São
Tiago, o Justo, morto em 62 d.C., também conhecido como Tiago de Jerusalém,
Tiago Adelfo (de Tiago Adelphoteos) ou ainda Tiago, foi uma
importante figura nos primeiros anos do Cristianismo. A Enciclopédia Católica
conclui que, baseado no relato de Hegésipo, Tiago, o Justo, é o mesmo que o
apóstolo conhecido por Tiago Menor, e, em linha com a maior parte dos
interpretes católicos, é também Tiago, filho de Alfeu e o Tiago, filho de Maria
de Cleofas. Ele não deve ser confundido, porém, com o também apóstolo conhecido
por Tiago Maior.
Tiago,
o Justo, era o líder do movimento cristão em Jerusalém nas décadas seguintes à
morte de Jesus, embora informação sobre a sua vida seja escassa e ambígua.
Diversas fontes primitivas citam-no como sendo irmão de Jesus. Historiadores já
interpretaram isto de diversas maneiras, como sendo irmão num "sentido
espiritual", ou literalmente, significando que Tiago era mesmo um parente
de Jesus - meio-irmão, irmão de criação, primo, outro parente e mesmo irmão de
sangue. A mais antiga liturgia cristã sobrevivente, a chamada liturgia de São
Tiago, o chama de "irmão de Deus" (Adelphotheos).
Com
exceção de um punhado de referências nos Evangelhos, as principais fontes de
sua vida são os Atos dos Apóstolos, as Epístolas paulinas, o historiador Flávio
Josefo e o autor cristão Hegésipo. Acredita-se que ele seja o autor da Epístola
de Tiago no Novo Testamento, o primeiro dos setenta Apóstolos e o autor do
Decreto Apostólico de Atos 15. Na Epístola aos Gálatas, Paulo de Tarso o
descreve em sua visita a Jerusalém, onde ele encontrou com Tiago e esteve com
Simão Pedro.
NOME
Tiago
é chamado de "o Justo" por causa de sua retidão e religiosidade. O
nome também nos ajuda a distingui-lo de outras importantes figuras da igreja
antiga de mesmo nome, como Tiago, filho de Zebedeu.
Ele
é por vezes chamado, no Cristianismo oriental, como Tiago Adelphotheos, ou
seja, Tiago, o irmão de Deus, baseado na referência da Liturgia de São Tiago e
no Novo Testamento, embora diferentes interpretações sobre a sua relação
precisa com o Jesus se desenvolveram com base nas crenças cristãs sobre Maria,
que foi designada Theotokos ("Mãe de Deus") em 431 d.C. no Concílio
de Éfeso. Portanto, ele pode simplesmente ter sido o primo de Jesus e ter sido
chamado como "o irmão de nosso Senhor".
VIDA
“Após
os apóstolos, Tiago, irmão do Senhor, chamado o Justo, foi feito líder da
igreja de Jerusalém. Muitos de fato são chamados de Tiago. Este era sagrado
desde o útero de sua mãe. Ele não bebia vinho ou bebida alcoólica, não comia
carne e nunca se barbeava ou se ungia com cremes ou se banhava. Ele apenas teve
o privilégio de entrar no Santo dos Santos, pois ele de fato não vestia roupas
de algodão, apenas de linho, e entrou sozinho no templo e orou tanto por seu
povo que seus joelhos têm a fama de terem adquirido a aspereza dos de um
camelo.” De Viris Illustribus, Jerónimo, citando Hegésipo.
Como
era ilegal para qualquer um exceto o sumo-sacerdote do templo adentrar o Santo
dos Santos e, mesmo assim, uma vez por ano durante o Yom Kippur, a citação de
Hegésipo por Jerônimo indica que Tiago era considerado um sumo-sacerdote. A
obra "Reconhecimentos", de Pseudo-Clemente, também sugere assim.
Jerônimo
cita também o deuterocanônico Evangelho dos Hebreus assim:
“Eis
que o Senhor, após ter dado suas roupas ao servente do sacerdote, apareceu para
Tiago, pois Tiago havia jurado que nunca mais comeria o pão daquele momento em
que bebeu do cálice do Senhor até que ele pudesse vê-lo, renascido dos mortos'.
Um pouco depois, o Senhor disse, 'traga uma mesa e pão'. E imediatamente ele
acrescentou, 'Ele tomou o pão e o abençoou e o partiu e o entregou a Tiago, o
Justo, e disse-lhe, "Meu irmão, coma seu pão, pois o Filho do Homem
renasceu dos mortos". E assim ele liderou a igreja de Jerusalém por trinta
anos, ou seja, até o sétimo ano de Nero.” De Viris Illustribus, Jerónimo, citando o
Evangelho dos Hebreus.
