A dor - parte 2

Deus a ninguém liberta gratuitamente de suas faltas, por mais possam apregoar certas doutrinas cristãs, as quais preceituam que a aceitação simplista de Jesus, como o Salvador, seja o suficiente para que o crente se livre da dor. Transferir para outrem, para Jesus mesmo, as suas faltas a fim de que seja perdoado e liberto da dor é um ledo engano que não encontra respaldo na lógica da Justiça Divina.

Entorpecer o corpo de prazeres, segundo correntes materialistas científicas ou filosóficas, a ninguém isenta da dor. Existe, sim, a necessidade de assumir a responsabilidade de uma mudança comportamental, mudança que sempre pode libertar o indivíduo da dor, quando bem realizada segundo padrões éticos/morais cristãos.


Ignora quem aconselha a busca dos prazeres como forma de libertação da dor, que eles não costumam atender a sede total de quem os busca de forma desordenada. Muito pelo contrário, leva aos desvarios provocados pelas drogas alucinógenas, estupefacientes, quando usadas para se chegar a essas alegrias superlativas, diferentes, aquelas que projetam a criatura para fora de sua realidade. A consciência enferma que busca estes elementos nocivos para alegrar-se não pode ser conduzida à felicidade que não merece, nem à paz a que não faz jus.

A dor espiritual, principalmente, tem uma tarefa na sua postura existencial de servidora do ser humano: provocar-lhe o despertar consciencial, mostrando-lhe a necessidade de reequilíbrio emocional diante da Lei, o que redunda em fortalecer o seu sistema imunológico.

A linguagem da dor e o seu objetivo educativo repontam apenas em poucas pessoas, aquelas com certo amadurecimento espiritual, capacitadas a escutar e entender o seu funcionamento na vida, no seu contexto dual, isto é, material e espiritual.

Sócrates, Francisco de Assis, Martin Luther King Júnior, Joanna d’Arc, Gandhi, John Fitzgerald Kennedy, Madre Tereza, Chico Xavier e tantos outros sentiram o aguilhão da dor na carne, sem permitir que ela lhes atingisse a alma, eles que sofreram a dor da humilhação, do cárcere injusto, de arbitrários julgamentos, mantendo, não obstante, a força do amor nos corações, oferecendo, assim, para os pósteros, o testemunho de suas condições internas de leais servidores do Bem e da Humanidade.

Como moeda de resgate e alta concessão divina, a dor ajuda a fixar o bem em quem a sofre. “...Com a sua ausência ignoraríamos a paz, desconsideraríamos a alegria, maldiríamos a saúde”, na palavra de Joanna de Ângelis.

Nosso dever é a fixação da prática do bem em nossas telas mentais, em nosso inconsciente, ou psiquismo de profundidade, a fim de que este responda sempre aos nossos apelos nobres, às nossas justas iniciativas, preparado que se acha para responder de conformidade com o que nele introjetamos. Nosso inconsciente é terra fértil, nem boa nem má, apenas armazena o que lhe enviamos pela zona consciente, devolvendo, como recebeu, as nossas emoções e os nossos sentimentos, as nossas alegrias e as nossas mágoas, as nossas venturas e as nossas aflições.

Acalmar-se, tranquilizar o emocional, eis a palavra de ordem do consciente ao inconsciente, embora a tormenta externa nos atinja e nos faça sofrer. Requisitado, o inconsciente responderá de conformidade com o que lhe enviou o consciente, repitamos.

Para Jesus a dor sofrida é felicidade, Ele que soube encarar o seu sofrimento como um amigo de todas as horas. Em todos os instantes de seu sofrimento elegeu a dor para exaltar o amor e a bondade como rota de luz, visando à pacificação geral. Assim mesmo prosseguiu imperturbável.

Mesmo que estejamos amesquinhados por dores e preocupações, dilacerados por aflições ultrizes, levantemo-nos estoicos e cristãos, com a cabeça aureolada de esperanças. Tomemos as asas do amor para com elas louvarmos a Jesus, o Senhor do Bem e da Paz, e sigamos rumo às regiões de Libertação onde nos aguardam todos quantos se amam, após haverem perlustrado os caminhos tortuosos dos enganos.

Temos, às nossas meditações, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. 5, item 10, que as provações da vida fazem adiantar quem as sofre, quando bem suportadas; elas apagam as faltas e purificam o espírito faltoso. “Quanto mais grave é o mal, tanto mais enérgico deve ser o remédio”, salientam os Espíritos Superiores. Continuam: “(...) Dele, depende, pela resignação, tornar proveitoso o seu sofrimento e não lhe estragar o fruto com as suas impaciências, visto que, do contrário, terá que recomeçar”. E, no mesmo livro, capítulo 14, item 9: “As provas rudes, ouvi-me bem, são quase sempre indício de um fim de sofrimento e de um aperfeiçoamento do Espírito, quando aceitas com o pensamento em Deus”. 

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