Princípio vital
Existe na matéria orgânica um princípio especial, que ainda é incompreensível e não podemos por ora definir: o princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio se acha inexistente no ser morto. A química, que decompõe e recompõe corpos inorgânicos, jamais chegou a reconstituir se[1]quer uma folha de árvore, o que mostra que existe algo nos corpos orgânicos que os corpos inorgânicos não possuem.
Os seres orgânicos, ao se formarem, assimilam o princípio vital, ou seja, esse princípio se desenvolve em cada indivíduo por efeito da combinação dos elementos básicos que constituem os corpos orgânicos. Se esses elementos – o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio e o carbono – não se aliassem, no momento da formação, ao princípio vital, da[1]riam origem simplesmente a um corpo inorgânico. O princípio vital modifica a constituição molecular de um corpo, dando-lhe propriedades especiais.
A extinção do princípio vital
A atividade do princípio vital é alimentada durante a vida
pela ação do funcionamento dos órgãos. Cessada essa ação, por motivo da morte,
o princípio vital se esvai. A partir disso, a matéria se decompõe em seus
elementos constitutivos (oxigênio, carbono, nitrogênio etc.), os quais poderão
65 agregar-se para formar corpos inertes ou inorgânicos, ou manter-se
dispersos, até a formação de novas combinações.
A título de comparação, podemos dizer que na combinação
dos elementos para a formação dos corpos orgânicos desenvolve-se eletricidade.
Os corpos orgânicos seriam verdadeiras pilhas elétricas, que funcionariam
enquanto os ele[1]mentos dessas pilhas
se acham em condições de produzir eletricidade: eis a vida. Quando essas
condições desaparecem, eles deixam de funcionar: eis a morte. O princípio vital
não seria, pois, mais que uma espécie particular de eletricidade, denominada
eletricidade animal, que durante a vida se desprende pela ação dos órgãos e
cuja produção cessa quando se dá a morte.
Princípio espiritual
Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente há
de ter uma causa inteligente. A existência do princípio espiritual é um fato
que não precisa de demonstração, pois ele se afirma pelos seus efeitos. Ninguém
há que não faça distinção entre o movimento mecânico de um sino que o vento
agita e o movimento intencional do mesmo sino para se dar um sinal, um aviso.
Ora, não podendo a própria massa desse sino pensar, tem-se de concluir que o
move uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que se manifeste.
O princípio espiritual tem existência própria.
Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados Espíritos,
que são individualidades inteligentes, incorpóreas, que povoam o Universo.
Criados por Deus, independem da matéria. Prescindindo do mundo corporal, agem
sobre ele e, corporificando-se através da carne, recebem estímulos,
transmitindo impressões, em intercâmbio expressivo e contínuo.
Havendo seres que vivem e não pensam, quais as plantas, e
corpos humanos que ainda se revelam animados de vida orgânica quando já não há
qualquer manifestação de pensamento, como na morte encefálica, é justo concluir
66 que a vida orgânica reside num princípio independente da vida espiritual. A
vida e a inteligência originam-se, portanto, de dois princípios distintos. Uma
procede do princípio vital; a outra, do princípio espiritual.
A natureza dos espíritos
A natureza dos Espíritos é algo do qual pouco ou nada sabemos. Seria o Espírito um ser imaterial? Respondendo a essa pergunta, O Livro dos Espíritos nos explica: “Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria mais exato, pois deves compreender que, sendo criação, o Espírito há de ser alguma coisa. É matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e tão etérea que escapa inteiramente ao alcance de vossos sentidos”.
Na mesma questão, logo abaixo, Kardec observou: “Dizemos
que os Espíritos são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o
que conhecemos sob o nome de matéria”. Um povo de cegos careceria de termos
para exprimir a luz e seus efeitos; ora, nós somos verdadeiros cegos com
relação à essência dos seres inteligentes que povoam o espaço infinito.
Fonte
Iniciação à doutrina espírita; Astolfo Olegário O. Filho; EVOC; PR.
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