COLETÂNEA DE PRECES ESPÍRITAS
II - PRECES PARA SI MESMO
Aos Anjos guardiães e aos Espíritos protetores
11. Prefácio. Todos temos,
ligado a nós, desde o nosso nascimento, um Espírito bom, que nos tomou sob a
sua proteção. Desempenha, junto de nós, a missão de um pai para com seu filho:
a de nos conduzir pelo caminho do bem e do progresso, através das provações da
vida. Sente-se feliz, quando correspondemos à sua solicitude; sofre, quando nos
vê sucumbir. Seu nome pouco importa, pois bem pode dar-se que não tenha nome
conhecido na Terra. Invocamo-lo, então, como nosso anjo guardião, nosso bom
gênio. Podemos mesmo invocá-lo sob o nome de qualquer Espírito superior, que
mais viva e particular simpatia nos inspire. Além do anjo guardião, que é
sempre um Espírito superior, temos Espíritos protetores que, embora menos
elevados, não são menos bons e magnânimos. Contamo-los entre amigos, ou
parentes, ou, até, entre pessoas que não conhecemos na existência atual. Eles
nos assistem com seus conselhos e, não raro, intervindo nos atos da nossa vida.
Espíritos simpáticos são os que se nos ligam por uma certa analogia de gostos e
pendores. Podem ser bons ou maus, conforme a natureza das inclinações nossas
que os atraiam. Os Espíritos sedutores se esforçam por nos afastar das veredas
do bem, sugerindo-nos maus pensamentos. Aproveitam-se de todas as nossas
fraquezas, como de outras tantas portas abertas, que lhes facultam acesso à
nossa alma. Alguns há que se nos aferram, como a uma presa, mas que se afastam,
em se reconhecendo impotentes para lutar contra a nossa vontade. Deus, em o
nosso anjo guardião, nos deu um guia principal e superior e, nos Espíritos
protetores e familiares, guias secundários.
Fora erro, porém, acreditarmos que forçosamente, temos um mau gênio ao nosso lado, para contrabalançar as boas influências que sobre nós se exerçam. Os maus Espíritos acorrem voluntariamente, desde que achem meio de assumir predomínio sobre nós, ou pela nossa fraqueza, ou pela negligência que ponhamos em seguir as inspirações dos bons Espíritos. Somos nós, portanto, que os atraímos. Resulta desse fato que jamais nos encontramos privados da assistência dos bons Espíritos e que de nós depende o afastamento dos maus. Sendo, por suas imperfeições, a causa primária das misérias que o afligem, o homem é, as mais das vezes, o seu próprio mau gênio. (Cap. V, nº 4.)
A prece aos anjos guardiães e
aos Espíritos protetores deve ter por objeto solicitar-lhes a intercessão junto
de Deus, pedir-lhes a força de resistir às más sugestões e que nos assistam nas
contingências da vida.
12. Prece. Espíritos esclarecidos e benevolentes,
mensageiros de Deus, que tendes por missão assistir os homens e conduzi-los
pelo bom caminho, sustentai-me nas provas desta vida; dai-me a força de
suportá-las sem queixumes; livrai-me dos maus pensamentos e fazei que eu não dê
entrada a nenhum mau Espírito que queira induzir-me ao mal. Esclarecei a minha
consciência com relação aos meus defeitos e tirai-me de sobre os olhos o véu do
orgulho, capaz de impedir que eu os perceba e os confesse a mim mesmo. A ti,
sobretudo, N..., meu anjo guardião, que mais particularmente velas por mim, e a
todos vós, Espíritos protetores, que por mim vos interessais, peço fazerdes que
me torne digno da vossa proteção. Conheceis as minhas necessidades; sejam elas
atendidas, segundo a vontade de Deus.
13. Outra. Meu Deus, permite
que os bons Espíritos que me cercam venham em meu auxílio, quando me achar em
sofrimento, e que me sustentem se desfalecer. Faze, Senhor, que eles me incutam
fé, esperança e caridade; que sejam para mim um amparo, uma inspiração e um
testemunho da tua misericórdia. Faze, enfim, que neles encontre eu a força que
me falta nas provas da vida e, para resistir às inspirações do mal, a fé que
salva e o amor que consola.
