confundida com o pequeno e remoto lugarejo, do mesmo nome, perto de Zabulon, sede de uma das doze tribos do povo hebreu, situada entre o mar de Tiberíades e o Mediterrâneo, na parte Sul da Galiléia.

Saindo de Belém para o Egito, a Santa Família descansou na aldeia de Metarié, próxima de Heliópolis (cidade do Sol), no Baixo Egito, à direita do Nilo, no caminho do Cairo, à sombra de velho e frondoso sicômoro. Do Egito voltou ela para a Galiléia, fixando residência em Nazaré, onde Jesus teria nascido se não ocorresse o conhecido incidente, decerto não casual.

Nazaré é uma cidadezinha da Síria, Turquia Asiática, na província de Galiléia, da antiga Palestina, tribo de Zabulon, sita numa montanha, a 90 quilômetros ao norte de Jerusalém, onde José tinha a sua oficina e aonde se supõe ter Jesus ido com seu pai e aprendido o ofício deste, segundo se colige do versículo 3 do capítulo 6 de Marcos.

Decorridos dezoito anos, quando já contava trinta de idade, Jesus foi ao lugar onde João Batista se achava batizando, no deserto de Judá, não longe de Jericó. Aí, num dos vaus do Jordão, foi batizado.

O Jordão, rio da Palestina, que nasce no Ante-Líbano, cadeia de montanhas da Turquia Asiática, atravessa o lago Semechonte, o lago de Tiberíades e se lança no lago Asfaltite, ou Mar Morto, após 200 quilômetros de curso. Suas águas são claras, límpidas e bastante quentes. A tradição aponta, do lado ocidental de Jericó, uma alta montanha como tendo sido onde se deu a tentação do Senhor, montanha essa que, em memória dos 40 dias do seu jejum, era chamada Quarantânia. Jericó, cidade da tribo de Benjamim, se achava a sete léguas de Jerusalém, cercada de amenos jardins, pelo que recebeu o nome de cidade das Palmas. A planície de Jericó era afamada pelas suas rosas, pelas suas palmeiras e pelo seu bálsamo.

Jesus passou depois a Canaã, três léguas ao norte de Nazaré, pátria de Natanael, um dos 72 discípulos, que se supõe ser o mesmo chamado Bartolomeu. Daí, foi para Cafarnaum, cidade edificada às bordas do mar de Tiberíades, nos confins da Galiléia, pátria dos apóstolos Pedro e André. Fica a pequena distância de Betsaida, cidade de Filipe.

Em Cafarnaum, dizem alguns, José tinha bens. A esse tempo, foi ele residir ali com Maria, à margem das estradas reais do Egito para a Síria, caminho direto de Jerusalém para Damasco, cidade da Síria, onde Jesus esteve alguns dias. (João, capítulo 2, versículo 12.)

Em seguida, dirigiu-se ele para Jerusalém, por estar próxima a Páscoa dos Judeus, que se celebrava no décimo quarto dia da Lua após o equinócio da Primavera. A Páscoa, isto é, a passagem do Senhor era uma festa que se celebrava em honra do Senhor, pela saída dos Israelitas do Egito. Veja-se: Êxodo, capítulo 12, versículos 11 ao 18. Entre os cristãos é a festa da ressurreição de Jesus Cristo. Celebra-se no domingo seguinte à Páscoa dos Judeus.

Em Jerusalém, entrando Jesus no templo, expulsou dali os mercadores e, interpelado pelos judeus, pronunciou a sua primeira parábola (João, capítulo 2, versículo 29). Aí também foi procurado por Nicodemos, judeu da seita dos fariseus, que não se arreceou de declarar-se discípulo do Cristo e foi, com José de Arimatéia, prestar-lhe as últimas homenagens.

