Deus e o princípio espiritual

1. A existência do princípio espiritual é um fato que, por assim dizer, não precisa de demonstração, do mesmo modo que o da existência do princípio material. É, de certa forma, uma verdade axiomática. Ele se afirma pelos seus efeitos, como a matéria pelos que lhe são próprios.

De acordo com este princípio: “Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente”, ninguém há que não faça distinção entre o movimento mecânico de um sino que o vento agite e o movimento desse mesmo sino para dar um sinal, um aviso, atestando, só por isso, que obedece a um pensamento, a uma intenção. Ora, não podendo acudir a ninguém a ideia de atribuir pensamento à matéria do sino, tem­-se de concluir que o move uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que ela se manifeste.

Pela mesma razão, ninguém terá a ideia de atribuir pensamento ao corpo de um homem morto. Se, pois, vivo, o homem pensa, é que há nele alguma coisa que não há quando está morto. A diferença que existe entre ele e o sino é que a inteligência, que faz com que este se mova, está fora dele, ao passo que está no homem a que faz que este obre.

A visão de Deus

31. Se Deus está em toda parte, por que não o vemos? Vê-lo-emos quando deixarmos a Terra? Tais as perguntas que se formulam todos os dias. À primeira é fácil responder. Por serem limitadas as percepções dos nossos órgãos visuais, elas os tornam inaptos à visão de certas coisas, mesmo materiais. Alguns fluidos nos fogem totalmente à visão e aos instrumentos de análise; entretanto, não duvidamos da existência deles. Vemos os efeitos da peste, mas não vemos o fluido que a transporta; vemos os corpos em movimento sob a influência da força de gravitação, mas não vemos essa força.

32. Os nossos órgãos materiais não podem perceber as coisas de essência espiritual. Unicamente com a visão espiritual é que podemos ver os Espíritos e as coisas do mundo imaterial. Somente a nossa alma, portanto, pode ter a percepção de Deus. Dar-se-á que ela o veja logo após a morte? A esse respeito, só as comunicações de além-túmulo nos podem instruir. Por elas sabemos que a visão de Deus constitui privilégio das mais purificadas almas e que bem poucas, ao deixarem o envoltório terrestre, se encontram no grau de desmaterialização necessária a tal efeito. Uma comparação vulgar o tornará facilmente compreensível.

A providência divina

20. A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial. “Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?” Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da Providência.

21. No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito. Vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também circunscrito e limitado. Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos não contribuem pouco para entreter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria, é ele um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Tendo restritas suas faculdades e percepções, não compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.

A natureza divina

8. Não é dado ao homem sondar a natureza íntima de Deus. Para compreendê-lo, ainda nos falta o sentido próprio, que só se adquire por meio da completa depuração do Espírito. Mas, se não pode penetrar na essência de Deus, o homem, desde que aceite como premissa a sua existência, pode, pelo raciocínio, chegar a conhecer-lhe os atributos necessários, porquanto, vendo o que ele absolutamente não pode ser, sem deixar de ser Deus, deduz daí o que ele deve ser. Sem o conhecimento dos atributos de Deus, impossível seria compreender-se a obra da criação. Esse o ponto de partida de todas as crenças religiosas e é por não se terem reportado a isso, como ao farol capaz de as orientar, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses; as que não lhe atribuíram soberana bondade fizeram dele um Deus cioso, colérico, parcial e vingativo.

9. Deus é a suprema e soberana inteligência. É limitada a inteligência do homem, pois que não pode fazer, nem compreender tudo o que existe. A de Deus, abrangendo o infinito, tem que ser infinita. Se a supuséssemos limitada num ponto qualquer, poderíamos conceber outro ser mais inteligente, capaz de compreender e fazer o que o primeiro não faria e assim por diante, até ao infinito.

Existência de Deus

1. Sendo Deus a causa primária de todas as coisas, a origem de tudo o que existe, a base sobre que repousa o edifício da criação, é também o ponto que importa consideremos antes de tudo.

2. Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se julga de uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta. Se, fendendo os ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que hábil atirador o alvejou, ainda que este último não seja visto. Nem sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela existe. Em tudo, observando os efeitos é que se chega ao conhecimento das causas.

3. Outro princípio igualmente elementar e que, de tão verdadeiro, passou a axioma é o de que todo efeito inteligente tem que decorrer de uma causa inteligente. Se perguntassem qual o construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem respondesse que ele se fez a si mesmo? Quando se contempla uma obra-prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido um homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la. Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar que não está acima da capacidade humana; mas, a ninguém acudirá a ideia de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, nem, ainda menos, que é trabalho de um animal, ou produto do acaso.

Deus e o infinito


1. Que é Deus?

 “Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas.”

2. Que se deve entender por infinito?

“O que não tem começo nem fim: o desconhecido; tudo o que é desconhecido é infinito.”

3. Poder-se-ia dizer que Deus é o infinito?

“Definição incompleta. Pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima da linguagem dos homens.”

