Alguns líderes de grandes países, homens que alegam ser cristãos, falam de guerras justas e de algum plano especial de Deus em relação a determinados países. Outros religiosos, dizendo que servem ao mesmo Deus, falam de guerras santas e de exterminação dos infiéis.
Como devemos encarar a guerra? Um discípulo de Cristo pode usar armas para matar outras pessoas? O que Deus diz nas Escrituras?
Princípio geral: Não matar
Desde a época dos Patriarcas, Deus tem mantido uma diferença fundamental entre a vida dos homens e a vida dos animais. Quando Caim matou Abel, Deus o castigou. Quando o Senhor deu permissão para comer animais, ele frisou a posição privilegiada do homem:
"Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu, porque Deus fez o homem segundo a sua imagem." (Gênesis 9:6).
Na lei dada aos israelitas no monte Sinai, Deus disse: "Não matarás" (Êxodo 20:13).
Exceção Específica: Pena de Morte
Às vezes, Deus dá uma regra geral e depois abre algumas exceções específicas. Por exemplo, ele proibiu que os judeus trabalhassem no sábado (Êxodo 20:8-11), mas especificamente autorizou o trabalho dos sacerdotes neste dia (Mateus 12:5). Ele proibiu o divórcio (Lucas 16:18; 1 Coríntios 7:11,12), mas abriu exceção no caso de traição (Mateus 5:32; 19:9).
Como havia feito logo depois do dilúvio, Deus aplicou a penalidade máxima em casos de homicídio na época da lei dada por meio de Moisés: "Quem ferir a outro, de modo que este morra, também será morto" (Êxodo 21:12; veja Números 35:16-21; Deuteronômio 19:11-13). Na lei dada aos judeus para governá-los espiritual e civilmente, Deus ordenou que a mesma punição fosse aplicada em vários outros casos de crimes contra a vontade dele. No Novo Testamento, o governo espiritual (na igreja) é distinto do governo civil. A igreja não tem direito de aplicar a pena de morte, mas o governo o tem (veja Romanos 13:1-7).
Exceção específica: Guerras autorizadas
Da mesma maneira que Deus proibiu homicídio, mas autorizou a pena de morte, ele também autorizou algumas guerras. Ele mandou que Moisés lutasse contra Seom (Deuteronômio 2:31), contra Ogue (Deuteronômio 3:1-3), e contra os midianitas (Números 31:1,2). Deus ordenou que Josué fosse à guerra contra Jericó e os povos de Canaã (Josué 6:1-21; 8:1,2; etc.). Deus enviou Saul para destruir os amalequitas, um povo especialmente rebelde contra o Senhor (1 Samuel 15:1-3) e usou Davi para castigar os filisteus (2 Samuel 6:19). Às vezes, Ele chamou outras nações contra o próprio povo dele, para castigar seus filhos desobedientes (Juízes 4:1,2; 6:1). Deus usou os caldeus (babilônios) para castigar o povo de Jerusalém (Jeremias 32:28-30; Habacuque 1:5,6).
Na sua soberania, justiça e perfeita sabedoria, Deus reina sobre as nações e usa uma para castigar outra. O princípio fundamental deste domínio se encontra em Provérbios 14:34: "A justiça exalta as nações, mas o pecado é o opróbrio dos povos." Nabucodonosor aprendeu "...que o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer" (Daniel 4:32). Jesus afirmou o mesmo fato quando disse a Pilatos: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada" (João 19:11). Jesus foi elevado acima de todo poder (Efésios 1:20-22). Paulo afirma: "Porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas" (Romanos 13:1). Deus exerce este domínio absoluto em justiça, castigando ou poupando nações conforme o procedimento delas (Jeremias 18:1-12).
Revelações específicas autorizando a participação em guerra
Em algumas das mesmas passagens já citadas, observamos casos nos quais Deus especificamente autorizou uma pessoa ou uma nação pelejar contra outro povo. A questão em tais casos não foi de agredir ou defender, mas de cumprir a vontade de Deus. Ele usou Israel para invadir a terra de Canaã, depois de séculos de pecados cometidos pelos povos que nela habitavam (veja Gênesis 15:16-21). Quando Deus falava: "...contende com eles em peleja" (Deuteronômio 2:24), cabia ao homem obedecê-lo. Deus especificamente autorizou algumas guerras.