Saindo da Judéia, entrou Jesus novamente na Galiléia e passou por Samaria, a que Herodes, para lisonjear á Augusto, dera o nome de Sebaste (tradução grega de Augusta). Os samaritanos, sempre em luta com os judeus, evitavam toda sorte de relações com estes. Ainda há alguns Samaritanos em Nepluse, cidade da Síria onde se indicam as pretendidas grutas sepulcrais de Josué e José. Lá se encontra o poço de Jacob, junto ao qual se deu o colóquio do Senhor com a Samaritana. Chegado à Galiléia, fez Jesus o suposto milagre das bodas de Canaã.

O mar da Galiléia é formado pelas águas do Jordão. Do lado Ocidental fica a terra de Genesaré. Ao Sul, é a aldeia de Mejdel, ou Magdala. Perto, na terra de Genesaré, havia a cidade de Cafarnaum, cujas aldeias e cidades dos arredores, como Corazim e Betsaida, Jesus visitou. Próximo se vê a montanha conhecida pelo nome de Picos de Hatim, devido à sua forma singular, e que os latinos denominaram o Monte das Bem-aventuranças, por haver o Senhor pronunciado nele o “Sermão da Montanha”.

Em Cafarnaum, cidade distante dali 35 milhas, ressuscitou o filho da viúva de Naim. Aí, recebeu os discípulos de João Batista, preso em Macheronte, fortaleza ao Sul da Pereia, nos confins da Arábia.

Tendo atravessado o mar, chegou Jesus a uma cidade próxima, chamada Gergesa, onde se deu o fato de os porcos se precipitarem no mar. (Mateus, capítulo 8, versículo 32), seguiu dali para Magedá, ou Magdala, nas vizinhanças de uma aldeia de nome Dalmanuta. (Mateus, capítulo 15, versículo 39; Marcos, capítulo 8, versículo 10). Assim se explica a divergência aparente, que há entre esses dois evangelistas.

Foi, depois, a Betsaida, cidade junto do lado de Genesaré, onde curou o cego (Marcos, capítulo 8, versículos 22 ao 25) e onde nasceram Pedro, João Evangelista, Tiago Maior e Filipe.

Passou a Cesaréia de Filipe, subiu ao monte Tabor, levando consigo Pedro, Tiago e João, e se transfigurou em presença deles (Mateus capítulo 18, versículos 1 ao 9; Lucas, capítulo 9, versículo 28). Então, chegada a festa chamada dos tabernáculos, mandou que seus discípulos fossem assistir a ela e, em seguida, também ele foi. Tabernáculo, ou tenda, era o nome que os hebreus davam a um templo portátil, próprio a ser armado nos lugares ermos, e a festa tinha por fim recordar o haverem eles habitado essas tendas, no deserto. Durava sete dias, na segunda quinzena de setembro.

Dali, foi a Jerusalém, além Jordão, voltou a Betânia, onde, a pedido de Marta e Maria, ressuscitou a Lázaro. (João, capítulo 11, versículos 1 ao 44). Betânia é uma pequena cidade, a dez quilômetros de Jerusalém, no sopé do monte das Oliveiras, na estrada geral de Jericó, perto da aldeia de Betfagé. Nela se encontram os tradicionais lugares da casa e do túmulo de Lázaro e a casa de Simão, o leproso. Atravessou o monte das Oliveiras, em cujo cume se acham os túmulos dos profetas, e que também se chama — Monte das Ofensas.

Quando Jesus o ia descendo, estrugiu o brado de triunfo, proferido pela multidão que, munida de grandes ramos de palmeiras, exclamava: Hosanas ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosanas nas alturas! Dali contemplando a cidade de Jerusalém, Jesus chorou! Aquela multidão saía,  com os ramos que empunhava, como era de costume, da festa dos tabernáculos.

Deixando de parte a narrativa evangélica, faremos notar que o Calvário, em hebreu Gólgota, que quer dizer crânio, ou caveira, é um pequeno monte ao norte de Jerusalém - Ali se ergue hoje a “Igreja do Santo Sepulcro”, rodeada de diferentes capelas, para os ritos das diversas seitas cristãs. Era nesse monte que os judeus executavam os criminosos.

