Gênese espiritual
Princípio espiritual
1. A
existência do princípio espiritual é um fato que, por assim dizer, não precisa
de demonstração, do mesmo modo que o da existência do princípio material. É, de
certa forma, uma verdade axiomática. Ele se afirma pelos seus efeitos, como a
matéria pelos que lhe são próprios.
De
acordo com este princípio: “Todo efeito tendo uma causa, todo efeito
inteligente há de ter uma causa inteligente”, ninguém há que não faça distinção
entre o movimento mecânico de um sino que o vento agite e o movimento desse
mesmo sino para dar um sinal, um aviso, atestando, só por isso, que obedece a
um pensamento, a uma intenção. Ora, não podendo acudir a ninguém a ideia de
atribuir pensamento à matéria do sino, tem-se de concluir que o move uma
inteligência à qual ele serve de instrumento para que ela se manifeste.
Pela
mesma razão, ninguém terá a ideia de atribuir pensamento ao corpo de um homem
morto. Se, pois, vivo, o homem pensa, é que há nele alguma coisa que não há
quando está morto. A diferença que existe entre ele e o sino é que a
inteligência, que faz com que este se mova, está fora dele, ao passo que está
no homem a que faz que este obre.
2. O
princípio espiritual é corolário da existência de Deus; sem esse princípio,
Deus não teria razão de ser, visto que não se poderia conceber a soberana
inteligência a reinar, pela eternidade afora, unicamente sobre a matéria bruta,
como não se poderia conceber que um monarca terreno, durante toda a sua vida,
reinasse exclusivamente sobre pedras. Não se podendo admitir Deus sem os
atributos essenciais da Divindade: a justiça e a bondade, inúteis seriam essas
qualidades, se Ele as houvesse de exercitar somente sobre a matéria.
3. Por outro lado, não se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, a criar seres inteligentes e sensíveis, para lançá-los ao nada, após alguns dias de sofrimento sem compensações, a recrear-se na contemplação dessa sucessão indefinita de seres que nascem, sem que o hajam pedido, pensam por um instante, apenas para conhecerem a dor, e se extinguem para sempre, ao cabo de efêmera existência.
Sem
a sobrevivência do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de
Deus, uma crueldade sem objetivo. Eis por que o materialismo e o ateísmo são
corolários um do outro; negando o efeito, não podem eles admitir a causa. O
materialismo é, pois, consequente consigo mesmo, embora não o seja com a razão.
4. É
inata no homem a ideia da perpetuidade do ser espiritual; essa ideia se acha
nele em estado de intuição e de aspiração. O homem compreende que somente aí
está a compensação às misérias da vida. Essa a razão por que sempre houve e
haverá cada vez mais espiritualistas do que materialistas e mais devotos do que
ateus.
À
ideia intuitiva e à força do raciocínio o Espiritismo junta a sanção dos fatos,
a prova material da existência do ser espiritual, da sua sobrevivência, da sua
imortalidade e da sua individualidade. Torna precisa e define o que aquela
ideia tinha de vago e de abstrato. Mostra o ser inteligente a atuar fora da
matéria, quer depois, quer durante a vida do corpo.
5.
São a mesma coisa o princípio espiritual e o princípio vital?
Partindo,
como sempre, da observação dos fatos, diremos que, se o princípio vital fosse
inseparável do princípio inteligente, haveria certa razão para que os confundíssemos.
Mas, havendo, como há, seres que vivem e não pensam, quais as plantas; corpos
humanos que ainda se revelam animados de vida orgânica quando já não há
qualquer manifestação de pensamento; uma vez que no ser vivo se produzem
movimentos vitais independentes de qualquer intervenção da vontade; que durante
o sono a vida orgânica se conserva em plena atividade, enquanto a vida
intelectual por nenhum sinal exterior se manifesta, é cabível se admita que a
vida orgânica reside num princípio inerente à matéria, independente da vida
espiritual, que é inerente ao Espírito. Ora, desde que a matéria tem uma
vitalidade independente do Espírito e que o Espírito tem uma vitalidade
independente da matéria, evidente se torna que essa dupla vitalidade repousa em
dois princípios diferentes. (Cap. X, itens 16 a 19.)
6.
Terá o princípio espiritual sua fonte de origem no elemento cósmico universal?
Será ele apenas uma transformação, um modo de existência desse elemento, como a
luz, a eletricidade, o calor etc.?
Se
fosse assim, o princípio espiritual sofreria as vicissitudes da matéria;
extinguir-se-ia pela desagregação, como o princípio vital; momentânea seria,
como a do corpo, a existência do ser inteligente que, então, ao morrer,
volveria ao nada, ou, o que daria na mesma, ao todo universal. Seria, numa
palavra, a sanção das doutrinas materialistas.
As
propriedades sui generis [peculiares] que se reconhecem ao princípio espiritual
provam que ele tem existência própria, pois que, se sua origem estivesse na
matéria, aquelas propriedades lhe faltariam. Desde que a inteligência e o
pensamento não podem ser atributos da matéria, chega-se, remontando dos efeitos
à causa, à conclusão de que o elemento material e o elemento espiritual são os
dois princípios constitutivos do universo. Individualizado, o elemento
espiritual constitui os seres chamados Espíritos, como, individualizado, o
elemento material constitui os diferentes corpos da natureza, orgânicos e
inorgânicos.
7. Admitido
o ser espiritual e não podendo ele proceder da matéria, qual a sua origem, seu
ponto de partida?
Aqui,
falecem absolutamente os meios de investigação, como para tudo o que diz
respeito à origem das coisas. O homem apenas pode comprovar o que existe;
acerca de tudo o mais, apenas lhe é dado formular hipóteses e, quer porque esse
conhecimento esteja fora do alcance da sua inteligência atual, quer porque lhe
seja inútil ou prejudicial presentemente, Deus não lho outorga, nem mesmo pela
revelação.
O que
Deus permite que seus mensageiros lhe digam e o que, aliás, o próprio homem
pode deduzir do princípio da soberana justiça, atributo essencial da Divindade,
é que todos procedem do mesmo ponto de partida; que todos são criados simples e
ignorantes, com igual aptidão para progredir pelas suas atividades individuais;
que todos atingirão o grau máximo da perfeição com seus esforços pessoais; que
todos, sendo filhos do mesmo Pai, são objeto de igual solicitude; que nenhum há
mais favorecido ou melhor dotado do que os outros, nem dispensado do trabalho
imposto aos demais para atingirem a meta.
8.
Ao mesmo tempo que criou, desde toda a eternidade, mundos materiais, Deus há
criado, desde toda a eternidade, seres espirituais. Se assim não fora, os
mundos materiais careceriam de finalidade. Mais fácil seria conceberem-se os
seres espirituais sem os mundos materiais, do que estes últimos sem aqueles. Os
mundos materiais é que teriam de fornecer aos seres espirituais elementos de
atividade para o desenvolvimento de suas inteligências.
9.