Deus é infinito em suas perfeições, mas o infinito é uma abstração. Dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa pela coisa mesma, é definir uma coisa que não está conhecida por uma outra que não o está mais do que a primeira.

Allan Kardec, O livro dos espíritos, cap. I 

Provas da existência de Deus


4. Onde se pode encontrar a prova da existência de Deus?

“Num axioma que aplicais às vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem e a vossa razão responderá.”

Para crer-se em Deus, basta se lance o olhar sobre as obras da Criação. O Universo existe, logo, tem uma causa. Duvidar da existência de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e avançar que o nada pôde fazer alguma coisa.

Atributos de Deus


10. Pode o homem compreender a natureza íntima de Deus?

“Não; falta-lhe para isso o sentido.”

11. Será dado um dia ao homem compreender o mistério da Divindade?

“Quando não mais tiver o espírito obscurecido pela matéria. Quando, pela sua perfeição, se houver aproximado de Deus, ele o verá e compreenderá.”

Panteísmo

14. Deus é um ser distinto, ou será, como opinam alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas?

“Se fosse assim, Deus não existiria, porquanto seria efeito e não causa. Ele não pode ser ao mesmo tempo uma e outra coisa. “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial. Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair. Isso não vos tornaria melhores, antes um pouco mais orgulhosos, pois que acreditaríeis saber, quando na realidade nada saberíeis. Deixai, consequentemente, de lado todos esses sistemas; tendes bastantes coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertardes delas, o que será mais útil do que pretenderdes penetrar no que é impenetrável.”

15. Que se deve pensar da opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, em conjunto, a própria Divindade, ou, por outra, que se deve pensar da doutrina panteísta?

Princípio espiritual

1. A existência do princípio espiritual é um fato que, por assim dizer, não precisa de demonstração, do mesmo modo que o da existência do princípio material. É, de certa forma, uma verdade axiomática. Ele se afirma pelos seus efeitos, como a matéria pelos que lhe são próprios.

De acordo com este princípio: “Todo efeito tendo uma causa, todo efeito inteligente há de ter uma causa inteligente”, ninguém há que não faça distinção entre o movimento mecânico de um sino que o vento agite e o movimento desse mesmo sino para dar um sinal, um aviso, atestando, só por isso, que obedece a um pensamento, a uma intenção. Ora, não podendo acudir a ninguém a ideia de atribuir pensamento à matéria do sino, tem­-se de concluir que o move uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que ela se manifeste.

Pela mesma razão, ninguém terá a ideia de atribuir pensamento ao corpo de um homem morto. Se, pois, vivo, o homem pensa, é que há nele alguma coisa que não há quando está morto. A diferença que existe entre ele e o sino é que a inteligência, que faz com que este se mova, está fora dele, ao passo que está no homem a que faz que este obre.

União do princípio espiritual à matéria

10. Tendo a matéria que ser objeto do trabalho do Espírito para desenvolvimento de suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre ela, pelo que veio habitá­-la, como o lenhador habita a floresta. Tendo a matéria que ser, no mesmo tempo, objeto e instrumento do trabalho, Deus, em vez de unir o Espírito à pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de receber todas as impulsões da sua vontade e de se prestarem a todos os seus movimentos.

O corpo é, pois, simultaneamente, o envoltório e o instrumento do Espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste outro invólucro apropriado ao novo gênero de trabalho que lhe cabe executar, tal qual se faz com o operário, a quem é dado instrumento menos grosseiro, à proporção que ele se vai mostrando apto a executar obra mais bem cuidada.

11. Para ser mais exato, é preciso dizer que é o próprio Espírito que modela o seu envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa­-o e lhe desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades; numa palavra, talha­-o de acordo com a sua inteligência. Deus lhe fornece os materiais; cabe-­lhe a ele empregá-­los. É assim que as raças adiantadas têm um organismo ou, se quiserem, um aparelhamento cerebral mais aperfeiçoado do que as raças primitivas. Desse modo igualmente se explica o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos traços da fisionomia e às linhas do corpo.

Hipótese sobre a origem do corpo humano

15. Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do homem e o do macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação do segundo. Nada aí há de impossível, nem o que, se assim for, afete a dignidade do homem. Bem pode dar-­se que corpos de macaco tenham servido de vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades, do que o corpo de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para o Espírito um invólucro especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu­-se então da pele do macaco, sem deixar de ser Espírito humano, como o homem não raro se reveste da pele de certos animais, sem deixar de ser homem.

Fique bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum posta como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do macaco.

Encarnação dos Espíritos

17. O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo, na encarnação.

Pela sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter ação direta sobre a matéria, sendo­-lhe indispensável um intermediário, que é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre uma modificação especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna­-o apto a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.

O fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-­lhe ele de veículo ao pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o fio metálico.

