Previsões concernentes ao espiritismo
Minha primeira iniciação no espiritismo
A
minha primeira iniciação no Espiritismo Foi em 1854 que pela primeira vez ouvi
falar das mesas girantes. Encontrei um dia o magnetizador, Sr. Fortier, a quem
eu conhecia desde muito tempo e que me disse: “Já sabe da singular propriedade
que se acaba de descobrir no Magnetismo? Parece que já não são somente as
pessoas que se podem magnetizar, mas também as mesas, conseguindo-se que elas girem
e caminhem à vontade.” “É, com efeito, muito singular” — respondi —; “mas, a
rigor, isso não me parece radicalmente impossível. O fluido magnético, que é
uma espécie de eletricidade, pode perfeitamente atuar sobre os corpos inertes e
fazer que eles se movam.” Os relatos, que os jornais publicaram, de
experiências feitas em Nantes, em Marselha e em algumas outras cidades, não
permitiam dúvidas acerca da realidade do fenômeno.
Algum
tempo depois, encontrei-me novamente com o Sr. Fortier, que me disse: “Temos
uma coisa muito mais extraordinária; não só se consegue que uma mesa se mova,
magnetizando-a, como também que fale. Interrogada, ela responde.” “Isto agora”
— repliquei-lhe —, “é outra questão. Só acreditarei quando o vir e quando me
provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa
tornar-se sonâmbula. Até lá, permita que eu não veja no caso mais do que um
conto para fazer-nos dormir em pé”.
Era
lógico este raciocínio: eu concebia o movimento por efeito de uma força
mecânica, mas, ignorando a causa e a lei do fenômeno, afigurava-se-me absurdo
atribuir-se inteligência a uma coisa puramente material. Achava-me na posição
dos incrédulos atuais, que negam porque apenas veem um fato que não
compreendem. Há 50 anos, se a alguém dissessem, pura e simplesmente, que se
podia transmitir um despacho telegráfico a 500 léguas e receber a resposta
dentro de uma hora, esse alguém se riria e não teriam faltado excelentes razões
científicas para provar que semelhante coisa era materialmente impossível.
Hoje, quando já se conhece a lei da eletricidade, isso a ninguém espanta, nem
sequer ao camponês. O mesmo se dá com todos os fenômenos espíritas. Para quem
quer que não conheça a lei que os rege, eles parecem sobrenaturais,
maravilhosos e, por conseguinte, impossíveis e ridículos. Uma vez conhecida a
lei, desaparece a maravilha, o fato deixa de ter o que repugne à razão, porque
se prende à possibilidade de ele produzir-se.
Eu estava, pois, diante de um fato inexplicado, aparentemente contrário às Leis da Natureza e que a minha razão repelia. Ainda nada vira, nem observara; as experiências, realizadas em presença de pessoas honradas e dignas de fé, confirmavam a minha opinião, quanto à possibilidade do efeito puramente material; a ideia, porém, de uma mesa falante ainda não me entrara na mente.
No
ano seguinte, estávamos em começo de 1855, encontrei-me com o Sr. Carlotti,
amigo de 25 anos, que me falou daqueles fenômenos durante cerca de uma hora,
com o entusiasmo que consagrava a todas as ideias novas. Ele era corso, de
temperamento ardoroso e enérgico, e eu sempre lhe apreciara as qualidades que
distinguem uma grande e bela alma, porém desconfiava da sua exaltação. Foi o
primeiro que me falou na intervenção dos Espíritos e me contou tantas coisas
surpreendentes que, longe de me convencer, me aumentou as dúvidas. “Um dia, o
senhor será dos nossos”, concluiu. “Não direi que não”, respondi-lhe; “veremos
isso mais tarde.”
Passado
algum tempo, pelo mês de maio de 1855, fui à casa da sonâmbula Sra. Roger, em
companhia do Sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o Sr. Pâtier e a Sra.
Plainemaison, que daqueles fenômenos me falaram no mesmo sentido em que o Sr.
Carlotti se pronunciara, mas em tom muito diverso. O Sr. Pâtier era funcionário
público, já de certa idade, muito instruído, de caráter grave, frio e calmo;
sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, produziu em mim viva
impressão e, quando me convidou a assistir às experiências que se realizavam em
casa da Sra. Plainemaison, à Rua Grange-Batelière, (18), aceitei imediatamente.
A reunião foi marcada para terça-feira18 de maio às oito horas da noite.
Foi
aí que, pela primeira vez, presenciei o fenômeno das mesas que giravam,
saltavam e corriam em condições tais que não deixavam lugar para qualquer
dúvida. Assisti então a alguns ensaios, muito imperfeitos, de escrita mediúnica
numa ardósia, com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de
precisar-se, mas havia ali um fato que necessariamente decorria de uma causa. Eu
entrevia, naquelas aparentes futilidades, no passatempo que faziam daqueles
fenômenos, qualquer coisa de sério, como que a revelação de uma nova lei, que
tomei a mim estudar a fundo.
Bem
depressa, ocasião se me ofereceu de observar mais atentamente os fatos, como
ainda o não fizera. Numa das reuniões da Sra. Plainemaison, travei conhecimento
com a família Baudin, que residia então à Rua Rochechouart. O Sr. Baudin me
convidou para assistir às sessões hebdomadárias que se realizavam em sua casa e
às quais me tornei desde logo muito assíduo.
(18)
N.E.: A data ficou em branco no manuscrito.
Eram
bastante numerosas essas reuniões; além dos frequentadores habituais,
admitiam-se todos os que solicitavam permissão para assistir a elas. Os médiuns
eram as duas senhoritas Baudin, que escreviam numa ardósia com o auxílio de uma
cesta, chamada carrapeta e que se encontra descrita em O livro dos médiuns.
Esse processo, que exige o concurso de duas pessoas, exclui toda possibilidade
de intromissão das ideias do médium.
Aí,
tive ensejo de ver comunicações contínuas e respostas a perguntas formuladas,
algumas vezes, até, perguntas mentais, que acusavam, de modo evidente, a
intervenção de uma inteligência estranha. Eram geralmente frívolos os assuntos
tratados. Os assistentes se ocupavam, principalmente, de coisas respeitantes à
vida material, ao futuro, numa palavra, de coisas que nada tinham de realmente
sério; a curiosidade e o divertimento eram os móveis capitais de todos. Dava o
nome de Zéfiro o Espírito que costumava manifestar-se, nome perfeitamente
acorde com o seu caráter e com o da reunião. Entretanto, era muito bom e se
dissera protetor da família. Se com frequência fazia rir, também sabia, quando preciso,
dar ponderados conselhos e manejar, se ensejo se apresentava, o epigrama,
espirituoso e mordaz. Relacionamo-nos de pronto e ele me ofereceu constantes
provas de grande simpatia. Não era um Espírito muito adiantado, porém, mais
tarde, assistido por Espíritos Superiores, me auxiliou nos meus trabalhos.
Depois, disse que tinha de reencarnar e dele não mais ouvi falar.
Foi
nessas reuniões que comecei os meus estudos sérios de Espiritismo, menos,
ainda, por meio de revelações do que de observações. Apliquei a essa nova
ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias
preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia consequências; dos
efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico
dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas
as dificuldades da questão.
Foi
assim que procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16
anos. Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender;
percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão
controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara
em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas
crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção, e não
levianamente; ser positivista, e não idealista, para não me deixar iludir.