Progredir é condição normal dos seres espirituais e a perfeição relativa o fim
que lhes cumpre alcançar. Ora, havendo Deus criado desde toda a eternidade, e
criando incessantemente, também desde toda a eternidade tem havido seres que
atingiram o ponto culminante da escala. Antes que existisse a Terra, mundos sem
conta haviam sucedido a mundos e, quando a Terra saiu do caos dos elementos, o
espaço estava povoado de seres espirituais em todos os graus de adiantamento,
desde os que surgiam para a vida até os que, desde toda a eternidade, haviam tomado
lugar entre os puros Espíritos, vulgarmente chamados anjos. União do princípio
espiritual à matéria
10.
Tendo a matéria que ser objeto do trabalho do Espírito para desenvolvimento de
suas faculdades, era necessário que ele pudesse atuar sobre ela, pelo que veio
habitá-la, como o lenhador habita a floresta. Tendo a matéria que ser, no mesmo
tempo, objeto e instrumento do trabalho, Deus, em vez de unir o Espírito à
pedra rígida, criou, para seu uso, corpos organizados, flexíveis, capazes de
receber todas as impulsões da sua vontade e de se prestarem a todos os seus
movimentos.
O
corpo é, pois, simultaneamente, o envoltório e o instrumento do Espírito e, à
medida que este adquire novas aptidões, reveste outro invólucro apropriado ao
novo gênero de trabalho que lhe cabe executar, tal qual se faz com o operário,
a quem é dado instrumento menos grosseiro, à proporção que ele se vai mostrando
apto a executar obra mais bem cuidada.
11.
Para ser mais exato, é preciso dizer que é o próprio Espírito que modela o seu
envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o e lhe
desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a necessidade de
manifestar novas faculdades; numa palavra, talha-o de acordo com a sua
inteligência. Deus fornece ao Espírito os materiais; cabe a ele empregá-los. É
assim que as raças adiantadas têm um organismo ou, se quiserem, um
aparelhamento cerebral mais aperfeiçoado do que as raças primitivas. Desse modo
igualmente se explica o cunho especial que o caráter do Espírito imprime aos
traços da fisionomia e às linhas do corpo. (Cap. VIII, item 7: Alma da Terra.)
12.
Desde que um Espírito nasce para a vida espiritual, tem, por adiantar-se, que
fazer uso de suas faculdades, rudimentares a princípio. Por isso é que reveste
um envoltório adequado ao seu estado de infância intelectual, envoltório que
ele abandona para tomar outro, à proporção que se lhe aumentam as forças. Ora,
como em todos os tempos houve mundos e esses mundos deram nascimento a corpos
organizados próprios a receber Espíritos, em todos os tempos os Espíritos, qualquer
que fosse o grau de adiantamento que houvessem alcançado, encontraram os elementos
necessários à sua vida carnal.
13.
Por ser exclusivamente material, o corpo sofre as vicissitudes da matéria.
Depois de funcionar por algum tempo, ele se desorganiza e decompõe. O princípio
vital, não mais encontrando elemento para sua atividade, se extingue e o corpo
morre. O Espírito, para quem, este, carente de vida, se torna inútil, deixa-o,
como se deixa uma casa em ruínas, ou uma roupa imprestável.
14.
O corpo, conseguintemente, não passa de um envoltório destinado a receber o
Espírito. Desde então, pouco importam a sua origem e os materiais que entraram
na sua construção. Seja ou não o corpo do homem uma criação especial, o que não
padece dúvida é que tem a formá-lo os mesmos elementos que o dos animais, a
animá-lo o mesmo princípio vital, ou, por outra, a aquecê-lo o mesmo fogo, como
tem a iluminá-lo a mesma luz e se acha sujeito às mesmas vicissitudes e às mesmas
necessidades. É um ponto este que não sofre contestação.
A
não se considerar, pois, senão a matéria, abstraindo do Espírito, o homem nada
tem que o distinga do animal. Tudo, porém, muda de aspecto, logo que se
estabelece distinção entre a habitação e o habitante. Ou numa choupana, ou
envergando as vestes de um campônio, um nobre senhor não deixa de o ser. O
mesmo se dá com o homem: não é a sua vestidura de carne que o coloca acima do
bruto e faz dele um ser à parte; é o seu ser espiritual, seu Espírito.
Hipótese sobre a
origem do corpo humano
15.
Da semelhança, que há, de formas exteriores entre o corpo do homem e o do
macaco, concluíram alguns fisiologistas que o primeiro é apenas uma transformação
do segundo. Nada aí há de impossível, nem o que, se assim for, afete a
dignidade do homem. Bem pode dar-se que corpos de macaco tenham servido de
vestidura aos primeiros Espíritos humanos, forçosamente pouco adiantados, que
viessem encarnar na Terra, sendo essa vestidura mais apropriada às suas
necessidades e mais adequadas ao exercício de suas faculdades, do que o corpo
de qualquer outro animal. Em vez de se fazer para o Espírito um invólucro
especial, ele teria achado um já pronto. Vestiu-se então da pele do macaco, sem
deixar de ser Espírito humano, como o homem não raro se reveste da pele de
certos animais, sem deixar de ser homem.
Fique
bem entendido que aqui unicamente se trata de uma hipótese, de modo algum posta
como princípio, mas apresentada apenas para mostrar que a origem do corpo em
nada prejudica o Espírito, que é o ser principal, e que a semelhança do corpo
do homem com o do macaco não implica paridade entre o seu Espírito e o do
macaco.
16.
Admitida essa hipótese, pode dizer-se que, sob a influência e por efeito da
atividade intelectual do seu novo habitante, o envoltório se modificou,
embelezou-se nas particularidades, conservando a forma geral do conjunto (item
11). Melhorados, os corpos, pela procriação, se reproduziram nas mesmas condições,
como sucede com as árvores de enxerto. Deram origem a uma espécie nova, que
pouco a pouco se afastou do tipo primitivo, à proporção que o Espírito
progrediu. O Espírito macaco, que não foi aniquilado, continuou a procriar, para
seu uso, corpos de macaco, do mesmo modo que o fruto da árvore silvestre
reproduz árvores dessa espécie, e o Espírito humano procriou corpos de homem, variantes
do primeiro molde em que ele se meteu. O tronco se bifurcou: produziu um ramo,
que por sua vez se tornou tronco.
Como
na natureza não há transições bruscas, é provável que os primeiros homens
aparecidos na Terra pouco diferissem do macaco pela forma exterior e não muito
também pela inteligência. Em nossos dias ainda há selvagens que, pelo
comprimento dos braços e dos pés e pela conformação da cabeça, têm tanta
parecença com o macaco, que só lhes falta ser peludos, para se tornar completa
a semelhança.
Encarnação dos
Espíritos
17.
O Espiritismo ensina de que maneira se opera a união do Espírito com o corpo,
na encarnação.
