Não temos durante a existência corpórea lembrança do que fomos e do que fizemos nas anteriores existências, mas possuímos disso a intuição, sendo as nossas tendências instintivas uma reminiscência do passado.
Não fossem a nossa consciência e a vontade
que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, seria difícil
resistir a tais pendores. A aptidão para essa ou aquela profissão, a maior ou
menor facilidade nessa ou naquela disciplina, as inclinações interiores – eis
elementos que não teriam justificativa alguma se não existisse a
reencarnação.
Com efeito, se a alma fosse realmente criada
junto com o corpo da criança, as pessoas deveriam revelar igual talento e
idênticas predileções, mas não é isso que vemos.
No esquecimento das existências anteriores,
sobretudo quando foram amarguradas, há algo de providencial e que atesta a
bondade e a sabedoria do Criador. Tal como se dá com os sentenciados a longas
penas, todos nós desejamos apagar da memória os delitos cometidos e felizes
ficamos quando a sociedade não os conhece ou os relega ao esquecimento. A razão
desse desejo é fácil de explicar.
Dá-se o mesmo com relação à volta do Espírito a uma nova existência corpórea. Frequentemente – ensina o Espiritismo – renascemos no mesmo meio em que já vivemos e estabelecemos de novo relações com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenhamos feito. Se reconhecêssemos nelas criaturas a quem odiamos, talvez o ódio despertasse outra vez em nosso íntimo, e, ainda que tal não ocorresse, sentir-nos-íamos humilhados na presença daquelas a quem houvéssemos prejudicado ou ofendido.
Evidentemente, o esquecimento do passado –
que constitui uma regra nos processos reencarnatórios – não se estende à vida
espiritual, em que recobramos a memória das peripécias passadas de acordo com a
necessidade de que isso se dê, o que revela mais uma vez a bondade do Pai para
com seus filhos.
Fonte:
Revista O Consolador, 19/10/2007
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