14. Outra. Espíritos
bem-amados, anjos guardiães que, com a permissão de Deus, pela sua infinita
misericórdia, velais sobre os homens, sede nossos protetores nas provas da vida
terrena. Dai-nos força, coragem e resignação; inspirai-nos tudo o que é bom,
detende-nos no declive do mal; que a vossa bondosa influência nos penetre a
alma; fazei sintamos que um amigo devotado está ao nosso lado, que vê os nossos
sofrimentos e partilha das nossas alegrias. E tu, meu bom anjo, não me
abandones. Necessito de toda a tua proteção, para suportar com fé e amor as
provas que praza a Deus enviar-me.
Para afastar os maus Espíritos
Ai de vós, escribas e fariseus
hipócritas, que limpais por fora o copo e o prato e estais, por dentro, cheios
de rapinas e impurezas. Fariseus cegos, limpai primeiramente o interior do copo
e do prato, a fim de que também o exterior fique limpo. Ai de vós, escribas e
fariseus hipócritas, que vós assemelhais a sepulcros branqueados, que por fora
parecem belos aos olhos dos homens, mas que, por dentro, estão cheios de toda
espécie de podridões. Assim, pelo exterior, pareceis justos aos olhos dos
homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidades. (S.
Mateus, 23:25 a 28.)
16. Prefácio. Os maus Espíritos
somente procuram os lugares onde encontrem possibilidades de dar expansão à sua
perversidade. Para os afastar, não basta pedir-lhes, nem mesmo ordenar-lhes que
se vão; é preciso que o homem elimine de si o que os atrai. Os Espíritos maus
farejam as chagas da alma, como as moscas farejam as chagas do corpo. Assim
como se limpa o corpo, para evitar a bicheira, também se deve limpar de suas
impurezas a alma, para evitar os maus Espíritos. Vivendo num mundo onde estes
pululam, nem sempre as boas qualidades do coração nos põem a salvo de suas
tentativas; dão, entretanto, forças para que lhes resistamos.
17. Prece. Em nome de Deus
todo-poderoso, afastem-se de mim os maus Espíritos, servindo-me os bons de
antemural contra eles. Espíritos malfazejos, que inspirais maus pensamentos aos
homens; Espíritos velhacos e mentirosos, que os enganais; Espíritos
zombeteiros, que vos divertis com a credulidade deles, eu vos repilo com todas
as forças de minha alma e fecho os ouvidos às vossas sugestões; mas, imploro
para vós a misericórdia de Deus. Bons Espíritos que vos dignais de assistir-me,
dai-me a força de resistir à influência dos Espíritos maus e as luzes de que
necessito para não ser vítima de suas tramas. Preservai-me do orgulho e da
presunção; isentai o meu coração do ciúme, do ódio, da malevolência, de todo
sentimento contrário à caridade, que são outras tantas portas abertas ao
Espírito do mal.
Para pedir a corrigenda de um defeito
18. Prefácio. Os nossos maus
instintos resultam da imperfeição do nosso próprio Espírito e não da nossa
organização física; a não ser assim, o homem se acharia isento de toda espécie
de responsabilidade. De nós depende a nossa melhoria, pois todo aquele que se
acha no gozo de suas faculdades tem, com relação a todas as coisas, a liberdade
de fazer ou de não fazer. Para praticar o bem, de nada mais precisa senão do
querer. (Cap. XV, n.º 10; cap. XIX, n.º 12.)
19. Prece. Deste-me, ó meu
Deus, a inteligência necessária a distinguir o que é bem do que é mal. Ora, do
momento em que reconheço que uma coisa é do mal, torno-me culpado, se não me
esforçar por lhe resistir. Preserva-me do orgulho que me poderia impedir de perceber
os meus defeitos e dos maus Espíritos que me possam incitar a perseverar neles.
Entre as minhas imperfeições, reconheço que sou particularmente propenso à..., e,
se não resisto a esse pendor, é porque contraí o hábito de a ele ceder.
