108.
Qual a sede da alma?
A
alma não está, como geralmente se crê, localizada num ponto particular do
corpo; ela forma com o perispírito um conjunto fluídico, penetrável,
assimilando-se ao corpo inteiro, com o qual ela constitui um ser complexo, do
qual a morte não é, de alguma sorte, mais que um desdobramento. Podemos
figuradamente supor dois corpos semelhantes na forma, um encaixado no outro,
confundidos durante a vida e separados depois da morte. Nessa ocasião um deles
é destruído, ao passo que o outro subsiste.
Durante
a vida a alma age mais especialmente sobre os órgãos do pensamento e do
sentimento. Ela é, ao mesmo tempo, interna e externa, isto é, irradia
exteriormente, podendo mesmo isolar-se do corpo, transportar-se ao longe e aí
manifestar sua presença, como o provam a observação e os fenômenos
sonambúlicos.
109.
Será a alma criada ao mesmo tempo que o corpo, ou anteriormente a este?
Depois
da questão da existência da alma, é esta uma das questões mais capitais, porque
de sua solução dimanam as mais importantes consequências; ela é a única capaz
de explicar uma multidão de problemas até hoje insolúveis, por não se ter nela
acreditado.
De duas uma: ou a alma existia, ou não existia antes da formação do corpo; não pode haver meio-termo. Com a preexistência da alma tudo se explica lógica e naturalmente; sem ela, encontram-se tropeços a cada passo, e, mesmo, certos dogmas da Igreja ficam sem justificação, o que tem conduzido muitos pensadores à incredulidade.
Os
Espíritos resolveram a questão afirmativamente, e os fatos, como a lógica, não
podem deixar dúvidas a esse respeito. Admita-se, ao menos como hipótese, a
preexistência da alma, e veremos aplainar-se a maioria das dificuldades.
110.
Se a alma já existia antes da sua união com o corpo, tinha ela sua individualidade
e consciência de si?
Sem
individualidade e sem consciência de si mesma, seria como se não existisse.
111.
Antes da sua união com o corpo, já tinha a alma feito algum progresso, ou
estava estacionária?
O
progresso anterior da alma é simultaneamente demonstrado pela observação dos
fatos e pelo ensino dos Espíritos.
112.
Criou Deus as almas iguais moral e intelectualmente, ou fê-las mais perfeitas e
inteligentes umas que as outras?
Se
Deus as houvesse feito umas mais perfeitas que as outras, não conciliaria essa
preferência com a justiça. Sendo todas as criaturas obra sua, por que
dispensaria Ele do trabalho umas, quando o impõe a outras para alcançarem a
felicidade eterna? A desigualdade das almas em sua origem seria a negação da
Justiça de Deus.
113.
Se as almas são criadas iguais, como explicar a diversidade de aptidões e
predisposições naturais que notamos entre os homens na Terra?
Essa
diversidade é a consequência do progresso feito pela alma, antes da sua união
ao corpo. As almas mais adiantadas, em inteligência e moralidade, são as que têm
vivido mais e mais progredido antes de sua encarnação.
114.
Qual o estado da alma em sua origem?
As
almas são criadas simples e ignorantes, isto é, sem ciência e sem conhecimento
do bem e do mal, mas com igual aptidão para tudo. A princípio, encontram-se
numa espécie de infância, sem vontade própria e sem consciência perfeita de sua
existência. Pouco a pouco o livre-arbítrio se desenvolve, ao mesmo tempo que as
ideias. (Ver O livro dos espíritos, questão 114 e seguintes.)
115.
Fez a alma esse progresso anterior, no estado de alma propriamente dita, ou em
precedente existência corporal?
Além do ensino dos Espíritos sobre esse ponto, o estudo dos diferentes graus de adiantamento do homem, na Terra, prova que o progresso anterior da alma deve fazer-se em uma série de existências corporais, mais ou menos numerosas, segundo o grau a que ele chegou; a prova disto está na observação dos fatos que diariamente estão sob os nossos olhos. (Ver O livro dos espíritos, questão 166 a 222. Revista espírita, abril de 1862.)
Allan Kardec. O que é o espiritismo, capítulo terceiro, 108 a 115.
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