COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS
Preâmbulo
1. Os Espíritos hão dito sempre: “A forma nada vale, o pensamento é tudo. Ore, pois, cada um segundo suas convicções e da maneira que mais o toque. Um bom pensamento vale mais do que grande número de palavras com as quais nada tenha o coração.”
Os Espíritos jamais
prescreveram qualquer fórmula absoluta de preces. Quando dão alguma, é apenas
para fixar as ideias e, sobretudo, para chamar a atenção sobre certos
princípios da doutrina espírita. Fazem-no também com o fim de auxiliar os que
sentem embaraço para externar suas ideias, pois alguns há que não acreditariam
ter orado realmente, desde que não formulassem seus pensamentos. A coletânea de
preces, que este capítulo encerra, representa uma escolha feita entre muitas
que os Espíritos ditaram em várias circunstâncias. Eles, sem dúvida, podem ter
ditado outras e em termos diversos, apropriadas a certas ideias ou a casos
especiais; mas, pouco importa a forma, se o pensamento é essencialmente o
mesmo. O objetivo da prece consiste em elevar nossa alma a Deus; a diversidade
das fórmulas nenhuma diferença deve criar entre os que nele creem, nem, ainda
menos, entre os adeptos do Espiritismo, porquanto Deus as aceita todas quando
sinceras.
Não há, pois, considerar esta coletânea como um formulário absoluto e único, mas, apenas, uma variedade no conjunto das instruções que os Espíritos ministram. É uma aplicação dos princípios da moral evangélica desenvolvidos neste livro, um complemento aos ditados deles, relativos aos deveres para com Deus e o próximo, complemento em que são lembrados todos os princípios da doutrina. O Espiritismo reconhece como boas as preces de todos os cultos, quando ditas de coração e não de lábios somente. Nenhuma impõe, nem reprova nenhuma. Deus, segundo ele, é sumamente grande para repelir a voz que lhe suplica ou lhe entoa louvores, porque o faz de um modo e não de outro. Quem quer que lance anátema às preces que não estejam no seu formulário provará que desconhece a grandeza de Deus. Crer que Deus se atenha a uma fórmula é emprestar-lhe a pequenez e as paixões da humanidade. Condição essencial à prece, segundo S. Paulo (cap. XXVII, n.º 16), é que seja inteligível, a fim de que nos possa falar ao espírito. Para isso, não basta seja dita numa língua que aquele que ora compreenda. Há preces em língua vulgar que não dizem ao pensamento muito mais do que se fossem proferidas em língua estrangeira, e que, por isso mesmo, não chegam ao coração. As raras ideias que elas contêm ficam, as mais das vezes, abafadas pela superabundância das palavras e pelo misticismo da linguagem.
A qualidade principal da prece
é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos,
que são meros adornos de lentejoulas. Cada palavra deve ter alcance próprio,
despertar uma ideia, pôr em vibração uma fibra da alma. Numa palavra: deve
fazer refletir. Somente sob essa condição pode a prece alcançar o seu objetivo;
de outro modo, não passa de ruído. Entretanto, notai com que ar distraído e com
que volubilidade elas são ditas na maioria dos casos. Veem-se lábios a
mover-se; mas, pela expressão da fisionomia, pelo som mesmo da voz, verifica-se
que ali apenas há um ato maquinal, puramente exterior, ao qual se conserva
indiferente a alma. Estão divididas em cinco categorias as preces constantes
nesta coletânea:
1.ª) Preces gerais;
2.ª) Preces por aquele mesmo
que ora;
3.ª) Preces pelos vivos;
4.ª) Preces pelos mortos;
5.ª) Preces especiais pelos
enfermos e pelos obsidiados.
Com o propósito de chamar, de maneira especial, a atenção sobre o objeto de cada prece e de lhe tornar mais compreensível o alcance, vão todas precedidas de uma instrução preliminar, de uma espécie de exposição de motivos, sob o título de prefácio.
