Amor da família

MATEUS: capítulo 10, versículo 37. Aquele que ama a seu Pai ou a sua mãe mais do que me ama, não é digno de mim; e aquele que ama a seu filho ou a sua filha mais do que me ama, de mim não é digno. — 38. Aquele que não toma sua cruz e me segue não é digno de mim. — 39. Aquele que acha sua vida a perderá e aquele que perder a vida por minha causa a encontrará.

LUCAS: capítulo 14, versículo 25. Jesus, voltando-se para a multidão que o acompanhava, disse; — 26. Aquele que vem a mim e não odeia a seu pai e a sua mãe, a sua mulher, a seus filhos, a seus irmãos, a suas Irmãs e até a sua própria vida, não pode ser meu discípulo; 27, e aquele que não toma sua cruz e me segue não pode ser meu discípulo. (*)

Os santos Evangelhos são o código, ou a tábua dos preceitos e sentenças do Divino Mestre. Para bem se conhecerem esses preceitos e sentenças, necessário se faz estudá-los, interpretando-os, de modo a lhes alcançar o sentido profundo. Para isso, não basta ter deles a compreensão literal ou gramatical; é preciso pesquisar-lhes os fundamentos, apreciá-los em conjunto, buscar-lhes o espírito.

Jesus veio dar cumprimento ao Decálogo e confirmar as profecias que lhe eram relativas. Veio congraçar a Humanidade, fazendo-lhe ver que os seus membros devem unir-se pela amizade, pelo afeto, pelo carinho, que produzem a concórdia, pelo amor paterno e filial. Veio, enfim, mostrar-lhe que a vida real é a do Espírito liberto da escravidão da matéria, isto é, purificado, e que o Espírito só se depura na adversidade, que é o crisol das grandes obras.

Ele, portanto, jamais poderia ter dito o que quer que importasse em condenação do amor da família. O que, com relação a esta, como a respeito de tudo mais, condenou foi o excesso, que em todas as coisas prejudica o ser humano e o transvia. É dever do homem consagrar-se à família e preencher para com esta todas as obrigações que lhe impõem as leis divinas, cuja síntese é a lei do amor.

Não deve, porém, fazer do cumprimento dessas obrigações um culto. Não lhe deve sacrificar o amor ao próximo, nem os interesses superiores e a felicidade real de seus outros irmãos em Deus, pois que isso seria. egoísmo e o egoísmo contravém aos ensinos do Filho de Deus.

Assim, aquele que, para agradar a seu pai ou a sua mãe, praticar um ato contrário a esses ensinos não é digno do Mestre, não pode ser seu discípulo. Essa a lição constante dos versículos acima, para cuja compreensão cumpre não constituam obstáculo os termos odiar e aborrecer, porquanto nenhum desses vocábulos traduz com exatidão a palavra correspondente no texto hebraico, a qual não tem a significação violenta daquelas outras e carece de equivalente nos modernos idiomas. Além disso, importa não esqueçamos que Jesus frequentemente usava de expressões demasiado fortes, para impressionar os Hebreus de então, profundamente materializados.

Quanto ao ser a vida do Espírito a Única real e, pois, a única digna de apreço e valiosa, a prova temo-la em que, falando a seus discípulos, o Senhor lhes recomendava que nenhuma importância dessem à vida do corpo, sempre que lhes fosse mister sacrificá-la, a bem daquela outra.

A cruz a que aludia, quando sentenciava que quem não tomar a sua para o seguir não pode ser seu discípulo, é a das expiações e das provas necessárias e inevitáveis, por isso que mediante elas somente é que o Espírito se depura, quando as aceita com humildade, resignação e, até, reconhecimento, conforme  o exemplificou Ele que, aliás, era justo, inocente e imaculado, que, por conseguinte, nada tinha que expiar, nem que o tornasse merecedor de qualquer provação.

Dizendo que “aquele que acha a sua vida a perderá e que aquele que perde a vida por sua causa a achará”, o Divino Mestre se dirigia especialmente a seus discípulos, para lhes significar que, dentre eles, o que falisse à sua missão, para conservar a vida humana, renunciaria ao acabamento da obra, comprometendo, assim, gravemente, a sua vida espiritual; que, ao contrário, aquele que não recuasse diante da morte e a sofresse, para levar a cabo a obra, desempenhando a sua missão, teria a vida eterna.

Tais palavras, entretanto, podem e devem considerar-se como dirigidas, no mesmo sentido, aos que posteriormente, em todas as épocas, viessem ou venham a constituir-se continuadores da alta missão em que se investiram os apóstolos e os discípulos imediatos do Cristo.

(*) Deuteronômio, 13, 6, 33, 9. Êxodo, 32, 26 e 27. — JOÃO, 12, 25. 2a

Epístola à Timóteo, 3, 12. — Apocalipse, 12, 11.


Fonte: Elucidações evangélicas. FEB, 2003, pág. 246. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário