As explicações que demos
para as manifestações físicas fundam-se na observação dos fatos e na sua
dedução lógica: concluímos de acordo com o que vimos. Como, porém, se processam
na matéria eterizada as modificações que a tornam perceptível e tangível?
Para começar, deixaremos
falarem os Espíritos a quem interrogamos a respeito, juntando depois os nossos
comentários. As respostas que se seguem foram dadas pelo Espírito de São Luís e
estão em concordância com o que anteriormente nos havia sido dito por outros
Espíritos.
1. ─ Como pode aparecer um
Espírito com a solidez de um corpo vivo?
─ Ele combina uma parte do
fluido universal com o fluido que se desprende do médium apto para tal efeito.
Esse fluido toma a forma que o Espírito deseja, mas geralmente essa forma é
impalpável.
2. ─ Qual é a natureza desse
fluido?
─ Fluido. Isto diz tudo.
3. ─ Esse fluido é material?
─ Semimaterial.
4. ─ É esse fluido que
compõe o perispírito?
─ Sim,é a ligação do
Espírito à matéria.
5. ─ É esse fluido que dá a
vida, o princípio vital?
─ Sempre ele. Eu disse
ligação.
6. ─ Esse fluido é uma
emanação da Divindade?
─ Não.
7. ─ É uma criação da
Divindade?
─ Sim. Tudo é criado, exceto
o próprio Deus.
8. ─ O fluido universal tem
alguma relação com o fluido elétrico, cujos efeitos conhecemos?
─ Sim. É o seu elemento.
9. ─ A substância etérea que
existe entre os planetas é o fluido universal em questão?
─ Ele envolve os mundos. Sem
o princípio vital, nada viveria. Se uma pessoa subisse além do envoltório
fluídico dos globos, pereceria, porque seu envoltório fluídico dele se
retiraria, para juntar-se à massa. Esse fluido vos anima. É ele que respirais.
10. ─ Esse fluido é o mesmo
em todos os globos?
─ É o mesmo princípio, mais
ou menos eterizado, conforme a natureza dos mundos. O vosso é um dos mais
materiais.
11. ─ Desde que é esse
fluido que compõe o perispírito, deve haver uma espécie de estado de
condensação que, até certo ponto, o aproxima da matéria.
─ Sim, até um certo ponto,
pois não tem as suas propriedades. Ele é mais ou menos condensado, conforme os
mundos.
12. ─ São os Espíritos
solidificados que levantam a mesa?
─ Esta pergunta ainda não
conduzirá ao ponto que desejais. Quando uma mesa se move debaixo de vossas
mãos, o Espírito evocado pelo vosso Espírito vai retirar do fluido universal
aquilo com que há de animar essa mesa com uma vida factícia. Os Espíritos que
produzem esse tipo de efeitos são sempre Espíritos inferiores ainda não inteiramente
desprendidos de seu fluido ou perispírito. A mesa, assim preparada à sua
vontade (à vontade dos Espíritos batedores), o Espírito a atrai e a movimenta,
sob a influência de seu próprio fluido, desprendido por sua vontade. Quando a
massa que quer levantar ou mover lhe é demasiado pesada, ele chama em seu
auxílio Espíritos que se acham em condições idênticas às dele. Penso que me
expliquei com bastante clareza para ser compreendido.
13. ─ Os Espíritos chamados
em seu auxílio são seus inferiores?
─ Quase sempre são iguais.
Frequentemente vêm por si mesmos.
14. ─ Compreendemos que os
Espíritos superiores não se ocupem de coisas que lhes são inferiores. Mas
perguntamos se, pelo fato de serem desmaterializados, teriam o poder de
fazê-lo, caso tivessem vontade?
─ Eles têm a força moral,
como os outros têm a força física. Quando necessitam dessa força, servem-se
daqueles que a possuem. Não vos foi dito que eles se servem dos Espíritos
inferiores como vos servis dos carregadores?
15. ─ De onde vem o poder
especial do Sr. Home? ─ De sua organização.
16. ─ Que há nela de
particular?
─ A pergunta não é precisa.
17. ─ Perguntamos se se
trata de sua organização física ou moral. ─ Eu disse organização.
18. ─ Entre as pessoas
presentes há alguém que possa ter a mesma faculdade do Sr. Home?
─ Têm-na em certo grau. Não
foi um de vós que fez mover a mesa?
19. ─ Quando uma pessoa faz
mover um objeto, é sempre com o auxílio de um Espírito estranho ou tal ação
pode ser exclusiva do médium?
─ Algumas vezes o Espírito
do médium pode agir sozinho. Na maioria das vezes, entretanto, é auxiliado
pelos Espíritos evocados. Isto é fácil de reconhecer.
20. ─ Como é que os
Espíritos aparecem com a indumentária que usavam na Terra?
─ Muitas vezes ela tem
apenas a aparência. Aliás, para quantos fenômenos entre vós não tendes solução!
Como é que o vento, que é impalpável, arranca e quebra árvores, que são matéria
sólida?
21. ─ Que entendeis ao dizer
que sua indumentária “é apenas uma aparência?” ─ Ao tocá-la, nada se encontra.