Um
dos primeiros resultados que colhi das minhas observações foi que os Espíritos,
nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam nem a plena sabedoria,
nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se circunscrevia ao grau,
que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião deles só tinha o valor
de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o princípio, esta verdade me
preservou do grave escolho de crer na infalibilidade dos Espíritos e me impediu
de formular teorias prematuras, tendo por base o que fora dito por um ou alguns
deles.
O
simples fato da comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem,
provava a existência do Mundo Invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um
imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até
então inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era que aquela
comunicação permitia se conhecessem o estado desse mundo, seus costumes, se
assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada Espírito, em virtude da sua
posição pessoal e de seus conhecimentos, me desvendava uma face daquele mundo,
do mesmo modo que se chega a conhecer o estado de um país, interrogando
habitantes seus de todas as classes, não podendo um só, individualmente,
informar-nos de tudo. Compete ao observador formar o conjunto, por meio dos
documentos colhidos de diferentes lados, colecionados, coordenados e comparados
uns com outros. Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com
homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar, e não
reveladores predestinados.
Tais
as disposições com que empreendi meus estudos e neles prossegui sempre.
Observar, comparar e julgar, essa a regra que constantemente segui. Até ali, as
sessões em casa do Sr. Baudin nenhum fim determinado tinham tido. Tentei lá
obter a resolução dos problemas que me interessavam, do ponto de vista da
Filosofia, da Psicologia e da natureza do Mundo Invisível. Levava para cada
sessão uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre
respondidas com precisão, profundeza e lógica. A partir de então, as sessões
assumiram caráter muito diverso.
Entre
os assistentes contavam-se pessoas sérias, que tomaram por elas vivo interesse
e, se me acontecia faltar, ficavam sem saberem o que fazer. As perguntas fúteis
haviam perdido, para a maioria, todo atrativo. Eu, a princípio, cuidara apenas
de instruir-me; mais tarde, quando vi que aquilo constituía um todo e ganhava
as proporções de uma doutrina, tive a ideia de publicar os ensinos recebidos,
para instrução de toda a gente. Foram aquelas mesmas questões que,
sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a base de O livro dos
espíritos.
No
ano seguinte, em 1856, frequentei ao mesmo tempo as reuniões espíritas que se
celebravam à Rua Tiquetone, em casa do Sr. Roustan e Srta. Japhet, sonâmbula.
Eram sérias essas reuniões e se realizavam com ordem. As comunicações eram
transmitidas por intermédio da Srta. Japhet, médium, com auxílio da cesta de
bico.
Estava
concluído, em grande parte, o meu trabalho e tinha as proporções de um livro.
Eu, porém, fazia questão de submetê-lo ao exame de outros Espíritos, com o
auxílio de diferentes médiuns. Lembrei-me de fazer dele objeto de estudo nas
reuniões do Sr. Roustan. Ao cabo de algumas sessões, disseram os Espíritos que
preferiam revê-lo na intimidade e marcaram para tal efeito certos dias nos
quais eu trabalharia em particular com a Srta. Japhet, a fim de fazê-lo com
mais calma e também de evitar as indiscrições e os comentários prematuros do
público.
Não
me contentei, entretanto, com essa verificação; os Espíritos assim mo haviam
recomendado. Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns,
sempre que se apresentava ocasião, eu a aproveitava para propor algumas das
questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns
prestaram concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão de todas as
respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da
meditação, foi que elaborei a primeira edição de O livro dos espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857.
Pelos
fins desse mesmo ano, às duas Srtas. Baudin se casaram; as reuniões cessaram e
a família se dispersou. Mas, então, já as minhas relações começavam a
dilatar-se e os Espíritos me multiplicaram os meios de instrução, tendo em
vista meus ulteriores trabalhos.
11
de dezembro de 1855
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Sra. Baudin)
Meu Espírito protetor
Pergunta
(Ao Espírito Z) – No mundo dos Espíritos algum haverá que seja para mim um bom
gênio?
Resposta
– Sim.
P. –
Será o Espírito de algum parente, ou de algum amigo?
R. –
Nem uma coisa, nem outra.
P. –
Quem foi ele na Terra?
R. –
Um homem justo de muita sabedoria.
P. –
Que devo fazer, para lhe granjear a benevolência?
R. –
Todo o bem possível.
P. –
Por que sinais poderei reconhecer a sua intervenção?
R. –
Pela satisfação que experimentarás.
P. –
Terei algum meio de o invocar e qual esse meio?
R. –
Ter fé viva e chamá-lo com instância.
P. –
Reconhecê-lo-ei, depois da minha morte, no mundo dos Espíritos?
R. –
Sobre isso não pode haver dúvida; será ele quem virá receber-te e felicitar-te,
se houveres desempenhado bem a tua tarefa.
Nota
– Vê-se, por estas perguntas, que eu era ainda muito noviço acerca das coisas do
Mundo Espiritual.
P. –
O Espírito de minha mãe me vem visitar algumas vezes?
R. –
Vem e te protege quanto lhe é possível.
P. –
Vejo-a frequentemente em sonho. Será uma lembrança e um efeito da minha
imaginação?
R. –
Não; é mesmo ela que te aparece; deves compreendê-lo pela emoção que sentes.
Nota
– Isto é perfeitamente exato. Quando minha mãe me aparecia em sonho, eu
experimentava uma emoção indescritível, o que o médium não podia saber.
P. –
Quando, faz algum tempo, evocamos S. e lhe perguntamos se poderia ser o gênio
protetor de um de nós, ele respondeu: “Mostre-se um de vós digno disso, e
estarei com esse; Z. vo-lo dirá”. Julgas que eu poderei merecer esse favor?
R. –
Se o quiseres.
P. –
Que me é necessário para isso?
R. –
Fazer todo o bem que possas e suportar com coragem as penas da vida.
P. –
Pela natureza da minha inteligência, terei aptidão para penetrar, tanto quanto
ao homem for permitido fazê-lo, as grandes verdades acerca do nosso destino
futuro?
R. –
Sim, tens a aptidão necessária, mas o resultado dependerá da tua perseverança
no trabalho.
P. –
Poderei concorrer para a propagação dessas verdades?
R. –
Sem dúvida.
P. –
Por que meios?
R. –
Sabê-lo-ás mais tarde; enquanto esperas, trabalha.
25
de março de 1856
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Srta. Baudin)
Meu guia espiritual
Morava
eu, por essa época, na Rua dos Mártires, no 8, no segundo andar, ao fundo. Uma noite,
estando no meu gabinete a trabalhar, pequenas pancadas se fizeram ouvir na
parede que me separava do aposento vizinho. A princípio, nenhuma atenção lhes
dei; como, porém, elas se repetissem mais fortes, mudando de lugar, procedi a
uma exploração minuciosa dos dois lados da parede, escutei para verificar se
provinham do outro pavimento e nada descobri. O que havia de singular era que,
de cada vez que eu me punha a investigar, o ruído cessava, para recomeçar logo
que eu retomava o trabalho. Minha mulher chegou da rua por volta das dez horas;
veio ao meu gabinete e, ouvindo as pancadas, me perguntou o que era. “Não sei”,
respondi-lhe, “há uma hora que isto dura.” Investigamos juntos, sem melhor êxito.
O ruído continuou até a meia-noite, quando fui deitar-me.
No
dia seguinte, como houvesse sessão em casa do Sr. Baudin, narrei o fato e pedi
que mo explicassem.
Pergunta
– Ouvistes, sem dúvida, o relato que acabo de fazer; poderíeis dizer-me qual a
causa daquelas pancadas que se fizeram ouvir com tanta persistência?
