LIVRO PRIMEIRO - AS CAUSAS PRIMEIRAS
CAPÍTULO I - DEUS
PANTEÍSMO
16. Pretendem os que
professam esta doutrina achar nela a demonstração de alguns dos atributos de
Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo
o vazio, ou o nada em parte alguma, Deus está por toda parte; estando Deus em
toda parte, pois que tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos
da Natureza uma razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio?
A razão. Refleti maduramente
e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.
Comentário de Allan Kardec
Esta
doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de suprema
inteligência, seria em ponto grande o que somos em ponto pequeno. Ora, transformando-se
a matéria incessantemente, Deus, se fosse assim, nenhuma estabilidade teria; achar-se-ia
sujeito a todas as vicissitudes, mesmo a todas as necessidades da Humanidade;
faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. Não se
podem aliar as propriedades da matéria à ideia de Deus, sem que ele fique rebaixado
ante a nossa compreensão e não haverá sutilezas de sofismas que cheguem a
resolver o problema da sua natureza íntima. Não sabemos tudo o que ele é, mas
sabemos o que ele não pode deixar de ser e o sistema de que tratamos está em
contradição com as suas mais essenciais propriedades. Ele confunde o Criador
com a criatura, exatamente como o faria quem pretendesse que engenhosa máquina
fosse parte integrante do mecânico que a imaginou.
A
inteligência de Deus se revela em suas obras como a de um pintor no seu quadro;
mas, as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o pintor que
o concebeu e executou.
DEUS
É ESPÍRITO
Se
Deus é perfeito e é Espírito, não podemos compará-lo com as formas mutáveis. E
sob o empuxo do progresso, tudo que existe na imensidão indescritível do
universo, do átomo ao ninho cósmico, é, pois, criação ideada pelo seu poder
fantástico, que ainda não podemos perceber, por nos faltarem sentidos para
isso. Estamos limitados, ou condicionados, no mínimo das nossas forças, que por
enquanto dormem no centro da nossa consciência, sem poder participar dos nossos
mais profundos interesses.
Somos
crianças em comparação às grandes almas. Crivamos de perguntas, por vezes, de
pouco interesse, aqueles que achamos situados em grau mais elevado do que nós,
com fome e sede de saber, em se referindo às coisas do Espírito, e nem sempre
avaliamos a luz que realmente suportamos, pelas trevas que ainda nos circundam.
Se todo pedido é uma oração, na filosofia do Espírito, a resposta não se faz
esperar e vem gota a gota para nos conscientizar da existência da bondade
divina e do amor que Ele dispensa a todas as criaturas.
Já
falamos muitas vezes, repetindo a fala dos benfeitores maiores, que Deus é uma
personalidade individual, e não o conjunto de todas as coisas criadas por Ele.
Entretanto, Ele, a majestosa força divina, está em toda parte por meios que
desconheces, por se tratarem de fluidos sutis operando em uma faixa que somente
as grandes almas poderão constatar, pelos poderes inerentes às suas perfeições.
A
primeira ideia de se comparar a natureza como sendo diretamente Deus, é que ela
manifesta em todas as suas nuances, perfeita harmonia em todos os sentidos da
sua atuação, porém, cabe a nós pesquisar e entender, descobrir e divulgar, que
toda essa simetria é participação das leis criadas por Ele, no vigor da sua
mente incomparável. É pois, a sua imagem, como um canal de televisão que
reflete no vídeo a perfeita estrutura do real, sendo que, no caso com a
Divindade, a perfeição é a tônica do ambiente. As imagens do Senhor são vivas e
demonstram os seus mais puros atributos, nunca falhando nos seus mais delicados
cinetismos, no sustentar da vida. O visual do infinito não é Deus na sua
unidade perfeita, como o quadro não é o pintor. Comparando a obra com o autor,
a primeira constitui um pálido reflexo da sua personalidade, viva e distinta no
lugar que ocupa.
Parece
que estamos falando muito sobre o Grande Arquiteto do Universo, mas esse é o
nosso interesse, porque falar de Deus e viver na sua vibração constante é a
coisa mais sublime da vida. Admiramos muito “o Deus lhe pague, o Deus lhe ajude, o vai com Deus e a paz do Senhor seja
convosco”, muito usados pelos homens. São mantras sagrados que nos
cobrem de luz, quando pronunciados com amor e respeito. A Doutrina que faz de
Deus um ser material, o faz por falta de notícias do mais além, ou por medo de
pesquisar a verdade e seguir as rotas do progresso, que faz caírem os véus na
gradação das forças humanas e espirituais Nada devemos temer, desde que
estejamos em planos de mutações para o nosso próprio bem.
O
mundo espiritual que nos dirige, nos atende de acordo com as nossas
necessidades, e não deixa de guiar e instruir quem verdadeiramente deseja
aprender. Não devemos esquecer que Deus é um sol de vida, que alimenta e dirige
todas as vidas saídas das suas mãos luminosas, perfeitas.
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