Glândula pineal, ou epífise
neural, é uma pequena glândula endócrina localizada mais ou menos no centro
craniano, também denominada corpo pineal. Suas funções ainda são matéria de
estudo e debate científico, embora seja amplamente aceita no meio acadêmico a
teoria de que, pela produção de melatonina, ela exerce influência no
regulamento do ciclo do sono e no controle das atividades sexuais e de
reprodução. Já no meio espírita e espiritualista, desde as mais antigas
tradições orientais, essa glândula é considerada o ponto primordial de ligação
entre o corpo físico e a alma (Espírito, no conceito espírita), bem como o
órgão responsável pela canalização espiritual (animismo e mediunidade), pelo
que também é conhecido como o "Terceiro Olho", ou "Olho de
Shiva". No âmbito espírita, vários autores (como o Espírito André Luiz,
pela mediunidade de Chico Xavier) sustentam tal função transcendental ligada à
pineal.
Anatomia e
localização
A glândula pineal (glândula pinealis, nome científico, em latim) é
assim chamada devido a sua semelhança física com uma pinha (grão). Sua
coloração é cinza-avermelhada e seu tamanho varia de 12 a 25 mm e pesa cerca de
500 mg (mais ou menos as dimensões de uma semente de laranja), sendo que é
maior no período da infância, diminuído-se com a aproximação da puberdade.
Localiza-se no centro do
cérebro, entre os dois hemisférios, na altura dos olhos, como parte do
epitálamo, ligando-se assim com o sistema límbico — que, nos mamíferos, regula
o sistema nervoso e, desta maneira, afeta nossas emoções, necessidades
fisiológicas, sexualidade e comportamentos sociais.
Sua estrutura básica é formada por células neuroectodérmicas à semelhança da retina, desenvolve-se a partir de uma invaginação do teto da parede do terceiro ventrículo. Essa peculiaridade é razão para os espiritualistas suporem que, como a retina tem a propriedade de servir como tela onde se projetam imagens captadas pelos impulsos elétricos do nervo ótico (caracterizando o sentido da visão), a pineal teria a propriedade de servir como tela de imagens (e outras impressões) de natureza espiritual captadas pelos impulsos eletromagnéticos (caracterizando a capacidade mediúnica).
Diz-se que a glândula pineal sofre um processo natural de calcificação — o que reduziria sensivelmente seu tamanho, ao longo do seu desenvolvimento — formando em torno de si corpos arenáceos, do que se diz comumente "areia do cérebro". Tal processo fez com que, por muito tempo, anatomistas pensassem que ela fosse um órgão vestigial, sem função. Justamente esse corpo arenoso é quem permite uma melhor identificação da pineal em radiografias cranianas simples.
Entretanto, esse tal
processo de calcificação tem sido revisto por pesquisas mais recentes.
Funções fisiológicas
da Pineal
Universidades de várias
partes do mundo têm realizado estudos sobre a pineal em contraponto à ideia,
que prevaleceu por anos nas academias, de desdenhar as funções dessa glândula.
Os resultados atuais apontam uma importância cada vez maior da pineal para o
funcionamento equilibrado do nosso organismo físico e psicológico.
Pesquisadores da
Universidade de Yale (EUA) anotaram a produção de melatonina pela pineal e
liberada dentro dos capilares sanguíneos que irrigam aquela glândula. A
melatonina é um hormônio que regula os ciclos fisiológicos. Isso faz com que a
pineal seja uma espécie de aparelho cronobiológico, um relógio que organiza
cronologicamente o funcionamento do organismo corporal, ditando o ritmo para
atividade e repouso dos hormônios e órgãos. Esse controle é feito pela
capacidade da pineal captar parte da luz detectada pela retina: a produção da
melatonina pela pineal é estimulada pela escuridão e inibida pela luz. O efeito
mais notório desse processo é o ciclo sono-vigília.
Funções metafísicas
da Pineal
Pelo que se sabe, quem
primeiro trouxe esse conceito oriental para o Ocidente, a ponto de imprimir uma
considerável repercussão, foi o filosofo, físico e matemático francês René Descartes
(1596-1650). Ele estava convencido de que a pineal seria a "sede da alma
no corpo" e o órgão capaz de captar e traduzir impressões espirituais para
o nosso cérebro — e até elaborou um sistema para sustentar tal hipótese: como
os olhos têm a percepção visual do que a luz projeta, a pineal sente a projeção
no que toca o campo eletromagnético, através do qual a espiritualidade
interfere, então a ser interpretado pelo cérebro, de forma mais ou menos análoga
como que este interpreta a visão comum e demais sentidos físicos. Basta, para
isso, que haja bons órgãos (como os olhos e a pineal) e um bom intérprete
(cérebro). Seu trabalho, contudo, foi relegado ao misticismo e ocultismo, à sua
época, sendo reconsiderado nas pesquisas científicas atuais.
