Jejum

MATEUS: capítulo 6o, versículo 16. Quando jejuardes, não vos ponhais tristes como os hipócritas, que desfiguram o semblante para que os homens vejam que eles estão jejuando. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. — 17. Vós, quando jejuardes, perfumai a cabeça e lavai o rosto, — 18, a fim de que o vosso jejum não seja visível aos olhos dos homens e sim aos do vosso Pai, que tem presente a si o que haja de mais secreto; e vosso Pai, que vê o que se passa em segredo, vos recompensará.


Compreende-se, é mesmo justo, louvável, meritório que nos privemos de alimentos, que restrinjamos a nossa alimentação ao estritamente necessário, para socorrermos o nosso irmão a quem falte o indispensável; porém, que enfraqueçamos o nosso corpo, deixando de alimentá-lo, em obediência a um preceito supostamente religioso, é simplesmente absurdo. Semelhante preceito só se concebe como obra de fanatismo, como imaginado por obscurantistas, que cifram toda a religião na observância de um formalismo absolutamente estéril. Quando mesmo se pudesse admitir que tais privações ritualísticas fossem do agrado de Deus, certo não o seriam, desde que praticadas publicamente, com ostentação.

De salvar a alma é tudo o de que devemos e precisamos cogitar; mas, isso só o conseguiremos, levando-a moralmente, purificando-a, mediante a prática da caridade, porta única da salvação. Se a nossa consciência nos disser que, para a esse efeito chegarmos, necessitamos fazer sacrifícios, façamo-los, porém de modo que todos redundem em benefício do Espírito. Esse o ensino do divino Mestre.

Os judeus praticavam o jejum material; e Jesus, dizendo o que consta nos versículos que estamos apreciando, visou evitar que essa prática continuasse a oferecer ensejo para a hipocrisia e incentivo ao orgulho, tornando-se uma causa de acréscimo de responsabilidades e de maior transviamento dos que a ela se entregavam. Nenhum mérito tem aos olhos de Deus o que a criatura faça por ostentação, para ser vista, apreciada e louvada pelos homens.

Jesus aconselhava e os seus mensageiros presentemente aconselham o jejum, mas o jejum espiritual, que consiste na abstenção de todo mal, isto é, de todo mau pensamento, de toda má palavra, de todo ato que nos degrade aos olhos do nosso Criador. Jamais façamos consistir a prática do amor a Deus e ao próximo, mandamento que encerra toda a lei e os profetas, como o disse o Mestre divino, na observância daquela e de outras formalidades idênticas, que nada valem, porque em nada concorrem para a melhora espiritual das criaturas.

 

Elucidações evangélicas. FEB, pág. 167. 

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