Resposta
– Era o teu Espírito familiar.
P. –
Com que fim foi ele bater daquele modo?
R. –
Queria comunicar-se contigo.
P. –
Poderíeis dizer-me quem é ele?
R. –
Podes perguntar-lhe a ele mesmo, pois que está aqui.
Nota
– Nessa época, ainda se não fazia distinção nenhuma entre as diversas
categorias de Espíritos simpáticos. Dava-se-lhes a todos a denominação de
Espíritos familiares.
P. –
Meu Espírito familiar, quem quer que tu sejas, agradeço-te o me teres vindo
visitar. Consentirás em dizer-me quem és?
R. –
Para ti, chamar-me-ei A Verdade e todos os meses, aqui, durante um quarto de
hora, estarei à tua disposição.
P. –
Ontem, quando bateste, estando eu a trabalhar, tinhas alguma coisa de
particular a dizer-me?
R. –
O que eu tinha a dizer-te era sobre o trabalho a que te aplicavas; desagradava-me
o que escrevias e quis fazer que o abandonasses.
Nota
– O que eu estava escrevendo dizia respeito, precisamente, aos estudos que empreendera
acerca dos Espíritos e de suas manifestações.
P. –
A tua desaprovação era referente ao capítulo que eu escrevia ou ao conjunto do
trabalho?
R. –
Ao capítulo de ontem; submeto-o ao teu juízo; se o releres, reconhecerás tuas
faltas e as corrigirás.
P. –
Eu mesmo não me sentia satisfeito com esse capítulo e o refiz hoje. Está
melhor?
R. –
Está melhor, mas ainda não satisfaz. Relê da 3a a 30a linha e com um grave erro depararás.
P. –
Rasguei o que escrevera ontem.
R. –
Não importa! Isso não impediu que a falta continuasse. Relê e verás.
P. –
O nome Verdade, que adotaste, constitui uma alusão à verdade que eu procuro?
R. –
Talvez; pelo menos, é um guia que te protegerá e ajudará.
P. –
Poderei evocar-te em minha casa?
R. –
Sim, para te assistir pelo pensamento, mas, para respostas escritas em tua
casa, só daqui a muito tempo poderás obtê-las.
Nota
– Com efeito, durante cerca de um ano, nenhuma comunicação escrita obtive em
minha casa e sempre que ali se encontrava um médium, com quem eu esperava
conseguir qualquer coisa, uma circunstância imprevista a isso se opunha. Somente
fora de minha casa lograva eu receber comunicações.
P. –
Poderias vir mais amiúde e não apenas de mês em mês?
R. –
Sim, mas não prometo senão uma vez mensalmente, até nova ordem.
P. –
Terás animado na Terra alguma personagem conhecida?
R. –
Já te disse que, para ti, sou a Verdade; isto, para ti, quer dizer discrição;
nada mais saberás a respeito.
Nota
– À noite, de regresso a casa, dei-me pressa em reler o que escrevera. Quer no
papel que eu lançara à cesta, quer em nova cópia que fizera, se me deparou, na 30a
linha, um erro grave, que me espantei de
haver cometido. Desde então, nenhuma outra manifestação do mesmo gênero das
anteriores se produziu. Tendo-se tornado desnecessárias, por se acharem
estabelecidas as minhas relações com o meu Espírito protetor, elas cessaram. O
intervalo de um mês, que ele assinara para suas comunicações, só raramente foi
mantido, no princípio. Mais tarde, deixou de o ser, em absoluto. Fora sem
dúvida um aviso de que eu tinha de trabalhar por mim mesmo e para não estar
constantemente a recorrer ao seu auxílio diante da menor dificuldade.
9 de
abril de 1856
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Srta. Baudin)
Pergunta
(à Verdade) – Criticaste outro dia o trabalho que eu havia feito e tiveste
razão. Reli-o e encontrei na 30a linha
um erro contra o qual protestaste por meio das pancadas que me fizeste ouvir.
Isso me levou a descobrir outros defeitos e a refazer o trabalho. Estás agora
satisfeito?
Resposta
– Acho-o melhor, mas aconselho-te que esperes um mês para divulgá-lo.
P. –
Que queres dizer, falando em divulgá-lo? Não tenho, bem sabes, a intenção de
publicá-lo já, se é que o haja de publicar.
R. –
Quero dizer: mostrá-lo a terceiros. Busca um pretexto para recusar isso aos que
te pedirem para vê-lo. Daqui até lá melhorarás o trabalho. Faço-te esta
recomendação para te poupar à crítica; precato o teu amor-próprio.
P. –
Disseste que serás para mim um guia, que me ajudará e protegerá. Compreendo
essa proteção e o seu objetivo, dentro de certa ordem de coisas, mas poderias
dizer-me se essa proteção também alcança as coisas materiais da vida?
R. –
Nesse mundo, a vida material é muito de ter-se em conta; não te ajudar a viver
seria não te amar.
Nota
– A proteção desse Espírito, cuja superioridade eu então estava longe de
imaginar, jamais, de fato, me faltou. A sua solicitude e a dos bons Espíritos
que agiam sob suas ordens, se manifestou em todas as circunstâncias da minha
vida, quer a me remover dificuldades materiais, quer a me facilitar a execução
dos meus trabalhos, quer, enfim, a me preservar dos efeitos da malignidade dos
meus antagonistas, que foram sempre reduzidos à impotência. Se as tribulações
inerentes à missão que me cumpria desempenhar não me puderam ser evitadas,
foram sempre suavizadas e largamente compensadas por muitas satisfações morais
gratíssimas.
30
de abril de 1856
(Em
casa do Sr. Roustan – Médium: Srta. Japhet)
Primeira revelação da
minha missão
Eu
assistia, desde algum tempo, às sessões que se realizavam em casa do Sr.
Roustan e começara aí a revisão do meu trabalho, que posteriormente formaria O
livro dos espíritos. (Veja-se a Introdução). Numa dessas sessões, muito íntima,
a que, apenas assistiam sete ou oito pessoas, falavam estas de diferentes
coisas relativas aos acontecimentos capazes de acarretar uma transformação
social, quando o médium, tomando da cesta, espontaneamente escreveu isto:
“Quando
o bordão soar, abandoná-lo-eis; apenas aliviareis o vosso semelhante;
individualmente o magnetizareis, a fim de curá-lo. Depois, cada um no posto que
lhe foi preparado, porque de tudo se fará mister, pois que tudo será destruído,
ao menos temporariamente. Deixará de haver religião e uma se fará necessária,
mas verdadeira, grande, bela e digna do Criador... Seus primeiros alicerces já
foram colocados... Quanto a ti, Rivail, a tua missão é aí (Livre, a cesta se
voltou rapidamente para o meu lado, como o teria feito uma pessoa que me
apontasse com o dedo). A ti, M..., a espada que não fere, porém mata; contra
tudo o que é, serás tu o primeiro a vir. Ele, Rivail, virá em segundo lugar: é
o obreiro que reconstrói o que foi demolido”.
Nota
– Foi essa a primeira revelação positiva da minha missão e confesso que, quando
vi a cesta voltar-se bruscamente para o meu lado e designar-me nominativamente,
não me pude forrar a certa emoção.
O
Sr. M..., que assistia àquela reunião, era um moço de opiniões radicalíssimas, envolvido
nos negócios políticos e obrigado a não se colocar muito em evidência. Acreditando
que se tratava de uma próxima subversão, aprestou-se a tomar parte nela e a
combinar planos de reforma. Era, aliás, homem brando e inofensivo.
