Mediunidade é faculdade humana natural pela qual se estabelecem as relações entre os homens e os Espíritos; pertence ao campo da comunicação. Natural constatá-la na criança e no jovem, pois são Espíritos em experiências no mundo material, em processo de desenvolvimento físico, intelectual e moral, através dos quais serão ampliadas as suas potencialidades.
Analisando o aflorar da mediunidade em diferentes ciclos do desenvolvimento humano, o professor Herculano Pires, no livro “Mediunidade”, esclarece que as crianças possuem a mediunidade, por assim dizer, à flor da pele, porém são resguardadas pela influência benéfica dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjo da guarda. Nessa fase infantil, as manifestações, em sua maioria são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas coisas e nos seres que a rodeiam, recebem inspirações de amigos espirituais, às vezes veem e denunciam a presença de espíritos. Quando passam dos sete ou oito anos, integram-se melhor no condicionamento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações espirituais e dando mais importância às relações com os encarnados. Encerra-se o primeiro ciclo mediúnico para abrir o segundo. Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e da fabulação infantil.
Allan Kardec, pergunta aos Espíritos na questão 221, de “O Livro dos Médiuns”:
Item 6. “Será inconveniente
desenvolver a mediunidade das crianças?”.
- Certamente. E sustento que
é muito perigoso. Porque estes organismos frágeis e delicados seriam muito
abalados e sua imaginação infantil muito superexcitada. Assim, os pais
prudentes as afastarão dessas ideias, ou pelo menos só lhes falarão a respeito
no tocante às consequências morais.
Item 7. “Mas há crianças que
são médiuns naturais, seja de efeitos físicos, de escrita ou de visões. Haveria
nesses casos o mesmo inconveniente?”
- Não. Quando a faculdade se
manifesta espontânea numa criança, é que pertence à sua própria natureza e que
sua constituição é adequada. Não se dá o mesmo quando a mediunidade é provocada
e excitada. Observe-se que a criança que tem visões, geralmente pouco se
impressiona com isso. As visões lhe parecem muito naturais, de maneira que ela
lhe dá pouca atenção e quase sempre as esquece. Mais tarde a lembrança lhe
volta à memória e é facilmente explicada, se ela conhecer o Espiritismo.
Item 8. Qual a idade em que
se pode, sem inconveniente, praticar a mediunidade?”
- Não há limite preciso na
idade. Depende inteiramente do desenvolvimento físico e mais particularmente do
desenvolvimento psíquico. Há crianças de doze anos que seriam menos
impressionadas que algumas pessoas já formadas. Refiro-me à mediunidade em
geral, pois a de efeitos físicos é mais fatigante para o corpo. Quanto à
escrita há outro inconveniente, que é a falta de experiência da criança, no
caso de querer praticá-la sozinha ou fazer dela um brinquedo.
Analisando essas
explicações, entendemos que a questão da idade está subordinada tanto às
condições do desenvolvimento físico, quanto às do caráter ou amadurecimento
moral. No entanto, o que ressalta claramente das respostas acima é que não se
deve forçar o aflorar mediúnico das crianças, e que, caso haja o aflorar
espontâneo, deve-se empregá-la com grande seriedade, sendo necessário dar às
crianças em geral, o ensino moral do Espiritismo, preparando-as para uma vida
bem orientada pelo conhecimento doutrinário, sem qualquer excitação prematura das
faculdades psíquicas que se desenvolverão no tempo devido.
É geralmente na
adolescência, a partir dos doze ou treze anos que se inicia o segundo ciclo. No primeiro ciclo só se
deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações
naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do
passado carnal ou espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o
suficiente para que as manifestações mediúnicas se tornem mais intensas e
positivas, necessitando de esclarecimentos e condução adequados sobre a
mediunidade.
As reuniões de estudo,
especificamente as de mocidade, voltadas para a integração do adolescente e
jovem à vida, quando conduzidas por evangelizadores preparados, representam
importante fator de esclarecimento e desmistificação das nossas relações com os
Espíritos. Há adolescentes que se integram rápida e naturalmente à nova
situação e se preparam seriamente para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a
mediunidade, por associá-la a inúmeras renúncias. Muitos rejeitam as diretrizes
espirituais instaladas em suas consciências, criando desvios e perturbações que
trarão consequências mais tarde.
Nesse período, o adolescente
se abre para contatos mais profundos com a vida e o mundo, sendo necessário
ampliar sua visão da vida, à luz da Doutrina Espírita. Estimulá-lo a fazer
escolhas adequadas, mostrando-lhe que há renúncias necessárias, principalmente
as relacionadas a si mesmo. Os exemplos dos familiares influem mais em suas
opções do que ensinos e exortações. Começa a tomar conta de si mesmo e a firmar
sua personalidade, necessitando ser respeitado, amado e compreendido, a fim de
estruturar mais facilmente, o caminho que percorrerá com destino à perfeição.
O adolescente e o jovem,
este se enquadrando no terceiro ciclo,
podem e devem ser estimulados a se descobrirem como Espíritos, plenos de
potencialidades a serem desenvolvidas, vivenciando diversas experiências que
lhes possibilitem crescimento espiritual. Merecem orientação adequada que os preparem
para trabalhar com Jesus, onde quer que estejam, aprendendo a servir,
participando como agentes modificadores do meio, independente da idade
cronológica, mas cientes da responsabilidade espiritual de fazer o melhor e ser
feliz.
Muitos jovens creem existir
incompatibilidade entre o descobrir e experimentar as belezas e alegrias
naturais da vida e a vivência mediúnica; falta-lhes, por ausência de
conhecimento, o entendimento de que por serem Espíritos, vivem em constante
relação com outros Espíritos, encarnados e desencarnados, sendo imprescindível
disciplinar essa convivência, colocando o Evangelho em seu sentir, pensar e
agir.
Quanto antes a criança e o
jovem receberem esclarecimentos sobre a realidade espiritual da qual fazem
parte, mais prontamente se tornarão aptos a trabalhar com Jesus, o que não
implica exclusão de vivências no mundo; significa estar no mundo sem ser do
mundo, daí a mediunidade fundamentar-se na vida de relação, estabelecendo
convivências, exigindo definição de propósitos, atitudes diferentes,
possibilitando crescimento moral e espiritual, que tornarão esses Espíritos,
hoje crianças ou jovens, em homens de bem, construtores do Mundo Melhor, ao
qual todos aspiramos.
Bibliografia
• KARDEC, Allan - O Livro
dos Médiuns: Cap. 21, q. 221, itens 6, 7 e 8.
• PIRES, J. Herculano -
Mediunidade: Cap. I.
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