Pela
sua essência espiritual, o Espírito é um ser indefinido, abstrato, que não pode
ter ação direta sobre a matéria, sendo-lhe indispensável um intermediário, que
é o envoltório fluídico, o qual, de certo modo, faz parte integrante dele. É
semimaterial esse envoltório, isto é, pertence à matéria pela sua origem e à
espiritualidade pela sua natureza etérea. Como toda matéria, ele é extraído do
fluido cósmico universal que, nessa circunstância, sofre uma modificação
especial. Esse envoltório, denominado perispírito, faz de um ser abstrato, do
Espírito, um ser concreto, definido, apreensível pelo pensamento. Torna-o apto
a atuar sobre a matéria tangível, conforme se dá com todos os fluidos
imponderáveis, que são, como se sabe, os mais poderosos motores.
O
fluido perispirítico constitui, pois, o traço de união entre o Espírito e a
matéria. Enquanto aquele se acha unido ao corpo, serve-lhe ele de veículo ao
pensamento, para transmitir o movimento às diversas partes do organismo, as
quais atuam sob a impulsão da sua vontade e para fazer que repercutam no
Espírito as sensações que os agentes exteriores produzam. Servem-lhe de fios
condutores os nervos como, no telégrafo, ao fluido elétrico serve de condutor o
fio metálico.
18.
Quando o Espírito tem de encarnar num corpo humano em vias de formação, um laço
fluídico, que mais não é do que uma expansão do seu perispírito, o liga ao
gérmen que o atrai por uma força irresistível, desde o momento da concepção. À
medida que o gérmen se desenvolve, o laço se encurta. Sob a influência do
princípio vital e material do gérmen, o perispírito, que possui certas
propriedades da matéria, se une, molécula a molécula, ao corpo em formação, donde
o poder dizer-se que o Espírito, por intermédio do seu perispírito, se enraíza,
de certa maneira, nesse gérmen, como uma planta na terra. Quando o gérmen chega
ao seu pleno desenvolvimento, completa é a união; nasce então o ser para a vida
exterior.
Por
um efeito contrário, a união do perispírito e da matéria carnal, que se
efetuara sob a influência do princípio vital do gérmen, cessa, desde que esse
princípio deixa de atuar, em consequência da desorganização do corpo. Mantida
que era por uma força atuante, tal união se desfaz, logo que essa força deixa
de atuar. Então, o perispírito se desprende, molécula a molécula, conforme se
unira, e ao Espírito é restituída a liberdade. Assim, não é a partida do
Espírito que causa a morte do corpo; a morte é que determina a partida do
Espírito.
Dado
que, um instante após a morte, completa é a integração do Espírito; que suas
faculdades adquirem até maior poder de penetração, ao passo que o princípio de
vida se acha extinto no corpo, provado evidentemente fica que são distintos o
princípio vital e o princípio espiritual. 19. O Espiritismo, pelos fatos cuja
observação ele faculta, dá a conhecer os fenômenos que acompanham essa
separação, que, às vezes, é rápida, fácil, suave e insensível, ao passo que
doutras é lenta, laboriosa, horrivelmente penosa, conforme o estado moral do
Espírito, e pode durar meses inteiros.
20.
Um fenômeno particular, que a observação igualmente assinala, acompanha sempre
a encarnação do Espírito. Desde que este é apanhado no laço fluídico que o prende
ao gérmen, entra em estado de perturbação, que aumenta, à medida que o laço se
aperta, perdendo o Espírito, nos últimos momentos, toda a consciência de si
próprio, de sorte que jamais presencia o seu nascimento. Quando a criança
respira, começa o Espírito a recobrar as faculdades, que se desenvolvem à
proporção que se formam e consolidam os órgãos que lhe hão de servir às
manifestações.
21.
Mas, ao mesmo tempo que o Espírito recobra a consciência de si mesmo, perde a
lembrança do seu passado, sem perder as faculdades, as qualidades e as aptidões
anteriormente adquiridas, que haviam ficado temporariamente em estado de
latência e que, voltando à atividade, vão ajudá-lo a fazer mais e melhor do que
antes. Ele renasce qual se fizera pelo seu trabalho anterior; o seu
renascimento lhe é um novo ponto de partida, um novo degrau a subir. Ainda aí a
bondade do Criador se manifesta, porquanto, adicionada aos amargores de uma
nova existência, a lembrança, muitas vezes aflitiva e humilhante, do passado,
poderia turbá-lo e lhe criar embaraços. Ele apenas se lembra do que aprendeu,
por lhe ser isso útil. Se às vezes lhe é dado ter uma intuição dos
acontecimentos passados, essa intuição é como a lembrança de um sonho fugitivo.
Ei-lo, pois, novo homem por mais antigo que seja como Espírito. Adota novos processos,
auxiliado pelas suas aquisições precedentes. Quando retorna à vida espiritual,
seu passado se lhe desdobra diante dos olhos e ele julga de como empregou o
tempo, se bem ou mal.
22.
Não há, portanto, solução de continuidade na vida espiritual, sem embargo do
esquecimento do passado. Cada Espírito é sempre o mesmo eu, antes, durante e
depois da encarnação, sendo esta, apenas, uma fase da sua existência. O próprio
esquecimento se dá tão só no curso da vida exterior de relação. Durante o sono,
desprendido, em parte, dos liames carnais, restituído à liberdade e à vida
espiritual, o Espírito se lembra, pois que, então, já não tem a visão tão obscurecida
pela matéria.
23.
Tomando-se a humanidade no grau mais ínfimo da escala espiritual, como se
encontra entre os mais atrasados selvagens, perguntar-se-á se é aí o ponto
inicial da alma humana.
Na
opinião de alguns filósofos espiritualistas, o princípio inteligente, distinto
do princípio material, se individualiza e elabora, passando pelos diversos
graus da animalidade. É aí que a alma se ensaia para a vida e desenvolve, pelo
exercício, suas primeiras faculdades. Esse seria para ela, por assim dizer, o
período de incubação. Chegada ao grau de desenvolvimento que esse estado
comporta, ela recebe as faculdades especiais que constituem a alma humana.
Haveria assim filiação espiritual do animal para o homem, como há filiação
corporal.
Este
sistema, fundado na grande lei de unidade que preside à criação, corresponde,
forçoso é convir, à justiça e à bondade do Criador; dá uma saída, uma
finalidade, um destino aos animais, que deixam então de formar uma categoria de
seres deserdados, para terem, no futuro que lhes está reservado, uma
compensação a seus sofrimentos. O que constitui o homem espiritual não é a sua
origem: são os atributos especiais de que ele se apresenta dotado ao entrar na
humanidade, atributos que o transformam, tornando-o um ser distinto, como o
fruto saboroso é distinto da raiz amarga que lhe deu origem. Por haver passado
pela fieira da animalidade, o homem não deixaria de ser homem; já não seria
animal, como o fruto não é a raiz, como o sábio não é o feto informe que o pôs no
mundo.
Mas
este sistema levanta múltiplas questões, cujos prós e contras não é oportuno
discutir aqui, como não o é o exame das diferentes hipóteses que se têm
formulado sobre este assunto. Sem, pois, pesquisarmos a origem do Espírito, sem
procurarmos conhecer as fieiras pelas quais haja ele, porventura, passado,
tomamo-lo ao entrar na humanidade, no ponto em que, dotado de senso moral e de
livre-arbítrio, começa a pesar-lhe a responsabilidade dos seus atos.
24.