Paulo
descreveu Tiago como sendo uma das pessoas para que Cristo ressuscitado
apareceu (I Coríntios 15:3-8). Em seguida, na mesma epístola, cita Tiago de uma
forma que parece indicar que ele já teria sido casado (9:5). Em Gálatas, Paulo
lista Tiago com Cefas (Simão Pedro) e João como sendo os três
"pilares" da Igreja (Gálatas 2:9 e que irão ministrar aos
"circuncidados" em Jerusalém, enquanto Paulo e seus companheiros irão
ministrar para os não-circuncidados (2:12). Estes termos são geralmente
interpretados como significando judeus e gregos, que eram a maioria. Porém,
isto é uma simplificação, uma vez que na província romana da Judeia já existiam
alguns judeus que não eram circuncidados e alguns gregos, chamados de
prosélitos ou judaizantes, e outros povos, como os egípcios, os etíopes e os
árabes que o faziam.
Quando
Pedro, tendo escapado milagrosamente da prisão, precisa fugir de Jerusalém por
causa da perseguição de Herodes Agripa I, ele pede que Tiago seja informado
(Atos 12:17). Quando Paulo chegou a Jerusalém para entregar o dinheiro que ele
levantou para o fiéis, foi com Tiago que ele conversou, e foi Tiago que
insistiu que ele se purificasse ritualmente no Templo de Herodes para provar
sua fé e negar rumores de que estivesse pregando a rebelião contra a Torá (Atos
21:18 e seguintes), a acusação de antinomianismo.
CONCÍLIO
DE JERUSALÉM
Enquanto
os cristãos de Antioquia estavam preocupados se o cristãos gentios precisariam
ou não ser circuncidados para se salvarem, eles enviaram Paulo e Barnabé para
se encontrar com a igreja de Jerusalém. Tiago tomou um papel proeminente na
formação da decisão do Concílio (Atos 15:13 e seguintes). Tiago, dentre os que
sabemos o nome, foi o último a falar, após Pedro, Paulo e Barnabé. Ele então
proferiu o que chamou de sua "decisão" (15:19) - o sentido original
se aproxima mais de "opinião". Ele apoiou todos ao ser contra o
requisito e sugeriu proibições sobre consumo de sangue assim como carne
utilizada em sacrifícios e também à fornicação. Esta se tornou a regra do
Concílio, acordada por todos os apóstolos e anciãos e enviada para todas as
igrejas por carta.
PRIMAZIA
DE PEDRO
A
tradição, apoiada em inferências das escrituras, defende que Tiago liderou o
grupo de Jerusalém como seu primeiro bispo ou patriarca. Este não é
necessariamente um ponto contra a primazia de Pedro na igreja antiga e,
subsequentemente, no catolicismo romano. Embora Tiago, e não Pedro, tenha sido
o primeiro bispo daquele grupo, os católicos romanos acreditam que o bispo de
Jerusalém não seria, por isso, a liderança da igreja cristã, uma vez que esta
estava com Pedro como a "Rocha" (Kepha) e "Pastor Líder".
São João Crisóstomo opinou sobre o assunto: "Se alguém deve dizer, 'Por
que então foi Tiago quem recebeu a sé de Jerusalém?' Eu responderia que Ele
[Cristo] fez de Pedro o professor não daquela Sé, mas do mundo todo." Já
se sugeriu, por exemplo, que Pedro teria confiado a comunidade de Jerusalém
para Tiago quando ele foi forçado a fugir da cidade. De acordo com Eusébio de
Cesareia, Clemente de Alexandria, no final do século II d.C., afirmou o
seguinte sobre a ascensão de Tiago ao episcopado de Jerusalém: "Pois eles
disseram que Pedro e Tiago e João, após a ascensão do nosso Salvador, como se
também preferisse assim o Senhor, não lutaram por honras e escolheram Tiago, o
Justo, como bispo de Jerusalém.
MORTE
Segundo
uma passagem nas Antiguidades Judaicas, de Flávio Josefo, "o irmão de
Jesus, que era chamado de Cristo, cujo nome era Tiago" encontrou a morte
após a do procurador Porcius Festus, antes que Lucceius Albinus fosse empossado
- cuja data é 62 d.C. O sumo-sacerdote Ananus ben Ananus tirou vantagem desta
falta de controle imperial para reunir o Sinédrio que condenou Tiago "sob
acusação de ter violado a Lei" e logo o executou por apedrejamento. Josefo
relata ainda que o ato de Ananus foi amplamente considerado como um assassinato
judicial e teria ofendido muitos dos "que eram consideradas as pessoas
mais justas da cidade, e estritas na observância da Lei", que chegaram a
se encontrar com o procurador Albinus para pedir-lhe que interferisse no
assunto. Como resultado, o rei Agrippa trocou Ananus por Jesus, filho de
Damneus.
