O fenômeno mediúnico e a lei mosaica
A comunicabilidade dos Espíritos com os encarnados é um fato antiquíssimo, com a única diferença de que no passado ela era conhecida somente pelos chamados iniciados e na atualidade, com o Espiritismo, tornou-se um fenômeno generalizado.
A possibilidade de os Espíritos se comunicarem é um fato já muito bem estudado e comprovado, mas correntes religiosas diferentes da Doutrina Espírita criticam-na, baseando-se na proibição mosaica da evocação dos mortos.
Para melhor compreensão das palavras de Moisés, vejamos o
texto:
“Não vos desvieis para
procurar mágicos; não consulteis os adivinhos, e receais que vos contamineis,
dirigindo-vos a eles. Eu sou o senhor vosso Deus.” (Levítico, cap. XIX, v.31.)
“O homem ou mulher que tiver
Espírito de adivinho, morra de morte. Serão apedrejados, e o seu sangue recairá
sobre eles.” (Levítico, cap. XX, v.27.)
“E entre vós ninguém haja
que pretenda purificar filho ou filha passando-os pelo fogo; que use
malefícios, sortilégios e encantamentos; que consulte os que têm o Espírito de
adivinhar, interrogando os mortos para saber a verdade. O senhor abomina todas essas
coisas e exterminará todos esses povos, à vossa entrada, por causa dos crimes
que têm cometido.” (Deuteronômio, cap. XVIII, vv. 9, 10, 11 e 12.)
Objetivo da proibição mosaica
Se a lei de Moisés deve ser rigorosamente observada neste
ponto, então por que não observá-la, também, nos outros pontos? A resposta é
conhecida. Sabe-se que a lei mosaica não é aplicada hoje porque não está mais
de acordo com a nossa época e com os nossos costumes. Ora, o mesmo ocorre
relativamente à proibição da evocação dos mortos e do trato com os Espíritos.
O legislador hebreu queria que o seu povo abandonasse
todos os costumes adquiridos no Egito, onde as evocações estavam em uso e
facilitavam abusos, inclusive o comércio grosseiro, associado às práticas da
magia e do sortilégio e acompanhado até mesmo de sacrifícios humanos.
A proibição de Moisés foi, assim, justíssima, porquanto
as relações que então se estabeleciam com os Espíritos não se baseavam nos
sentimentos de respeito, afeição ou piedade para com eles, sendo antes um
recurso para adivinhações, habilmente exploradas pelo charlatanismo.
A mediunidade segundo o Espiritismo
O Espiritismo veio mostrar o fim exclusivamente moral,
consolador e religioso das relações com a espiritualidade. Os espíritas não
fazem sacrifícios humanos, não interrogam astros,
adivinhos e magos para se informar de qualquer
coisa, não usam objetos, medalhas, talismãs, fórmulas sacramentais ou lugares
lúgubres e horários específicos para atrair ou afastar Espíritos.
O espírita sabe que o conhecimento do futuro é vedado ao
homem, e só em casos raríssimos e excepcionais é que Deus faculta a sua
revelação. Se o homem conhecesse o futuro, por certo negligenciaria o presente
e não agiria com a mesma liberdade.
A mediunidade não é uma faculdade inerente apenas ao
homem de bem e, por isso, todos podem possuí-la. Contudo, a moralização do
médium libera-o da influência de Espíritos inferiores e perversos, que se
sentem, então, impossibilitados de exercer domínio sobre os sensitivos, por
lhes faltarem condições para a necessária sintonia.
A Igreja e as manifestações dos mortos
Repelir as comunicações significa repudiar o meio mais
poderoso de instrução, já pela iniciação nos conhecimentos
da vida futura, já pelos exemplos que as comunicações nos fornecem. A
experiência nos ensina, além disso, que é grande o bem que podemos fazer
desviando do mal os Espíritos imperfeitos e ajudando os que sofrem a
desprender-se da matéria e se aperfeiçoarem.
Interditar as comunicações equivale, portanto, a privar
as almas sofredoras da assistência que lhes podemos e devemos dispensar, razão
por que, atualmente, até a Igreja, pela voz de vários de seus pastores – entre
eles frei Boaventura Kloppenburg, padre François Brune e padre Gino Concetti
–, admite que a comunicação com os Espíritos pode ser salutar, especialmente
pelo conforto moral que traz aos que se encontram desesperados com a perda de
um ente querido.
Fonte
Iniciação à doutrina espírita; Astolfo Olegário O. Filho; EVOC; PR.
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