A obrigação que tem o Espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua
segurança, ao seu bem-estar, o força a empregar suas faculdades em
investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil, portanto, ao seu
adiantamento é a sua união com a matéria. Daí o constituir uma necessidade a
encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu
proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do
globo que lhe serve de habitação. É assim que, progredindo, colabora na obra do
Criador, da qual se torna fator inconsciente.
25.
Todavia, a encarnação do Espírito não é constante, nem perpétua: é transitória.
Deixando um corpo, ele não retoma imediatamente outro. Durante mais ou menos
considerável lapso de tempo, vive da vida espiritual, que é sua vida normal, de
tal sorte que insignificante vem a ser o tempo que lhe duram as encarnações, se
comparado ao que passa no estado de Espírito livre.
No
intervalo de suas encarnações, o Espírito progride igualmente, no sentido de
que aplica ao seu adiantamento os conhecimentos e a experiência que alcançou no
decorrer da vida corporal; examina o que fez enquanto habitou a Terra, passa em
revista o que aprendeu, reconhece suas faltas, traça planos e toma resoluções
pelas quais conta guiar-se em nova existência, com a ideia de melhor se
conduzir. Desse jeito, cada existência representa um passo para a frente no
caminho do progresso, uma espécie de escola de aplicação.
26.
Normalmente, a encarnação não é uma punição para o Espírito, conforme pensam
alguns, mas uma condição inerente à inferioridade do Espírito e um meio de ele
progredir. (O céu e o inferno, cap. III, itens 8 e seguintes.)
À
medida que progride moralmente, o Espírito se desmaterializa, isto é,
depura-se, com o subtrair-se à influência da matéria; sua vida se espiritualiza,
suas faculdades e percepções se ampliam; sua felicidade se torna proporcional
ao progresso realizado. Entretanto, como atua em virtude do seu livre-arbítrio,
pode ele, por negligência ou má vontade, retardar o seu avanço; prolonga,
conseguintemente, a duração de suas encarnações materiais, que, então, se lhe
tornam uma punição, pois que, por falta sua, ele permanece nas categorias
inferiores, obrigado a recomeçar a mesma tarefa. Depende, pois, do Espírito
abreviar, pelo trabalho de depuração executado sobre si mesmo, a extensão do
período das encarnações.
27.
O progresso material de um planeta acompanha o progresso moral de seus
habitantes. Ora, sendo incessante, como é a criação dos mundos e dos Espíritos
e progredindo estes mais ou menos rapidamente, conforme o uso que façam do
livre-arbítrio, segue-se que há mundos mais ou menos antigos, em graus diversos
de adiantamento físico e moral, onde é mais ou menos material a encarnação e
onde, por conseguinte, o trabalho, para os Espíritos, é mais ou menos rude.
Deste ponto de vista, a Terra é um dos menos adiantados. Povoada de Espíritos
relativamente inferiores, a vida corpórea é aí mais penosa do que noutros
orbes, havendo-os também mais atrasados, onde a existência é ainda mais penosa
do que na Terra e em confronto com os quais esta seria, relativamente, um mundo
ditoso.
28.
Quando, em um mundo, os Espíritos hão realizado a soma de progresso que o
estado desse mundo comporta, deixam-no para encarnar em outro mais adiantado,
onde adquiram novos conhecimentos e assim por diante, até que, não lhes sendo
mais de proveito algum a encarnação em corpos materiais, passam a viver
exclusivamente da vida espiritual, na qual continuam a progredir, mas noutro
sentido e por outros meios. Chegados ao ponto culminante do progresso, gozam da
suprema felicidade. Admitidos nos conselhos do Onipotente, conhecem-lhe o pensamento
e se tornam seus mensageiros, seus ministros diretos no governo dos mundos,
tendo sob suas ordens os Espíritos de todos os graus de adiantamento.
Assim,
qualquer que seja o grau em que se achem na hierarquia espiritual, do mais
ínfimo ao mais elevado, têm eles suas atribuições no grande mecanismo do
universo; todos são úteis ao conjunto, ao mesmo tempo que a si próprios. Aos
menos adiantados, como a simples serviçais, incumbe o desempenho, a princípio
inconsciente, depois, cada vez mais inteligente, de tarefas materiais. Por toda
parte, no mundo espiritual, atividade, em nenhum ponto a ociosidade inútil.
A
coletividade dos Espíritos constitui, de certo modo, a alma do universo. Por
toda parte, o elemento espiritual é que atua em tudo, sob o influxo do
pensamento divino. Sem esse elemento, só há matéria inerte, carente de
finalidade, de inteligência, tendo por único motor as forças materiais, cuja
exclusividade deixa insolúveis uma imensidade de problemas. Com a ação do
elemento espiritual individualizado, tudo tem uma finalidade, uma razão de ser,
tudo se explica. Prescindindo da espiritualidade, o homem esbarra em
dificuldades insuperáveis.
29.
Quando a Terra se encontrou em condições climáticas apropriadas à existência da
espécie humana, encarnaram nela Espíritos humanos. Donde vinham? Quer eles
tenham sido criados naquele momento; quer tenham procedido, completamente
formados, do espaço, de outros mundos, ou da própria Terra, a presença deles
nesta, a partir de certa época, é um fato, pois que antes deles só animais
havia. Revestiram-se de corpos adequados às suas necessidades especiais, às
suas aptidões, e que, fisiologicamente, tinham as características da
animalidade. Sob a influência deles e por meio do exercício de suas faculdades,
esses corpos se modificaram e aperfeiçoaram: é o que a observação comprova. Deixemos
então de lado a questão da origem, insolúvel por enquanto; consideremos o
Espírito, não em seu ponto de partida, mas no momento em que, manifestando-se
nele os primeiros germens do livre-arbítrio e do senso moral o vemos a
desempenhar o seu papel humanitário, sem cogitarmos do meio onde haja
transcorrido o período de sua infância, ou, se o preferirem, de sua incubação.
Malgrado a analogia do seu envoltório com o dos animais, poderemos diferençá-lo
destes últimos pelas faculdades intelectuais e morais que o caracterizam, como,
debaixo das mesmas vestes grosseiras, distinguimos o rústico do homem
civilizado.
30.
Conquanto devessem ser pouco adiantados os primeiros que vieram, pela razão
mesma de terem de encarnar em corpos muito imperfeitos, diferenças sensíveis
haveria decerto entre seus caracteres e aptidões. Os que se assemelhavam,
naturalmente se agruparam por analogia e simpatia. Achou-se a Terra, assim,
povoada de Espíritos de diversas categorias, mais ou menos aptos ou rebeldes ao
progresso. Recebendo os corpos a impressão do caráter do Espírito e
procriando-se esses corpos na conformidade dos respectivos tipos, resultaram
daí diferentes raças, quer quanto ao físico, quer quanto ao moral (item 11).
Continuando a encarnar entre os que se lhes assemelhavam, os Espíritos
similares perpetuaram o caráter distintivo, físico e moral, das raças e dos
povos, caráter que só com o tempo desaparece, mediante a fusão e o progresso
deles. (Revista espírita, julho de 1860: Frenologia e Fisiognomonia.)