Reencarnações

33. O princípio da reencarnação é uma consequência necessária da lei de progresso. Sem a reencarnação, como se explicaria a diferença que existe entre o presente estado social e o dos tempos de barbárie? Se as almas são criadas ao mesmo tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas, tão primitivas, quanto as que viviam há mil anos; acrescentemos que nenhuma conexão haveria entre elas, nenhuma relação necessária; seriam de todo estranhas umas às outras. Por que, então, as de hoje haviam de ser melhor dotadas por Deus, do que as que as precederam? Por que têm aquelas melhor compreensão? Por que possuem instintos mais apurados, costumes mais brandos? Por que têm a intuição de certas coisas, sem as haverem aprendido? Duvidamos de que alguém saia desses dilemas, a menos admita que Deus cria almas de diversas qualidades, de acordo com os tempos e lugares, proposição inconciliável com a ideia de uma justiça soberana.

Admiti, ao contrário, que as almas de agora já viveram em tempos distantes; que possivelmente foram bárbaras como os séculos em que estiveram no mundo, mas que progrediram; que para cada nova existência trazem o que adquiriram nas existências precedentes; que, por conseguinte, as dos tempos civilizados não são almas criadas mais perfeitas, porém que se aperfeiçoaram por si mesmas com o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social. (O Livro dos Espíritos, Parte 2ª, caps. IV e V)

Emigrações e imigrações dos Espíritos

35. No intervalo de suas existências corporais, os Espíritos se encontram no estado de erraticidade e formam a população espiritual ambiente da Terra. Pelas mortes e pelos nascimentos, as duas populações, terrestre e espiritual, deságuam incessantemente uma na outra. Há, pois, diariamente, emigrações do mundo corpóreo para o mundo espiritual e imigrações deste para aquele: é o estado normal.

36. Em certas épocas, determinadas pela sabedoria divina, essas emigrações e imigrações se operam por massas mais ou menos consideráveis, em virtude das grandes revoluções que lhes ocasionam a partida simultânea em quantidades enormes, logo substituídas por equivalentes quantidades de encarnações. Os flagelos destruidores e os cataclismos devem, portanto, considerar-­se como ocasiões de chegadas e partidas coletivas, meios providenciais de renovamento da população corporal do globo, de ela se retemperar pela introdução de novos elementos espirituais mais depurados. Na destruição, que por essas catástrofes se verifica, de grande número de corpos, nada mais há do que rompimento de vestiduras; nenhum Espírito perece; eles apenas mudam de planos; em vez de partirem isoladamente, partem em bandos, essa a única diferença, visto que, ou por uma causa ou por outra, fatalmente têm que partir, cedo ou tarde.

Raça adâmica

38. De acordo com o ensino dos Espíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, se quiserem, uma dessas colônias de Espíritos, vinda de outra esfera, que deu origem à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão mesma, chamada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra já estava povoada desde tempos imemoriais, como a América, quando aí chegaram os europeus.

Mais adiantada do que as que a tinham precedido neste planeta, a raça adâmica é, com efeito, a mais inteligente, a que impele ao progresso todas as outras. A Gênese no-­la mostra, desde os seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem haver passado aqui pela infância espiritual, o que não se dá com as raças primitivas, mas concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos que já tinham progredido bastante. Tudo prova que a raça adâmica não é antiga na Terra e nada se opõe a que seja considerada como habitando este globo desde apenas alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas, antes tenderia a confirmá­-las.

Doutrina dos anjos decaídos e do paraíso perdido

43. Os mundos progridem, fisicamente, pela elaboração da matéria e, moralmente, pela purificação dos Espíritos que os habitam. A felicidade neles está na razão direta da predominância do bem sobre o mal e a predominância do bem resulta do adiantamento moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, pois que com a inteligência podem eles fazer o mal.

Logo que um mundo tem chegado a um de seus períodos de transformação, a fim de ascender na hierarquia dos mundos, operam-­se mutações na sua população encarnada e desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigrações. Os que, apesar da sua inteligência e do seu saber, perseveraram no mal, sempre revoltados contra Deus e suas leis, se tornariam daí em diante um embaraço ao ulterior progresso moral, uma causa permanente de perturbação para a tranquilidade e a felicidade dos bons, pelo que são excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos que adquiriram ao progresso daqueles entre os quais passam a viver, ao mesmo tempo que expiarão, por uma série de existências penosas e por meio de árduo trabalho, suas passadas faltas e seu voluntário endurecimento.

Formação primária dos seres vivos

1. Tempo houve em que não existiam animais; logo, eles tiveram começo. Cada espécie foi aparecendo, à proporção que o globo adquiria as condições necessárias à existência delas. Isto é positivo. Como se formaram os primeiros indivíduos de cada espécie? Compreende-se que, existindo um primeiro casal, os indivíduos se multiplicaram. Mas, esse primeiro casal, donde saiu? É um desses mistérios que entendem com o princípio das coisas e sobre os quais apenas se podem formular hipóteses. A ciência ainda não pode resolver o problema; pode entretanto, pelo menos, encaminhá-lo para a solução.