Não me criaste culpado, pois
que és justo, mas com igual aptidão para o bem e para o mal; se tomei o mau
caminho, foi por efeito do meu livre-arbítrio. Todavia, pela mesma razão que
tive a liberdade de fazer o mal, tenho a de fazer o bem e, conseguintemente, a
de mudar de caminho. Meus atuais defeitos são restos das imperfeições que
conservei das minhas precedentes existências; são o meu pecado original, de que
me posso libertar pela ação da minha vontade e com a ajuda dos Espíritos bons.
Bons Espíritos que me protegeis, e sobretudo tu, meu anjo da guarda, dai-me
forças para resistir às más sugestões e para sair vitorioso da luta. Os
defeitos são barreiras que nos separam de Deus e cada um que eu suprima será um
passo dado na senda do progresso que dele me há de aproximar. O Senhor, em sua
infinita misericórdia, houve por bem conceder-me a existência atual, para que
servisse ao meu adiantamento. Bons Espíritos, ajudai-me a aproveitá-la, para
que me não fique perdida e para que, quando ao Senhor aprouver ma retirar, eu dela
saia melhor do que entrei. (Cap. V, nº 5; cap. XVII, nº 3.)
Para pedir a força de resistir a uma tentação
20. Prefácio. Duas origens pode ter qualquer pensamento mau:
a própria imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre ela se
exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza que nos sujeita a
receber essa influência; há, por conseguinte, indício de uma alma imperfeita.
De sorte que aquele que venha a falir não poderá invocar por escusa a
influência de um Espírito estranho, visto que esse Espírito não o teria
arrastado ao mal, se o considerasse inacessível à sedução. Quando surge em nós
um mau pensamento, podemos, pois, imaginar um Espírito maléfico a nos atrair
para o mal, mas a cuja atração podemos ceder ou resistir, como se se tratara
das solicitações de uma pessoa viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar que, por
seu lado, o nosso anjo guardião, ou Espírito protetor, combate em nós a má
influência e espera com ansiedade a decisão que tomemos. A nossa hesitação em praticar
o mal é a voz do Espírito bom, a se fazer ouvir pela nossa consciência.
Reconhece-se que um pensamento é mau, quando se afasta da caridade, que
constitui a base da verdadeira moral, quando tem por princípio o orgulho, a
vaidade, ou o egoísmo; quando a sua realização pode causar qualquer prejuízo a
outrem; quando, enfim, nos induz a fazer aos outros o que não quereríamos que
nos fizessem. (Cap. XXVIII, nº 15; cap. XV, nº 10.)
21. Prece. Deus todo-poderoso,
não me deixes sucumbir à tentação que me impele a falir. Espíritos benfazejos,
que me protegeis, afastai de mim este mau pensamento e dai-me a força de
resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir, merecerei expiar a minha falta
nesta vida e na outra, porque tenho a liberdade de escolher.
Ação de graças pela vitória alcançada sobre uma tentação
22. Prefácio. Aquele que
resistiu a uma tentação deve-o à assistência dos bons Espíritos, a cuja voz
atendeu. Cumpre-lhe agradecê-lo a Deus e ao seu anjo de guarda.
23. Prece. Meu Deus,
agradeço-te o haveres permitido eu saísse vitorioso da luta que acabo de
sustentar contra o mal. Faze que essa vitória me dê a força de resistir a novas
tentações. E a ti, meu anjo guardião, agradeço a assistência com que me
valeste. Possa a minha submissão aos teus conselhos granjear-me de novo a tua
proteção!
Para pedir um conselho
24. Prefácio. Quando estamos
indecisos sobre o fazer ou não fazer uma coisa, devemos antes de tudo
propor-nos a nós mesmos as questões seguintes:
1.ª Aquilo que eu hesito em
fazer pode acarretar qualquer prejuízo a outrem?
2.ª Pode ser proveitoso a
alguém?
3.ª Se agissem assim comigo,
ficaria eu satisfeito?