31.
Podem comparar-se os Espíritos que vieram povoar a Terra a esses bandos de
emigrantes de origens diversas, que vão estabelecer-se numa terra virgem, onde
encontram madeira e pedra para erguerem habitações, cada um dando à sua um
cunho especial, de acordo com o grau do seu saber e com o seu gênio particular.
Grupam-se então por analogia de origens e de gostos, acabando os grupos por
formar tribos, em seguida povos, cada qual com costumes e caracteres próprios.
32.
Não foi, portanto, uniforme o progresso em toda a espécie humana. Como era
natural, as raças mais inteligentes adiantaram-se às outras, mesmo sem se levar
em conta que muitos Espíritos recém-nascidos para a vida espiritual, vindo
encarnar na Terra com os primeiros aí chegados, tornaram ainda mais sensível a
diferença em matéria de progresso. Fora, com efeito, impossível atribuir-se a
mesma ancianidade de criação aos selvagens, que mal se distinguem do macaco, e
aos chineses, nem, ainda menos, aos europeus civilizados.
Entretanto,
os Espíritos dos selvagens também fazem parte da humanidade e alcançarão um dia
o nível em que se acham seus irmãos mais velhos. Mas sem dúvida, não será em
corpos da mesma raça física, impróprios a um certo desenvolvimento intelectual
e moral. Quando o instrumento já não estiver em correspondência com o progresso
que hajam alcançado, eles emigrarão daquele meio, para encarnar noutro mais
elevado e assim por diante, até que tenham conquistado todas as graduações
terrestres, ponto em que deixarão a Terra, para passar a mundos mais avançados.
(Revista espírita, abril de 1862: Perfectibilidade da Raça Negra.)
Reencarnações
33.
O princípio da reencarnação é uma consequência necessária da lei de progresso.
Sem a reencarnação, como se explicaria a diferença que existe entre o presente
estado social e o dos tempos de barbárie? Se as almas são criadas ao mesmo
tempo que os corpos, as que nascem hoje são tão novas, tão primitivas, quanto
as que viviam há mil anos; acrescentemos que nenhuma conexão haveria entre
elas, nenhuma relação necessária; seriam de todo estranhas umas às outras. Por
que, então, as de hoje haviam de ser melhor dotadas por Deus, do que as que as
precederam? Por que têm aquelas melhor compreensão? Por que possuem instintos mais
apurados, costumes mais brandos? Por que têm a intuição de certas coisas, sem
as haverem aprendido? Duvidamos de que alguém saia desses dilemas, a menos
admita que Deus cria almas de diversas qualidades, de acordo com os tempos e
lugares, proposição inconciliável com a ideia de uma justiça soberana. (Cap.
II, item 10.)
Admiti,
ao contrário, que as almas de agora já viveram em tempos distantes; que
possivelmente foram bárbaras como os séculos em que estiveram no mundo, mas que
progrediram; que para cada nova existência trazem o que adquiriram nas
existências precedentes; que, por conseguinte, as dos tempos civilizados não
são almas criadas mais perfeitas, porém que se aperfeiçoaram por si mesmas com
o tempo, e tereis a única explicação plausível da causa do progresso social. (O
livro dos espíritos, Parte 2a , caps. IV e V.)
34.
Pensam alguns que as diferentes existências da alma se efetuam, passando elas
de mundo em mundo e não num mesmo orbe, onde cada Espírito viria uma única vez.
Seria
admissível esta doutrina, se todos os habitantes da Terra estivessem no mesmo
nível intelectual e moral. Eles então só poderiam progredir indo de um mundo a
outro e nenhuma utilidade lhes adviria da encarnação na Terra. Desde que aí se
notam a inteligência e a moralidade em todos os graus, desde a selvajaria que
beira o animal até a mais adiantada civilização, é evidente que esse mundo
constitui um vasto campo de progresso. Por que haveria o selvagem de ir
procurar alhures o grau de progresso logo acima do em que ele está, quando esse
grau se lhe acha ao lado e assim sucessivamente? Por que não teria podido o
homem adiantado fazer os seus primeiros estágios senão em mundos inferiores, quando
ao seu derredor estão seres análogos aos desses mundos? quando, não só de povo
a povo, mas no seio do mesmo povo e da mesma família, há diferentes graus de
adiantamento? Se fosse assim, Deus houvera feito coisa inútil, colocando lado a
lado a ignorância e o saber, a barbaria e a civilização, o bem e o mal, quando
precisamente esse contato é que faz que os retardatários avancem.
Não
há, pois, necessidade de que os homens mudem de mundo a cada etapa de
aperfeiçoamento, como não há de que o estudante mude de colégio para passar de
uma classe a outra. Longe de ser isso vantagem para o progresso, ser-lhe-ia um
entrave, porquanto o Espírito ficaria privado do exemplo que lhe oferece a
observação do que ocorre nos graus mais elevados e da possibilidade de reparar
seus erros no mesmo meio e em presença dos a quem ofendeu, possibilidade que é,
para ele, o mais poderoso modo de realizar o seu progresso moral. Após curta
coabitação, dispersando-se os Espíritos e tornando-se estranhos uns aos outros,
romper-se-iam os laços de família, à falta de tempo para se consolidarem.
Ao
inconveniente moral se juntaria um inconveniente material. A natureza dos
elementos, as leis orgânicas, as condições de existência variam, de acordo com
os mundos; sob esse aspecto, não há dois perfeitamente idênticos. Os tratados
de Física, de Química, de Anatomia, de Medicina, de Botânica etc., para nada
serviriam nos outros mundos; entretanto, não fica perdido o que neles se
aprende; não só isso desenvolve a inteligência, como também as ideias que se
colhem de tais obras auxiliam a aquisição de outras. (Cap. VI, itens 61 e
seguintes.) Se apenas uma única vez fizesse o Espírito a sua aparição,
frequentemente brevíssima, num mesmo mundo, em cada imigração ele se acharia em
condições inteiramente diversas; operaria de cada vez sobre elementos novos,
com força e segundo leis que desconheceria, antes de ter tido tempo de elaborar
os elementos conhecidos, de os estudar, de os aplicar. Teria de fazer, de cada vez,
um novo aprendizado e essas mudanças contínuas representariam um obstáculo ao
progresso. O Espírito, portanto, tem que permanecer no mesmo mundo, até que
haja adquirido a soma de conhecimentos e o grau de perfeição que esse mundo
comporta. (Item 31.)
Que
os Espíritos deixem, por um mundo mais adiantado, aquele do qual nada mais
podem auferir, é como deve ser e é. Tal o princípio. Se alguns há que
antecipadamente deixam o mundo em que vinham encarnando, é isso devido a causas
individuais que Deus pesa em sua sabedoria.
