O Espírito da Verdade ou o Espírito de Verdade é um
espírito citado nas obras de Allan Kardec. A citação ocorre, primeiramente, em
O Livro dos Espíritos, no último parágrafo dos prolegômenos, onde os
participantes ativos da obra são
apresentados.
“...Lembra-te de que
os Bons Espíritos só dispensam assistência aos que servem a Deus com humildade
e desinteresse e que repudiam a todo aquele que busca na senda do Céu um degrau
para conquistar as coisas da Terra; que se afastam do orgulhoso e do ambicioso.
O orgulho e a ambição serão sempre uma barreira erguida entre o homem e Deus.
São um véu lançado sobre as claridades celestes, e Deus não pode servir-se do
cego para fazer perceptível a luz.
São João Evangelista,
Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, O Espírito da Verdade, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin,
Swedenborg, etc.”
Muitos sustentam que o Espírito da Verdade seria de fato
o Espírito guia (mentor espiritual) de uma falange de espíritos ou a própria
falange de Espíritos que firmaram os conceitos da codificação espírita;
enquanto outros afirmam que ele seria o próprio Jesus Cristo. Este teria usado
o pseudônimo “O Espírito da Verdade” para autografar as mensagens psicografadas
nas obras básicas do Espiritismo. Para corroborar essa afirmação, dizem que O
Espírito da Verdade teria se manifestado isoladamente em várias comunicações
contidas no O Evangelho Segundo o Espiritismo. Em outras tantas comunicações os
espíritos presentes não se identificavam como O Espírito da Verdade e sim como
nomes de grandes personalidades históricas, mensageiros de Jesus. A tomar como
exemplo Santo Agostinho, São Luiz, Fénelon, entre outros...
Jesus afirmou também “Ainda
tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando
vier aquele Espírito da verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não
falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há
de vir.” (João 16:12-13)
No livro O Espírito da Verdade, de Chico Xavier e Waldo
Vieira, ditado por diversos espíritos, o verbete "espírito da
verdade" aparece apenas uma vez no livro sendo utilizado em letras
minúsculas no seguinte contexto: "Nele
se refletem os pensamentos daqueles servos menores de teus Servos Maiores, aos
quais confiaste, em círculos mais estreitos de ação, a sublime tarefa de
reviver o espírito da verdade, nos tempos calamitosos de transição que o
Planeta atravessa". Porém nas obras de Allan Kardec o espírito que
teria se apresentado a ele como sendo "A Verdade" e que teria participado
ativamente da Codificação Espírita é sempre citado em letras maiúsculas tanto
nas versões em português quanto nas versões em francês. Atualmente a Federação
Espírita Brasileira, dentre outras editoras, utiliza o nome O Espírito de
Verdade em suas obras para se referir ao Espírito que é citado nas obras de
Allan Kardec.
O ESPÍRITO DA VERDADE NA CODIFICAÇÃO ESPÍRITA
O Evangelho Segundo o
Espiritismo
Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec,
temos no capítulo I, item 7:
“Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o
Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe
execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve,
completa e explica, em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas
sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou
e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que
preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o
reino de Deus na Terra.”
Cpítulo VI, item 5, Advento do Espírito da Verdade:
“Venho, como outrora aos transviados filhos de Israel,
trazer-vos a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como o
fez antigamente a minha palavra, tem de lembrar aos incrédulos que acima deles
reina a imutável verdade: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinem as
plantas e se levantem as ondas. Revelei a doutrina divinal. Como um ceifeiro,
reuni em feixes o bem esparso no seio da Humanidade e disse: “Vinde a mim, todos vós que sofreis."
Mas, ingratos, os homens afastaram-se do caminho reto e largo que conduz ao
reino de meu Pai e enveredaram pelas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não
quer aniquilar a raça humana; quer que, ajudando-vos uns aos outros, mortos e
vivos, isto é, mortos segundo a carne, porquanto não existe a morte, vos
socorrais mutuamente, e que se faça ouvir não mais a voz dos profetas e dos
apóstolos, mas a dos que já não vivem na Terra, a clamar: Orai e crede! pois
que a morte é a ressurreição, sendo a vida a prova buscada e durante a qual as
virtudes que houverdes cultivado crescerão e se desenvolverão como o cedro.
Homens fracos, que compreendeis as trevas das vossas inteligências, não
afasteis o facho que a clemência divina vos coloca nas mãos para vos clarear o
caminho e reconduzir-vos, filhos perdidos, ao regaço de vosso Pai. Sinto-me por
demais tomado de compaixão pelas vossas misérias, pela vossa fraqueza imensa,
para deixar de estender mão socorredora aos infelizes transviados que, vendo o
céu, caem nos abismos do erro. Crede, amai, meditai sobre as coisas que vos são
reveladas; não mistureis o joio com a boa semente, as utopias com as verdades.”
Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instruí-vos, este o segundo.
No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros
que nele se enraizaram. Eis que do além-túmulo, que julgáveis o nada, vozes vos
clamam: "Irmãos! Nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os
vencedores da impiedade." - O
Espírito da Verdade. Paris, 1860.”
O Livro dos Médiuns
Em O Livro dos Médiuns de Allan Kardec, no capítulo IV,
item 48, temos:
Sistema unispírita, ou mono-espírita.
“Como variedade do sistema otimista, temos o que se
baseia na crença de que um único Espírito se comunica com os homens, sendo esse
Espírito o Cristo, que é o protetor da Terra. Diante das comunicações da mais
baixa trivialidade, de revoltante grosseria, impregnadas de malevolência e de
maldade, haveria profanação e impiedade em supor-se que pudessem emanar do
Espírito do bem por excelência. Se os que assim o creem nunca tivessem obtido
senão comunicações inatacáveis, ainda se lhes conceberia a ilusão. A maioria
deles, porém, concordam em que têm recebido algumas muito ruins, o que explicam
dizendo ser uma prova a que o bom Espírito os sujeita, com o lhes ditar coisas
absurdas. Assim, enquanto uns atribuem todas as comunicações ao diabo, que pode
dizer coisas excelentes para tentar, pensam outros que só Jesus se manifesta e
que pode dizer coisas detestáveis, para experimentar os homens. Entre estas
duas opiniões tão opostas, quem sentenciará? O bom-senso e a experiência.
Dizemos: a experiência, por ser impossível que os que professam ideias tão
exclusivas tudo tenham visto e visto bem.
Quando se lhes objeta com os fatos de identidade, que
atestam, por meio de manifestações escritas, visuais, ou outras, a presença de
parentes ou conhecidos dos circunstantes, respondem que é sempre o mesmo
Espírito, o diabo, segundo aqueles, o Cristo, segundo estes, que toma todas as
formas. Porém, não nos dizem por que motivo os outros Espíritos não se podem
comunicar, com que fim o Espírito da
Verdade nos viria enganar, apresentando-se sob falsas aparências, iludir
uma pobre mãe, fazendo-lhe crer que tem ao seu lado o filho por quem derrama
lágrimas. A razão se nega a admitir que o Espírito, entre todos santo, desça a
representar semelhante comédia. Demais, negar a possibilidade de qualquer outra
comunicação não importa em subtrair ao Espiritismo o que este tem de mais
suave: a consolação dos aflitos? Digamos, pura e simplesmente, que tal sistema
é irracional e não suporta exame sério.”
A Gênese
Em A Gênese de Allan Kardec, temos no capítulo I, item 42:
Demais, se se considerar o poder moralizador do
Espiritismo, pela finalidade que assina a todas as ações da vida, por tornar
quase tangíveis as consequências do bem e do mal, pela força moral, a coragem e
as consolações que dá nas aflições, mediante inalterável confiança no futuro,
pela ideia de ter cada um perto de si os seres a quem amou, a certeza de os
rever, a possibilidade de confabular com eles; enfim, pela certeza de que tudo
quanto se fez, quanto se adquiriu em inteligência, sabedoria, moralidade, até à
última hora da vida, não fica perdido, que tudo aproveita ao adiantamento do
Espírito, reconhece-se que o Espiritismo realiza todas as promessas do Cristo a
respeito do Consolador anunciado. Ora, como é o Espírito da Verdade que preside ao grande movimento da regeneração,
a promessa da sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, é ele
o verdadeiro Consolador.
No capítulo XVII, item 37:
As religiões que se fundaram no Evangelho não podem,
pois, dizer-se possuidoras de toda a verdade, porquanto ele, Jesus, reservou
para si a complementação ulterior de seus ensinamentos.
No capítulo XVII, item 39:
O Consolador é, pois, segundo o pensamento de Jesus, a
personificação de uma doutrina soberanamente consoladora, cujo inspirador há de
ser o Espírito da Verdade.
O ESPÍRITO DA VERDADE NAS OBRAS COMPLEMENTARES DE ALLAN
KARDEC
Revista Espírita
Revista Espírita de 1861, pág. 305, na Epístola de Erasto
aos Espíritas Lioneses, o Espírito Erasto diz:
“Não poderíeis crer o quanto estou orgulhoso em
distribuir, a todos e a cada um, os elogios e os encorajamentos que o Espírito da Verdade, nosso mestre bem
amado, me ordenou conceder às vossas piedosas coortes: a ti, Diloud, a ti, sua
digna companheira e a todos vossos devotados missionários que derramais os
benefícios do Espiritismo, obrigado pelo vosso concurso e pelo vosso zelo.”