I - PRECES GERAIS
Oração dominical
2. Prefácio. Os Espíritos
recomendaram que, encabeçando esta coletânea, puséssemos a oração dominical,
não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as preces, é a que
eles colocam em primeiro lugar, seja porque procede do próprio Jesus (S.
Mateus, 6:9 a 13), seja porque pode suprir a todos, conforme os pensamentos que
se lhe conjuguem; é o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima
de sublimidade na simplicidade. Com efeito, sob a mais singela forma, ela
resume todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o
próximo. Encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e de submissão, o
pedido das coisas necessárias à vida e o princípio da caridade. Quem a diga, em
intenção de alguém, pede para este o que pediria para si. Contudo, em virtude
mesmo da sua brevidade, o sentido profundo que encerram as poucas palavras de
que ela se compõe escapa à maioria das pessoas. Daí vem o dizerem-na,
geralmente, sem que os pensamentos se detenham sobre as aplicações de cada uma
de suas partes. Dizem-na como uma fórmula cuja eficácia se ache condicionada ao
número de vezes que seja repetida. Ora, quase sempre esse é um dos números
cabalísticos: três, sete ou nove, tomados à antiga crença supersticiosa na
virtude dos números e de uso nas operações da magia. Para preencher o que de
vago a concisão desta prece deixa na mente, a cada uma de suas proposições
aditamos, aconselhado pelos Espíritos e com a assistência deles, um comentário
que lhes desenvolve o sentido e mostra as aplicações. Conforme, pois, as
circunstâncias e o tempo de que disponha, poderá, aquele que ore, dizer a
oração dominical, ou na sua forma simples, ou na desenvolvida.
3. Prece:
I. Pai nosso, que
estás no céu, santificado seja o teu nome!
Cremos em ti, Senhor, porque
tudo revela o teu poder e a tua bondade. A harmonia do universo dá testemunho
de uma sabedoria, de uma prudência e de uma previdência que ultrapassam todas
as faculdades humanas. Em todas as obras da Criação, desde o raminho de erva
minúscula e o pequenino inseto, até os astros que se movem no espaço, o nome se
acha inscrito de um ser soberanamente grande e sábio. Por toda a parte se nos
depara a prova de paternal solicitude. Cego, portanto, é aquele que te não reconhece
nas tuas obras, orgulhoso aquele que te não glorifica e ingrato aquele que te
não rende graças.
II. Venha o teu
reino!
Senhor, deste aos homens leis
plenas de sabedoria e que lhes dariam a felicidade, se eles as cumprissem. Com
essas leis, fariam reinar entre si a paz e a justiça e mutuamente se
auxiliariam, em vez de se maltratarem, como o fazem. O forte sustentaria o
fraco, em vez de o esmagar. Evitados seriam os males, que se geram dos excessos
e dos abusos. Todas as misérias deste mundo provêm da violação de tuas leis,
porquanto nenhuma infração delas deixa de ocasionar fatais consequências. Deste
ao bruto o instinto, que lhe traça o limite do necessário, e ele maquinalmente
se conforma; ao homem, no entanto, além desse instinto, deste a inteligência e
a razão; também lhe deste a liberdade de cumprir ou infringir aquelas das tuas
leis que pessoalmente lhe concernem, isto é, a liberdade de escolher entre o
bem e o mal, a fim de que tenha o mérito e a responsabilidade das suas ações.
Ninguém pode pretextar ignorância das tuas leis, pois, com paternal
previdência, quiseste que elas se gravassem na consciência de cada um, sem
distinção de cultos, nem de nações. Se as violam, é porque as desprezam. Dia
virá em que, segundo a tua promessa, todos as praticarão. Desaparecido terá,
então, a incredulidade. Todos te reconhecerão por soberano Senhor de todas as
coisas, e o reinado das tuas leis será o teu reino na Terra. Digna-te, Senhor,
de apressar-lhe o advento, outorgando aos homens a luz necessária, que os conduza
ao caminho da verdade.
III. Faça-se a tua
vontade, assim na Terra como no céu.