2. É esta a questão primordial que se apresenta: cada espécie animal saiu de um casal primitivo ou de muitos casais criados, ou, se o preferirem, germinados simultaneamente em diversos lugares?

Esta última suposição é a mais provável. Pode­-se mesmo dizer que ressalta da observação. Com efeito, o estudo das camadas geológicas atesta, nos terrenos de idêntica formação, e em proporções enormes, a presença das mesmas espécies em pontos do globo muito afastados uns dos outros. Essa multiplicação tão generalizada e, de certo modo, contemporânea, fora impossível com um único tipo primitivo.

Princípio vital


16.
Dizendo que as plantas e os animais são formados dos mesmos princípios constituintes dos minerais, falamos em sentido exclusivamente material, pois que aqui apenas do corpo se trata. Sem falar do princípio inteligente, que é questão à parte, há, na matéria orgânica, um princípio especial, inapreensível e que ainda não pode ser definido: o princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio se acha extinto no ser morto; mas, nem por isso deixa de dar à substância propriedades que a distinguem das substâncias inorgânicas. A química, que decompõe e recompõe a maior parte dos corpos inorgânicos, também conseguiu decompor os corpos orgânicos; jamais chegou, porém, a reconstituir, sequer, uma folha morta, prova evidente de que há nestes últimos o que quer que seja, inexistente nos outros.

Geração espontânea

20. É natural se pergunte por que não mais se formam seres vivos nas mesmas condições em que se formaram os primeiros que surgiram na Terra.

Sobre esse ponto, não pode deixar de lançar luz a questão da geração espontânea, que tanto preocupa a ciência, embora ainda esteja diversamente resolvida. O problema é este: Formam-se, nos tempos atuais, seres orgânicos pela simples reunião dos elementos que os constituem, sem germens, previamente produzidos pelo modo ordinário de geração, ou, por outra, sem pais nem mães?

Os partidários da geração espontânea respondem afirmativamente, apoiando-­se em observações diretas, que parecem concludentes. Pensam outros que todos os seres vivos se reproduzem uns pelos outros, firmados sobre o fato, que a experiência comprova, de que os germens de certas espécies vegetais e animais, mesmo dispersos, conservam latente vitalidade, durante longo tempo, até que as circunstâncias lhes favoreçam a eclosão. Esta maneira de entender deixa sempre em aberto a questão da formação dos primeiros tipos de cada espécie.

Escala dos seres orgânicos


24.
Entre o reino vegetal e o reino animal, nenhuma delimitação há nitidamente marcada. Nos confins dos dois reinos estão os zoófitos ou animais ­plantas, cujo nome indica que eles participam de um e outro: serve-­lhes de traço de união.

O homem corporal

26. Do ponto de vista corpóreo e puramente anatômico, o homem pertence à classe dos mamíferos, dos quais unicamente difere por alguns matizes na forma exterior. Quanto ao mais, a mesma composição de todos os animais, os mesmos órgãos, as mesmas funções e os mesmos modos de nutrição, de respiração, de secreção, de reprodução. Ele nasce, vive e morre nas mesmas condições e, quando morre, seu corpo se decompõe, como tudo o que vive. Não há, em seu sangue, na sua carne, em seus ossos, um átomo diferente dos que se encontram no corpo dos animais. Como estes, ao morrer, restitui à terra o oxigênio, o hidrogênio, o azoto e o carbono que se haviam combinado para formá-lo; e esses elementos, por meio de novas combinações, vão formar outros corpos minerais, vegetais e animais. É tão grande a analogia, que se estudam as suas funções orgânicas em certos animais, quando as experiências não podem ser feitas nele próprio.

27. Na classe dos mamíferos, o homem pertence à ordem dos bímanos. Logo abaixo dele vêm os quadrúmanos (animais de quatro mãos) ou macacos, alguns dos quais, como o orangotango, o chimpanzé, o jocó, têm certos ademanes do homem, a tal ponto que, por muito tempo, foram denominados: homens das florestas. Como o homem, esses macacos caminham eretos, usam cajados, constroem choças e levam à boca, com a mão, os alimentos: sinais característicos.

Os seis dias

1. — CAPÍTULO I. — 1. No começo criou Deus o Céu e a Terra. — 2. A Terra era uniforme e inteiramente nua; as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus flutuava sobre as águas. — 3. Ora Deus disse: Faça-se a luz; e a luz foi feita. — 4. Deus viu que a luz era boa e separou a luz das trevas. — 5. Deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite, e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia. — 6. Disse Deus também: Faça-se o Firmamento no meio das águas e que ele separe das águas as águas. — 7. E Deus fez o Firmamento e separou as águas que estavam debaixo do Firmamento das que estavam acima do Firmamento. E assim se fez. — 8. E Deus deu ao Firmamento o nome de céu; da tarde e da manhã se fez o segundo dia. — 9. Disse Deus ainda: Reúnam-se num só lugar as águas que estão sob o céu e apareça o elemento árido. E assim se fez. — 10. Deus deu ao elemento árido o nome de terra e chamou mar a todas as águas reunidas. E viu que isso estava bem.