Se o que pensamos fazer,
somente a nós nos interessa, lícito nos é pesar as vantagens e os
inconvenientes pessoais que nos possam advir. Se interessa a outrem e se,
resultando em bem para um, redundará em mal para outro, cumpre, igualmente,
pesemos a soma de bem ou de mal que se produzirá, para nos decidirmos a agir,
ou a abster-nos. Enfim, mesmo em se tratando das melhores coisas, importa ainda
consideremos a oportunidade e as circunstâncias concomitantes, porquanto uma
coisa boa, em si mesma, pode dar maus resultados em mãos inábeis, se não for
conduzida com prudência e circunspecção. Antes de empreendê-la, convém
consultemos as nossas forças e meios de execução. Em todos os casos, sempre
podemos solicitar a assistência dos nossos Espíritos protetores, lembrados
desta sábia advertência: Na dúvida, abstém-te. (Cap. XXVIII, nº 38.)
25. Prece. Em nome de Deus
todo-poderoso, inspirai-me, bons Espíritos que me protegeis, a melhor resolução
a ser tomada na incerteza em que me encontro. Encaminhai meu pensamento para o
bem e livrai-me da influência dos que tentarem transviar-me.
Nas aflições da vida
26. Prefácio. Podemos pedir a Deus favores terrenos e ele no-los pode conceder, quando tenham um fim útil e sério. Mas, como a utilidade das coisas sempre a julgamos do nosso ponto de vista e como as nossas vistas se circunscrevem ao presente, nem sempre vemos o lado mau do que desejamos. Deus, que vê muito melhor do que nós e que só o nosso bem quer, pode recusar o que peçamos, como um pai nega ao filho o que lhe seria prejudicial. Se não nos é concedido o que pedimos, não devemos por isso entregar-nos ao desânimo; devemos pensar, ao contrário, que a privação do que desejamos nos é imposta como prova, ou como expiação, e que a nossa recompensa será proporcionada à resignação com que a houvermos suportado. (Cap. XXVII, nº 6; cap. II, nºs 5 a 7.)
27. Prece. Deus onipotente, que
vês as nossas misérias, digna-te de escutar, benevolente, a súplica que neste
momento te dirijo. Se é desarrazoado o meu pedido, perdoa-me; se é justo e
conveniente segundo as tuas vistas, que os bons Espíritos, executores das tuas
vontades, venham em meu auxílio para que ele seja satisfeito.
(Formular seu pedido.)
Como quer que seja, meu Deus,
faça-se a tua vontade. Se os meus desejos não forem atendidos, é que está nos
teus desígnios experimentar-me e eu me submeto sem me queixar. Faze que por
isso nenhum desânimo me assalte e que nem a minha fé nem a minha resignação
sofram qualquer abalo.
Ação de graças por um favor obtido
28. Prefácio. Não se devem
considerar como sucessos ditosos apenas o que seja de grande importância.
Muitas vezes, coisas aparentemente insignificantes são as que mais influem em
nosso destino. O homem facilmente esquece o bem, para, de preferência,
lembrar-se do que o aflige. Se registrássemos, dia a dia, os benefícios de que
somos objeto, sem os havermos pedido, ficaríamos, com frequência, espantados de
termos recebido tantos e tantos que se nos varreram da memória, e nos
sentiríamos humilhados com a nossa ingratidão. Todas as noites, ao elevarmos a
Deus a nossa alma, devemos recordar em nosso íntimo os favores que ele nos fez
durante o dia e agradecer-lhos. Sobretudo no momento mesmo em que
experimentamos o efeito da sua bondade e da sua proteção, é que nos cumpre, por
um movimento espontâneo, testemunhar-lhe a nossa gratidão. Basta, para isso,
que lhe dirijamos um pensamento, atribuindo-lhe o benefício, sem que se faça
mister interrompamos o nosso trabalho. Não consistem os benefícios de Deus
unicamente em coisas materiais. Devemos também agradecer-lhe as boas ideias, as
felizes inspirações que recebemos. Ao passo que o egoísta atribui tudo isso aos
seus méritos pessoais e o incrédulo ao acaso, aquele que tem fé rende graças a
Deus e aos bons Espíritos. São desnecessárias, para esse efeito, longas frases.