Se a submissão é um dever do
filho para com o pai, do inferior para com o seu superior, quão maior não deve
ser a da criatura para com o seu Criador! Fazer a tua vontade, Senhor, é
observar as tuas leis e submeter-se, sem queixumes, aos teus decretos. O homem
a ela se submeterá, quando compreender que és a fonte de toda a sabedoria e que
sem ti ele nada pode. Fará, então, a tua vontade na Terra, como os eleitos a
fazem no céu.
IV. Dá-nos o pão de
cada dia.
Dá-nos o alimento indispensável
à sustentação das forças do corpo; mas, dá-nos também o alimento espiritual
para o desenvolvimento do nosso Espírito. O bruto encontra a sua pastagem; o
homem, porém, deve o sustento à sua própria atividade e aos recursos da sua
inteligência, porque o criaste livre. Tu lhe hás dito: “Tirarás da terra o alimento com o suor da tua fronte.” Desse modo,
fizeste do trabalho, para ele, uma obrigação, a fim de que exercitasse a
inteligência na procura dos meios de prover às suas necessidades e ao seu
bem-estar, uns mediante o labor manual, outros pelo labor intelectual. Sem o
trabalho, ele se conservaria estacionário e não poderia aspirar à felicidade
dos Espíritos superiores. Ajudas o homem de boa vontade que em ti confia, pelo
que concerne ao necessário; não, porém, àquele que se compraz na ociosidade e
desejara tudo obter sem esforço, nem àquele que busca o supérfluo. (Cap. XXV.)
Quantos e quantos sucumbem por culpa própria, pela sua incúria, pela sua
imprevidência, ou pela sua ambição e por não terem querido contentar-se com o
que lhes havias concedido! Esses são os artífices do seu infortúnio e carecem
do direito de queixar-se, pois que são punidos naquilo em que pecaram. Mas, nem
a esses mesmos abandonas, porque és infinitamente misericordioso. As mãos lhes
estendes para socorrê-los, desde que, como o filho pródigo, se voltem
sinceramente para ti. (Cap. V, nº 4.) Antes de nos queixarmos da sorte,
inquiramos de nós mesmos se ela não é obra nossa. A cada desgraça que nos
chegue, cuidemos de saber se não teria estado em nossas mãos evitá-la.
Consideremos também que Deus nos outorgou a inteligência para tirar-nos do
lameiro, e que de nós depende o modo de a utilizarmos. Pois que à lei do
trabalho se acha submetido o homem na Terra, dá-nos coragem e forças para
obedecer a essa lei. Dá-nos também a prudência, a previdência e a moderação, a
fim de não perdermos o respectivo fruto. Dá-nos, pois, Senhor, o pão de cada
dia, isto é, os meios de adquirirmos, pelo trabalho, as coisas necessárias à
vida, porquanto ninguém tem o direito de reclamar o supérfluo.
Se trabalhar nos é impossível,
à tua divina providência nos confiamos. Se está nos teus desígnios
experimentar-nos pelas mais duras provações, malgrado aos nossos esforços,
aceitamo-las como justa expiação das faltas que tenhamos cometido nesta
existência, ou noutra anterior, porquanto és justo. Sabemos que não há penas
imerecidas e que jamais castigas sem causa. Preserva-nos, ó meu Deus, de
invejar os que possuem o que não temos, nem mesmo os que dispõem do supérfluo,
ao passo que a nós nos falta o necessário. Perdoa-lhes, se esquecem a lei de
caridade e de amor do próximo, que lhes ensinaste. (Cap. XVI, nº 8.) Afasta,
igualmente, do nosso espírito a ideia de negar a tua justiça, ao notarmos a
prosperidade do mau e a desgraça que cai por vezes sobre o homem de bem. Já
sabemos, graças às novas luzes que te aprouve conceder-nos, que a tua justiça
se cumpre sempre e a ninguém excetua; que a prosperidade material do mau é
efêmera, quanto a sua existência corpórea, e que experimentará terríveis
reveses, ao passo que eterno será o júbilo daquele que sofre resignado. (Cap.
