A ação providencial de Deus
1. Providência é, neste mundo, tudo o que se faz dispondo as coisas de modo que se realizem objetivos de ordem e harmonia, buscando o bem e a felicidade das pessoas.
2. Deus, em relação às suas criaturas, é a própria
Providência na sua mais alta expressão, infinitamente acima de todas as
possibilidades humanas. A Providência Divina manifesta-se em todas as coisas e
se exerce através de leis admiráveis e sábias.
3. A Providência é a solicitude de Deus para com as suas
criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas
mínimas. É nisso que consiste a ação providencial.
4. Para o incrédulo é difícil conceber a ação providencial de Deus nos menores atos e menores pensamentos de cada indivíduo. O incrédulo admite a ação de Deus sobre as leis gerais do Universo, a que todas as criaturas se acham submetidas, mas não admite sua intervenção direta nos pormenores mais ínfimos. É que ele não sabe que, para estender a sua solicitude a todas as criaturas, Deus não precisa lançar o olhar do alto da imensidade. Nossas preces, para que Ele as ouça, não necessitam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, porque nossos pensamentos repercutem n’Ele.
Providência e livre-arbítrio
5. É por causa de sua inferioridade que o homem não
consegue compreender como age o Pai Eterno. A criatura o imagina à sua
semelhança, nele adorando a imagem, a figura, e não o pensamento. Para a
maioria das pessoas, Deus é um soberano poderoso, sentado num trono inacessível
e perdido na imensidade dos céus. Possuindo percepções ainda restritas, ele não
compreende que Deus possa e se digne em intervir em qualquer assunto, tanto nas
maiores quanto nas pequeninas coisas.
6. Tudo foi disposto pelo amor do Pai para o bem de seus
filhos, desde as mais elementares providências para a manutenção da vida
orgânica e a perpetuação da espécie, até a outorga ao homem da faculdade do
livre-arbítrio, que dá ao indivíduo o mérito da conquista consciente da
felicidade pela prática voluntária do bem e a livre busca da verdade.
7. Deus tudo fez e tudo faz para o bem de suas criaturas.
Imprimiu-lhes na consciência as leis morais de trabalho, reprodução,
conservação e destruição, como também a lei de sociedade, com base na qual se
organizam as famílias e as comunidades, em cujo seio eles cumprem deveres,
ligados às citadas leis e às leis de adoração, progresso, igualdade, liberdade,
justiça, amor e caridade em seu mais justo e elevado sentido.
Causas da infelicidade do homem
8. Deus propicia desse modo ao homem construir a própria
felicidade pela livre observância dessas leis e o cumprimento dos deveres
correspondentes, e o ser humano só se torna infeliz quando os descumpre ou com
elas se desarmoniza. Ao livre-arbítrio de que foi dotado corresponde, no
entanto, a responsabilidade por seus atos, razão por que deve arcar com todas
as consequências deles decorrentes.
9. Por causa disso, aparentemente se opõem a Providência
Divina e o livre-arbítrio humano. Mas isto se dá apenas aparentemente. É que
Deus nos concede a liberdade de agir para que acrescentemos à nossa felicidade
o mérito da iniciativa e a espontaneidade na busca do próprio bem. O Pai Eterno
a tudo provê, disso não há dúvida, mas não quer inativa a criatura humana,
passivamente, à espera da graça divina, e sim que ela mesma busque, mediante
perseverantes esforços, a felicidade e o progresso com que todos sonhamos.
10. Pelo uso do livre-arbítrio, a alma fixa seu próprio
destino e prepara suas alegrias ou sofrimentos; mas jamais, no curso de sua
marcha evolutiva, lhe será negado o socorro divino sempre que dele necessitar.
11. A alma foi criada para a felicidade, mas para poder
apreciar essa felicidade, para conhecer-lhe o justo valor, deve conquistá-la
por si mesma, desenvolvendo as potências encerradas em seu íntimo, certa de que
a liberdade de ação e sua responsabilidade aumentam com a própria elevação.
O guia a quem Deus nos confiou
12. A Providência é, assim, o anjo velando sobre o
infortúnio, o consolador invisível, cujas inspirações reaquecem o coração
gelado pelo desespero e cujos fluidos vivificantes sustentam o viajor prostrado
pela fadiga. A Providência é, por fim, e principalmente, o amor divino
derramando-se sem cessar sobre suas criaturas.
13. A Providência Divina, em relação à humanidade terrena, manifestou-se
de modo especial quando Deus nos confiou a Jesus, como discípulos confiados a
um mestre e como ovelhas entregues à proteção de um pastor.
14. Com que solicitude e paciência Ele nos vem, desde
então, ensinando e conduzindo, através de séculos e milênios! O homem pode ter certeza, pois, de que em
momento algum se encontra desamparado ou entregue à própria sorte, porque o
mundo em que vivemos, graças à bondade e à providência de Deus, tem no seu leme
aquele que a Doutrina Espírita considera modelo e guia da Humanidade: Jesus.
Fonte
Iniciação à doutrina espírita; Astolfo Olegário O. Filho; EVOC; PR.
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