1. (Evocação).
─ Estou convosco.
2. ─ Qual a vossa situação
como Espírito: errante ou reencarnado?
─ Errante.
Goethe em 1828, óleo sobre tela de Stieler.
3. ─ Sois mais feliz do que
quando vivo?
─ Sim, pois estou
desvencilhado do corpo grosseiro e vejo o que não via antes.
4. ─ Parece-me que em vida não tínheis uma situação infeliz. Onde, pois, a superioridade de vossa situação atual? Acabo de dizê-lo. Vós, adeptos do Espiritismo, deveis compreender tal situação.
5. ─ Qual a vossa opinião
atual sobre o Fausto?
─ É uma obra que tinha por
objetivo mostrar a vaidade e o vazio da Ciência humana e, por outro lado,
exaltar o sentimento do amor, naquilo que ele tinha de belo e de puro, e
condená-lo no que tinha de imoral e de mau.
6. ─ Foi por uma espécie de
intuição do Espiritismo que descrevestes a influência dos maus Espíritos sobre
o homem? Como fostes levado a fazer uma tal descrição?
─ Eu tinha a recordação
quase exata de um mundo onde via exercer-se a influência dos Espíritos sobre os
seres materiais.
7. ─ Tínheis, então, a
recordação de uma existência precedente?
─ Sim, por certo.
8. ─ Poderíeis dizer se essa
existência se passou na Terra?
─ Não, porque aqui não se
veem os Espíritos agindo. Foi mesmo num outro mundo.
9. ─ Mas, então, já que
podíeis ver os Espíritos em ação, deveria ser um mundo superior à Terra. Como é
que viestes depois para um mundo inferior? Caístes? Tende a bondade de
explicar.
─ Era um mundo superior até
certo ponto, mas não como o entendeis. Nem todos os mundos têm a mesma
organização, sem que, por isto, tenham uma grande superioridade. Além do mais,
sabeis muito bem que entre vós eu cumpria uma missão que não podeis ignorar,
pois ainda representais as minhas obras. Não houve queda, desde que servi, e
ainda sirvo para a vossa moralização. Eu aplicava aquilo que podia haver de
superior naquele mundo precedente para melhorar as paixões dos meus heróis.
10. ─ Sim, vossas obras
ainda são representadas. Agora mesmo o Fausto acaba de ser adaptado para ópera.
Assististes à sua representação?
─ Sim.
11. ─ Podeis dar-nos a vossa
opinião sobre a maneira por que o Sr. Gounod interpretou o vosso pensamento
através da música?
─ Gounod evocou-me sem o
saber. Compreendeu-me muito bem. Como músico alemão eu não teria feito melhor.
Talvez ele pense como músico francês.
12. ─ Que pensais do
Werther?
─ Agora lhe reprovo o
desenlace.
13. ─ Não teria essa obra
feito muito mal, exaltando paixões?
─ Fez, e causou desgraças.
14. ─ Foi a causa de muitos
suicídios. Sois por isso responsável?
─ Desde que houve uma
influência maléfica espalhada por mim, é exatamente por isso que sofro ainda e
de que me arrependo.
15. ─ Parece-me que em vida
tínheis grande antipatia pelos franceses. Ainda a tendes hoje?
─ Sou muito patriota.
16. ─ Ainda vos ligais mais
a um país do que a outro?
─ Amo a Alemanha por seu
pensamento e por seus costumes quase patriarcais.
17. ─ Quereis dar-nos a
vossa opinião sobre Schiller?
─ Somos irmãos pelo Espírito
e pelas missões. Schiller tinha uma grande e nobre alma, de que eram reflexos
as suas obras. Fez menos mal do que eu. É-me superior, porque era mais simples
e mais verdadeiro.
18. ─ Poderíeis dar-nos a
vossa opinião sobre os poetas franceses em geral, comparando-os aos alemães?
Não se trata de vão sentimento de curiosidade, mas de nossa instrução.
Consideramos os vossos sentimentos muito elevados para nos privarmos de vos
pedir imparcialidade, deixando de lado qualquer preconceito nacional.
─ Sois curiosos, mas quero
satisfazer-vos. Os franceses modernos escrevem muitas vezes belos poemas, mas
empregam mais palavras bonitas do que boas ideias. Deveriam aplicar-se mais ao
sentimento do que à mente. Falo em geral, mas faço exceções em favor de alguns:
um grande poeta pobre, entre outros.
19. Um nome é sussurrado na
assembleia. ─ É deste que falais?
─ Pobre, ou que simula
pobreza.
20. ─ Gostaríamos de obter
uma vossa dissertação sobre assunto de vossa escolha, para nossa instrução.
Teríeis a bondade de nos ditar alguma coisa?
─ Fá-lo-ei mais tarde, por
outros médiuns. Evocai-me em outra ocasião.
Revista espírita — Jornal de estudos psicológicos, junho 1859.
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