Revelações específicas proibindo a participação em guerra
Mesmo na época em que Deus protegia seu povo escolhido, Ele nem sempre autorizou a participação dos seus servos em guerras. Jeremias, um dos grandes profetas do Velho Testamento, foi tratado como traidor por transmitir a mensagem de Deus ao povo de Jerusalém. Ao invés de se mostrar grande "patriota" aos olhos dos homens, ele aconselhou rendição aos babilônios! "A este povo dirás: Assim diz o Senhor: Eis que ponho diante de vós o caminho da vida e o caminho da morte. O que ficar nesta cidade há de morrer à espada, ou à fome, ou de peste; mas o que sair e render-se aos caldeus, que vos cercam, viverá... Pois voltei o rosto contra esta cidade, para mal e não para bem, diz o SENHOR; ela será entregue nas mãos do rei da Babilônia..." (Jeremias 21:8-10). Quando Josias, um bom rei, cometeu o erro de se intrometer numa guerra contra a vontade de Deus, ele perdeu a sua vida (2 Crônicas 35:20-24).
Ímpios castigando os mais justos
Um dos pontos difíceis para os servos de Deus é a questão de Deus permitir, ou até enviar, uma nação ímpia para castigar uma que parece mais justa. O livro de Habacuque trata deste problema em relação à Judá, que foi humilhado pelos babilônios. O profeta questionou o Senhor: "Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?" (Habacuque 1:13). Basicamente, Deus respondeu que Ele age na sua soberania, e nem sempre castiga pessoas e nações na ordem que parece certa ao homem. Ele usaria a Babilônia contra Judá, e depois castigaria os próprios babilônios.
Deus castigando os dois lados na mesma guerra
Nem sempre dá para identificar um lado totalmente bom e outro totalmente mau. Na guerra em Gibeá (Juízes 19-21), Deus usou as outras tribos de Israel para castigar os benjamitas, mas somente depois de deixar Benjamim matar 10% dos soldados israelitas. O contexto sugere o motivo: Deus estava irado com ambas as partes. Ele queria castigar os benjamitas pelos pecados terríveis que cometeram, mas as outras tribos não chegaram à batalha com mãos limpas.
O que deus tem revelado para hoje?
Hoje em dia, Deus não está enviando profetas com novas revelações, guiando reis e presidentes em decisões específicas sobre guerra. Já temos a palavra completa revelada para nos guiar (Judas 3; 2 Pedro 1:3,4; 2 Timóteo 3:16,17), e Deus não está nos dando novas revelações (Gálatas 1:6-9; 1 Coríntios 13:8-13; Zacarias 13:1-3). Temos que aplicar os princípios já revelados nas Escrituras.
O governo deve castigar criminosos. Romanos 13:1-7 e 1 Pedro 2:13-14 falam sobre esta responsabilidade dos governos autorizados por Deus.
Deus ainda domina e usa nações contra nações. Textos como Mateus 24 e o livro de Apocalipse mostram que o domínio de Deus não diminuiu depois do Velho Testamento. Ele não anuncia seus julgamentos da mesma forma de antes, mas ele ainda domina e castiga.
O cristão deve procurar viver em paz com todos. A nossa vocação é pacífica (Romanos 12:18). Nossa guerra é espiritual, e não carnal (2 Coríntios 10:3-6; Efésios 6:10-17). A única guerra santa no reino de Cristo é a peleja contra o pecado e as táticas do diabo. Esta guerra não requer violência. O nosso comandante nos manda amar os nossos inimigos e orar pelos que nos perseguem (Mateus 5:44,45).
Não há nenhuma revelação específica autorizando o cristão a tirar vidas em guerra. Em outras épocas, Deus especificamente mandou que Moisés, Josué, Saul, Davi e outros tirassem a vida dos inimigos. Na ausência de tal revelação hoje, o cristão deve respeitar o princípio geral revelado por Deus em todas as épocas. A vida humana foi santificada por Deus, e deve ser respeitada pelo homem.
Apesar dos argumentos bíblicos contra o envolvimento do cristão em guerras, alguns tentarão justificar tal violência, afirmando que o homem é obrigado pelo governo a matar. Duas observações: Se for assim, o cristão ainda teria que obedecer a Deus, e não aos homens (Atos 5:29). Muitos governos, incluindo o brasileiro, respeitam a consciência de cidadãos que, por motivos religiosos, não podem matar em serviço militar (Constituição Federal, artigo 5º, Incisos VI, VII e VIII).
A questão de guerra continuará perturbando os homens enquanto durar a terra. Como em todos os outros assuntos que pertencem à vida e a piedade, devemos buscar respostas na palavra de Deus (2 Pedro 1:3-4).
Fonte: Dennis Allan – Estudos Bíblicos
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