Concepção e gravidez de Maria

1. Sucedeu que, por aqueles dias, se publicou um edito de César Augusto, para o recenseamento de todo o mundo.  2. Esse primeiro recenseamento foi feito por Cirino, Governador da Síria.  3. Todos iam fazer suas declarações, cada um na sua cidade.  4. José partiu da cidade de Nazaré, que fica na Galiléia, e veio à Judéia, à cidade de David, chamada Belém, por isso que ele era da casa e da família de David.  5, a fim de fazer-se registrar com Maria, sua esposa, que estava grávida.  6. Enquanto ali se achava, sucedeu que se completou o tempo ao cabo do qual devia ela parir;  7, e Maria deu à luz o seu primogênito, envolveu-o em panos e o deixou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. (Lucas, 2, 1 ao 7)


A concepção, em Maria, como tudo mais que a isso se seguiu até ao suposto nascimento do nosso Redentor, tudo considerado uma obra miraculosa, por inexplicável mediante os conhecimentos de então e que inexplicável se conservou até ao advento da Terceira Revelação, mais não foi que o resultado de uma ação magneto-espírita, exercida com o emprego de fluídos apropriados.

É sabido, com efeito, que Jesus não revelou aos homens toda a verdade. Ele próprio disse que apenas ensinava o que os homens podiam suportar; que, quando viesse o Espírito da Verdade, esse sim, lhes daria a conhecer todas as coisas (Evangelho de João, capítulo 16, versículos 12 e 13). Ora, não podendo essa revelação de verdades referir-se aos ensinamentos por Ele ministrados, é claro que, decorridos dezenove séculos, ao cabo de todo o progresso que a Humanidade tem feito nesse espaço de tempo, não mais pode ela, por outro lado, conservar-se estacionária na cegueira dos milagres, dos dogmas, das tradições supersticiosas. Fora condenar-se às trevas eternas e ao indiferentismo que esses absurdos geram.

E fundamento não há para se não admitir que assim possa ter sido, posta de lado toda e qualquer ideia de milagre, porquanto este seria o “sobrenatural”, que não existe, visto que implicaria a derrogação de leis naturais, que são imutáveis, porque oriundas da sabedoria divina, ao passo que aquela ação assenta numa lei da Natureza, que o estudo e a experiência descobriram e os atos hão provado incessantemente, fatos que a todo instante podem ser verificados. É a lei do Magnetismo, que se desdobra em espiritual e humano e se exercita por meio da ação fluídica.

O Espírito da Verdade não é um ser corpóreo ou fluídico; é o conhecimento progressivo da verdade, conhecimento que se não pode adquirir senão pelo aperfeiçoamento; é o conjunto dos Espíritos do Senhor, os quais, manifestando-se aos homens, os fazem penetrar naquele conhecimento; é, portanto, o Espiritismo que, consubstanciando os ensinos daqueles Espíritos, nos faculta conhecer as verdades que o Divino Mestre não pôde revelar e a discerni-las do erro e da falsidade; leva-nos a desenvolver, pela experiência, a nossa perspicácia e as nossas faculdades intelectuais; concita-nos ao devotamento, tocando-nos os corações e tornando-nos dignos de ser por ele  conduzidos a toda a verdade.

Vem como precursor do estado de perfeição que devemos atingir.

Mas, para alcançar tão alta meta, temos que trabalhar incessantemente pelo nosso progresso moral. Tal o objetivo dessa ciência: a perfeição humana. Para isso, três elementos se nos oferecem: o amor, o estudo e a caridade.

Todos os atos chamados “milagrosos” são resultantes de ações espíritas, de ações magnéticas, desenvolvidas com o auxílio de fluídos apropriados.

O Magnetismo é o agente universal que aciona tudo, porque tudo está submetido à influência magnética. A atração, efeito do magnetismo, se opera em todos os reinos da Natureza. Assim, pela atração magnética é que o macho se aproxima da fêmea, nos desertos da terra. É ainda pela atração magnética que o princípio fecundante é levado de uma flor a outra; que, nas entranhas do planeta, as substâncias se agregam, para formar os minerais; que as águas se orientam para as terras áridas, precisadas de fertilização.

Os fluídos magnéticos ligam todos os mundos do Universo, como ligam todos os Espíritos, encarnados ou não. É um como laço universal que Deus formou, para constituirmos todos, por assim dizer, um ser único e para podermos subir até Ele, Os diversos fluídos existentes se reúnem e conjugam pela ação magnética. Enfim, tudo é atração resultante desse agente universal — o Magnetismo.

Quando o homem houver adquirido o conhecimento de todos os fluídos, das suas diversas espécies, de suas propriedades, de seus efeitos, das várias transformações e combinações de que são passíveis, estará na posse do segredo da vida universal, a transcorrer sob a dupla ação: espírita e magnética, pela vontade de Deus e segundo leis naturais e imutáveis, que constituem a expressão grandiosa dessa vontade.

Em o nosso planeta, podemos distinguir quatro espécies de magnetismo: mineral, animal, humano e espiritual.