7 de
maio de 1856
(Em
casa do Sr. Roustan – Médium: Srta. Japhet)
Minha missão
Pergunta
(a Hahnemann) – Outro dia, disseram-me os Espíritos que eu tinha uma importante
missão a cumprir e me indicaram o seu objeto. Desejaria saber se confirmas
isso.
Resposta
– Sim e, se observares as tuas aspirações e tendências e o objeto quase constante
das tuas meditações, não te surpreenderás com o que te foi dito. Tens que
cumprir aquilo com que sonhas desde longo tempo. É preciso que nisso trabalhes
ativamente, para estares pronto, pois mais próximo do que pensas vem o dia.
P. –
Para desempenhar essa missão tal como a concebo, são-me necessários meios de
execução que ainda não se acham ao meu alcance.
R. –
Deixa que a Providência faça a sua obra e serás satisfeito.
Acontecimentos
Pergunta
– A comunicação há dias dada faz presumir, ao que parece, acontecimentos muito
graves. Poderás dar-nos algumas explicações a respeito?
Resposta
– Não podemos precisar os fatos. O que podemos dizer é que haverá muitas ruínas
e desolações, pois são chegados os tempos preditos de uma renovação da
Humanidade.
P. –
Quem causará essas ruínas? Será um cataclismo?
R. –
Nenhum cataclismo de ordem material haverá, como o entendeis, mas flagelos de
toda espécie assolarão as nações; a guerra dizimará os povos; as instituições
vetustas se abismarão em ondas de sangue. Faz-se mister que o velho mundo se
esboroe, para que uma nova era se abra ao progresso.
P. –
A guerra não se circunscreverá então a uma região?
R. –
Não, abrangerá a Terra.
P. –
Nada, entretanto, neste momento, parece pressagiar uma tempestade próxima.
R. –
As coisas estão por fio de teia de aranha, meio partido.
P. –
Poder-se-á, sem indiscrição, perguntar donde partirá a primeira centelha?
R. –
Da Itália.
12
de maio de 1856
(Sessão
pessoal em casa do Sr. Baudin)
Acontecimentos
Pergunta
(à Verdade) – Que pensas de M...? É homem que venha a influir nos
acontecimentos?
Resposta
– Muito ruído. Ele tem boas ideias; é homem de ação, mas não é uma cabeça.
P. –
Dever-se-á tomar ao pé da letra o que foi dito, isto é, que lhe cabe o papel de
destruir o que existe?
R. –
Não; pretendeu-se apenas personificar nele o partido cujas ideias ele
representa.
P. –
Posso manter com ele relações de amizade?
R. –
Por enquanto, não; correrias perigos inúteis.
P. –
Dispondo de um médium, diz M... que lhe determinaram a marcha dos acontecimentos,
para, por assim dizer, uma data fixa. Será verdade?
R. –
Sim, determinaram-lhe épocas, mas foram Espíritos levianos que lhe responderam,
Espíritos que não sabem mais do que ele e que lhe exploram a exaltação. Sabes
que não devemos precisar as coisas futuras. Os acontecimentos pressentidos
certamente se darão em tempo próximo, mas que não pode ser determinado.
P. –
Disseram os Espíritos que os tempos são chegados em que tais coisas têm de
acontecer: em que sentido se devem tomar essas palavras?
R. –
Tratando-se de coisas de tanta gravidade, que são alguns anos a mais ou a
menos? Elas nunca ocorrem bruscamente, como o chispar de um raio; são
longamente preparadas por acontecimentos parciais que lhes servem como que de
precursores, quais os rumores surdos que precedem a erupção de um vulcão.
Pode-se, pois, dizer que os tempos são chegados, sem que isso signifique que as
coisas sucederão amanhã. Significa unicamente que vos achais no período em que
se verificarão.
P. –
Confirmas o que foi dito, isto é, que não haverá cataclismos?
R. –
Sem dúvida, não tendes que temer nem um dilúvio, nem o abrasamento do vosso
planeta, nem outros fatos desse gênero, porquanto não se pode denominar
cataclismos a perturbações locais que se têm produzido em todas as épocas.
Apenas haverá um cataclismo de natureza moral, de que os homens serão os
instrumentos.
10
de junho de 1856
(Em
casa do Sr. Roustan – Médium: Srta. Japhet)
O livro dos espíritos
Pergunta
(a Hahnemann) – Pois que dentro em breve teremos acabado a primeira parte do
livro, lembrei-me de que, para andarmos mais depressa, eu poderia pedir a B...
que me ajudasse, como médium; que achas?
Resposta
– Acho que será melhor não te servires dele. — Por quê? — Porque a verdade não
pode ser interpretada pela mentira.
P. –
Mesmo que o Espírito familiar de B... seja afeito à mentira, isso não obstaria
a que um bom Espírito se comunicasse pelo médium, desde que se não evocasse
outro Espírito.
R. –
Sim, mas aqui o médium secunda o Espírito e, quando o Espírito é velhaco, ele
se presta a auxiliá-lo. Aristo, seu intérprete, e B... acabarão mal.
Nota
– B..., bem moço, era um médium escrevente muito maleável, mas assistido por um
Espírito muito orgulhoso e arrogante, que dava o nome de Aristo e que lhe
lisonjeava o amor-próprio. As previsões de Hahnemann se realizaram. O moço,
julgando ter na sua faculdade um meio de enriquecer, já atendendo a consultas
médicas, já realizando inventos e descobertas produtivas, somente colheu
decepções e mistificações. Passado algum tempo, ninguém mais ouviu falar dele.
12
de junho de 1856
(Em
casa do Sr. C... – Médium: Srta. Aline C...)
Minha missão
Pergunta
(à Verdade) – Bom Espírito, eu desejara saber o que pensas da missão que alguns
Espíritos me assinaram. Dize-me, peço-te, se é uma prova para o meu amor-próprio.
Tenho, como sabes, o maior desejo de contribuir para a propagação da verdade,
mas, do papel de simples trabalhador ao de missionário em chefe, a distância é
grande e não percebo o que possa justificar em mim graça tal, de preferência a
tantos outros que possuem talento e qualidades de que não disponho.
Resposta
– Confirmo o que te foi dito, mas recomendo-te muita discrição, se quiseres
sair-te bem. Tomarás mais tarde conhecimento de coisas que te explicarão o que
ora te surpreende. Não esqueças que podes triunfar, como podes falir. Neste
último caso, outro te substituiria, porquanto os desígnios de Deus não assentam
na cabeça de um homem. Nunca, pois, fales da tua missão; seria a maneira de a
fazeres malograr-se. Ela somente pode justificar-se pela obra realizada e tu
ainda nada fizeste. Se a cumprires, os homens saberão reconhecê-lo, cedo ou
tarde, visto que pelos frutos é que se verifica a qualidade da árvore.
P. –
Nenhum desejo tenho certamente de me vangloriar de uma missão na qual
dificilmente creio. Se estou destinado a servir de instrumento aos desígnios da
Providência, que ela disponha de mim. Nesse caso, reclamo a tua assistência e a
dos bons Espíritos, no sentido de me ajudarem e ampararem na minha tarefa.
R. –
A nossa assistência não te faltará, mas será inútil se, de teu lado, não
fizeres o que for necessário. Tens o teu livre-arbítrio, do qual podes usar
como o entenderes. Nenhum homem é constrangido a fazer coisa alguma.