A Codificação Espírita não
cita diretamente a glândula pineal, porém Allan Kardec definiu claramente que o
processo mediúnico é orgânico, ou seja, obedece necessariamente à estrutura
física do médium, independentemente de fé, crença religiosa ou mesmo boa vontade.
"No médium aprendiz, a
fé não é a condição rigorosa; sem dúvida aumenta seus esforços, mas não é
indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa vontade bastam. Têm-se
visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a contragosto,
enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta habilidade
se prende a uma disposição orgânica." (O Livro dos Médiuns, Allan Kardec -
Cap. XVII, item 209)
Essa "disposição
orgânica" implica na necessidade de um órgão que produza os recursos
materiais para o processo mediúnico, que se vale essencialmente de um fluido
especial que faça a interação perispiritual entre os médiuns e os Espíritos
agentes dos fenômenos.
O codificador espírita
transcreve (O Livro dos Médiuns, cap. IV) os apontamentos do Espírito São Luís,
dizendo da precisão de um fluido animalizado necessário às manifestações de
efeitos físicos — fluido esse produzido pelos médiuns e manipulado pelos
Espíritos, muito conhecido atualmente como ectoplasma. Seria a glândula pineal
o órgão produtor de tais recursos.
O médico psiquiatra e mestre
em ciências pela Universidade de São Paulo (USP) Dr. Sérgio Felipe de Oliveira
é um renomado pesquisador da glândula pineal. Atraído especialmente pelas
ideias de Descartes e do Espírito André Luiz, ele tem desenvolvido uma robusta
teoria científica para a sustentação da glândula pineal como o órgão sensorial
da natureza espiritual que estabelece a capacidade mediúnica; seria uma espécie
de antena capaz de perceber, em potência variável, as ondas eletromagnéticas da
espiritualidade e convertê-las em estímulos neuroquímicos cerebralmente
interpretáveis, a exemplo de um aparelho de telefone celular. Isso explica as
ideias extraordinárias que um médium ou sensitivo pode receber, como nas
mensagens mediúnicas, de um desencarnado para um encarnado, e na telepatia
entre encarnados.
"A pineal, no que diz
respeito à mediunidade, capta o campo eletromagnético, impregnado de
informações, como se fosse um telefone celular. Mas tudo isso tem que ser
interpretado em áreas cerebrais, como por exemplo, o córtex frontal. Um
papagaio tem a pineal, mas não vai receber um espírito, porque ele não tem uma
área no cérebro que lhe permita fazer um julgamento. A mediunidade está ligada
a uma questão de senso-percepção. Então, a ela não basta a existência da
glândula pineal, mas sim, todo o cone que vai até o córtex frontal, que é onde
você faz a crítica daquilo que absorve. A mediunidade é uma função de senso
(captar)-percepção (faz a crítica do que está acontecendo). Então, a
mediunidade é uma função humana." (Dr. Sérgio Felipe de Oliveira)
Dr. Sério Felipe pleiteia
ainda que a pineal não sofre de calcificação, como muito se diz em Fisiologia,
mas forma cristais de apatita, inclusive independentemente da idade. Segundo
ele, uma criança pode ter estes cristais na pineal em grande quantidade
enquanto um adulto pode não ter nada, e cristais têm a ver com o perfil da
função da glândula: "Percebemos, pelas pesquisas, que quando um adulto tem
muito destes cristais na pineal, ele tem mais facilidade de sequestrar o campo
eletromagnético. Quando a pessoa tem muito desses cristais e sequestra esse
campo magnético, esse campo chega num cristal e ele é repelido e rebatido pelos
outros cristais, e este indivíduo então apresenta mais facilidade no fenômeno
da incorporação. Ele incorpora o campo com as informações do universo mental de
outrem. É possível visualizar estes cristais na tomografia. Observamos que
quando o paciente tem muita facilidade de desdobramento, ele não apresenta
estes cristais."
O pesquisador defende ainda
que as características orgânicas da pineal fazem com que a sensibilidade
mediúnica nas crianças seja mais "de saída" (animismo): "Ela sai
do corpo e entra em contato com o mundo espiritual."
O médico e pesquisador
espírita Décio Iandoli Jr. endossa que a epífise não sofre calcificação (uma
espécie de degeneração), mas uma biomineralização, uma mutação natural pela
qual se formam os cristais, começando na adolescência até certa estabilização
na fase adulta. Explica ainda que esses cristais são diamagnéticos, entrando em
ressonância com campos eletromagnéticos, tornando a pineal um receptor
sensorial.