V, nºs 7, 9, 12 e 18.)
V. Perdoa as nossas
dívidas, como perdoamos aos que nos devem. Perdoa as nossas ofensas, como
perdoamos aos que nos ofenderam.
Cada uma das nossas infrações
às tuas leis, Senhor, é uma ofensa que te fazemos e uma dívida que contraímos e
que cedo ou tarde teremos de saldar. Rogamos-te que no-las perdoes pela tua
infinita misericórdia, sob a promessa, que te fazemos, de empregarmos os
maiores esforços para não contrair outras. Tu nos impuseste por lei expressa a
caridade; mas, a caridade não consiste apenas em assistirmos os nossos
semelhantes em suas necessidades; também consiste no esquecimento e no perdão
das ofensas. Com que direito reclamaríamos a tua indulgência, se dela não
usássemos para com aqueles que nos hão dado motivo de queixa? Concede-nos, ó
meu Deus, forças para apagar de nossa alma todo ressentimento, todo ódio e todo
rancor. Faze que a morte não nos surpreenda guardando nós no coração desejos de
vingança. Se te aprouver tirar-nos hoje mesmo deste mundo, faze que nos
possamos apresentar, diante de ti, puros de toda animosidade, a exemplo do
Cristo, cujos últimos pensamentos foram em prol dos seus algozes. (Cap. X.)
Constituem parte das nossas provas terrenas as perseguições que os maus nos
infligem. Devemos, então, recebê-las sem nos queixarmos, como todas as outras
provas, e não maldizer dos que, por suas maldades, nos rasgam o caminho da
felicidade eterna, visto que nos disseste, por intermédio de Jesus:
“Bem-aventurados os que sofrem pela justiça!” Bendigamos, portanto, a mão que
nos fere e humilha, uma vez que as mortificações do corpo nos fortificam a alma
e que seremos exalçados por efeito da nossa humildade. (Cap. XII, nº 4.)
Bendito seja teu nome, Senhor, por nos teres ensinado que nossa sorte não está
irrevogavelmente fixada depois da morte; que encontraremos, em outras
existências, os meios de resgatar e de reparar nossas culpas passadas, de
cumprir em nova vida o que não podemos fazer nesta, para nosso progresso. (Cap.
IV, e cap. V, nº 5.) Assim se explicam, afinal, todas as anomalias aparentes da
vida. É a luz que se projeta sobre o nosso passado e o nosso futuro, sinal
evidente da tua justiça soberana e da tua infinita bondade.
VI. Não nos deixes
entregues à tentação, mas livra-nos do mal.
Dá-nos, Senhor, a força de
resistir às sugestões dos Espíritos maus, que tentem desviar-nos da senda do
bem, inspirando-nos maus pensamentos. Mas, somos Espíritos imperfeitos,
encarnados na Terra para expiar nossas faltas e melhorar-nos. Em nós mesmos
está a causa primária do mal e os maus Espíritos mais não fazem do que
aproveitar os nossos pendores viciosos, em que nos entretêm para nos tentarem.
Cada imperfeição é uma porta aberta à influência deles, ao passo que são
impotentes e renunciam a toda tentativa contra os seres perfeitos. É inútil
tudo o que possamos fazer para afastá-los, se não lhes opusermos decidida e
inabalável vontade de permanecer no bem e absoluta renunciação ao mal. Contra
nós mesmos, pois, é que precisamos dirigir os nossos esforços e, se o fizermos,
os maus Espíritos naturalmente se afastarão, porquanto o mal é que os atrai, ao
passo que o bem os repele. (Veja-se aqui adiante: “Preces pelos obsidiados”.)
