A natureza íntima de Deus
1. O homem ainda não pode compreender a natureza íntima de Deus, porque para isso lhe falta um sentido. Na infância da Humanidade, o homem o confunde, frequentemente, com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui. Mas, à medida que o senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas e dele faz uma ideia mais justa, embora sempre incompleta.
2. Sem o conhecimento dos atributos de Deus, seria
impossível compreender a obra da criação. Este é o ponto de partida de todas as
crenças religiosas e foi justamente por não se terem referido a isso que as
religiões, em sua maioria, erraram em seus
dogmas.
O politeísmo
3. Os que não atribuíram a Deus a onipotência imaginaram muitos deuses. Os
que não lhe atribuíram a soberana bondade fizeram dele um Deus ciumento,
colérico, parcial e vingativo. A ignorância do princípio de que são infinitas
as perfeições de Deus foi que gerou o politeísmo.
4. Quando dizemos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, temos uma ideia mais ou menos completa dos seus atributos, do nosso ponto de vista. Mas devemos saber que existem coisas acima da inteligência do homem mais inteligente, as quais a nossa linguagem ainda não tem condições de expressar.
5. A razão nos diz que Deus deve ter essas perfeições no supremo grau, porque se tivesse uma só de menos, ou não fosse de um grau infinito, ele não seria superior a tudo e por conseguinte não seria Deus.
6.
Deus é Espírito, o Supremo Espírito! Absolutamente perfeito, não é comparável a
quaisquer outros seres, estando infinitamente acima de todos. Possuindo
sabedoria e poder infinitos, paira, onipresente, sobre todo o Universo, e a
tudo comunica o seu influxo e a sua vontade.
Atributos do criador
7. Deus é eterno, isto é, não teve começo e não tem fim.
Se tivesse tido princípio, houvera saído do nada ou então teria sido criado por
outro ser anterior e, nesse caso, este ser é que seria Deus. Se lhe
supuséssemos um começo ou um fim, poderíamos conceber uma entidade existente
antes dele e capaz de lhe sobreviver, e assim por diante, ao infinito.
8. Deus é imutável. Se estivesse sujeito a mudanças,
nenhuma estabilidade teriam as Leis que regem o Universo.
9. Deus é imaterial, isto é, a sua natureza difere de
tudo o que chamamos matéria. De outro modo, não seria imutável, pois estaria
sujeito às transformações da matéria.
10. Deus é onipotente. Se não possuísse o poder supremo, sempre se
poderia conceber uma entidade mais poderosa e assim por diante, até chegar-se
ao ser cuja potencialidade nenhum outro ultrapassasse. Esse então é que seria Deus.
11. Deus é soberanamente justo e bom. Em tudo e em toda
parte aparecem a bondade e a justiça de Deus na pro[1]vidência
com que, através de leis perfeitas, assiste suas criaturas. A sabedoria
providencial das leis divinas se revela, assim, nas mais pequeninas coisas,
como nas maiores, e essa sabedoria não permite se duvide nem da justiça nem da
bondade de Deus.
12. Deus é único. Não há deuses, mas um Deus somente,
soberano do Universo, criador absoluto e incriado, infinito e eterno. Se
houvesse muitos deuses não haveria unidade de vistas, nem unidade de poder na
ordenação do Universo.
A doutrina panteísta
13. Deus não é, como pretende a doutrina panteísta, a
resultante de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas.
Se Deus fosse assim, não seria Deus, porque seria efeito e não causa. Ora, Deus
não pode ser ao mesmo tempo a causa e o efeito.
14. Com uma reflexão madura, a razão nos faz ver quão
absurdo é querermos encontrar a demonstração de alguns atributos de Deus nas
considerações dos panteístas, como esta: "Os mundos sendo infinitos, Deus
é, por isso mesmo, infinito; o vazio ou o nada não estando em nenhuma parte,
Deus está em toda parte; Deus estando por toda parte, uma vez que tudo é parte
integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser
inteligente."
15. Também, de acordo com o panteísmo, "todos os
corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes
da Divindade". Sobre essa afirmativa Kardec escreveu: "Esta doutrina
faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema inteligência, seria
em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se a matéria
incessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma
estabilidade teria; achar-se-ia sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas
as necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da
Divindade: a imutabilidade".
16. Não sabemos tudo o que Deus é, mas sabemos o que ele
não pode deixar de ser; em face disso, a doutrina panteísta está em contradição
com suas propriedades mais essenciais. Ademais, as ideias panteístas confundem
o Criador com a criatura, absolutamente como se quisesse que uma máquina
engenhosa fosse uma parte integrante do mecânico que a concebeu
Fonte
Iniciação à doutrina espírita; Astolfo Olegário O. Filho; EVOC; PR.
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