Princípio vital
1. Existe na matéria orgânica um princípio especial, que ainda é incompreensível e não podemos por ora definir: o princípio vital. Ativo no ser vivente, esse princípio se acha inexistente no ser morto. A química, que decompõe e recompõe corpos inorgânicos, jamais chegou a reconstituir sequer uma folha de árvore, o que mostra que existe algo nos corpos orgânicos que os corpos inorgânicos não possuem.
2. Os seres orgânicos, ao se formarem, assimilam o princípio vital, ou seja, esse princípio se desenvolve em cada indivíduo por efeito da combinação dos elementos básicos que constituem os corpos orgânicos. Se esses elementos – o oxigênio, o hidrogênio, o nitrogênio e o carbono – não se aliassem, no momento da formação, ao princípio vital, dariam origem simplesmente a um corpo inorgânico. O princípio vital modifica a constituição molecular de um corpo, dando-lhe propriedades especiais.
A extinção do princípio vital
3. A atividade do princípio vital é alimentada durante a
vida pela ação do funcionamento dos órgãos. Cessada essa ação, por motivo da
morte, o princípio vital se esvai. A partir disso, a matéria se decompõe em
seus elementos constitutivos (oxigênio, carbono, nitrogênio etc.), os quais
poderão agregar-se para formar corpos inertes ou inorgânicos, ou manter-se
dispersos, até a formação de novas combinações.
4. A título de comparação, podemos dizer que na
combinação dos elementos para a formação dos corpos orgânicos desenvolve-se
eletricidade. Os corpos orgânicos seriam verdadeiras pilhas elétricas, que
funcionariam enquanto os elementos dessas pilhas
se acham em condições de produzir eletricidade: eis a vida. Quando essas
condições desaparecem, eles deixam de funcionar: eis a morte. O princípio vital
não seria, pois, mais que uma espécie particular de eletricidade, denominada
eletricidade animal, que durante a vida se desprende pela ação dos órgãos e
cuja produção cessa quando se dá a morte.
Princípio espiritual
5. Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente
há de ter uma causa inteligente. A existência do princípio espiritual é um fato
que não precisa de demonstração, pois ele se afirma pelos seus efeitos. Ninguém
há que não faça distinção entre o movimento mecânico de um sino que o vento
agita e o movimento intencional do mesmo sino para se dar um sinal, um aviso.
Ora, não podendo a própria massa desse sino pensar, tem-se de concluir que o
move uma inteligência à qual ele serve de instrumento para que se manifeste.
6. O princípio espiritual tem existência própria.
Individualizado, o elemento espiritual constitui os seres chamados Espíritos,
que são individualidades inteligentes, incorpóreas, que povoam o Universo.
Criados por Deus, independem da matéria. Prescindindo do mundo corporal, agem
sobre ele e, corporificando-se através da carne, recebem estímulos,
transmitindo impressões, em intercâmbio expressivo e contínuo.
7. Havendo seres que vivem e não pensam, quais as
plantas, e corpos humanos que ainda se revelam animados de vida orgânica quando
já não há qualquer manifestação de pensamento, como na morte encefálica, é
justo concluir 66 que a vida orgânica reside num princípio independente da vida
espiritual. A vida e a inteligência originam-se, portanto, de dois princípios
distintos. Uma procede do princípio vital; a outra, do princípio espiritual.
A natureza dos espíritos
8. A natureza dos Espíritos é algo do qual pouco ou nada
sabemos. Seria o Espírito um ser imaterial? Respondendo a essa pergunta, O
Livro dos Espíritos nos explica: “Imaterial não é bem o termo; incorpóreo seria
mais exato, pois deves compreender que, sendo criação, o Espírito há de ser
alguma coisa. É matéria quintessenciada, mas sem analogia para vós outros, e
tão etérea que escapa inteiramente ao alcance de vossos sentidos” (L.E., item 82).
9. Na mesma questão, logo abaixo, Kardec observou: “Dizemos que os Espíritos
são imateriais, porque, pela sua essência, diferem de tudo o que conhecemos sob
o nome de matéria”. Um povo de cegos careceria de termos para exprimir a luz e
seus efeitos; ora, nós somos verdadeiros cegos com relação à essência dos seres
inteligentes que povoam o espaço infinito.
Fonte
Iniciação à doutrina espírita; Astolfo Olegário O. Filho; EVOC; PR.
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