Visitante. —
Desde que a mediunidade não é mais que um meio de entrar em relação com as
potências ocultas, médiuns e feiticeiros são mais ou menos a mesma coisa.
A.
K. — Em todos os tempos houve médiuns naturais e inconscientes que, pelo
simples fato de produzirem fenômenos insólitos e incompreendidos, foram
qualificados de feiticeiros e acusados de pactuarem com o diabo; foi o mesmo
que se deu com a maioria dos sábios que dispunham de conhecimentos acima do
vulgar. A ignorância exagerou seu poder e, muitas vezes, eles mesmos abusaram
da credulidade pública, explorando-a; daí a justa reprovação que os feriu. Basta-nos
comparar o poder atribuído aos feiticeiros com a faculdade dos verdadeiros
médiuns, para conhecermos a diferença, mas a maioria dos críticos não se quer
dar a esse trabalho. Longe de fazer reviver a feitiçaria, o Espiritismo a
aniquila, despojando-a do seu pretenso poder sobrenatural, de suas fórmulas,
engrimanços, amuletos e talismãs, e reduzindo a seu justo valor os fenômenos
possíveis, sem sair das leis naturais.
A
semelhança que certas pessoas pretendem estabelecer, provém do erro em que
estão, julgando que os Espíritos estão às ordens dos médiuns; repugna à sua
razão crer que um indivíduo qualquer possa, à vontade, fazer comparecer o
Espírito de tal ou tal personagem, mais ou menos ilustre; nisto eles estão
perfeitamente com a verdade, e, se antes de apedrejarem o Espiritismo, se
tivessem dado ao trabalho de estudá-lo, veriam que ele diz positivamente que os
Espíritos não estão sujeitos aos caprichos de ninguém, que ninguém pode, à
vontade, constrangê-los a responder ao seu chamado; do que se conclui que os
médiuns não são feiticeiros.
Visitante. — Neste caso, todos os efeitos que certos médiuns acreditados obtêm, à vontade e em público, não são, ao vosso ver, senão charlatanice?
A.
K. — Não o digo em absoluto. Tais fenômenos não são impossíveis, porque há
Espíritos de baixa categoria que se podem prestar à sua produção e que se
divertem, talvez por já terem sido prestidigitadores na vida terrena; também há
médiuns especialmente próprios para esse gênero de manifestações; porém, o vulgar
bom senso repele a ideia de virem os Espíritos, por menos elevados que sejam,
representar palhaçadas e fazer escamoteações para divertimento dos curiosos. A
obtenção desses fenômenos à vontade, e sobretudo em público, é sempre suspeita;
neste caso a mediunidade e a prestidigitação se tocam tão de perto que é
difícil muitas vezes distingui-las; antes de vermos nisso a ação dos Espíritos,
devemos observar minuciosamente e ter em conta, quer o caráter e os
antecedentes do médium, quer um grande número de circunstâncias que só o estudo
da teoria dos fenômenos espíritas nos pode fazer apreciar. Deve-se notar que
esse gênero de mediunidade, quando mediunidade nisso exista, limita-se a
produzir sempre o mesmo fenômeno, salvo pequenas variantes, o que não é muito
próprio para dissipar dúvidas. O desinteresse absoluto é a melhor garantia de
sinceridade.
Qualquer
que seja o grau de veracidade desses fenômenos, como efeitos mediúnicos, eles
produzirão bom resultado, por darem voga à ideia espírita. A controvérsia que
se estabelece a respeito provoca em muitas pessoas um estudo mais aprofundado. Não
é certamente aí que se deve ir beber instruções sérias sobre o Espiritismo, nem
sobre a filosofia da Doutrina; porém, é um meio de chamar a atenção dos
indiferentes e obrigar os recalcitrantes a falarem dele.
Allan Kardec. O que é o espiritismo, segundo diálogo - o céptico
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