O paraíso perdido

13. — CAPÍTULO II. — 9. Ora, o Senhor Deus plantara desde o começo um jardim de delícias, no qual pôs o homem que ele formara. — O Senhor Deus também fizera sair da terra toda espécie de árvores belas ao olhar e cujo fruto era agradável ao paladar e, no meio do paraíso (*), a árvore da vida, com a árvore da ciência do bem e do mal. (Ele fez sair, Jeová Eloim, da terra (min haadama) toda árvore bela de ver-se e boa para comer-se e a árvore da vida (vehetz hachayim) no meio do jardim e a árvore da ciência do bem e do mal.) 15. O Senhor tomou, pois, do homem e o colocou no paraíso de delícias, a fim de que o cultivasse e guardasse. — 16. Deu-lhe também esta ordem e lhe disse: Come de todas as árvores do paraíso. (Ele ordenou, Jeová Eloim, ao homem (hal haadam) dizendo: De toda árvore do jardim podes comer.) — 17. Mas, não comas absolutamente o fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porquanto, logo que o comeres, morrerás com toda a certeza. (E da árvore do bem e do mal (oumehetz hadaat tob vara) não comerás, pois que no dia em que dela comeres morrerás.)

Epístola de Tiago

A Epístola de Tiago é uma das cartas do Novo Testamento, assim conhecidas porque foram escritas como cartas circulares, isto é, para serem lidas em várias igrejas, ao contrário das "Epístolas de Paulo" que eram enviadas a igrejas específicas ou a determinados indivíduos. Entretanto fica evidenciado pelo conteúdo da carta que o autor direciona seus conselhos aos cristãos judeus recém-convertidos.

Autoria

Havia vários homens importantes no Novo Testamento que se chamavam Tiago. O autor identifica-se somente como “Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” (Tiago 1:1).

A carta é tradicionalmente atribuída a Tiago, irmão do Senhor. Ele é mencionado duas vezes nos Evangelhos (Mateus, 13:55; Marcos, 6:3), onde é identificado como um dos irmãos consanguíneos de Jesus Cristo. Esse Tiago somente se tornou um seguidor do Senhor após a Ressurreição. Ele estava entre os discípulos primitivos que, no cenáculo, esperavam pela descida do Santíssimo Espírito e “perseveram de modo unânime em oração e súplica” (Atos, 1:14). Ele foi martirizado nas mãos dos judeus no ano 63 d. C. conforme relata o historiador Flávio Josefo. De um homem nessa posição de responsabilidade e autoridade, haver-se-ia de esperar uma carta pastoral de conselhos práticos concernentes a questões que afetavam a vida espiritual da Igreja, sendo exatamente isto que é encontrado nessa epístola.

Primeira epístola de Pedro

Autoria

O autor se identifica como "Pedro, Apóstolo de Jesus Cristo" (I Pedro 1:1). Que ele é o bem conhecido apóstolo dos Evangelhos e de Atos, é confirmado tanto por evidências internas como externas. O autor descreve a si próprio como testemunha dos sofrimentos de Cristo (I Pedro 5:1), e existem vários ecos dos ensinamentos e feitos de Jesus na epístola (p.ex. I Pedro 5:2-3; João 21:15-17). Vários paralelos de pensamentos e frases entre 1 Pedro e os discursos de Pedro em Atos dão apoio adicional à autoria de Pedro (p. ex. I Pedro 2:7-8; Atos 4:10-11). Silvano foi o escriba da carta (5.12).

Destinatários

Foi escrita aos "estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia", cinco províncias romanas da Ásia Menor (1.1).

Fonte: Wikipédia 

Segunda epístola de Pedro

Data e local

O local mais provável onde a epístola teria sido escrita é a cidade de Roma. Há, porém, quem diga que esta carta é o último escrito do Novo Testamento, sendo escrita no fim do século I ou até em meados do século II.

Destinatários e propósito da obra

Os prováveis destinatários da carta seriam a Igreja como um todo, gentios e judeus cristãos espalhados pela Ásia Menor, que seriam as mesmas comunidades da primeira epístola, onde se proliferava o gnosticismo.

O propósito da obra é advertir os cristãos contra os ensinamentos dos falsos mestres, exortando-os a continuar crescendo na fé e no conhecimento de Cristo, o que demonstra uma forte semelhança com a epístola de Judas.

Primeira epístola de João

I João ou 1 João é a primeira epístola do apóstolo João, um dos livros do Novo Testamento da Bíblia.

Autoria

A autoria da epístola é atribuída, pela tradição cristã, ao apóstolo João.