Senhor, ampara-nos em nossa fraqueza; inspira-nos, pelos nossos anjos guardiães
e pelos bons Espíritos, a vontade de nos corrigirmos de todas as imperfeições a
fim de obstarmos aos Espíritos maus o acesso à nossa alma. (Veja-se aqui
adiante o nº 11.) O mal não é obra tua, Senhor, porquanto o manancial de todo o
bem nada de mau pode gerar. Somos nós mesmos que criamos o mal, infringindo as
tuas leis e fazendo mau uso da liberdade que nos outorgaste. Quando os homens
as cumprirmos, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu de mundos mais
adiantados que o nosso. O mal não constitui para ninguém uma necessidade fatal
e só parece irresistível aos que nele se comprazem. Desde que temos vontade
para o fazer, também podemos ter a de praticar o bem, pelo que, ó meu Deus,
pedimos a tua assistência e a dos Espíritos bons, a fim de resistirmos à
tentação.
VII. Assim seja.
Praza-te, Senhor, que os nossos desejos se efetivem. Mas, curvamo-nos perante a tua sabedoria infinita. Que em todas as coisas que nos escapam à compreensão se faça a tua santa vontade e não a nossa, pois somente queres o nosso bem e melhor do que nós sabes o que nos convém. Dirigimos-te esta prece, ó Deus, por nós mesmos e também por todas as almas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, pelos nossos amigos e inimigos, por todos os que solicitem a nossa assistência e, em particular, por N... Para todos suplicamos a tua misericórdia e a tua bênção.
Nota: Aqui, podem formular-se
os agradecimentos que se queiram dirigir a Deus e o que se deseje pedir para si
mesmo ou para outrem. (Vejam-se, adiante, as preces nºs 26 e 27.)
Reuniões espíritas
4. Onde quer que se encontrem duas ou três pessoas reunidas em meu nome,
eu com elas estarei. (S. Mateus, 18:20.)
5. Prefácio. Estarem reunidas,
em nome de Jesus, duas, três ou mais pessoas, não quer dizer que basta se achem
materialmente juntas. É preciso que o estejam espiritualmente, em comunhão de
intentos e de ideias, para o bem. Jesus, então, ou os Espíritos puros, que o representam,
se encontrarão na assembleia. O Espiritismo nos faz compreender como podem os
Espíritos achar-se entre nós. Comparecem com seu corpo fluídico ou espiritual e
sob a aparência que nos levaria a reconhecê-los, se se tornassem visíveis.
Quanto mais elevados são na hierarquia espiritual, tanto maior é neles o poder
de irradiação. É assim que possuem o dom da ubiquidade e que podem estar
simultaneamente em muitos lugares, bastando para isso que enviem a cada um
desses lugares um raio de suas mentes.
Dizendo as palavras acima
transcritas, quis Jesus revelar o efeito da união e da fraternidade. O que o
atrai não é o maior ou menor número de pessoas que se reúnam, pois, em vez de
duas ou três, houvera ele podido dizer dez ou vinte, mas o sentimento de caridade
que reciprocamente as anime. Ora, para isso, basta que elas sejam duas.
Contudo, se essas duas pessoas oram cada uma por seu lado, embora dirigindo-se
ambas a Jesus, não há entre elas comunhão de pensamentos, sobretudo se ali não
estão sob o influxo de um sentimento de mútua benevolência. Se se olham com
prevenção, com ódio, inveja ou ciúme, as correntes fluídicas de seus
pensamentos, longe de se conjugarem por um comum impulso de simpatia,
repelem-se. Nesse caso, não estarão reunidas em nome de Jesus, que, então, não
passa de pretexto para a reunião, não o tendo esta por verdadeiro motivo. (Cap.
XXVII, nº 9.)
Isso não significa que ele se
mostre surdo ao que lhe diga uma única pessoa; e se ele não disse: “Atenderei a
todo aquele que me chamar”, é que, antes de tudo, exige o amor do próximo; e
desse amor mais provas podem dar-se quando são muitos os que exoram, com
exclusão de todo sentimento pessoal, e não um apenas. Segue-se que, se, numa
assembleia numerosa, somente duas ou três pessoas se unem de coração, pelo
sentimento de verdadeira caridade, enquanto as outras se isolam e se concentram
em pensamentos egoísticos ou mundanos, ele estará com as primeiras e não com as
outras. Não é, pois, a simultaneidade das palavras, dos cânticos ou dos atos
exteriores que constitui a reunião em nome de Jesus, mas a comunhão de
pensamentos, em concordância com o espírito de caridade que ele personifica.
