Arcanjo, do grego: arkhaggelos, (arkhos, principal,
primeiro; aggelos, mensageiro), latim eclesiáticos: archangelus, é o anjo
principal ou anjo da mais alta ordem (a oitava) na hierarquia celeste. Na
bíblia cristã, o termo aparece apenas duas vezes e apenas no Novo Testamento
(ver logo mais na seção Cristianismo).
Segundo a mesma Bíblia os arcanjos são sete mas apenas
somente três são mencionados: Miguel,
Rafael e Gabriel. Os outros nomes (Uriel,
Barachiel ou Baraquiel, Jehudiel, Saeltiel) aparecem nos livros apócrifos
de Enoque, o quarto livro de Esdras e na literatura rabínica. Entretanto, a
Igreja Católica só reconhece esses três nomes que estão nas Sagradas
Escrituras. Os outros podem servir como referência, mas não são doutrina.
JUDAÍSMO
A Bíblia hebraica usa os termos malakhi Elohim,
"anjo de Deus", malakhi Adonai, "Anjo do Senhor"), b'nei
elohim, "filhos de Deus" e ha-qodeshim, "os santos" para se
referir aos seres interpretados tradicionalmente como mensageiros angelicais.
Jacó lutando com o anjo, de Gustave Doré, 1885. |
Outros termos são utilizados em textos posteriores, como ha-elyonim,
"os elevados". De fato, anjos são pouco comuns, com exceção de obras
posteriores, como o Livro de Daniel, embora sejam mencionados rapidamente nas
histórias de Jacó (que, de acordo com diversas interpretações, teria lutado
contra um anjo) e Ló, que foi avisado por um anjo da destruição iminente das
cidades de Sodoma e Gomorra. Daniel é a primeira figura bíblica que se refere
aos anjos individualmente, por seus nomes.
Especula-se, portanto, que o interesse judaico nos anjos
tenha se desenvolvido durante o cativeiro na Babilônia. De acordo com o rabino
Simeão ben Lakish, de Tiberíade (230 - 270 d.C.), todos os nomes específicos
dos anjos teriam sido trazidos pelos judeus da Babilônia.
Não existem referências explícitas a arcanjos nos textos
canônicos da Bíblia hebraica (Antigo Testamento). No judaísmo pós-bíblico
certos anjos passaram a assumir uma importância particular, desenvolvendo
personalidades e papéis únicos. Embora se acredite que estes arcanjos tivessem
proeminência entre as hostes celestiais, nenhuma hierarquia sistematizada foi
desenvolvida. Metatron é considerado o mais importante dos anjos na Merkabah e
no misticismo cabalístico, e frequentemente desempenha a função de escriba. É
mencionado brevemente no Talmude, e figura com destaque nos textos místicos da
Merkabah. Miguel, que atua como guerreiro e representante de Israel (Daniel
10:13), é visto de maneira particularmente benevolente. Gabriel é mencionado no
Livro de Daniel (Daniel 8:15-17) e, rapidamente, no Talmude, bem como em muitos
textos místicos da Merkabah. As referências mais antigas aos arcanjos foram
feitas na literatura dos períodos intertestamentais (por exemplo, IV Esdras
4:36).
Dentro da tradição rabínica, na Cabala e no capítulo 20
do Livro de Enoque, e na Vida de Adão e Eva, o tradicional número de arcanjos é
mencionado como sendo de pelo menos sete, que são os principais. Três arcanjos
superiores também são referenciados com frequência: Miguel, Rafael e Gabriel.
Existe alguma confusão acerca de um dos oito nomes a seguir, no que tange ao
que é listado como não sendo realmente um arcanjo: Uriel, Sariel, Raguel e
Remiel (possivelmente o Ramiel do Apocalipse de Baruque, que presidiria sobre
as visões verdadeiras), Zadequiel, Jofiel, Haniel e Chamuel. O filósofo judaico
medieval Maimônides escreveu uma hierarquia angelical judaica.
Adicionalmente, lares que seguem as tradições judaicas
costumam entoar uma canção de boas-vindas aos anjos antes do início do jantar
da noite de sexta-feira (sabá), intitulada "Shalom Aleichem", que
significa "a paz esteja convosco". Isto tem sua origem numa
declaração atribuída ao rabino Jose ben Judah, que dois anjos acompanhariam
cada fiel ao retornar a seu lar depois dos serviços das noites de sexta-feira
na sinagoga, anjos associados com a 'boa inclinação' (yetzir ha-tov) e a 'má
inclinação' (yetzir ha-ra).
CRISTIANISMO
Figuras de arcanjos aparecem no Antigo Testamento, mas o
termo "arcanjo" não é usado nas versões em grego, no entanto, a
palavra aparece nas versões em grego de pseudepígrafos como os escritos de
Enoque que atribui classe aos anjos e apenas duas vezes na Bíblia cristã, apenas
no Novo Testamento:
Arcanjo Gabriel, pintura de Paolo de Matteis, 1712. |
I Tessalonicenses 4:16
“Porque o Senhor mesmo descerá do
céu com grande brado, com voz de arcanjo e com trombeta de Deus, e os mortos em
Cristo ressuscitarão primeiro.”