O peso de evidências externas pode favorecer a autoria "joanina", pois existem possíveis alusões a I João nos escritos de Clemente de Roma (em I Clemente), Inácio de Antioquia e Pseudo-Clemente (na sua II Clemente). Outras, prováveis alusões, podem ser encontradas no Didaquê, Epístola de Barnabé, Pastor de Hermas, Justino Mártir, a Epístola a Diogneto, a Epístola de Policarpo e nos escritos de Pápias preservados em Ireneu. Referências mais obscuras a 1 João em Ireneu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionisio e no Cânone Muratori.

Evidências internas também apoiam a tese tradicional. Geralmente são alistadas três tipos delas, que são:

Segunda epístola de João

Trecho da Segunda Epístola de João

A Segunda Epístola de João, geralmente referida apenas como 2 João, é o vigésimo quarto livro do Novo Testamento da Bíblia. É o menor livro da Bíblia em quantidade de versículos, com apenas 13.

Autor e destinatário

O autor é o apóstolo João. Ele se apresenta como o "Presbítero". Nos anos de sua velhice João atuava como presbítero na Igreja de Éfeso.

Semelhanças óbvias com a Primeira Epístola de João e o Evangelho de João levam a crer que a mesma pessoa escreveu os três livros.

Terceira epístola de João

A Terceira Epístola de João, geralmente referida apenas como 3 João, é o vigésimo quinto e antepenúltimo livro do Novo Testamento da Bíblia e atribuído a João, o Evangelista, tradicionalmente considerado também o autor do Evangelho de João e das outras duas epístolas de João. A Terceira Epístola de João é uma carta privada redigida por um presbítero, e direcionada a um homem chamado Gaio, recomendando-lhe a hospitalidade a um grupo de cristãos liderados por Demétrio, que havia pregado o Evangelho na área onde Gaio vivia. O objetivo da carta é encorajar e fortalecer Gaio e adverti-lo contra Diótrefes, que se recusava a cooperar com o autor da carta.

Epístola de Judas

A Epístola de Judas, geralmente referida apenas como Judas, é o vigésimo sexto e penúltimo livro do Novo Testamento da Bíblia.

Autor e destinatário

A autoria da epístola é do discípulo Judas (Judas, irmão de Tiago) e não do apóstolo Judas Iscariotes. Já os destinatários da epístola poderiam ser judeus convertidos ao cristianismo espalhados pela Ásia Menor, embora a epístola não dê informações cabais para que público específico Judas teria se dirigido. O seu conteúdo apenas indica que os destinatários seriam pessoas conhecedoras do Antigo Testamento e das tradições judaicas, não havendo referências expressas aos gentios.

Data e local

Foi escrita provavelmente no ano 65. Outras suposições, porém, induzem que a obra teria sido escrita por volta dos anos 66 e 67, logo após a morte de Pedro, em razão das fortes semelhanças com a segunda carta deste outro apóstolo. No entanto, uma terceira possibilidade seria que Judas e Pedro tivessem se utilizado de uma fonte comum, talvez de um panfleto muito utilizado na época para alertar a Igreja contra os falsos mestres.

Quanto ao local onde a epístola teria sido escrita não existe até hoje uma correta identificação, ainda que existam suposições de que Judas teria enviado sua carta da Palestina ou do Egito.

Autenticidade

A epístola de Judas ou a carta de Judas considera-se autêntico por ser mencionado no Fragmento Muratoriano do segundo século EC. Acima de tudo, Clemente de Alexandria, do segundo século EC, o aceitou como sendo parte do cânon da bíblia. E ainda Orígenes o declarou como sendo uma obra de poucas linhas, mas de palavras salutares de graça celestial.

Conteúdo

O propósito principal dessa epístola é a advertência contra os mestres imorais e as heresias da época, que colocavam em risco a fé dos cristãos. Há quem diga que Judas estaria escrevendo contra os mestres ateus que afirmavam que aos cristãos seria permitido fazer tudo o quanto desejassem, sem temer o castigo divino. Assim, sua carta enfoca a apostasia, que seria a troca dos ensinamentos cristãos pelas falsas doutrinas.

A epístola é bem pequena e tem apenas 25 versículos em um único capítulo. Inicia-se com uma curta introdução de dois versos, fala sobre o perigo da atuação de homens perversos que estavam tentando alterar o propósito da fé cristã, dá exemplos históricos sobre os falsos mestres descrevendo o caráter destes, destaca o viver em santidade como o objetivo dos convertidos e conclui com sua benção apostólica.

Curiosamente, encontra-se nos seus versos 14 e 15 uma breve citação do livro apócrifo de 1 Enoque 60:8,1:9, sobre uma profecia do julgamento dos homens maus.

  • "Enoque, o sétimo depois de Adão" é uma citação de 1 Enoque, 60:8
  • "Eis que é vindo o Senhor com milhares de seus santos.." é uma citação de 1 Enoque, 1:9 (de Deuteronômio, 33:2)

Outra interpretação é de que o Senhor Jesus Cristo contou aos seus servos sobre as profecias de Enoque, e Judas escreveu sua epístola baseada nas palavras do próprio Jesus a respeito do profeta Enoque. O Primeiro Livro de Enoque foi escrito a partir do terceiro século antes de Cristo.