(Cap. X, nºs 7 e 8; cap. XXVII, nºs 2 a 4.)
Tal o caráter de que devem
revestir-se as reuniões espíritas sérias, aquelas em que sinceramente se deseja
o concurso dos bons Espíritos.
6. Prece. (Para o começo da
reunião.) Ao Senhor Deus onipotente
suplicamos que envie, para nos assistirem, Espíritos bons; que afaste os que
nos possam induzir em erro e nos conceda a luz necessária para distinguirmos da
impostura a verdade. Afasta, igualmente, Senhor, os Espíritos malfazejos,
encarnados e desencarnados, que tentem lançar entre nós a discórdia e
desviar-nos da caridade e do amor ao próximo.
Se procurarem alguns deles
introduzir-se aqui, faze não achem acesso no coração de nenhum de nós. Bons
Espíritos que vos dignais de vir instruir-nos, tornai-nos dóceis aos vossos
conselhos; preservai-nos de toda ideia de egoísmo, orgulho, inveja e ciúme;
inspirai-nos indulgência e benevolência para com os nossos semelhantes,
presentes e ausentes, amigos ou inimigos; fazei, em suma, que, pelos
sentimentos de que nos achemos animados, reconheçamos a vossa influência
salutar. Dai aos médiuns que escolherdes para transmissores dos vossos
ensinamentos, consciência do mandato que lhes é conferido e da gravidade do ato
que vão praticar, a fim de que o façam com o fervor e o recolhimento precisos.
Se, em nossa reunião, estiverem pessoas que tenham vindo impelidas por
sentimentos outros que não os do bem, abri-lhes os olhos à luz e perdoai-lhes,
como nós lhes perdoamos, se trouxerem malévolas intenções. Pedimos,
especialmente, ao Espírito N..., nosso guia espiritual, que nos assista e por
nós vele.
7. (Para o fim da reunião.) Agradecemos
aos bons Espíritos que se dignaram de comunicar-se conosco e lhes rogamos que
nos ajudem a pôr em prática as instruções que nos deram e façam que, ao sair
daqui, cada um de nós se sinta fortalecido para a prática do bem e do amor ao
próximo. Também desejamos que as suas instruções aproveitem aos Espíritos
sofredores, ignorantes ou viciosos, que tenham participado da nossa reunião e
para os quais imploramos a misericórdia de Deus.
Para os médiuns
8. Nos últimos tempos, diz o
Senhor, difundirei do meu Espírito sobre toda carne; vossos filhos e filhas
profetizarão; vossos jovens terão visões e vossos velhos, sonhos. Nesses dias,
difundirei do meu Espírito sobre os servidores e as servidoras, e eles
profetizarão. (Atos, 2:17 e 18.)
9. Prefácio. Quis o Senhor que
a luz se fizesse para todos os homens e que em toda a parte penetrasse a voz
dos Espíritos, a fim de que cada um pudesse obter a prova da imortalidade. Com
esse objetivo é que os Espíritos se manifestam hoje em todos os pontos da Terra
e a mediunidade se revela em pessoas de todas as idades e de todas as
condições, nos homens como nas mulheres, nas crianças como nos velhos. É um dos
sinais de que chegaram os tempos preditos. Para conhecer as coisas do mundo
visível e descobrir os segredos da natureza material, outorgou Deus ao homem a
vista corpórea, os sentidos e instrumentos especiais. Com o telescópio, ele
mergulha o olhar nas profundezas do espaço, e, com o microscópio, descobriu o
mundo dos infinitamente pequenos. Para penetrar no mundo invisível, deu-lhe a
mediunidade. Os médiuns são os intérpretes incumbidos de transmitir aos homens
os ensinos dos Espíritos; ou, melhor, são os órgãos materiais de que se servem
os Espíritos para se expressarem aos homens por maneira inteligível. Santa é a
missão que desempenham, visto ter por fim rasgar os horizontes da vida eterna.