“Obrigado, meu Deus, pelo bom pensamento que me foi inspirado”, diz mais do que
muitas palavras. O impulso espontâneo, que nos faz atribuir a Deus o que de bom
nos sucede, dá testemunho de um ato de reconhecimento e de humildade, que nos
granjeia a simpatia dos bons Espíritos. (Cap. XXVII, nºs 7 e 8.)
29. Prece. Deus infinitamente
bom, que o teu nome seja bendito pelos benefícios que me hás concedido. Indigno
eu seria, se os atribuísse ao acaso dos acontecimentos, ou ao meu próprio
mérito. Bons Espíritos, que fostes os executores das vontades de Deus,
agradeço-vos e especialmente a ti, meu anjo guardião. Afastai de mim a ideia de
orgulhar-me do que recebi e de não o aproveitar somente para o bem. Agradeço-vos,
em particular, ...
Ato de submissão e de resignação
30. Prefácio. Quando um motivo
de aflição nos advém, se lhe procurarmos a causa, amiúde reconheceremos estar
numa imprudência ou imprevidência nossa, ou, quando não, em um ato anterior. Em
qualquer desses casos, só de nós mesmos nos devemos queixar. Se a causa de um
infortúnio independe completamente de qualquer ação nossa, é ou uma prova para
a existência atual, ou expiação de falta de uma existência anterior, caso, este
último, em que, pela natureza da expiação, poderemos conhecer a natureza da
falta, visto que somos sempre punidos por aquilo em que pecamos. (Cap. V, nºs
4, 6 e seguintes.)
No que nos aflige, só vemos, em
geral, o presente e não as ulteriores consequências favoráveis que possa ter a
nossa aflição. Muitas vezes, o bem é a consequência de um mal passageiro, como
a cura de uma enfermidade é o resultado dos meios dolorosos que se empregaram
para combatê-la. Em todos os casos devemos submeter-nos à vontade de Deus,
suportar com coragem as tribulações da vida, se queremos que elas nos sejam
levadas em conta e que se nos possam aplicar estas palavras do Cristo:
“Bem-aventurados os que sofrem.” (Cap. V, nº 18.)
31. Prece. Meu Deus, és
soberanamente justo; todo sofrimento, neste mundo, há, pois, de ter a sua causa
e a sua utilidade. Aceito a aflição que acabo de experimentar, como expiação de
minhas faltas passadas e como prova para o futuro.
Bons Espíritos que me
protegeis, dai-me forças para suportá-la sem lamentos. Fazei que ela me seja um
aviso salutar; que me acresça a experiência; que abata em mim o orgulho, a
ambição, a tola vaidade e o egoísmo, e que contribua assim para o meu
adiantamento.
32. Outra. Sinto, ó meu Deus,
necessidade de te pedir me dês forças para suportar as provações que te aprouve
destinar-me. Permite que a luz se faça bastante viva em meu espírito, para que
eu aprecie toda a extensão de um amor que me aflige porque me quer salvar.
Submeto-me resignado, ó meu Deus; mas, a criatura é tão fraca, que temo
sucumbir, se me não amparares. Não me abandones, Senhor, que sem ti nada posso.
33. Outra. A ti dirigi o meu
olhar, ó Eterno, e me senti fortalecido. És a minha força, não me abandones. Ó
meu Deus, sinto-me esmagado sob o peso das minhas iniquidades. Ajuda-me.
Conheces a fraqueza da minha carne, não desvies de mim o teu olhar! Ardente
sede me devora; faze brotar a fonte da água viva onde eu me dessedente. Que a
minha boca só se abra para te entoar louvores e não para soltar queixas nas
aflições da minha vida. Sou fraco, Senhor, mas o teu amor me sustentará. Ó
Eterno, só tu és grande, só tu és o fim e o objetivo da minha vida! Bendito
seja o teu nome, se me fazes sofrer, porquanto és o Senhor e eu o servo infiel.
Curvarei a fronte sem me queixar, porquanto só tu és grande, só tu és a meta.
