Em maio, em casa da Sra. Plainemaison,
por convite de seu amigo Carlotti, Rivail assiste, pela primeira vez, a uma
sessão das mesas dançantes. Apesar do ceticismo, surpreende-se com as respostas
inteligentes da “mesa”. Constata a revelação de uma nova lei, que mereceria ser
estudada a fundo. Passa a investigar metodicamente os fenômenos, primeiro ali,
depois em outros grupos.
Frequenta a casa dos Baudin, onde
encontraria, na mediunidade passiva das jovens filhas do casal, inicialmente
através da “cesta-de-bico ” (cestinha amarrada a um lápis), e depois na
psicografia convencional, condições mais adequadas aos seus estudos. Apesar
desta disposição favorável, no entanto, os contatos iniciais não conseguem
entusiasmar Rivail, que, em meio a problemas de tempo, junto aos seus
compromissos profissionais, quase deixa de comparecer às sessões.
É ainda Carlotti que é seu
incentivador. Deixa aos seus cuidados cerca de 50 cadernos, nos quais vinha
anotando as comunicações mediúnicas obtidas pelo seu grupo, formado por
intelectuais, entre eles o dramaturgo Victorien Sardou. Ali, nos últimos anos,
os espíritos, pela mediunidade da Srta. Japhet, haviam vertido um conjunto de
ditados filosóficos, abrangendo as mais sérias questões humanas.
O Codificador imediatamente percebe a
coerência e a relevância destes textos, que seriam o embrião da futura Doutrina
Espírita. E renova seu animo nas pesquisas, agora centradas na revisão e
sistematização deste material, principalmente com a colaboração das meninas
Baudin. Interessante observar que muitos dos princípios defendidos pelos
benfeitores espirituais, como o da reencarnação, eram contrários às suas
concepções filosóficas.
É a época, também, em que teve a
oportunidade de conhecer a Daniel Dunglas Home, o qual o seduz pela surpreendente
mediunidade de efeitos físicos, bem como pelas qualidades humanas. Torna-se seu
amigo, correspondente, e defensor, nas oportunidades em que o médium foi
criticado em sua acidentada vida pública e pessoal.
1856
A 30 de abril, em casa do Sr. Roustan,
a Srta. Japhet, utilizando-se da “cesta”, transmite a primeira revelação da
missão de Rivail. Revela-se, também, seu guia espiritual, 0 Espirito “Verdade”.
1857
A 18 de abril, vem à luz a primeira
edição de “O Livro dos Espíritos”, financiada pelo próprio Rivail. Também é
criado o pseudônimo famoso: Allan Kardec (nome de Rivail em antiga encarnação
celta). A intenção inicial era permanecer, mesmo, anônimo, insulado. Mas logo o
movimento formado a partir desta obra se avolumou a tal ponto, que ele foi
guindado, malgrado a preferência pessoal, à sua liderança, ao seu posto
principal, à vida pública, enfim.
Continua a assistir sessões de efeitos
físicos.
1858
Funda a Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas (mais tarde também chamada “Sociedade de Estudos Espíritas de
Paris”, da qual exerceria a presidência até seu desencarne, embora sempre pondo
o cargo à disposição dos associados). Lança “Instruções Práticas sobre as
Manifestações Espíritas”. Inicia a publicação da “Revista Espírita” (que
manterá, sozinho, tanto no financiamento, como na redação, por 11 anos).Utiliza
médiuns videntes para observar as mais diversas cenas sociais, no seu aspecto
espiritual.
1859
Publicado “O Que é o Espiritismo?” Peça
de Mozart , recebida mediunicamente, é executada na Sociedade de Estudos Espíritas
de Paris. Críticos reconhecem o estilo do músico desencarnado. Experiências com
“escrita direta” e com manifestações de pessoas vivas. Comunica aos leitores da
“Revista Espírita” que a publicação fecha seu primeiro ano como um sucesso, com
assinantes nos cinco continentes, garantindo a continuidade do empreendimento.
Crise na Sociedade de Estudos
Espíritas de Paris. Pensa em sair e continuar seus trabalhos num nível mais
informal. Espíritos e associados o dissuadem.
1860
Nova edição, revista e
consideravelmente ampliada, de “O Livro dos Espíritos”. Publica “Carta sobre o
Espiritismo”. Adota, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, o sistema de
submeter mensagens a exame critico. Nas férias da Sociedade, inicia a prática
de visitação às sociedades Espíritas. Vai a Sens, Macon, Lion e Saint-Étienne.