Os Espíritos vêm instruir o
homem sobre seus destinos, a fim de o reconduzirem à senda do bem, e não para o
pouparem ao trabalho material que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por
meta o seu adiantamento, nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. Aí têm
os médiuns o de que devem compenetrar-se bem, para não fazerem mau uso de suas
faculdades. Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se
acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe profligaria,
como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os
outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o
põem em comunicação com os seres de além-túmulo. Como intérpretes do ensino dos
Espíritos, têm os médiuns de desempenhar importante papel na transformação
moral que se opera. Os serviços que podem prestar guardam proporção com a boa
diretriz que imprimam às suas faculdades, porquanto os que enveredam por mau
caminho são mais nocivos do que úteis à causa do Espiritismo. Pela má impressão
que produzem, mais de uma conversão retardam. Terão, por isso mesmo, de dar
contas do uso que hajam feito de um dom que lhes foi concedido para o bem de
seus semelhantes. O médium que queira gozar sempre da assistência dos bons
Espíritos tem de trabalhar por melhorar-se. O que deseja que a sua faculdade se
desenvolva e engrandeça tem de se engrandecer moralmente e de se abster de tudo
o que possa concorrer para desviá-la do seu fim providencial. Se, às vezes, os
Espíritos bons se servem de médiuns imperfeitos, é para dar bons conselhos, com
os quais procuram fazê-lo retomar a estrada do bem. Se, porém, topam com
corações endurecidos e se suas advertências não são escutadas, afastam-se,
ficando livre o campo aos maus. (Cap. XXIV, nºs 11 e 12.)
Prova a experiência que, da
parte dos que não aproveitam os conselhos que recebem dos bons Espíritos, as
comunicações, depois de terem revelado certo brilho durante algum tempo,
degeneram pouco a pouco e acabam caindo no erro, na vertigem, ou no ridículo, sinal
incontestável do afastamento dos bons Espíritos. Conseguir a assistência
destes, afastar os Espíritos levianos e mentirosos, tal deve ser a meta para
onde convirjam os esforços constantes de todos os médiuns sérios. Sem isso, a
mediunidade se torna uma faculdade estéril, capaz mesmo de redundar em prejuízo
daquele que a possua, pois pode degenerar em perigosa obsessão. O médium que
compreende o seu dever, longe de se orgulhar de uma faculdade que não lhe
pertence, visto que lhe pode ser retirada, atribui a Deus as boas coisas que
obtém. Se as suas comunicações receberem elogios, não se envaidecerá com isso,
porque as sabe independentes do seu mérito pessoal; agradece a Deus o haver
consentido que por seu intermédio bons Espíritos se manifestassem. Se dão lugar
à crítica, não se ofende, porque não são obra do seu próprio Espírito. Ao
contrário, reconhece no seu íntimo que não foi um instrumento bom e que não
dispõe de todas as qualidades necessárias a obstar a ingerência dos Espíritos
maus. Cuida, então, de adquirir essas qualidades e suplica, por meio da prece,
as forças que lhe faltam.
10. Prece. — Deus onipotente,
permite que os bons Espíritos me assistam na comunicação que solicito.
Preserva-me da presunção de me julgar resguardado dos Espíritos maus; do
orgulho que me induza em erro sobre o valor do que obtenha; de todo sentimento
oposto à caridade para com outros médiuns. Se cair em erro, inspira a alguém a
ideia de me advertir disso e a mim a humildade que me faça aceitar reconhecido
a crítica e tomar como endereçados a mim mesmo, e não aos outros, os conselhos
que os bons Espíritos me queiram ditar. Se for tentado a cometer abuso, no que
quer que seja, ou a me envaidecer da faculdade que te aprouve conceder-me, peço
que ma retires, de preferência a consentires seja ela desviada do seu objetivo
providencial, que é o bem de todos e o meu próprio avanço moral.
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