Num perigo iminente
34. Prefácio. Pelos perigos que
corremos, Deus nos adverte da nossa fraqueza e da fragilidade da nossa
existência. Mostra-nos que entre suas mãos está a nossa vida e que ela se acha
presa por um fio que se pode romper no momento em que menos o esperamos.
Sob esse aspecto, não há
privilégio para ninguém, pois que às mesmas alternativas se encontram sujeitos
assim o grande, como o pequeno. Se examinarmos a natureza e as consequências do
perigo, veremos que estas, as mais das vezes, se se verificassem, teriam sido a
punição de uma falta cometida, ou da falta do cumprimento de um dever.
35. Prece. Deus todo-poderoso,
e tu, meu anjo guardião, socorrei-me! Se tenho de sucumbir, que a vontade de
Deus se cumpra. Se devo ser salvo, que o restante da minha vida repare o mal
que eu haja feito e do qual me arrependo.
Ação de graças por haver escapado a um perigo
36. Prefácio. Pelo perigo que
tenhamos corrido, mostra-nos Deus que, de um momento para outro, podemos ser
chamados a prestar contas do modo por que utilizamos a vida. Avisa-nos, assim,
que devemos tomar tento e emendar-nos.
37. Prece. Meu Deus, meu anjo
de guarda, agradeço-vos o socorro que me proporcionastes no perigo de que
estive ameaçado. Seja para mim um aviso esse perigo e me esclareça sobre as
faltas que me hajam colocado sob a sua ameaça. Compreendo, Senhor, que nas tuas
mãos está a minha vida e que ma podes tirar, quando te apraza. Inspira-me, por
intermédio dos bons Espíritos que me assistem, o propósito de empregar
utilmente o tempo que ainda me concederes de vida neste mundo.
Meu anjo guardião, firma-me na
resolução que tomo de reparar os meus erros e de fazer todo o bem que esteja ao
meu alcance, a fim de chegar menos onerado de imperfeições ao mundo dos
Espíritos, quando Deus determine o meu regresso para lá.
No momento de dormir
38. Prefácio. O sono tem por
fim dar repouso ao corpo; o Espírito, porém, não precisa de repousar. Enquanto
os sentidos físicos se acham entorpecidos, a alma se desprende, em parte, da
matéria e entra no gozo das faculdades do Espírito. O sono foi dado ao homem
para reparação das forças orgânicas e também para a das forças morais. Enquanto
o corpo recupera os elementos que perdeu por efeito da atividade da vigília, o
Espírito vai retemperar-se entre os outros Espíritos. Haure, no que vê, no que
ouve e nos conselhos que lhe dão, ideias que, ao despertar, lhe surgem em
estado de intuição. É a volta temporária do exilado à sua verdadeira pátria. É
o prisioneiro restituído por momentos à liberdade. Mas, como se dá com o
presidiário perverso, acontece que nem sempre o Espírito aproveita dessa hora
de liberdade para seu adiantamento. Se conserva instintos maus, em vez de
procurar a companhia de Espíritos bons, busca a de seus iguais e vai visitar os
lugares onde possa dar livre curso aos seus pendores. Eleve, pois, aquele que
se ache compenetrado desta verdade, o seu pensamento a Deus, quando sinta
aproximar-se o sono, e peça o conselho dos bons Espíritos e de todos cuja
memória lhe seja cara, a fim de que venham juntar-se-lhe, nos curtos instantes
de liberdade que lhe são concedidos, e, ao despertar, sentir-se-á mais forte
contra o mal, mais corajoso diante da adversidade.
39. Prece. Minha alma vai estar por alguns instantes com
os outros Espíritos. Venham os bons ajudar-me com seus conselhos. Faze, meu
anjo guardião, que, ao despertar, eu conserve durável e salutar impressão desse
convívio.