Primeiro contato com o Espiritismo de Lion, formado por operários, menos
intelectual, mas mais centrado nas consequências morais da Doutrina. O
codificador aprova entusiasta. Passa a morar na nova sede da Sociedade
(aquisição tornada possível pela doação de 10 mil francos), onde também está o
escritório da “Revista”. Com mais tempo para se dedicar ao esforço da
Codificação, trabalha dia e noite.
1861
Lança “O Livro dos Médiuns”. Queima de
livros Espíritas, na Espanha, por ordem do Santo Oficio: o famoso auto-de-fé de
Barcelona, a 9 de outubro. Assiste, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris,
a uma sessão de transporte de objetos .Nova visita a Lion, Sens e Macon. Viagem
a Bordéus. A Sociedade de Estudos Espíritas inicia uma subscrição para ajudar
operários com dificuldades financeiras.
1862
Recebe mensagem com centenas de
assinaturas dos Espíritas de Lion, que o emociona muito. Retomo a esta
comunidade, e visita a mais de 20 localidades, por sete semanas, assistindo a
mais de cinqüenta reuniões. Surpreende-se com o intenso crescimento do
espiritismo em Bordéus e Lion. Nesta cidade, uma grande reunião com seiscentos
delegados.T ambém viagem de estudo ao processo de obsessão coletiva em Morzine e
ao fenômeno de “Poltergeist” em Albe. Precisa esclarecer, na “Revista”, a
denúncia de que suas viagens eram financiadas pela Sociedade (na verdade, ele
as custeava). Inicia uma série de artigos, que se repetiriam por anos, ainda,
em que se defende de acusações de utilizar o Espiritismo para enriquecer. Sua
correspondência aumenta a tal ponto que se toma materialmente impossível
dar-lhe vencimento. Responde aos temas propostos, coletivamente, na “Revista Espírita”.
De forma direta, seletivamente. E indireta, por secretário. Está recebendo,
também, entre 1200 a 1500 visitas ao ano. Refuta livros e artigos nos jornais,
contra o Espiritismo. Lança a obra “O Espiritismo na sua Expressão mais
Simples”, e “Resposta aos Espíritas lioneses por ocasião do ano novo”.
1863
Faz um balanço das comunicações
mediúnicas já recebidas. Mais de 3600 mensagens. Três mil com moralidade
irretocável. Mas apenas 300 publicáveis. E somente cem têm um mérito que
considera excepcional. Intensifica-se a campanha contrária à nova doutrina,
principalmente no clero. É sugerido nos púlpitos que se queimem as obras
espíritas. O Bispo de Argel proíbe aos seus fiéis a prática do Espiritismo.
Kardec refuta sermões e livros de contrapropaganda de religiosos na “Revista”.
1864
Viagem para estudar o vidente da
Floresta de Zimmerwald, na Suíça. Investiga também casos de “poltergeist” em
Poitiers. Visita aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia, na Bélgica. A Sociedade
Espírita de Bruxelas, homenageando o visitante, finda um leito de criança na
creche de Saint Josse Tenuode. Os livros espíritas entram no Index na Igreja
Católica, a primeiro de maio. Inicia-se novo processo de combate ao
Espiritismo, na forma de cursos ministrados por religiosos. Kardec desaconselha
a continuidade da polêmica com o clero, em nome da liberdade de opinião,
afirmando que o Espiritismo quer ser aceito por livre exame, não por imposição
ou violência.
Publica “Imitação do Evangelho Segundo
o Espiritismo”.
1865
Edita “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”(edição definitiva da obra anterior), “O Céu e o Inferno” e
“Coleção de Preces Espíritas”.
1866
Num sonho, durante enfermidade, prevê,
com 14 anos de antecedência, o invento de Dunlop, o pneu de borracha.
1867
Participa do livro “Ecos poéticos do
além túmulo”, com o texto “Estudo acerca da poesia medianímica”.
1868
Vêm a público “Caracteres da Revelação
Espírita”, e A Gênese os milagres e as predições segundo o Espiritismo
“.Assiste a uma sessão de transporte de flores, sem se convencer muito do
resultado.
1869
Redação final de “Constituição do
Espiritismo”(em que trata da sua sucessão).Faz uma estimativa dos Espíritas, em
todo o mundo: seis ou sete milhões. Quando está preparando uma nova mudança da
Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, ao atender um caixeiro de livraria,
que viera buscar a “Revista Espírita”, a 31 de março, cai pesadamente ao solo.
Havia se lhe rompido um aneurisma . Desencarna de pé, trabalhando.