A Bíblia é um dos livros
mais conhecidos de todos os povos. É sem dúvida um dos maiores sucessos
editorial de todos os tempos, pois trata-se de um dos livros mais vendidos em
toda historia da humanidade e um dos mais traduzidos para vários idiomas.
Em todos os tempos
estudiosos se debruçaram sobre seus os textos para analisá-los. Textos estes
que foram sempre motivos de muitas contradições e já geraram, e ainda hoje são,
responsáveis por guerras de grandes consequências.
Sempre existiram aqueles que a interpretaram em seu sentido literal, outros ao contrário, viram em suas narrativas alegorias, e buscaram extrair destas alegorias um ensinamento moral mais profundo e de grande alcance. Há ainda os que sempre a tiveram por uma revelação divina escrita pelo próprio Criador de todas as coisas que assumira em vários momentos nomes distintos.
Hoje, historiadores e cientistas conseguem fazer um apanhado mais próximo da realidade e com o avanço da crítica textual definem autores, datas, e a origem de textos, com maior precisão e com menores chances de erro, porém, as polêmicas continuam porque o sentido velado destes mesmos textos, afirmam alguns, só podem ser percebidos com os olhos da alma, com a profunda integração dos estudiosos com as forças transcendentais da vida e com um estudo minucioso de cada palavra ali contida com um objetivo, mesmo que este, por origem divina, tenha passado despercebido até mesmo de seus autores físicos.
Este livro influenciou
muitos povos, fez história, ergueu e destruiu impérios, marcou constituições e
determinou atitudes políticas em todos os tempos. Em nosso movimento espírita
não têm sido menos polêmicos os estudos de seu conteúdo, e até com certa
descrença alguns espíritas têm perguntado: “deve o espírita estudar a Bíblia?”
Outros têm ido mais além respondendo que não, e há ainda aqueles, apesar de
minoria, que não concordam nem mesmo com o estudo do Novo Testamento, dizendo
que bastam as anotações do Codificador do espiritismo em O Evangelho Segundo o Espiritismo.
A estes dirigimos estas
linhas dizendo que estão eles em grande contradição com os próprios textos
básicos de nossa literatura espírita, pois estes informam-nos claramente ser o
espiritismo uma filosofia cristã, e que Jesus é o guia e modelo para todos nós
que trilhamos o caminho evolutivo traçado por Deus desde a criação de todas as
coisas.
O
Evangelho Segundo o Espiritismo é uma obra ímpar, de grande
importância, e de qualidade incontestável, porém não foi escrito com o objetivo
de elucidar todo o conteúdo do Novo Testamento, seu propósito maior foi
ampliar, explicando, o conteúdo moral do Evangelho de Jesus e fazer uma conexão
deste com a revelação dos Espíritos Superiores.
Além de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é o livro mais conhecido da
literatura espírita, Kardec responde a esta nossa questão de que se deve a
Bíblia ser estudada pelos espíritas em vários outros textos contidos na
codificação. É preciso antes de tudo lembrar que Kardec foi um cientista, um
educador e um sábio de seu tempo, e deste modo, e por fazer tudo isso com uma
competência tal que o projetou para muito além de seus dias, não se viu
impedido de aceitar desafios; desta feita estudou minuciosamente não só a
Bíblia como textos sagrados de várias outras filosofias religiosas ponderando
com saber e lógica sobre as contradições de cada um e de seu sentido espiritual
mais profundo.
Já na questão 59 de O Livro dos Espíritos disserta sobre
colocações bíblicas a respeito da criação com considerações que devem ser
ponderadas por todos nós. Como introdução a estas questões, na pergunta de nº
50, questiona sobre o início da humanidade no orbe induzindo os Espíritos a
falarem sobre a figura mítica de Adão, figura esta bem colocada para todos nós nos
primeiros movimentos do livro Gênesis atribuído até então, a Moisés.
Os Espíritos informam a
Kardec que Adão não foi o primeiro nem o único homem a povoar a Terra àquele
tempo, e dizem mais:
“O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da humanidade, comprovados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como houvera sucedido se o homem não existisse na Terra senão a partir da época indicada para a existência de Adão."
Na questão 59 Kardec amplia,
fruto de seus estudos, os comentários sobre colocações bíblicas concernentes à criação,
dizendo que a Bíblia, se interpretada literalmente, erra não só quanto a Adão
não ser o primeiro e único homem que originou a humanidade, como também comenta
sobre a impossibilidade de ter sido criado o mundo em seis dias de vinte quatro
horas apenas; e também sobre a questão do movimento da Terra, que, em
determinada época, pareceu se opuser aos textos bíblicos que a viam imóvel,
além de outras questões importantes sobre quando se deu o início da criação,
que o Gênesis situa há quatro mil anos antes de Cristo, e que a ciência mostra
ser inverossímil esta data, pela anterioridade de fósseis encontrados que
datavam de tempo muito anterior a este.
Depois de pormenorizados
comentários a respeito deste tema e de outros, Kardec conclui perguntando:
Deverse-á
daí concluir que a Bíblia é um erro?
Ao que ele mesmo com a
sabedoria e o bom senso que lhe eram peculiares responde:
"Não;
a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la."
Mostrando para todos nós que
deveríamos estudar a Bíblia, como ele fez, e que caberia aos espíritas
reinterpretá-la às luzes da ciência espírita.
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