P. –
Que causas poderiam determinar o meu malogro? Seria a insuficiência das minhas
capacidades?
R. –
Não, mas a missão dos reformadores é prenhe de escolhos e perigos. Previno-te
de que é rude a tua, porquanto se trata de abalar e transformar o mundo
inteiro. Não suponhas que te baste publicar um livro, dois livros, dez livros,
para em seguida ficares tranquilamente em casa. Tens que expor a tua pessoa.
Suscitarás contra ti ódios terríveis; inimigos encarniçados se conjurarão para
tua perda; ver-te-ás a braços com a malevolência, com a calúnia, com a traição
mesma dos que te parecerão os mais dedicados; as tuas melhores instruções serão
desprezadas e falseadas; por mais de uma vez sucumbirás sob o peso da fadiga;
numa palavra: terás de sustentar uma luta quase contínua, com sacrifício de teu
repouso, da tua tranquilidade, da tua saúde e até da tua vida, pois, sem isso,
viverias muito mais tempo. Ora bem! não poucos recuam quando, em vez de uma
estrada florida, só veem sob os passos urzes, pedras agudas e serpentes. Para
tais missões, não basta a inteligência. Faz-se mister, primeiramente, para
agradar a Deus, humildade, modéstia e desinteresse, visto que Ele abate os
orgulhosos, os presunçosos e os ambiciosos. Para lutar contra os homens, são
indispensáveis coragem, perseverança e inabalável firmeza. Também são de
necessidade prudência e tato, a fim de conduzir as coisas de modo conveniente e
não lhes comprometer o êxito com palavras ou medidas intempestivas. Exigem-se,
por fim, devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios. Vês,
assim, que a tua missão está subordinada a condições que dependem de ti. Espírito
Verdade
Eu –
Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição
e sem ideia preconcebida.
Senhor!
pois que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios,
faça-se a tua vontade! Está nas tuas mãos a minha vida; dispõe do teu servo.
Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não
desfalecerá, as forças, porém, talvez me traiam. Supre à minha deficiência;
dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos
momentos difíceis e, com o teu auxílio e dos teus celestes mensageiros, tudo
envidarei para corresponder aos teus desígnios.
Nota
– Escrevo esta nota a 1o de janeiro de
1867, dez anos e meio depois que me foi dada a comunicação acima e atesto que
ela se realizou em todos os pontos, pois experimentei todas as vicissitudes que
me foram preditas. Andei em luta com o ódio de inimigos encarniçados, com a
injúria, a calúnia, a inveja e o ciúme; libelos infames se publicaram contra
mim; as minhas melhores instruções foram falseadas; traíram-me aqueles em quem
eu mais confiança depositava, pagaram-me com a ingratidão aqueles a quem
prestei serviços. A Sociedade de Paris se constituiu foco de contínuas intrigas
urdidas contra mim por aqueles mesmos que se declaravam a meu favor e que, de
boa fisionomia na minha presença, pelas costas me golpeavam. Disseram que os
que se me conservavam fiéis estavam à minha soldada e que eu lhes pagava com o
dinheiro que ganhava do Espiritismo. Nunca mais me foi dado saber o que é o
repouso; mais de uma vez sucumbi ao excesso de trabalho, tive abalada a saúde e
comprometida a existência.
Graças,
porém, à proteção e assistência dos bons Espíritos que incessantemente me deram
manifestas provas de solicitude, tenho a ventura de reconhecer que nunca senti
o menor desfalecimento ou desânimo e que prossegui, sempre com o mesmo ardor,
no desempenho da minha tarefa, sem me preocupar com a maldade de que era
objeto. Segundo a comunicação do Espírito Verdade, eu tinha de contar com tudo
isso e tudo se verificou.
Mas
também, a par dessas vicissitudes, que de satisfações experimentei, vendo a obra
crescer de maneira tão prodigiosa! Com que compensações deliciosas foram pagas
as minhas tribulações! Que de bênçãos e de provas de real simpatia recebi da
parte de muitos aflitos a quem a Doutrina consolou! Este resultado não mo anunciou
o Espírito Verdade que, sem dúvida intencionalmente, apenas me mostrara as
dificuldades do caminho. Qual não seria, pois, a minha ingratidão, se me queixasse!
Se dissesse que há uma compensação entre o bem e o mal, não estaria com a
verdade, porquanto o bem, refiro-me às satisfações morais, sobrelevaram de
muito o mal. Quando me sobrevinha uma decepção, uma contrariedade qualquer, eu
me elevava pelo pensamento acima da Humanidade e me colocava antecipadamente na
região dos Espíritos e desse ponto culminante, donde divisava o da minha
chegada, as misérias da vida deslizavam por sobre mim sem me atingirem. Tão
habitual se me tornara esse modo de proceder, que os gritos dos maus jamais me
perturbaram.
17
de junho de 1856
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Srta. Baudin)
O livro dos espíritos
Pergunta
(à Verdade) – Uma parte da obra foi revista, quererás ter a bondade de dizer o
que dela pensas?
Resposta
– O que foi revisto está bem, mas, quando a obra estiver acabada, deverás
tornar a revê-la, a fim de ampliá-la em certos pontos e abreviá-la noutros.
P. –
Entendes que deva ser publicada antes que os acontecimentos preditos se tenham
realizado?
R. –
Uma parte, sim; tudo não, pois, afirmo-te, vamos ter capítulos muito
espinhosos. Por muito importante que seja esse primeiro trabalho, ele não é, de
certo modo, mais do que uma introdução. Assumirá proporções que longe estás
agora de suspeitar. Tu mesmo compreenderás que certas partes só muito mais
tarde e gradualmente poderão ser dadas a lume, à medida que as novas ideias se
desenvolverem e enraizarem. Dar tudo de uma vez fora imprudente. Importa dar
tempo a que a opinião se forme. Toparás com alguns impacientes que procurarão
empurrar-te para diante: não lhes dês ouvidos. Vê, observa, sonda o terreno,
dispõe-te a esperar e faze como o general cauteloso que não ataca, senão quando
chega o momento favorável.
Nota
(Escrita em janeiro de 1867) – Na época em que essa comunicação foi dada, eu
apenas tinha em vista O livro dos espíritos e longe estava, como disse o
Espírito, de imaginar as proporções que tomaria o conjunto do trabalho. Os acontecimentos
preditos só decorridos muitos anos teriam de verificar-se, tanto que neste
momento ainda não se deram. As obras que até agora apareceram foram publicadas
sucessivamente e eu fui induzido a elaborá-las, à medida que as novas ideias se
desenvolveram. Das que restam por fazer, a mais importante, a que se poderá
considerar a cúpula do edifício e que, com efeito, encerra os capítulos mais espinhosos,
não poderia ser publicada, sem prejuízo, antes do período dos desastres. Eu,
então, um único livro via e não compreendia que esse pudesse cindir-se, enquanto
o Espírito aludia aos que teriam de seguir-se e cuja publicação prematura
apresentaria inconvenientes.
“Dispõe-te
a esperar”, disse o Espírito; “não dês ouvidos aos impacientes que procurem
empurrar-te para diante.” Os impacientes não faltaram e, se eu os escutara, teria
atirado o navio em cheio nos arrecifes. Coisa estranha! ao passo que uns me incitavam
a andar mais depressa, outros me acusavam de não ir tão devagar quanto devia.
Não dei ouvidos nem a uns, nem a outros, tomando sempre por bússola a marcha
das ideias.