As criações, ou os seres ainda privados de responsabilidade, ainda, portanto, sem liberdade, nem personalidade, se submetem fatalmente à ação das leis a que se acham sujeitos, para a evolução que lhes cumpre a todos realizar. As entidades morais, porém, são dotadas de vontade, que representa um fator essencial e poderoso da efetivação das suas possibilidades. Tanto é  assim, que o magnetizador humano, pela só ação da sua vontade, exercendo-se no emprego dos fluídos humanos, bem dirigidos, influi sobre o  magnetizando e consegue fazê-lo cair em estado sonambúlico, experimentar, nesse estado, as sensações e impressões mais variadas, receber as ideias que lhe transmita, etc.

Quanto ao magnetismo espiritual, sua ação e seus efeitos são incontestáveis. O estudo e a experiência facilmente os comprovam nas sessões espíritas. Qualquer opinião que se forme sobre a improcedência destes princípios, desde que não assente no estudo e na experiência, é comparável à sentença que um juiz pronuncie sem ter lido autos, nem examinado provas.

A ciência do Magnetismo é maravilhosa em seus efeitos físicos e morais. Oferece a prova mais cabal da existência e da imortalidade da alma. Esta deixa de ser a resultante de forças vitais, ou do jogo dos órgãos, como pretendem os materialistas, e se apresenta como causa independente, como sede de uma vontade operosa, liberta momentaneamente da sua prisão e pairando sobre a natureza toda, na plenitude de suas faculdades inatas.

Hoje, felizmente, após quase dois séculos de vulgarização de seus princípios, já os sábios começam a falar, nas suas academias, com um pouco mais de afoiteza, dessa ciência básica para elucidações dos fenômenos mais graves que se apresentam às nossas cogitações. Dão-lhe, porém, denominações diversas, para fazerem crer que se trata de verdadeiras novidades. Dizem então: não há Espiritismo, nem magnetismo. O que há é hipnotismo, é sugestão, etc. Por haver quem abuse da credulidade e explore a ignorância pública, lavram um decreto, lançando condenação geral e absoluta sobre aquilo que não conhecem, que não lhes convém conhecer e, menos, divulgar, porque a isso se opõem interesses inconfessáveis.

A necessidade de reproduzir, ainda que sumariamente, as lições de nossos mestres nos levou a tornar este capítulo mais extenso do que deverá ser. Entretanto, assim fazendo, logramos dar uma ideia da causalidade de fenômenos, a que muitos ainda denominam de “milagres”, erradamente, porquanto são fenômenos naturais, que se produzem para determinados fins, de acordo com as necessidades da época.

A Virgem pura e imaculada, nossa Mãe Santíssima, era filha de Ana e Joaquim. Ana, como Isabel, foi tida por estéril durante muitos anos. Ambas rogavam ao Senhor se condoesse da aflitiva condição em que se encontravam, visto que, naqueles tempos, a esterilidade da mulher era considerada um opróbrio. Ana se doía dessa humilhação, porém não desesperava de alcançar a graça que deprecava.

Vindo a festa dos essenianos, foi Joaquim, como os demais, fazer a sua oferenda ao Senhor. Esta, no entanto, o sacerdote a repeliu com desprezo, estranhando que a fizesse alguém sobre o qual pesava a maldição de Israel. A seita dos essenianos se distinguia pela sua extrema austeridade.

Ana e Joaquim, traspassados de dor, elevaram, súplices, seus pensamentos ao céu e, orando com fervor ao Deus de infinita misericórdia, obtiveram o auxílio dos bons Espíritos, que confortam a alma dando-lhe forças para vencer os transes mais difíceis.

Findaram-se-lhes, afinal, os dias da provação, com o lhes conceder o Eterno uma filha, que seria a escolhida para Mãe do Senhor. Pondo-lhe o nome de Maria, o Anjo a proclamou cheia de graça e determinou a seus pais que, em observância dos votos que haviam feito, a consagrassem ao Senhor desde a infância. Assim é que Ana, ao cabo de vinte anos de esterilidade, concebeu e que, no momento oportuno e na casa onde costumava pousar, quando com seu marido chegava a Jerusalém, veio ao mundo a Virgem predestinada. Segundo era de uso em Israel, ao nono dia de nascida, à menina, perante toda a família reunida, foi-lhe dado nome, ouvindo todos, da boca de Joaquim, que ela. se chamava Maria, que, em hebraico, significa “Estrela do mar” e, na linguagem siríaca, quer dizer “Soberana. Passados quarenta dias, foi Ana ao templo purificar-se, levando nos braços a sua primogênita. Depois de fazer a oblata das vítimas a serem sacrificadas, proferiu o voto de consagrar ao serviço de Deus a menina que, com três anos e dois meses de idade, foi confiada à guarda do respectivo sacerdote, que, dizem, era o santo Zacarias, marido de Isabel, prima irmã da Virgem Maria.

Terminada a cerimônia, entrou esta para o templo, onde se educavam as donzelas, que lá permaneciam até se casarem.

Aos onze anos, achando-se ela ainda no templo, morreu-lhe o pai, em  avançada idade. Aos quinze, em obediência ao que ordenava a lei, cumpria-lhe tomar esposo, para sair do templo amparada.

Cumpriu-se o preceito, ao celebrar-se a festa da nova dedicação, escolhendo os parentes de Maria, com os sacerdotes, para seu marido, a José, natural de Nazaré, da mesma tribo que a Virgem, pelo lado varonil. Celebraram-Se os esponsais, tendo ela quinze anos e José de trinta e cinco a quarenta.

 

Elucidações evangélicas. FEB, pág. 82.

  

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