Passando em rápida revista a Terra Santa do tempo do Cristo, vemo-la dividida em quatro tetrarquias, ou presidências, todas tributárias dos Romanos: Judéia, Samaria, Galiléia e Pereia. As três primeiras estavam incluídas na Palestina propriamente dita; a última compreendia o território de além-Jordão. Havia uma quinta divisão: a Idumeia, parte da qual ficava fora dos limites de Canaã, ou Palestina. A parte mais meridional era a Judeia. Os primeiros Judeus que, depois do cativeiro, voltaram à sua terra, pertenciam à tribo de Judá. Espalharam-se pelo território a que deram o nome de Judéia, ficando o povo, desde então, chamado, não mais hebreu, israelita, porém, judeu.

Esse território se estendia desde uma aldeia, denominada Jordão, nos confins da Arábia, à aldeia de Aná. Ia, em largura, do Oriente ao Ocidente, do rio Jordão a Jope, na costa do Mediterrâneo. No centro da região, ao sul da Samaria, estava Jerusalém. A parte oriental formava o que na Escritura se denomina o deserto, ou deserto na Judéia. Dentro desta se encontram: Arimatéia, Moto, Betânia, Belém e Betfagé, Emaús, Efraim, Gaza, Jericó, Jope, Lida e Rama.

Samaria, ao norte da Judéia, compreendia a tribo de Efraim e parte da de Manassés. Ficava ao centro, entre a Judéia e a Galiléia. Tinha por cidades principais: Samaria, Sicar e Sila.

A Galiléia, ao norte da Palestina, era a tetrarquia mais extensa da Terra Santa. Terminava, no ocidente, em Ptolemaida e Carmelo, e, ao sul, em Samaria e Sitópolis. A Galiléia foi o sítio mais honrado com a presença do Salvador; por isso, era Ele chamado Galileu. Suas principais cidades eram: Cesaréia da Palestina, Tiberíades, Cafarnaum, Corozain e Betsaida, Canaã, Nazaré e Naim. Dava-se o nome de Cesaréia às cidades fundadas ou embelezadas por imperadores romanos.

A Pereia, antiga Galaad e Basam, terra dos amonitas, era: a terra da outra banda.

A Iduméia habitavam-na os antigos idomitas. Nazareno era nome dado aos judeus que faziam voto de pureza perfeita, se obrigavam à castidade e deixavam crescer os cabelos. Sansão, Samuel e João Batista foram nazarenos.

Fariseus eram os membros de uma seita que tomava parte ativa nas controvérsias religiosas. Eram homens dados às práticas do culto e das cerimônias, orgulhosos, de costumes dissolutos, que se esforçavam por dominar sob a aparência de virtuosos.

Escribas eram doutores que ensinavam e interpretavam a lei de Moisés. Faziam causa comum com os fariseus. Saduceus, membros de uma seita fundada por Sadoc, eram os antagonistas dos fariseus.

Os Essênios formavam uma seita judaica. Viviam em comunidade, perto do Mar Morto, de maneira austera. Criam na igualdade, mas negavam o livre- arbítrio.

Mateus escreveu o seu Evangelho em hebraico, no ano 39, em Jerusalém. Marcos escreveu o seu em grego, no de 44, em Roma. Lucas em grego, no ano 56, em Acaia, João, em grego, no ano 96, em Éfeso.

Tais as informações que nos parecem de utilidade aqui, para facilitar a compreensão da palavra dos Evangelhos, que vamos estudar nesse santo livro de amor, que prepara o espírito para a vida eterna, que dá a conhecer a grandeza do Profeta da Palestina, a sublimidade do objeto e do fim da sua missão espiritual de fundador, governador e protetor da Terra, aonde veio ensinar-nos a viver e a morrer.

Avante:

 “É já hora de nos levantarmos do sono, A noite passou e o dia vem chegando. Deixemos, pois, da treva as obras E revistamo-nos das armas da luz!”  (PAULO, Epístola aos Romanos, capítulo 13, 11 ao 12) 


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