Revista Espírita de 1864, pág.16, no texto Um caso de
Possessão – Senhorita Julie, o Espírito Hahnemann relata:
“Essas obsessões frequentes terão também um lado muito
bom, naquilo que sendo penetrada pela prece e pela força moral, pode-se fazê-la
cessar e adquirir o direito de expulsar os maus Espíritos, cada um procurará,
pela melhoria de sua conduta adquirir esse direito que o Espírito da Verdade, que dirige este globo, conferirá quando for
merecido. Tende fé e confiança em Deus, que não permite que se sofra
inutilmente e sem motivo.”
Revista Espírita de 1864, pág. 399, O Espírito da
Verdade, na Comunicação Espírita, afirma:
“Há várias moradas na casa de meu Pai, eu lhes disse há
dezoito séculos. Estas palavras o Espiritismo veio fazer compreendê-las. E vós,
meus bem-amados, trabalhadores que suportais o ardor do dia, que credes ter a
vos lamentar da injustiça da sorte, bendizei vossos sofrimentos; agradecei a
Deus que vos dá os meios de quitar as dívidas do passado; orai, não dos lábios,
mas do vosso coração melhorado, para vir tomar, na casa de meu Pai a melhor
morada; porque os grandes serão rebaixados; mas, vós o sabeis, os pequenos e os
humildes serão elevados.”
Revista Espírita de 1866, pág. 222, no texto Qualificação
de Santo aplicada a certos espíritos, se ensina:
“O espírito que ditou a comunicação acima é, pois, muito
absoluto no que concerne a qualificação de santo, e não está na verdade dizendo
que os Espíritos superiores se dizem simplesmente Espíritos da Verdade, qualificação que não seria senão um orgulho
mascarado sob outro nome, e que poderia induzir em erro se tomado ao pé da
letra, porque ninguém pode se gabar de possuir a verdade absoluta, não mais do
que a santidade absoluta. A qualificação de Espírito da Verdade, não pertence senão a um e pode ser considerada
como nome próprio; ela é especificada no evangelho. De resto, esse Espírito se
comunica raramente, e somente em circunstâncias especiais; deve-se manter em
guarda contra aqueles que se apoderam indevidamente desse título: são fáceis de
se reconhecer, pela prolixidade e pela vulgaridade de sua linguagem.”
Revista Espírita de 1867, pág 271, no texto Caracteres da
Revelação Espírita, descreve-se:
“Ora, como é o Espírito
da Verdade que preside ao grande movimento de regeneração, a promessa de
seu advento se encontra do mesmo modo realizada, porque, por consequência, ele
é que é o verdadeiro Consolador.”
Revista Espírita de 1868, pág. 49, o Espírito Lamennais,
no texto Espíritos Marcados, esclarece:
“Sim, meus filhos, o povo caminhará mais depressa na nova
mensagem anunciada pelo próprio Cristo, e todos virão escutar essa divina
palavra, porque nela reconhecerão a linguagem da verdade e o caminho da
salvação. Deus que permitiu esclarecer, sustentar vossa caminhada até esse dia,
nos permitirá ainda vos dar as instruções que vos são necessárias.”
Revista Espírita de 1868, pág. 51, o Espírito Erasto, no
texto Futuro do Espiritismo, informa:
“Eis, meus filhos, a verdadeira lei do Espiritismo, a
verdadeira conquista de um futuro próximo. Caminhai, pois, em vosso caminho
imperturbavelmente, sem vos preocupar com as zombarias de uns e amor-próprio
ferido de outros. Estamos e ficaremos convosco, sob a égide do Espírito da Verdade, meu senhor e o
vosso.”
Obras Póstumas
Em Obras Póstumas de Allan Kardec, na segunda parte,
temos Perguntas de Kardec:
“Reconhecê-lo-ei, depois de minha morte, no mundo dos
Espíritos?”
Resposta: Sobre isso não pode haver dúvida; será ele quem
virá receber-te e felicitar-te, se houveres desempenhado bem tua tarefa.
“Meu espírito familiar, quem quer que tu sejas,
agradeço-te o me teres vindo visitar. Consentirás em dizer-me quem és?”
Resposta: Para ti chamar-me-ei A VERDADE e todos os
meses, aqui, durante um quarto de hora, estarei à tua disposição.
“Terás animado na terra alguma personagem conhecida?”
Resposta: Já te disse que, para ti sou A VERDADE; isto,
para ti, quer dizer discrição; nada mais saberás a respeito.
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