De
que confiança no futuro não me enchia eu, à proporção que via realizar-se o que
fora predito e que comprovava a profundeza e a sabedoria das instruções dos meus
protetores invisíveis!
11
de setembro de 1856
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Srta. Baudin)
O livro dos espíritos
Depois
de haver eu procedido à leitura de alguns capítulos de O livro dos espíritos,
concernentes às leis morais, o médium espontaneamente escreveu:
“Compreendeste
bem o objetivo do teu trabalho. O plano está bem concebido. Estamos satisfeitos
contigo. Continua, mas lembra-te, sobretudo quando a obra se achar concluída,
de que te recomendamos que a mandes imprimir e propagar. É de utilidade geral.
Estamos satisfeitos e nunca te abandonaremos. Crê em Deus e avante.” Muitos
Espíritos
6 de
maio de 1857
(Em
casa da Sra. De Cardonne)
A tiara espiritual
Eu
tivera ocasião de conhecer a Sra. de Cardonne nas sessões do Sr. Roustan.
Alguém me disse, creio que foi o Sr. Carlotti, que ela possuía notável talento
para ler nas mãos. Nunca acreditei que as linhas da mão tenham uma significação
qualquer, mas sempre acreditei que, para certas pessoas dotadas de uma espécie
de segunda vista, podia isso constituir meio de estabelecerem uma relação que
lhes permitisse, como aos sonâmbulos, dizer algumas vezes coisas verdadeiras.
Os sinais da mão nada mais são, nesse caso, do que um pretexto, um meio de
fixar a atenção, de desenvolver a lucidez, como o são as cartas, a borra de
café, os espelhos ditos mágicos, para os indivíduos que dispõem dessa
faculdade. A experiência me confirmou de novo a justeza dessa opinião. Seja
como for, aquela senhora, tendo-me convidado a ir visitá-la, acedi ao seu
convite e eis aqui um resumo do que ela me disse:
“Nascestes
com grande abundância de recursos e de meios intelectuais... extraordinária
força de raciocínio... Formou-se o vosso gosto; governado pela cabeça, moderais
a inspiração pelo raciocínio; subordinas o instinto, a paixão, a intuição ao
método, à teoria. Tivestes sempre pendor para as ciências morais... Amor da
verdade absoluta... Amor da Arte definida.
Tem
número, medida e cadência o vosso estilo, mas, por vezes, trocaríeis um pouco
da sua precisão por uma certa poesia.
Como
filósofo idealista, estivestes sujeito à opinião de outrem; como filósofo
crente, experimentais agora a necessidade de formar seita.
Benevolência
judiciosa; necessidade imperiosa de aliviar, de socorrer, de consolar;
necessidade de independência.
Muito
demoradamente vos corrigis da subitânea impulsão do vosso humor.
Éreis
singularmente apto para a missão que vos está confiada, porquanto o vosso
feitio é mais para vos tornardes o centro de imensos desenvolvimentos do que
capaz de trabalhos insulados... Vossos olhos têm o olhar do pensamento.
Vejo
aqui o sinal da tiara espiritual... É bem pronunciado... Vede” (Olhei e nada vi
de particular).
“Que
entendeis”, perguntei-lhe, “por tiara espiritual? Querereis dizer que serei
papa? Se tal houvesse de acontecer, não seria decerto nesta existência.”
Resposta
– Deveis notar que eu disse tiara espiritual, o que significa: autoridade moral
e religiosa, e não soberania efetiva.
Reproduzi
pura e simplesmente as palavras daquela senhora, por ela mesma transcritas. Não
me compete julgar se são exatas sobre todos os pontos. Algumas, reconheço-as verdadeiras,
porque estão de acordo com o meu caráter e com as disposições do meu espírito. Há,
porém, uma passagem evidentemente errônea, a em que ela diz, a propósito do meu
estilo, que eu às vezes trocaria algo da minha precisão por um pouco de poesia.
Nenhum instinto poético existe em mim; o que procuro, acima de tudo, o que me
agrada, o que aprecio nos outros é a clareza, a limpidez, a precisão e, longe
de sacrificar esta à poesia, o que se me poderia reprochar fora o sacrificar o
sentimento poético à sequidão da forma positiva. Preferi sempre o que fala à
inteligência ao que apenas fala à imaginação.
Quanto
à tiara espiritual, O livro dos espíritos acabava de aparecer; a Doutrina
estava em seus primórdios e não podia ainda prejulgar dos resultados que ulteriormente
daria. Nenhuma importância, pois, liguei a essa revelação e me limitei a
anotá-la a título informativo.
No
ano seguinte a Sra. de Cardonne deixou Paris e não tornei a vê-la, senão oito
anos depois, em 1866, quando as coisas já tinham caminhado bastante. Disse-me
ela:
—
Lembra-se da minha predição acerca da tiara espiritual? Aí a tem realizada.
—
Como realizada? Que eu o saiba, não me acho no trono de Pedro.
—
Não, decerto, mas também não foi isso o que lhe anunciei. O senhor não é, de
fato, o chefe da Doutrina, reconhecido pelos espíritas do mundo inteiro? Não
são os seus escritos que fazem lei? Não se contam por milhões os seus
correligionários? Em matéria de Espiritismo, haverá alguém cujo nome tenha mais
autoridade do que o seu? Os títulos de sumo sacerdote, de pontífice, mesmo de
papa, não lhe são dados espontaneamente? São-no, sobretudo, pelos seus
adversários e por ironia, bem o sei, mas nem por isso o fato deixa de indicar
de que gênero é a influência que eles lhe reconhecem, porque pressentem qual o
papel que lhe cabe. Assim, esses títulos lhe ficarão.
Em
suma, o senhor conquistou, sem a buscar, uma posição moral que ninguém lhe pode
tirar, dado que, sejam quais forem os trabalhos que se elaborem depois dos
seus, ou concomitantemente com eles, o senhor será sempre o proclamado fundador
da Doutrina. Logo, em realidade, está com a tiara espiritual, isto é, com a
supremacia moral. Reconheça, portanto, que eu disse a verdade.
Acredita
agora, mais um pouco, nos sinais das mãos?” — Menos que nunca e estou
convencido de que, se a senhora viu alguma coisa, não foi na minha mão, mas no
seu próprio espírito e vou prová-lo.
Admito
que nas mãos, como nos pés, nos braços e nas outras partes do corpo, existem
certos sinais fisiognomônicos, mas cada órgão apresenta sinais particulares,
conforme o uso a que é sujeito e conforme as suas relações com o pensamento. Os
sinais das mãos não podem ser os mesmos que os dos pés, dos braços, da boca,
dos olhos etc.
Quanto
ao pregueado da palma das mãos, a maior ou menor acentuação que apresentam
resulta da natureza da pele e da maior ou menor quantidade de tecido celular.
Como essas partes em nenhuma correlação fisiológica estão com os órgãos das
faculdades intelectuais e morais, não podem ser a expressão dessas faculdades.
Mesmo admitindo-se que haja essa correlação, elas poderiam fornecer indicações
sobre o estado atual do indivíduo, mas não poderiam constituir sinais de
presságios de coisas futuras, nem de acontecimentos passados e independentes da
vontade do mesmo indivíduo. Na primeira hipótese, eu, a rigor, compreenderia
que, com o auxílio de tais lineamentos, se pudesse dizer que uma pessoa possui esta
ou aquela aptidão, este ou aquele pendor; o mais vulgar bom senso, porém,
repeliria a ideia de que se possa ver ali se ela foi casada ou não, quantas
vezes e o número de filhos que teve, se é viúva ou não, e outras coisas
semelhantes, como o pretende a maioria dos quiromantes.