Tudo
na Criação tem uma finalidade, sem o que Deus não seria nem prudente, nem
sábio. Ora, se a Terra se destinasse a ser uma única etapa do progresso para
cada indivíduo, que utilidade haveria, para os Espíritos das crianças que
morrem em tenra idade, vir passar aí alguns anos, alguns meses, algumas horas,
durante os quais nada podem haurir dele? O mesmo ocorre se pondere com
referência aos idiotas e aos cretinos. Uma teoria somente é boa sob a condição
de resolver todas as questões a que diz respeito. A questão das mortes
prematuras há sido uma pedra de tropeço para todas as doutrinas, exceto para a
Doutrina Espírita, que a resolveu de maneira racional e completa.
Para
o progresso daqueles que cumprem na Terra uma missão normal, há vantagem real
em volverem ao mesmo meio para aí continuarem o que deixaram inacabado, muitas
vezes na mesma família ou em contato com as mesmas pessoas, a fim de repararem
o mal que tenham feito, ou de sofrerem a pena de talião.
Emigrações e
imigrações dos Espíritos
35.
No intervalo de suas existências corporais, os Espíritos se encontram no estado
de erraticidade e formam a população espiritual ambiente da Terra. Pelas mortes
e pelos nascimentos, as duas populações, terrestre e espiritual, deságuam
incessantemente uma na outra. Há, pois, diariamente, emigrações do mundo
corpóreo para o mundo espiritual e imigrações deste para aquele: é o estado
normal.
36.
Em certas épocas, determinadas pela sabedoria divina, essas emigrações e
imigrações se operam por massas mais ou menos consideráveis, em virtude das
grandes revoluções que lhes ocasionam a partida simultânea em quantidades
enormes, logo substituídas por equivalentes quantidades de encarnações. Os
flagelos destruidores e os cataclismos devem, portanto, considerar-se como
ocasiões de chegadas e partidas coletivas, meios providenciais de renovamento
da população corporal do globo, de ela se retemperar pela introdução de novos elementos
espirituais mais depurados. Na destruição, que por essas catástrofes se
verifica, de grande número de corpos, nada mais há do que rompimento de
vestiduras; nenhum Espírito perece; eles apenas mudam de planos; em vez de
partirem isoladamente, partem em bandos, essa a única diferença, visto que, ou
por uma causa ou por outra, fatalmente têm que partir, cedo ou tarde.
As
renovações rápidas, quase instantâneas, que se produzem no elemento espiritual
da população, por efeito dos flagelos destruidores, apressam o progresso
social; sem as emigrações e imigrações que de tempos a tempos lhe vêm dar
violento impulso, só com extrema lentidão esse progresso se realizaria.
É de
notar-se que todas as grandes calamidades que dizimam as populações são sempre
seguidas de uma era de progresso de ordem física, intelectual, ou moral e, por
conseguinte, no estado social das nações que as experimentam. É que elas têm
por fim operar uma remodelação na população espiritual, que é a população normal
e ativa do globo.
37.
Essa transfusão, que se efetua entre a população encarnada e desencarnada de um
planeta, igualmente se efetua entre os mundos, quer individualmente, nas
condições normais, quer por massas, em circunstâncias especiais. Há, pois, emigrações
e imigrações coletivas de um mundo para outro, donde resulta a introdução, na
população de um deles, de elementos inteiramente novos. Novas raças de
Espíritos, vindo misturar-se às existentes, constituem novas raças de homens.
Ora, como os Espíritos nunca mais perdem o que adquiriram, consigo trazem eles
sempre a inteligência e a intuição dos conhecimentos que possuem, o que faz que
imprimam o caráter que lhes é peculiar à raça corpórea que venham animar. Para
isso, só necessitam de que novos corpos sejam criados para serem por eles
usados. Uma vez que a espécie corporal existe, eles encontram sempre corpos prontos
para os receber. Não são mais, portanto, do que novos habitantes. chegando à
Terra, integram-lhe, a princípio, a população espiritual; depois, encarnam,
como os outros.
Raça adâmica
38.
De acordo com o ensino dos Espíritos, foi uma dessas grandes imigrações, ou, se
quiserem, uma dessas colônias de Espíritos, vinda de outra esfera, que deu
origem à raça simbolizada na pessoa de Adão e, por essa razão mesma, chamada
raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra já estava povoada desde tempos
imemoriais, como a América, quando aí chegaram os europeus. Mais adiantada do
que as que a tinham precedido neste planeta, a raça adâmica é, com efeito, a
mais inteligente, a que impele ao progresso todas as outras. A Gênese no-la
mostra, desde os seus primórdios, industriosa, apta às artes e às ciências, sem
haver passado aqui pela infância espiritual, o que não se dá com as raças
primitivas, mas concorda com a opinião de que ela se compunha de Espíritos que
já tinham progredido bastante. Tudo prova que a raça adâmica não é antiga na
Terra e nada se opõe a que seja considerada como habitando este globo desde
apenas alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos
geológicos, nem com as observações antropológicas, antes tenderia a
confirmá-las.
39.
No estado atual dos conhecimentos, não é admissível a doutrina segundo a qual
todo o gênero humano procede de uma individualidade única, de há seis mil anos
somente a esta parte. Tomadas à ordem física e à ordem moral, as considerações
que a contradizem se resumem no seguinte:
Do
ponto de vista fisiológico, algumas raças apresentam característicos tipos
particulares, que não permitem se lhes assinale uma origem comum. Há diferenças
que evidentemente não são simples efeito do clima, pois que os brancos que se
reproduzem nos países dos negros não se tornam negros e reciprocamente. O ardor
do Sol tosta e brune a epiderme, porém, nunca transformou um branco em negro, nem
lhe achatou o nariz, ou mudou a forma dos traços da fisionomia, nem lhe tornou
lanzudo e encarapinhado o cabelo comprido e sedoso. Sabe-se hoje que a cor do
negro provém de um tecido especial subcutâneo, (1) peculiar à espécie.
Há,
pois, de se considerar as raças negras, mongólicas, caucásicas como tendo
origem própria, como tendo nascido simultânea ou sucessivamente em diversas
partes do globo. O cruzamento delas produziu as raças mistas secundárias. Os
caracteres fisiológicos das raças primitivas constituem indício evidente de que
elas procedem de tipos especiais. As mesmas considerações se aplicam,
conseguintemente, assim aos homens, quanto aos animais, no que concerne à
pluralidade dos troncos. (Cap. X, itens 2 e seguintes.)
(1) A
pele é praticamente idêntica em todos os grupos étnicos humanos. Nos indivíduos
de pele escura, os melanócitos produzem mais melanina que naqueles de pele
clara. A responsável pela pigmentação da pele humana é a atividade química de
melanócitos, que varia de acordo com o DNA de cada indivíduo.
40.
Adão e seus descendentes são apresentados na Gênese como homens sobremaneira
inteligentes, pois que, desde a segunda geração, constroem cidades, cultivam a
terra, trabalham os metais. São rápidos e duradouros seus progressos nas artes
e nas ciências. Não se conceberia, portanto, que esse tronco tenha tido, como
ramos, numerosos povos tão atrasados, de inteligência tão rudimentar, que ainda
em nossos dias rastejam a animalidade, que hajam perdido todos os traços e,
até, a menor lembrança do que faziam seus pais. Tão radical diferença nas
aptidões intelectuais e no desenvolvimento moral atesta, com evidência não
menor, uma diferença de origem.