A função fisiológica da
pineal, segundo o Dr. Décio Iandoli Jr. se estabelece da seguinte manteira: a
glândula recebe as impressões espirituais e as envia ao tálamo, que é o
organizador das informações cerebrais e quem distribui os sinais sensoriais
para a determinada área do córtex, que é o responsável pela interpretação
desses sinais; assim, por exemplo, quando uma informação visual chega ao
tálamo, ele a envia à determinada área do córtex cerebral capacitada em
interpretar a imagem, assim como para os demais tipos sensoriais (audição,
paladar, olfato e tato); como não há (ou conhecemos) uma área cortical específica
para interpretar informações de ordem espiritual, os impulsos vindos da pineal
terão de pegar emprestado alguma parte cortical existente, que então associará
os sinais recebidos a informações já conhecidos, inclusive utilizando as
funções motoras do médium, por exemplo, impulsionando-o a escrever as
informações (mediunidade de psicografia), a expressar-se oralmente (mediunidade
de psicofonia) e assim por diante. Desta maneira, na impossibilidade de
demonstrar exatamente as impressões do mundo espiritual, o médium precisa
associá-la com coisas conhecidas de nossa dimensão, para servir de
demonstração.
André Luiz e a epífise
O Espírito André Luiz se
desdobra profundamente sobre a glândula pineal — que ele prefere chamar de
epífise — especialmente na obra Missionários da Luz, psicografada por Chico
Xavier e publicada pela Federação Espírita Brasileira em 1945. A síntese de
suas considerações pode ser tomada pelos apontamentos colhidos de um de seus
instrutores espirituais:
"Examine atentamente.
Estamos notando as singularidades do corpo perispiritual. Pode reconhecer,
agora, que todo centro glandular é uma potência elétrica. No exercício
mediúnico de qualquer modalidade, a epífise desempenha o papel mais importante.
Através de suas forças equilibradas, a mente humana intensifica o poder de
emissão e recepção de raios peculiares à nossa esfera. É nela, na epífise, que
reside o sentido novo dos homens; entretanto, na grande maioria deles, a
potência divina dorme embrionária." (Alexandre, Missionários da Luz,
(André Luiz) Chico Xavier - Cap. 1)
Pela referida obra
literária, acompanhamos as experiências narradas por André Luiz na observação
de atividades mediúnicas, quando então é descrita a expansão de raios luminosos
azulados emitidos pela epífise, pelos quais se operava a transmissão de
mensagens entre da esfera espiritual para a dimensão humana através dos
esforços dos Espíritos benfeitores e do médium em transe.
André Luiz confessou a
singeleza de seus conhecimentos, enquanto encarnado, acerca da glândula:
"Estudara a função da epífise nos meus apagados serviços de médico
terrestre. Segundo os orientadores clássicos, circunscreviam–se suas
atribuições ao controle sexual no período infantil. Não passava de velador dos
instintos, até que as rodas da experiência sexual pudessem deslizar com
regularidade, pelos caminhos da vida humana. Depois, decrescia em força,
relaxava-se, quase desaparecia, para que as glândulas genitais a sucedessem no
campo da energia plena." E nos compartilha seus novos aprendizados,
conforme os ensinamentos do instrutor Alexandre:
"Não se trata de órgão
morto, segundo velhas suposições. É a glândula da vida mental. Ela acorda no
organismo do homem, na puberdade, as forças criadoras e, em seguida, continua a
funcionar, como o mais avançado laboratório de elementos psíquicos da criatura
terrestre. O neurologista comum não a conhece bem. O psiquiatra devassar-lhe-á,
mais tarde, os segredos. Os psicólogos vulgares ignoram-na. Freud
interpretou-lhe o desvio, quando exagerou a influenciação da
"libido", no estudo da indisciplina congênita da Humanidade. Enquanto
no período do desenvolvimento infantil, fase de reajustamento desse centro
importante do corpo perispiritual preexistente, a epífise parece constituir o
freio às manifestações do sexo; entretanto, há que retificar observações. Aos
catorze anos, aproximadamente, de posição estacionária, quanto às suas
atribuições essenciais, recomeça a funcionar no homem reencarnado. O que
representava controle é fonte criadora e válvula de escapamento. A glândula
pineal reajusta-se ao concerto orgânico e reabre seus mundos maravilhosos de
sensações e impressões na esfera emocional. Entrega-se a criatura à
recapitulação da sexualidade, examina o inventário de suas paixões vividas
noutra época, que reaparecem sob fortes impulsos.
(...) Ela preside aos
fenômenos nervosos da emotividade, como órgão de elevada expressão no corpo
etéreo. Desata, de certo modo, os laços divinos da Natureza, os quais ligam as
existências umas às outras, na sequência de lutas, pelo aprimoramento da alma,
e deixa entrever a grandeza das faculdades criadoras de que a criatura se acha
investida (...)
