LIVRO PRIMEIRO - AS CAUSAS PRIMEIRAS
CAPÍTULO II - ELEMENTOS GERAIS DO
UNIVERSO
ESPÍRITO E MATÉRIA
28. Pois que o espírito é,
em si, alguma coisa, não seria mais exato e menos sujeito a confusão dar aos
dois elementos gerais as designações de: matéria inerte e matéria inteligente?
As palavras pouco nos
importam. Compete-vos a vós formular a vossa linguagem de maneira a vos
entenderdes. As vossas controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes
acerca dos termos que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para
exprimir o que não vos fere os sentidos.
Comentário de Allan Kardec
Um
fato patente domina todas as hipóteses: vemos matéria destituída de
inteligência e vemos um princípio inteligente que independe da matéria. A
origem e a conexão destas duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não
de uma só fonte; se há pontos de contacto entre ambas; se a inteligência tem
existência própria, ou se é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à
opinião de alguns, uma emanação da Divindade, ignoramos. Elas se nos mostram
como sendo distintas; daí o considerarmo-las formando os dois princípios
constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina
todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos essenciais.
A essa inteligência suprema é que chamamos Deus.
A
MISSÃO DA PALAVRA
Aconselhamos
ao leitor reler, antes de iniciar esta leitura, o sábio comentário de Allan
Kardec referente à pergunta número vinte e oito, para que tenha força para
acalmar o impulso de saber, até onde deve ser alcançado, porque neste rumo das
revelações não temos outra coisa a dizer além daquilo que ele expõe, inspirado
nas mais altas forças de vida. É bom, e muito bom, que o coração ajude a
palavra, inspirando-a na sua grande missão de falar construindo, e construir
falando certo.
O
verbo que o homem já domina com certa facilidade, seu filho de longa data,
educado na boca do sábio, tem a missão junto a todos os seus recursos, de
aprofundar-se nos segredos da natureza e fazer os mesmos homens compreenderem
as belezas da criação, porém, é de ordem comum entre as coisas de Deus, que ele
fale com toda a simplicidade, sem esquecer a clareza dos princípios.
A
missão da palavra é sublimada, desde quando temos outros sentidos desenvolvidos
para compreendê-la. Para tanto, o nosso dever é educá-la, naquela escola cujo Mestre
maior é Nosso Senhor Jesus Cristo. Com Ele a palavra atingiu os cimos da
evolução, coroando, com a mais alta condecoração espiritual, o verbo, ao falar
como o fez, quando da sua estada divina junto a nós, da mais elevada virtude
vivenciada nos caminhos da Terra: o amor.
A
sabedoria de Deus confunde o raciocínio humano. A essência divina, ao sair da
sua pureza lirial, da sua unidade absoluta e indivisível, toma-se díade,
manifestando-se em tudo com todos os valores correspondentes às suas mutações,
para melhor servir, pela força e claridade do progresso. A razão é pobre para
explicar os segredos do Criador. A evolução tem o poder de transformar a
inteligência em sentido altamente dominante, na arte de conhecer. Dentro de nós
existem, como sabemos, os talentos divinos, que são favos de luz colocados na
nossa consciência pelo Senhor. Cada vez que são despertados - na expressão
filosófica denominada Evolução - nos mostram rumos novos da sabedoria.
Deus,
na conveniência de sua sabedoria, houve por bem criar inúmeras divisões na
construção da casa universal. Cabe a nós outros estudarmos todos os princípios
da sabedoria e procurarmos, com humildade, a obediência às leis naturais, que
regem e sustentam toda a criação divina. Perder tempo com discussões sem sentido
educativo é forçar o inconveniente a transformar-se em ignorância. Se ainda não
entendemos o que almejamos conhecer, é bom guardarmos serenidade, e esperarmos
a oportunidade, que o arcano do tempo tudo nos revelará no momento preciso,
quando as nossas forças suportarem o impacto da verdade.
Tudo
que existe obedece a uma sequência estabelecida pela harmonia. A matéria que
tanto estudamos tem sua vida própria sob a influência do Espírito, e o Espírito
vive na atmosfera de Deus. A independência é, pois, até certo ponto, de
concordância e as afinidades congênitas é que nos garantem a vida, na vida de
Deus.
Existe
algo de divino dentro da matéria e outro tanto vibrando no Espírito, que por
enquanto desconhecemos. Até para os grandes benfeitores - pelo menos é o que
ouvimos deles - Deus é um segredo absoluto. Não podemos decifrá-lo, por faltar
em nós as qualidades de um deus.
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