Entre
as linhas das mãos, há uma que toda gente conhece e que representa bem um M. Se
é bastante acentuada, pressagia, dizem, uma vida infeliz (malheureuse); porém,
a palavra malheur (infelicidade) é francesa e ninguém se lembra de que, nas
outras línguas, a palavra que a essa corresponde não começa pela mesma letra,
donde se segue que a linha em questão deveria apresentar formas diferentes, de
acordo com as línguas dos povos.
Quanto
à tiara espiritual, é, evidentemente, uma coisa especial, excepcional e, até
certo ponto, individual e eu estou convencido de que a senhora não encontrou
essa expressão no vocabulário de nenhum tratado de quiromancia. Como então lhe
veio ela à mente? Pela intuição, pela inspiração, por essa espécie de
presciência peculiar à dupla vista de que muitas pessoas são dotadas sem o
suspeitarem. Sua atenção estava concentrada nos lineamentos da mão, a senhora
fixou o pensamento num sinal em que outra pessoa teria visto coisa muito
diversa, ou a que a senhora mesmo atribuiria significação diferente, se se
tratasse de outro indivíduo.
17
de janeiro de 1857
(Em
casa do Sr. Baudin – Médium: Srta. Baudin)
Primeira notícia de
uma nova encarnação
O
Espírito prometera escrever-me uma carta por ocasião da entrada do ano. Tinha,
dizia, qualquer coisa de particular a me dizer. Havendo-lha eu pedido numa das
reuniões ordinárias, respondeu que a daria na intimidade ao médium, para que
este ma transmitisse. É esta a carta:
“Caro
amigo, não te quis escrever terça-feira última diante de toda a gente, porque
há certas coisas que só particularmente se podem dizer.
Eu
queria, primeiramente, falar-te da tua obra, a que mandaste imprimir (O livro
dos espíritos entrara para o prelo). Não te afadigues tanto, da manhã à noite;
passarás melhor e a obra nada perderá por esperar.
Segundo
o que vejo, és muito capaz de levar a bom termo a tua empresa e tens que fazer
grandes coisas. Nada, porém, de exagero em coisa alguma. Observa e aprecia tudo
judiciosa e friamente. Não te deixes arrastar pelos entusiastas, nem pelos
muito apressados. Mede todos os teus passos, a fim de chegares ao fim com
segurança. Não creias em mais do que aquilo que vejas; não desvies a atenção de
tudo o que te pareça incompreensível; virás a saber a respeito mais do que
qualquer outro, porque os assuntos de estudo serão postos sob as tuas vistas.
Mas
ah! a verdade não será conhecida de todos, nem crida, senão daqui a muito
tempo! Nessa existência não verás mais do que a aurora do êxito da tua obra.
Terás que voltar, reencarnado noutro corpo, para completar o que houveres
começado e, então, dada te será a satisfação de ver em plena frutificação a
semente que houveres espalhado pela Terra.
Surgirão
invejosos e ciosos que procurarão infamar-te e fazer-te oposição: não
desanimes; não te preocupes com o que digam ou façam contra ti; prossegue em
tua obra; trabalha sempre pelo progresso da Humanidade, que serás amparado
pelos bons Espíritos, enquanto perseverares no bom caminho.
Lembras-te
de que, há um ano, prometi a minha amizade aos que, durante o ano, tivessem
tido um proceder sempre correto? Pois bem! declaro que és um dos que escolhi
entre todos.
Teu
amigo que te quer e protege.”
Nota
– Já tive ocasião de dizer que Z. não era um Espírito superior, porém muito bom
e muito benfazejo. Talvez fosse mais adiantado do que o deixava supor o nome que
tomara. Legitimavam essa suposição o caráter sério e a sabedoria de suas
comunicações, conforme as circunstâncias. Sob a capa daquele nome, ele se
permitia usar de uma linguagem familiar apropriada ao meio onde se manifestava
e dizer, como frequentemente sucedia, duras verdades, sob a forma leve do epigrama.
Como quer que seja, dele guardei sempre grata recordação e muito reconhecimento
pelas boas advertências que sempre me deu e pelo devotamento que me
testemunhou. Desapareceu com a dispersão da família Baudin, dizendo que em
breve reencarnaria.
15 de
novembro de 1857
(Em
casa do Sr. Dufaux – Médium: Sra. E. Dufaux)
A Revista Espírita
Pergunta
– Tenho a intenção de publicar um jornal espírita: julgais que o conseguirei e
me aconselhais a fazê-lo? A pessoa a quem me dirigi, Sr. Tiedman, não parece
resolvida a me prestar o seu concurso pecuniário.
Resposta
– Consegui-lo-ás, com perseverança. A ideia é boa; preciso se faz, porém,
deixá-la amadurecer mais.
P. –
Temo que outros me tomem a dianteira.
R. –
Importa andar depressa.
P. –
Não quero outra coisa, mas falta-me tempo. Tenho dois empregos que me são
necessários, como o sabeis. Desejara renunciar a eles, a fim de me consagrar
inteiramente à minha tarefa, sem outras preocupações.
R. –
Por enquanto, não deves abandonar coisa alguma; há sempre tempo para tudo;
move-te e conseguirás.
P. –
Devo agir sem o concurso do Sr. Tiedman?
R. –
Age com ou sem o seu concurso; não te consumas por sua causa. Podes prescindir
dele.
P. –
Eu pretendia publicar um primeiro número como ensaio, a fim de lançar o jornal
e marcar data, e continuar mais tarde, se for possível. Que vos parece?
R. –
A ideia é boa, mas um só número não bastará; entretanto, é conveniente, e mesmo
necessário, para abrir caminho. Será preciso que lhe dispenses muito cuidado, a
fim de assentares as bases de um bom êxito durável. A apresentá-lo defeituoso,
melhor será nada fazer, porquanto a primeira impressão pode decidir do seu
futuro. De começo, deves cuidar de satisfazer à curiosidade; reunir o sério ao
agradável: o sério para atrair os homens de Ciência, o agradável para deleitar
o vulgo. Esta parte é essencial, porém a outra é mais importante, visto que sem
ela o jornal careceria de fundamento sólido. Em suma, é preciso evitar a
monotonia por meio da variedade, congregar a instrução sólida ao interesse que,
para os trabalhos ulteriores, será poderoso auxiliar.
Nota
– Apressei-me a redigir o primeiro número e fi-lo circular a 1o de janeiro de 1858, sem haver dito nada a quem
quer que fosse. Não tinha um único assinante e nenhum fornecedor de fundos. Publiquei-o
correndo eu, exclusivamente, todos os riscos e não tive de que me arrepender,
porquanto o resultado ultrapassou a minha expectativa. A partir daquela data,
os números se sucederam sem interrupção e, como previa o Espírito, esse jornal
se tornou um poderoso auxiliar meu. Reconheci mais tarde que fora para mim uma
felicidade não ter tido quem me fornecesse fundos, pois assim me conservara mais
livre, ao passo que outro interessado houvera querido talvez impor-me suas
ideias e sua vontade e criar-me embaraços. Sozinho, eu não tinha que prestar
contas a ninguém, embora, pelo que respeitava ao trabalho, me fosse pesada a
tarefa.