22. ─ Se bem compreendemos o
que dissestes, o princípio vital reside no fluido universal; dele o Espírito
extrai o envoltório semimaterial que constitui o seu perispírito e é por meio
desse fluido que atua sobre a matéria inerte. É isso mesmo? ─ Sim, isto é, ele
anima a matéria por uma espécie de vida factícia; a matéria se anima pela vida
animal. A mesa que se move sob as vossas mãos vive e sofre como o animal;
obedece por si mesma ao ser inteligente. Não é ele que a dirige, como o homem
faz com um fardo. Quando a mesa se ergue, não é o Espírito que a levanta. É a
mesa animada que obedece ao Espírito inteligente.
23. ─ Desde que o fluido
universal é a fonte da vida, será ao mesmo tempo a fonte da inteligência?
─ Não. O fluido apenas anima
a matéria.
Esta teoria das
manifestações físicas oferece vários pontos de contato com a que demos, embora
difira em certos aspectos. De uma e da outra ressalta um ponto capital: o
fluido universal, no qual reside o princípio da vida, é o agente principal
dessas manifestações e esse agente recebe o impulso do Espírito, quer
encarnado, quer errante. Esse fluido condensado constitui o perispírito ou
envoltório semimaterial do Espírito. Quando encarnado, o perispírito está unido
à matéria do corpo; quando em estado de erraticidade, fica livre.
Ora, duas questões aqui se
apresentam: a da aparição dos Espíritos e a do movimento que imprimem aos
corpos sólidos.
Quanto ao primeiro, diremos
que, no estado normal, a matéria eterizada do perispírito escapa à percepção
dos nossos órgãos; só a alma pode vê-la, quer em sonhos, quer em estado
sonambúlico ou, ainda, meio adormecida; numa palavra, sempre que houver
suspensão total ou parcial da atividade dos sentidos. Quando o Espírito está
encarnado, a substância do perispírito acha-se mais ou menos intimamente ligada
à matéria do corpo; mais ou menos aderente, se assim podemos dizer. Em algumas
pessoas há uma como que emanação desse fluido, em consequência de sua
organização e é isto o que constitui propriamente os médiuns de influências
físicas. Emanado do corpo, esse fluido se combina, segundo leis que ainda nos
são desconhecidas, com aquele que forma o envoltório semimaterial de um
Espírito estranho. Disso resulta certa modificação, uma espécie de reação molecular
que lhe altera momentaneamente as propriedades, a ponto de torná-lo visível e,
em certos casos, tangível. Esse efeito pode produzir-se com ou sem o concurso
da vontade do médium, e é isto o que distingue os médiuns naturais dos médiuns
facultativos. A emissão do fluido pode ser mais ou menos abundante: daí os
médiuns mais ou menos potentes. Ela não é permanente, o que explica a
intermitência daquele poder. Enfim, se levarmos em conta o grau de afinidade
que pode existir entre o fluido do médium e o de tal ou qual Espírito,
compreender-se-á que sua ação possa exercer-se sobre uns e não sobre outros.
Aquilo que acabamos de dizer
evidentemente se aplica também à força mediúnica, no que concerne ao movimento
dos corpos sólidos. Resta saber como se opera esse movimento.
Conforme as respostas acima,
a questão se apresenta sob um aspecto inteiramente novo. Assim, quando um
objeto é posto em movimento, arrebatado ou lançado no ar, não será o Espírito
que o pega, o empurra ou o levanta, como nós o faríamos com a mão: ele, por
assim dizer, o satura com o seu fluido, pela combinação com o do médium e,
assim momentaneamente vivificado, o objeto age como se fosse um ser vivo, com a
diferença de que, não tendo vontade própria, segue o impulso da vontade do
Espírito. Essa vontade tanto pode ser do Espírito do médium quanto de um
Espírito estranho e, algumas vezes, de ambos, agindo de acordo, conforme sejam
ou não simpáticos. A simpatia ou antipatia que pode existir entre o médium e os
Espíritos que se ocupam desses efeitos materiais explica por que nem todos são
aptos a provocá-los.
Considerando-se que o fluido
vital, emitido de alguma maneira pelo Espírito, dá uma vida factícia e
momentânea aos corpos inertes e que outra coisa não é o perispírito senão o
próprio fluido vital, segue-se que, quando encarnado, é o Espírito que dá vida
ao corpo, por meio de seu perispírito: fica-lhe unido enquanto a organização o
permite, e quando se retira, o corpo morre. Agora se, em lugar da mesa, a
madeira for talhada em estátua, e se agirmos sobre essa do mesmo modo que sobre
a mesa, teremos uma estátua que se desloca do lugar, que responderá por
movimentos e por pancadas; numa palavra, uma estátua momentaneamente animada de
uma vida artificial. Que luz lança essa teoria sobre uma porção de fenômenos
até aqui não explicados! Quantas alegorias e efeitos maravilhosos ela explica!
É toda uma filosofia.
Veja a primeira parte em Teoria das manifestações físicas - I
Revista espírita — Jornal de
estudos psicológicos. Junho 1858.
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