INFLUÊNCIA
A
Epístola de Tiago é tradicionalmente atribuída a Tiago, o Justo. Historiadores
modernos sobre a Igreja antiga tendem a colocar Tiago inserido nas tradições do
Cristianismo Judaico. Enquanto Paulo enfatizava a fé sobre a observação da Lei,
que ele considerava um fardo, uma disposição antinomiana, Tiago parece ter
desposado de um posição oposta, que já foi negativamente chamada de judaizante.
Um corpus (conjunto de obras) geralmente citado como prova disto são
Reconhecimentos e as Homilias de Clemente (também conhecidas como Literatura
clementina), versões de uma novela que já foi datada como sendo do início do
século II d.C., onde Tiago aparece como uma figura santa que é atacada por um
inimigo sem-nome que alguns críticos modernos acreditam ser Paulo.
Os
teólogos cristãos tradicionais defendem também que os dois tinham crenças
similares; os evangélicos afirmam que as afirmações de Tiago sobre "obras"
se referem às obras que Deus produz nos cristãos, enquanto que teólogos
ortodoxos e católicos afirmam que Paulo não diminuía a importância das obras
(citando passagens como Romanos 6 e 8) e que Tiago não estava se referindo às
obras cerimoniais da Torá (citando o fato de que no Concílio de Jerusalém,
Tiago declarou que apenas uma pequena porção da Torá serviria aos gentios
convertidos).
EPÍSTOLAS
Paulo
cita ter encontrado brevemente "Tiago, o irmão do Senhor" em Gálatas
1:18-20.
A
segunda vez que Paulo escreve sobre ter encontrado Tiago foi anos depois,
durante uma disputa sobre a aceitação dos gentios na Igreja antiga -
possivelmente o mesmo incidente citado nos Atos dos Apóstolos no Concílio de
Jerusalém. É notável como Paulo cita Tiago antes de Pedro (Cefas) em Gálatas
2:9-10.
A
terceira menção de Tiago em Gálatas está dentro do chamado "incidente em
Antioquia". De acordo com Paulo, Pedro não só temia Tiago como já tinha se
curvado à sua vontade, Gálatas 2:11-12.
Um
Tiago é mencionado na Primeira Epístola aos Coríntios de Paulo, como um dos que
encontraram Jesus após a ressurreição. Notável é como Paulo cita apenas Pedro e
Tiago entre os discípulos e outros que viram Jesus, I Coríntios 15:3-7. Isto em
geral é uma indicação de que este Tiago é o mesmo Tiago irmão caçula de Jesus.
Baseado nesta identificação, Paulo também pode estar se referindo ao Tiago que
aparece anteriormente em sua epístola, em I Coríntios 9:5.
EVANGELHOS
Os
Evangelhos de Marcos e de Mateus também mencionam Tiago como sendo irmão de
Jesus, em Mateus 13:55-56 e em Marcos 6:3, os nomes dos quatro "irmãos"
de Jesus estão listados, com Tiago aparecendo primeiro.
Ao
contrário dos evangelhos sinóticos, o Evangelho segundo João nunca menciona
ninguém chamado Tiago. Porém, ele lista os "irmãos de Jesus", sem
nomeá-los, como parte de seu grupo. Veja João 2:12 e João 7:3-10.
Os
Evangelhos sinóticos, de maneira similar à epístola de Paulo aos Gálatas,
reconhece um grupo central de três discípulos tendo os mesmos nomes que foram
dados por Paulo. Porém, os Evangelhos sempre listam Pedro primeiro e deixam a
exata identidade de Tiago indecisa.
Em
Lucas:
“Tendo chegado
à casa, não permitiu que ninguém entrasse com ele, senão Pedro, João, Tiago e o
pai e a mãe da menina.” (Lucas 8:51).
“Cerca de oito
dias depois de haver assim falado, levou consigo a Pedro, a João e a Tiago e
subiu ao monte para orar.” (Lucas 9:28)
Em
Marcos:
“Não permitiu
que ninguém o acompanhasse, senão Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago.” (Marcos
5:37)
“Seis dias
depois tomou Jesus consigo a Pedro, a Tiago e a João, e levou-os à parte sós a
um alto monte..”» (Marcos 9:2)
Em
Mateus:
“Seis dias
depois tomou Jesus consigo a Pedro e aos irmãos, Tiago e João, e levou-os a sós
a um alto monte.” (Mateus 17:1)
Note
como Tiago é sempre mencionado em segundo por Marcos, mas como último dos três
por Lucas. Note também, que o Evangelho de Mateus define o Tiago aqui como
sendo o Tiago irmão de João, presumivelmente um Tiago diferente.
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