Segregando delicadas
energias psíquicas – prosseguiu ele –, a glândula pineal conserva ascendência
em todo o sistema endocrínico. Ligada à mente, através de princípios
eletromagnéticos do campo vital, que a ciência comum ainda não pode
identificar, comanda as forças subconscientes sob a determinação direta da
vontade. As redes nervosas constituem-lhe os fios telegráficos para ordens
imediatas a todos os departamentos celulares, e sob sua direção efetuam–se os
suprimentos de energias psíquicas a todos os armazéns autônomos dos órgãos.
Manancial criador dos mais importantes, suas atribuições são extensas e fundamentais.
Na qualidade de controladora do mundo emotivo, sua posição na experiência
sexual é básica e absoluta (...)
Segregando
"unidades-força", pode ser comparada a poderosa usina, que deve ser
aproveitada e controlada, no serviço de iluminação, refinamento e benefício da
personalidade e não relaxada em gasto excessivo do suprimento psíquico, nas
emoções de baixa classe. Refocilar-se no charco das sensações inferiores, à
maneira dos suínos, é retê-la nas correntes tóxicas dos desvarios de natureza
animal, e, na despesa excessiva de energias sutis, muito dificilmente consegue
o homem levantar-se do mergulho terrível nas sombras, mergulho que se prolonga,
além da morte corporal..." (Alexandre, Missionários da Luz, (André Luiz)
Chico Xavier - Cap. 2)
Vê-se, portanto, a estreita
relação entre a função fisiológica da pineal nas implicações do sistema nervoso
e no controle das emoções, com a função essencial da mediunidade, qual seja a
de contribuir com a requalificação comportamental dos homens, a começar — e
especialmente — pelos médiuns e sensitivos, que são os primeiros a se
beneficiarem das contribuições da espiritualidade.
Essa sublime função da
mediunidade, para a qual a glândula pineal presta serviço, como observado por
André Luiz, talvez tenha relação com o nome que esse Espírito utiliza para
designá-la, já que a etimologia do termo epífise (do grego epi = "acima, sobre, superior a" + physis = "natureza") indica a ideia de algo
transcendental e superior.
Potencialização da
epífise
Considerando a glândula pineal
como uma "antena espiritual", muito se tem cogitado como estimular as
atividades da epífise a fim de se potencializar a capacidade mediúnica. O
receituário comum vai de pregar cristal na testa até os mais esdrúxulos
rituais.
As técnicas mais comuns são
as desenvolvidas pelos hindus, baseadas na meditação e na execução de mantras.
Como os mais antigos mestres do Hinduísmo já tinham firme ciência da função
transcendental da pineal — provavelmente por revelações espirituais —, é
possível que suas técnicas, ditas "místicas", também tenham
fundamentos lógicos. Sobre a possibilidade de, por exemplo, incitação das
potências mediúnicas mediante a entoação dos mantras, o Dr. Sérgio Felipe
pondera:
"A glândula está
localizada em uma área cheia de líquido. Talvez o som desses mantras faça
vibrar o líquido, provocando alguma reação na glândula. Os cristais também
recebem influências de vibração. Deve vibrar o líquor, a glândula, alterando o
metabolismo. Teria lógica." (Dr. Sérgio Felipe)
Sem querer enveredar para o
misticismo, mas também sem menosprezar a eficácia de qualquer recurso, fazemos
lembrar que a Doutrina Espírita se baseia absolutamente na racionalidade e na
praticidade dos conceitos. Por força disso, a potencialização da pineal para o
desenvolvimento da mediunidade deve se pautar em duas vertentes:
·
O recurso tem que ser lógico, em acordo com
as leis da natureza, e jamais puramente místico;
·
O interesse em desenvolver a mediunidade deve
estar em sintonia com o propósito de utilizá-la dignamente, com
responsabilidade e proveito do bem comum.
A real eficácia dos recursos
tradicionais está por ser comprovada — o que se dará pela universalidade dos
resultados. O que a lógica espírita nos assegura é que todos, muito acima das
receitas externas, os esforços sinceramente empregados no serviço do bem jamais
são desprezados pelos Espíritos superiores, que então se desdobram o quanto
possível para ajudar na operação da mediunidade construtiva. Por outro lado,
qualquer intenção revestida de egoísmo acaba inibindo e até bloqueando os
recursos mediúnicos, sobretudo afugentando a cooperação dos Espíritos mais
adiantados.
Por conseguinte, em linhas
gerais, a caridade é a medida de todas as coisas e o egoísmo é a mais
resistente barreira contra a caridade.
Referências
Missionários da Luz, (André
Luiz) Chico Xavier.
Luz Espírita – website (visitado
em 5 de setembro de 2023.
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