Judas 9:
“Mas quando Miguel, o arcanjo,
discutindo com o Diabo, altercava sobre o corpo de Moisés, não ousou
fulminar-lhe sentença de blasfemo, mas disse: O Senhor te repreenda.”
Digno de nota é o fato de que a Bíblia quando menciona
arcanjo o faz no singular, "o arcanjo", sendo este identificado por
seu nome, Miguel, que significa: "Quem é semelhante da Deus?"
Isso tem lógica, pois se o termo arcanjo significa
principal, primeiro, anjo principal na hierarquia celeste, obviamente, não pode
existir mais de um.
Os Testemunhas de Jeová interpretam a passagem que diz
que o Senhor mesmo descerá do céu com grande brado, com voz de arcanjo e com a
trombeta de Deus, como prova de que Jesus seria o próprio arcanjo Miguel.
No Antigo Testamento, Josué 5:13 até Josué 5:15 descreve
um mensageiro que se identifica como
"capitão do exército de Jeová.”
PROTESTANTISMO
O Novo Testamento fala frequentemente de anjos (por
exemplo, anjos trazem mensagens a Maria, José e os pastores; anjos falam com
Jesus após a sua tentação no deserto, outro anjo o visita durante sua agonia,
anjos são vistos na tumba do Cristo ressurrecto, e são anjos que libertam os
apóstolos Pedro e Paulo da prisão); somente duas referências, no entanto, são
feitas a "arcanjos": Miguel, na Epístola de Judas (1:9) e Primeira
Epístola aos Tessalonicenses (4:16), onde a "voz de um arcanjo" será
ouvida quando do retorno de Cristo.
Arcanjo Miguel, Guido Reni (na igreja Santa Maria della Concezione, em Roma, 1636) |
ORTODOXO
A tradição ortodoxa oriental menciona "milhares de
arcanjos"; no entanto, apenas são sete os Arcanjos que são venerados pelo
nome. Uriel é incluído, e os outros três mencionados com mais frequência são
Selafiel, Jegudiel e Baraquiel (um oitavo, Jeremiel, é por vezes mencionado
como arcanjo). A Igreja Ortodoxa celebra a Sinaxe do Santo Arcanjo Miguel e
todos os outros incorpóreos celestes em 8 de novembro do calendário litúrgico
ortodoxo oriental (para as igrejas que utilizam o calendário juliano, 8 de
novembro equivale ao 21 de novembro do calendário gregoriano). Entre outros
feriados em homenagem aos arcanjos estão a Sinaxe do Santo Arcanjo Gabriel, em
26 de março (8 de abril), e o Milagre do Santo Arcanjo Miguel em Colossas, em 6
de setembro (19 de setembro). Além destes, toda as segundas-feiras do ano são
dedicadas aos Anjos, com uma menção especial feita nos hinos litúrgicos de
Miguel e Gabriel. Na iconografia ortodoxa, cada anjo tem uma representação
simbólica:
Conselho Angelical. Ícone ortodoxo com os sete arcanjos tradicionais da Ortodoxia |
Miguel, que vem do hebraico "Quem como Deus?". São
Miguel foi descrito, no cristianismo primitivo, como um comandante, que empunha
em sua mão de direita uma lança com a qual ataca Lúcifer/Satã, e em sua mão
esquerda um ramo verde de palmeira. No topo de sua lança se encontra uma fita
de linho com uma cruz vermelha. O arcanjo Miguel é considerado especificamente
como um 'Guardião da Fé Ortodoxa', e um combatente contra as heresias.
Gabriel, que significa "Homem de Deus" ou "Poder
de Deus". É o arauto dos mistérios divinos, especialmente a encarnação de
Deus e de todos os mistérios relacionados a ela. É retratado desta maneira: em
sua mão direita segura uma lanterna acesa, e, na sua mão esquerda, um espelho
de jaspe. O espelho simboliza a sabedoria de Deus como um mistério escondido.
Rafael, que significa "cura de Deus" ou "Deus, o
que cura" (Tobias, 3:17 e 12:15). Rafael é retratado ao conduzir Tobias
(que carrega um peixe pescado no rio Tigre) com sua mão direita, e segurando um
jarro de alabastro, usado à época pelos médicos, em sua mão esquerda.
Uriel, que significa "Fogo de Deus", ou "Luz de
Deus" (III Esdras 3:1, 5:20). É retratado empunhando uma espada contra os
persas em sua mão direita, e uma chama na esquerda.
Salatiel, que significa "Intercessor de Deus" III
Esdras, 5:16. É retratado com seu rosto e seus olhos inclinados para baixo, com
suas mãos sobre o peito, em oração.
Jegudiel, significa "Glorificador de Deus". É retratado
com uma grinalda dourada em sua mão direita, e um chicote de três pontas na mão
esquerda.
Ícone russo do Arcanjo Jegudiel |
Baraquiel, que significa "Benção de Deus". É retratado
segurando uma rosa branca em sua mão, contra seu peito.
Jeremiel, que significa "Exaltação de Deus". É venerado
como um inspirador de pensamentos exaltados, que elevam uma pessoa a Deus (III
Esdras, 4:36). Por vezes é considerado um oitavo arcanjo.
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