41.
Independentemente dos fatos geológicos, da população do globo se tira a prova
da existência do homem na Terra, antes da época fixada pela Gênese.
Sem
falar da cronologia chinesa, que remonta, dizem, a trinta mil anos, documentos
mais autênticos provam que o Egito, a Índia e outros países já eram povoados e
floresciam, pelo menos, três mil anos antes da Era Cristã, mil anos, portanto,
depois da criação do primeiro homem, segundo a cronologia bíblica. Documentos e
observações recentes não consentem hoje dúvida alguma quanto às relações que
existiram entre a América e os antigos egípcios, donde se tem de concluir que
essa região já era povoada naquela época. Forçoso então seria admitir-se que,
em mil anos, a posteridade de um único homem pôde povoar a maior parte da Terra.
Ora, semelhante fecundidade estaria em antagonismo com todas as leis
antropológicas (1).
(1) Na
Exposição Universal de 1867, apresentaram-se antiguidades do México que nenhuma
dúvida deixam sobre as relações que os povos desse país tiveram com os antigos
egípcios. O Sr. Léon Méchedin, numa nota afixada no templo mexicano da
Exposição, assim se exprimia: “Não é
conveniente se publiquem, prematuramente, as descobertas feitas, do ponto de vista
da história do homem, pela recente expedição científica do México. Entretanto, nada se opõe a que o público
saiba, desde já, que a exploração assinalou a existência de grande número de
cidades desaparecidas com o tempo, mas que a picareta e o incêndio podem retirar
de suas mortalhas. As escavações puseram a descoberto, por toda parte, três
camadas de civilizações, que dão ao mundo americano uma antiguidade fabulosa.” É assim que todos os dias a Ciência opõe o
desmentido dos fatos à doutrina que limita a 6.000 anos a aparição do homem na
Terra e pretende fazê-lo derivar de um tronco único.
42.
Ainda mais evidente se torna a impossibilidade, desde que se admita, com a
Gênese, que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, com exceção de Noé e de
sua família, que não era numerosa, no ano de 1656 do mundo, ou seja, 2.348 anos
antes da Era Cristã. Em realidade, pois, daquele patriarca é que dataria o
povoamento da Terra. Ora, quando os hebreus se estabeleceram no Egito, 612 anos
após o dilúvio, já o Egito era um poderoso império, que teria sido povoado, sem
falar de outros países, em menos de seis séculos, só pelos descendentes de Noé,
o que não é admissível.
Notemos,
de passagem, que os egípcios acolheram os hebreus como estrangeiros. Seria de
espantar que houvessem perdido a lembrança de uma tão próxima comunidade de
origem, quando conservaram religiosamente os monumentos de sua história.
Rigorosa
lógica, com os fatos a corroborá-la da maneira mais peremptória, mostra, pois,
que o homem está na Terra desde tempo indeterminado, muito anterior à época que
a Gênese assinala. O mesmo ocorre com a diversidade dos troncos primitivos,
porquanto demonstrar a impossibilidade de uma proposição é demonstrar a
proposição contrária. Se a Geologia descobre traços autênticos da presença do homem
antes do grande período diluviano, ainda mais completa é a demonstração.
Doutrina dos anjos
decaídos e da perda do paraíso (1)
43.
Os mundos progridem, fisicamente, pela elaboração da matéria e, moralmente,
pela purificação dos Espíritos que os habitam. A felicidade neles está na razão
direta da predominância do bem sobre o mal e a predominância do bem resulta do
adiantamento moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, pois que
com a inteligência podem eles fazer o mal.
Logo
que um mundo tem chegado a um de seus períodos de transformação, a fim de
ascender na hierarquia dos mundos, operam-se mutações na sua população
encarnada e desencarnada. É quando se dão as grandes emigrações e imigrações
(itens 34 e 35). Os que, apesar da sua inteligência e do seu saber,
perseveraram no mal, sempre revoltados contra Deus e suas leis, se tornariam
daí em diante um embaraço ao ulterior progresso moral, uma causa permanente de
perturbação para a tranquilidade e a felicidade dos bons, pelo que são
excluídos da humanidade a que até então pertenceram e tangidos para mundos
menos adiantados, onde aplicarão a inteligência e a intuição dos conhecimentos
que adquiriram ao progresso daqueles entre os quais passam a viver, ao mesmo
tempo que expiarão, por uma série de existências penosas e por meio de árduo trabalho,
suas passadas faltas e seu voluntário endurecimento.
Que
serão tais seres, entre essas outras populações, para eles novas, ainda na
infância da barbárie, senão anjos ou Espíritos decaídos, ali vindos em
expiação? Não é, precisamente, para eles, um paraíso perdido a terra donde
foram expulsos? Essa terra não lhes era um lugar de delícias, em comparação com
o meio ingrato onde vão ficar relegados por milhares de séculos, até que hajam
merecido libertar-se dele? A vaga lembrança intuitiva que guardam da terra
donde vieram é uma como longínqua miragem a lhes recordar o que perderam por
culpa própria.
(1) Quando,
na Revista espírita de janeiro de 1862, publicamos um artigo sobre a
interpretação da doutrina dos anjos decaídos, apresentamos essa teoria como
simples hipótese, sem outra autoridade afora a de uma opinião pessoal
controvertível, porque nos faltavam então elementos bastantes para uma
afirmação peremptória. Expusemo-la a título de ensaio, tendo em vista provocar
o exame da questão, decididos, porém, a abandoná-la ou modificá-la, se fosse
preciso. Presentemente, essa teoria já passou pela prova do controle universal.
Não só foi bem-aceita pela maioria dos espíritas, como a mais racional e a mais
concorde com a soberana Justiça de Deus, mas também foi confirmada pela
generalidade das instruções que os Espíritos deram sobre o assunto. O mesmo se
verificou com a que concerne à origem da raça adâmica.
44.
Ao mesmo tempo que os maus se afastam do mundo em que habitavam, Espíritos
melhores aí os substituem, vindos quer da erraticidade, concernente a esse mundo,
quer de um mundo menos adiantado, que mereceram abandonar; Espíritos esses para
os quais a nova habitação é uma recompensa. Assim renovada e depurada a
população espiritual dos seus piores elementos, ao cabo de algum tempo o estado
moral do mundo se encontra melhorado.
São
às vezes parciais essas mutações, isto é, circunscritas a um povo, a uma raça;
doutras vezes, são gerais, quando chega para o globo o período de renovação.
45.
A raça adâmica apresenta todos os caracteres de uma raça proscrita. Os
Espíritos que a integram foram exilados para a Terra, já povoada, mas de homens
primitivos, imersos na ignorância, que aqueles tiveram por missão fazer
progredir, levando-lhes as luzes de uma inteligência desenvolvida. Não é esse,
com efeito, o papel que essa raça há desempenhado até hoje? Sua superioridade
intelectual prova que o mundo donde vieram os Espíritos que a compõem era mais
adiantado do que a Terra. Havendo entrado esse mundo numa nova fase de
progresso e não tendo tais Espíritos querido, pela sua obstinação, colocar-se à
altura desse progresso, lá estariam deslocados e constituiriam um obstáculo à marcha
providencial das coisas. Foram, em consequência, desterrados de lá e substituídos
por outros que isso mereceram.