1º de abril de 1858
Fundação da Sociedade
Espírita de Paris
Se
bem não haja aqui nenhum caso de previsão, menciono, para conservá-lo em
lembrança, o da fundação da Sociedade, por motivo do papel que ela representou
na marcha do Espiritismo e das comunicações a que deu lugar.
Havia
cerca de seis meses, eu realizava, em minha casa, à Rua dos Mártires, uma
reunião com alguns adeptos, às terças-feiras. A Srta. E. Dufaux era a médium
principal. Conquanto o local não comportasse mais de 15 ou 20 pessoas, até 30
lá se juntavam às vezes. Apresentavam grande interesse tais reuniões, pelo
caráter sério de que se revestiam e pelas questões que ali se tratavam. Lá não
raro compareciam príncipes estrangeiros e outras personagens de alta distinção.
Nada
cômoda pela sua disposição, a sala onde nos reuníamos se tornou em breve muito
acanhada. Alguns dos frequentadores deliberaram cotizar-se para alugar uma que
mais conviesse. Então, fazia-se necessária uma autorização legal, a fim de se
evitar que a autoridade nos fosse perturbar. O Sr. Dufaux, que se dava
pessoalmente com o prefeito de Polícia, encarregou-se de tratar do caso. A
autorização também dependia do Ministro do Interior. Coube então ao general
X..., que era, sem que ninguém o soubesse, simpático às nossas ideias, embora
sem as conhecer inteiramente, obter a autorização. Esta, graças à sua
influência, pôde ser concedida em quinze dias, quando, de ordinário, leva três
meses para ser dada.
A
Sociedade ficou, em consequência, legalmente constituída e passamos a
reunir-nos todas as terças-feiras no compartimento que ela alugara, no Palais
Royal, galeria de Valois. Aí esteve um ano, de 1o de abril de 1858 a 1o de abril de 1859. Não tendo permanecido lá por
mais tempo, entrou a reunir-se às sextas-feiras num dos salões do restaurante Douix,
no mesmo Palais Royal, galeria Montpensier, de 1o de abril de 1859 a 1o de abril de 1860, época em que se instalou num
local seu, à rua e passagem Sant’Ana, 59.
Formada
a princípio de elementos pouco homogêneos e de pessoas de boa vontade, que eram
aceitas com facilidade um tanto excessiva, a Sociedade se viu sujeita a muitas
vicissitudes, que não foram dos menores percalços da minha tarefa.
24
de janeiro de 1860
(Em
casa do Sr. Forbes – Médium: Sra. Forbes)
Duração dos meus
trabalhos
Segundo
a minha maneira de apreciar as coisas, calculava eu que ainda me faltavam cerca
de dez anos para conclusão dos meus trabalhos, mas a ninguém falara disso.
Achei-me, pois, muito surpreendido, ao receber de um dos meus correspondentes
de Limoges uma comunicação dada espontaneamente, em que o Espírito, falando de
meus trabalhos, dizia que dez anos se passariam antes que eu os terminasse.
Pergunta
(à Verdade) – Como é que um Espírito, comunicando-se em Limoges, onde nunca
fui, pôde dizer precisamente o que eu pensava acerca da duração dos meus
trabalhos?
Resposta
– Nós sabemos o que te resta a fazer e, por conseguinte, o tempo aproximado de
que precisas para acabar a tua tarefa. É, portanto, muito natural que alguns
Espíritos o tenham dito em Limoges e algures, para darem uma ideia da amplitude
da coisa, pelo trabalho que exige. Entretanto, não é absoluto o prazo de dez
anos; pode ser prolongado por alguns mais, em virtude de circunstâncias
imprevistas e independentes da tua vontade.
Nota
(Escrita em dezembro de 1866) – Tenho publicado quatro volumes substanciosos,
sem falar de coisas acessórias. Os Espíritos instam para que eu publique A
gênese em 1867, antes das perturbações. Durante o período da grande perturbação
terei de trabalhar nos livros complementares da Doutrina, que não poderão aparecer
senão depois da forte tormenta e para os quais me são precisos de três a quatro
anos. Isso nos leva, o mais cedo, a 1870, isto é, cerca de 10 anos.
28
de janeiro de 1860
(Em
casa do Sr. Solichon – Médium: Srta. Solichon)
Acontecimentos.
Papado
Pergunta
(ao Espírito Ch.) – Foste embaixador em Roma e a esse tempo predisseste a queda
do governo papal. Que pensas hoje a esse respeito?
Resposta
– Creio que se aproxima o tempo em que a minha profecia se cumprirá, porém, não
sem grandes dores. Tudo se complica; exacerbam- -se as paixões e uma coisa que
se poderia fazer sem comoção, empolgou a todos, e de tal maneira que a
cristandade inteira será abalada.
P. –
Consentirias em dar-nos a tua opinião sobre o poder temporal do Papa?
R. –
Penso que o poder temporal do Papa não é necessário à sua grandeza, nem ao seu
poder moral; ao contrário, quanto menos súditos ele contar, mais venerado será.
Aquele que é o representante de Deus na Terra está colocado muito alto para não
precisar do realce do poder terreno. Dirigir a Terra espiritualmente, tal a
missão do pai dos cristãos.
P. –
Achas que o Papa e o Sacro Colégio, mais bem esclarecidos, farão tudo por
evitar o cisma e a guerra intestina, embora seja apenas moral?
R. –
Não o creio; todos esses homens são obstinados, ignorantes, habituados a todos
os gozos profanos; necessitam de dinheiro para satisfazê-los e recearão que a
nova ordem de coisas não permita que o ganhem suficientemente. Por isso levam
tudo ao extremo, pouco se incomodando com o que venha a acontecer, por
demasiadamente cegos para compreenderem as consequências da sua maneira de
proceder.
P. –
Nesse conflito não será de temer-se que a infeliz Itália sucumba e seja posta
sob o cetro da Áustria?
R. –
Não, é impossível. A Itália sairá vitoriosa da luta e a liberdade raiará para
essa terra gloriosa. Ela nos salvou da barbárie, foi nossa mestra em tudo o que
a inteligência tem de mais nobre e de mais elevado. Não recairá absolutamente
sob o jugo dos que a rebaixaram.
12
de abril de 1860
(Em
casa do Sr. Dehau – Médium: Sr. Crozet)
(Comunicação
espontânea obtida na minha ausência)
Minha missão
Pela
sua firmeza e perseverança, o vosso Presidente desmanchou os projetos dos que
procuravam destruir-lhe o crédito e arruinar a Sociedade, na esperança de
desfecharem na Doutrina um golpe fatal. Honra lhe seja! Fique ele certo de que
estamos a seu lado e que os Espíritos de sabedoria se sentirão felizes por
poderem assisti-lo em sua missão. Quantos desejariam desempenhar a sombra dessa
missão, para receberem a sombra dos benefícios que decorrem dela!
Ela,
porém, é perigosa e, para cumpri-la, são necessárias uma fé e uma vontade
inabaláveis, assim como abnegação e coragem para afrontar as injúrias, os
sarcasmos, as decepções e não se alterar com a lama que a inveja e a calúnia
atirem. Nessa posição, o menos que pode acontecer a quem a ocupa é ser tratado
de louco e de charlatão. Deixai que falem, deixai que pensem livremente: tudo,
exceto a felicidade eterna, dura pouco. Tudo vos será levado em conta e ficai
sabendo que, para ser-se feliz, é preciso que se haja contribuído para a
felicidade dos pobres seres de que Deus povoou a vossa terra. Permaneça, pois,
tranquila e serena a vossa consciência: é o precursor da felicidade celeste.
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