Um ponto da epístola que desperta a atenção é o seu verso 9 que fala sobre uma disputa entre o Arcanjo Miguel e o diabo pelo corpo de Moisés, incidente este que não está registrado em nenhuma outra parte das Escrituras, cuja narrativa é atribuída por alguns à citação de uma parte perdida de um livro antigo chamado de Assunção de Moisés, uma vez que o capítulo 34 de Deuteronômio nada diz a respeito do fato comentado pelo apóstolo. Outros consideram que Judas fala sobre a disputa entre o Arcanjo e o diabo pelo corpo do sumo sacerdote Josué (Zacarias 3:1-7), que foi talvez uma alegoria sobre a corrupção do sacerdócio, nos dias de Neemias:

  • Judas 23 E salvai alguns com temor, arrebatando-os do fogo, odiando até a túnica manchada da carne.
  • Zacarias 3:2 não é este um tição tirado do fogo? 3 Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo.

Fonte: Wikipédia 

Cronologia de Allan Kardec

Em maio, em casa da Sra. Plainemaison, por convite de seu amigo Carlotti, Rivail assiste, pela primeira vez, a uma sessão das mesas dançantes. Apesar do ceticismo, surpreende-se com as respostas inteligentes da “mesa”. Constata a revelação de uma nova lei, que mereceria ser estudada a fundo. Passa a investigar metodicamente os fenômenos, primeiro ali, depois em outros grupos.

Frequenta a casa dos Baudin, onde encontraria, na mediunidade passiva das jovens filhas do casal, inicialmente através da “cesta-de-bico ” (cestinha amarrada a um lápis), e depois na psicografia convencional, condições mais adequadas aos seus estudos. Apesar desta disposição favorável, no entanto, os contatos iniciais não conseguem entusiasmar Rivail, que, em meio a problemas de tempo, junto aos seus compromissos profissionais, quase deixa de comparecer às sessões.

É ainda Carlotti que é seu incentivador. Deixa aos seus cuidados cerca de 50 cadernos, nos quais vinha anotando as comunicações mediúnicas obtidas pelo seu grupo, formado por intelectuais, entre eles o dramaturgo Victorien Sardou. Ali, nos últimos anos, os espíritos, pela mediunidade da Srta. Japhet, haviam vertido um conjunto de ditados filosóficos, abrangendo as mais sérias questões humanas.

O Codificador imediatamente percebe a coerência e a relevância destes textos, que seriam o embrião da futura Doutrina Espírita. E renova seu animo nas pesquisas, agora centradas na revisão e sistematização deste material, principalmente com a colaboração das meninas Baudin. Interessante observar que muitos dos princípios defendidos pelos benfeitores espirituais, como o da reencarnação, eram contrários às suas concepções filosóficas.

É a época, também, em que teve a oportunidade de conhecer a Daniel Dunglas Home, o qual o seduz pela surpreendente mediunidade de efeitos físicos, bem como pelas qualidades humanas. Torna-se seu amigo, correspondente, e defensor, nas oportunidades em que o médium foi criticado em sua acidentada vida pública e pessoal.

1856

A 30 de abril, em casa do Sr. Roustan, a Srta. Japhet, utilizando-se da “cesta”, transmite a primeira revelação da missão de Rivail. Revela-se, também, seu guia espiritual, 0 Espirito “Verdade”.

1857

A 18 de abril, vem à luz a primeira edição de “O Livro dos Espíritos”, financiada pelo próprio Rivail. Também é criado o pseudônimo famoso: Allan Kardec (nome de Rivail em antiga encarnação celta). A intenção inicial era permanecer, mesmo, anônimo, insulado. Mas logo o movimento formado a partir desta obra se avolumou a tal ponto, que ele foi guindado, malgrado a preferência pessoal, à sua liderança, ao seu posto principal, à vida pública, enfim.

Continua a assistir sessões de efeitos físicos.

1858

Funda a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (mais tarde também chamada “Sociedade de Estudos Espíritas de Paris”, da qual exerceria a presidência até seu desencarne, embora sempre pondo o cargo à disposição dos associados). Lança “Instruções Práticas sobre as Manifestações Espíritas”. Inicia a publicação da “Revista Espírita” (que manterá, sozinho, tanto no financiamento, como na redação, por 11 anos).Utiliza médiuns videntes para observar as mais diversas cenas sociais, no seu aspecto espiritual.

1859

Publicado “O Que é o Espiritismo?” Peça de Mozart , recebida mediunicamente, é executada na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris. Críticos reconhecem o estilo do músico desencarnado. Experiências com “escrita direta” e com manifestações de pessoas vivas. Comunica aos leitores da “Revista Espírita” que a publicação fecha seu primeiro ano como um sucesso, com assinantes nos cinco continentes, garantindo a continuidade do empreendimento.