Prevendo próxima a morte
40. Prefácio. A fé no futuro, a
orientação do pensamento, durante a vida, para os destinos vindouros, favorecem
e aceleram o desligamento do Espírito, por enfraquecerem os laços que o prendem
ao corpo, tanto que, frequentemente, a vida corpórea ainda se não extinguiu de
todo, e a alma, impaciente, já alçou o vôo para a imensidade. Ao contrário, no
homem que concentra nas coisas materiais todos os seus cuidados, aqueles laços
são mais tenazes, penosa e dolorosa é a separação e cheio de perturbação e
ansiedade o despertar no além-túmulo.
41. Prece. Meu Deus, creio em
ti e na tua bondade infinita e, por isso mesmo, não posso crer hajas dado ao
homem a inteligência, que lhe faculta conhecer-te, e a aspiração pelo futuro,
para o mergulhares no nada. Creio que o meu corpo é apenas o envoltório
perecível de minha alma e que, quando eu tenha deixado de viver, acordarei no
mundo dos Espíritos.
Deus todo-poderoso, sinto se
rompem os laços que me prendem a alma ao corpo e que dentro em pouco irei
prestar contas do uso que fiz da vida que me foge. Vou experimentar as
consequências do bem e do mal que pratiquei. Lá não haverá ilusões, nem
subterfúgios possíveis. Diante de mim vai desenrolar-se todo o meu passado e
serei julgado segundo as minhas obras. Nada levarei dos bens da Terra. Honras,
riquezas, satisfações da vaidade e do orgulho, tudo, enfim, que é peculiar ao
corpo permanecerá neste mundo. Nem a mais mínima parcela de todas essas coisas
me acompanhará, nem me será de utilidade alguma no mundo dos Espíritos. Apenas
levarei comigo o que pertence à alma, isto é, as boas e as más qualidades, para
serem pesadas na balança da mais rigorosa justiça. E tanto maior severidade
haverá no meu julgamento, quanto maior número de ocasiões para fazer o bem, que
não fiz, me tenha proporcionado a posição que ocupei na Terra. (Cap. XVI, nº
9.) Deus de misericórdia, que o meu arrependimento te chegue aos pés! Digna-te
de lançar sobre mim o manto da tua indulgência. Se te aprouver prolongar a
minha existência, seja esse prolongamento empregado em reparar, tanto quanto em
mim esteja, o mal que eu tenha praticado. Se soou, sem dilação possível, a
minha hora, levo comigo o consolador pensamento de que me será permitido
redimir-me, por meio de novas provas, a fim de merecer um dia a felicidade dos
eleitos.
Se não me for dado gozar
imediatamente dessa felicidade sem mescla, partilha tão só do justo por
excelência, sei que me não é defesa para sempre a esperança e que, pelo
trabalho, alcançarei o fim, mais tarde ou mais cedo, conforme os meus esforços.
Sei que próximos de mim, para
me receberem, estão Espíritos bons e o meu anjo de guarda, aos quais dentro em
pouco verei, como eles me veem. Sei que, se o tiver merecido, encontrarei de
novo aqueles a quem amei na Terra e que aqueles que aqui deixo irão juntar-se a
mim, que um dia estaremos todos reunidos para sempre e que, enquanto esse dia
não chegar, poderei vir visitá-los. Sei também que vou encontrar aqueles a quem
ofendi. Possam eles perdoar-me o que tenham a reprochar-me: o meu orgulho, a
minha dureza, minhas injustiças, a fim de que a presença deles não me acabrunhe
de vergonha!
Perdoo aos que me tenham feito
ou querido fazer mal; nenhum rancor contra eles alimento e peço-te, meu Deus,
que lhes perdoes. Senhor, dá-me forças para deixar sem pena os prazeres
grosseiros deste mundo, que nada são em confronto com as alegrias sãs e puras
do mundo em que vou penetrar e onde, para o justo, não há mais tormentos, nem
sofrimentos, nem misérias, onde somente o culpado sofre, mas tendo a
confortá-lo a esperança. A vós, bons Espíritos, e a ti, meu anjo guardião,
suplico que me não deixeis falir neste momento supremo. Fazei que a luz divina
brilhe aos meus olhos, a fim de que a minha fé se reanime, se vier a abalar-se.
Nota: Ver adiante, o parágrafo V: “Preces pelos doentes e obsidiados”.
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