Relegando
aquela raça para esta terra de labor e de sofrimentos, teve Deus razão para lhe
dizer: “Dela tirarás o alimento com o suor da tua fronte.” Na sua mansuetude,
prometeu-lhe que lhe enviaria um Salvador, isto é, um ser que a esclareceria
sobre o caminho que lhe cumpria tomar, para sair desse lugar de miséria, desse
inferno, e ganhar a felicidade dos eleitos. Esse Salvador, Ele lho enviou na
pessoa do Cristo, que lhe ensinou a lei de amor e de caridade que ela, a raça,
desconhecia e que seria a verdadeira âncora de salvação.
É
igualmente com o objetivo de fazer que a humanidade se adiante em determinado
sentido que Espíritos superiores, embora não tenham as qualidades do Cristo,
encarnam de tempos a tempos na Terra para desempenhar missões especiais,
proveitosas, simultaneamente, ao adiantamento pessoal deles, se as cumprirem de
acordo com os desígnios do Criador.
46.
Sem a reencarnação, a missão do Cristo seria um contrassenso, assim como a
promessa feita por Deus. Suponhamos, com efeito, que a alma de cada homem seja
criada por ocasião do nascimento do corpo e não faça mais do que aparecer e
desaparecer da Terra: nenhuma relação haveria entre as que vieram desde Adão
até Jesus Cristo, nem entre as que vieram depois; todas são estranhas umas às
outras. A promessa que Deus fez de um Salvador não poderia entender-se com os
descendentes de Adão, uma vez que suas almas ainda não estavam criadas. Para
que a missão do Cristo pudesse corresponder às palavras de Deus, fora mister se
aplicassem às mesmas almas. Se estas são novas, não podem estar maculadas pela
falta do primeiro pai, que é apenas pai carnal e não pai espiritual. A não ser
assim, Deus houvera criado almas com a mácula de uma falta que não podia deixar
nelas vestígio, pois que elas não existiam. A doutrina vulgar do pecado
original implica, conseguintemente, a necessidade de uma relação entre as almas
do tempo do Cristo e as do tempo de Adão; implica, portanto, a reencarnação.
Dizei
que todas essas almas faziam parte da colônia de Espíritos exilados na Terra ao
tempo de Adão e que se achavam manchadas dos vícios que lhes acarretaram ser
excluídas de um mundo melhor e tereis a única interpretação racional do pecado
original, pecado peculiar a cada indivíduo e não resultado da responsabilidade
da falta de outrem a quem ele jamais conheceu. Dizei que essas almas ou
Espíritos renascem diversas vezes na Terra para a vida corpórea, a fim de
progredirem, depurando-se; que o Cristo veio esclarecer essas mesmas almas, não
só acerca de suas vidas passadas, como também com relação às suas vidas
ulteriores e então, mas só então, lhe dareis à missão um sentido real e sério,
que a razão pode aceitar.
47.
Um exemplo familiar, mas frisante pela analogia, ainda mais compreensíveis
tornará os princípios que acabam de ser expostos.
A 24
de maio de 1861, a fragata Ifigênia transportou à Nova Caledônia uma companhia
disciplinar composta de 291 homens. À chegada, o comandante lhes baixou uma
ordem do dia concebida assim:
“Pondo
os pés nesta terra longínqua, já sem dúvida compreendestes o papel que vos está
reservado.
A
exemplo dos bravos soldados da nossa marinha, que servem sob as vossas vistas,
ajudar-nos-eis a levar com brilho o facho da civilização ao seio das tribos
selvagens da Nova Caledônia. Não é uma bela e nobre missão, pergunto?
Desempenhá-la-eis dignamente.
Escutai
a palavra e os conselhos dos vossos chefes. Estou à frente deles. Entendei bem
as minhas palavras.
A
escolha do vosso comandante, dos vossos oficiais, dos vossos suboficiais e
cabos constitui garantia certa de que todos os esforços serão tentados para
fazer-vos excelentes soldados, digo mais: para vos elevar à altura de bons
cidadãos e vos transformar em colonos honrados, se o quiserdes.
A
nossa disciplina é severa e assim tem que ser. Colocada em nossas mãos, ela
será firme e inflexível, ficai sabendo, do mesmo modo que, justa e paternal,
saberá distinguir o erro do vício e da degradação...”
Aí
tendes um punhado de homens expulsos, pelo seu mau proceder, de um país
civilizado e mandados, por punição, para o meio de um povo bárbaro. Que lhes
diz o chefe? — “Infringistes as leis do vosso país; nele vos tornastes causa de
perturbação e escândalo e fostes expulsos; mandam-vos para aqui, mas aqui
podeis resgatar o vosso passado; podeis, pelo trabalho, criar-vos aqui uma
posição honrosa e tornar-vos cidadãos honestos. Tendes uma bela missão a
cumprir: levar a civilização a estas tribos selvagens. A disciplina será
severa, mas justa, e saberemos distinguir os que procederem bem. Tendes nas
mãos a vossa sorte; podeis melhorá-la, se o quiserdes, porque tendes o
livre-arbítrio.”
Para
aqueles homens, lançados ao seio da selvajaria, a mãe-pátria não é um paraíso
que eles perderam pelas suas próprias faltas e por se rebelarem contra a lei?
Naquela terra distante, não são eles anjos decaídos? A linguagem do chefe não é
idêntica à de que usou Deus falando aos Espíritos exilados na Terra:
“Desobedecestes às minhas leis e, por isso, eu vos expulsei do mundo onde
podíeis viver ditosos e em paz. Aqui, estareis condenados ao trabalho; mas,
podereis, pelo vosso bom procedimento, merecer perdão e reganhar a pátria que
perdestes por vossa falta, isto é, o Céu?”
48.
À primeira vista, a ideia de decaimento parece em contradição com o princípio
segundo o qual os Espíritos não podem retrogradar. Deve-se, porém, considerar
que não se trata de um retrocesso ao estado primitivo. O Espírito, ainda que
numa posição inferior, nada perde do que adquiriu; seu desenvolvimento moral e
intelectual é o mesmo, qualquer que seja o meio onde se ache colocado. Ele está
na situação do homem do mundo condenado à prisão por seus delitos. Certamente, esse
homem se encontra degradado, decaído, do ponto de vista social, mas não se
torna nem mais estúpido, nem mais ignorante.
49.
Será crível, perguntamos agora, que esses homens mandados para a Nova Caledônia
vão transformar-se de súbito em modelos de virtude? Que vão abjurar
repentinamente seus erros do passado? Para supor tal coisa, fora necessário
desconhecer a humanidade. Pela mesma razão, os Espíritos da raça adâmica, uma
vez transplantados para a terra do exílio, não se despojaram instantaneamente
do seu orgulho e de seus maus instintos; ainda por muito tempo conservaram as
tendências que traziam, um resto da velha levedura. Ora, não é esse o pecado
original?
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