Crise na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris. Pensa em sair e continuar seus trabalhos num nível mais informal. Espíritos e associados o dissuadem.

1860

Nova edição, revista e consideravelmente ampliada, de “O Livro dos Espíritos”. Publica “Carta sobre o Espiritismo”. Adota, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, o sistema de submeter mensagens a exame critico. Nas férias da Sociedade, inicia a prática de visitação às sociedades Espíritas. Vai a Sens, Macon, Lion e Saint-Étienne. Primeiro contato com o Espiritismo de Lion, formado por operários, menos intelectual, mas mais centrado nas consequências morais da Doutrina. O codificador aprova entusiasta. Passa a morar na nova sede da Sociedade (aquisição tornada possível pela doação de 10 mil francos), onde também está o escritório da “Revista”. Com mais tempo para se dedicar ao esforço da Codificação, trabalha dia e noite.

1861

Lança “O Livro dos Médiuns”. Queima de livros Espíritas, na Espanha, por ordem do Santo Oficio: o famoso auto-de-fé de Barcelona, a 9 de outubro. Assiste, na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, a uma sessão de transporte de objetos .Nova visita a Lion, Sens e Macon. Viagem a Bordéus. A Sociedade de Estudos Espíritas inicia uma subscrição para ajudar operários com dificuldades financeiras.

1862

Recebe mensagem com centenas de assinaturas dos Espíritas de Lion, que o emociona muito. Retomo a esta comunidade, e visita a mais de 20 localidades, por sete semanas, assistindo a mais de cinqüenta reuniões. Surpreende-se com o intenso crescimento do espiritismo em Bordéus e Lion. Nesta cidade, uma grande reunião com seiscentos delegados.T ambém viagem de estudo ao processo de obsessão coletiva em Morzine e ao fenômeno de “Poltergeist” em Albe. Precisa esclarecer, na “Revista”, a denúncia de que suas viagens eram financiadas pela Sociedade (na verdade, ele as custeava). Inicia uma série de artigos, que se repetiriam por anos, ainda, em que se defende de acusações de utilizar o Espiritismo para enriquecer. Sua correspondência aumenta a tal ponto que se toma materialmente impossível dar-lhe vencimento. Responde aos temas propostos, coletivamente, na “Revista Espírita”. De forma direta, seletivamente. E indireta, por secretário. Está recebendo, também, entre 1200 a 1500 visitas ao ano. Refuta livros e artigos nos jornais, contra o Espiritismo. Lança a obra “O Espiritismo na sua Expressão mais Simples”, e “Resposta aos Espíritas lioneses por ocasião do ano novo”.

1863

Faz um balanço das comunicações mediúnicas já recebidas. Mais de 3600 mensagens. Três mil com moralidade irretocável. Mas apenas 300 publicáveis. E somente cem têm um mérito que considera excepcional. Intensifica-se a campanha contrária à nova doutrina, principalmente no clero. É sugerido nos púlpitos que se queimem as obras espíritas. O Bispo de Argel proíbe aos seus fiéis a prática do Espiritismo. Kardec refuta sermões e livros de contrapropaganda de religiosos na “Revista”.

1864

Viagem para estudar o vidente da Floresta de Zimmerwald, na Suíça. Investiga também casos de “poltergeist” em Poitiers. Visita aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia, na Bélgica. A Sociedade Espírita de Bruxelas, homenageando o visitante, finda um leito de criança na creche de Saint Josse Tenuode. Os livros espíritas entram no Index na Igreja Católica, a primeiro de maio. Inicia-se novo processo de combate ao Espiritismo, na forma de cursos ministrados por religiosos. Kardec desaconselha a continuidade da polêmica com o clero, em nome da liberdade de opinião, afirmando que o Espiritismo quer ser aceito por livre exame, não por imposição ou violência.

Publica “Imitação do Evangelho Segundo o Espiritismo”.

1865

Edita “O Evangelho Segundo o Espiritismo”(edição definitiva da obra anterior), “O Céu e o Inferno” e “Coleção de Preces Espíritas”.

1866

Num sonho, durante enfermidade, prevê, com 14 anos de antecedência, o invento de Dunlop, o pneu de borracha.

1867

Participa do livro “Ecos poéticos do além túmulo”, com o texto “Estudo acerca da poesia medianímica”.

1868

Vêm a público “Caracteres da Revelação Espírita”, e A Gênese os milagres e as predições segundo o Espiritismo “.Assiste a uma sessão de transporte de flores, sem se convencer muito do resultado.

1869

Redação final de “Constituição do Espiritismo”(em que trata da sua sucessão).Faz uma estimativa dos Espíritas, em todo o mundo: seis ou sete milhões. Quando está preparando uma nova mudança da Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, ao atender um caixeiro de livraria, que viera buscar a “Revista Espírita”, a 31 de março, cai pesadamente ao solo. Havia se lhe rompido um aneurisma . Desencarna de pé, trabalhando.