Obras póstumas - Parte 2.II

Futuro do Espiritismo

O Espiritismo é chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformará a legislação ainda tão frequentemente contrária às Leis divinas; retificará os erros da História; restaurará a religião do Cristo, que se tornou, nas mãos dos padres, objeto de comércio e de tráfico vil; instituirá a verdadeira religião, a religião natural, a que parte do coração e vai diretamente a Deus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar. Extinguirá para sempre o ateísmo e o materialismo, aos quais alguns homens foram levados pelos incessantes abusos dos que se dizem ministros de Deus, pregam a caridade com uma espada em cada mão, sacrificam às suas ambições e ao espírito de dominação os mais sagrados direitos da Humanidade. Um Espírito

10 de junho de 1860

(Em minha casa; médium: Sra. Schmidt)

Minha volta

Pergunta (à Verdade) – Acabo de receber de Marselha uma carta em que se me diz que, no seminário dessa cidade, estão estudando seriamente o Espiritismo e O livro dos espíritos. Que se deve augurar desse fato? Será que o clero toma a coisa a peito?

Resposta – Não podes duvidar disso. Ele a toma muito a peito, porque lhe prevê as consequências e grandes são as suas apreensões. Principalmente a parte esclarecida do clero estuda o Espiritismo mais do que o supões; não creias, porém, que seja por simpatia; ao contrário, é à procura de meios para combatê-lo e eu te asseguro que rude será a guerra que lhe fará. Não te incomodes; continua a obrar com prudência e circunspeção; tem-te em guarda contra as ciladas que te armarão; evita cuidadosamente em tuas palavras e nos teus escritos tudo o que possa fornecer armas contra ti.

Prossegue em teu caminho sem temor; ele está juncado de espinhos, mas eu te afirmo que terás grandes satisfações, antes de voltares para junto de nós “por um pouco”.

P. – Que queres dizer por essas palavras: “por um pouco”?

R. – Não permanecerás longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que não podes terminar nesta existência. Se fosse possível, absolutamente não sairias daí, mas é preciso que se cumpra a Lei da Natureza. Ausentar-te-ás por alguns anos e, quando voltares, será em condições que te permitam trabalhar desde cedo. Entretanto, há trabalhos que convém os acabes antes de partires; por isso, dar-te-emos o tempo que for necessário a concluí-los.

Nota – Calculando aproximadamente a duração dos trabalhos que ainda tenho de fazer e levando em conta o tempo da minha ausência e os anos da infância e da juventude, até a idade em que um homem pode desempenhar no mundo um papel, a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro.

21 de setembro de 1861

(Em minha casa – Médium: Sr. d’A...)

Auto de fé em Barcelona. Apreensão dos livros

A pedido do Sr. Lachâtre, então residente em Barcelona, eu lhe enviara certa quantidade de O livro dos espíritos, de O livro dos médiuns, das coleções da Revista Espírita, além de diversas obras e brochuras espíritas, perfazendo um total de cerca de 300 volumes. A expedição da encomenda fora regularmente feita pelo seu correspondente em Paris, num caixão que continha outras mercadorias e sem a menor infração da legalidade. À chegada dos livros, fizeram que o destinatário pagasse os direitos de entrada, mas, antes de os entregarem, houve que ser entregue uma relação das obras ao bispo, pois, naquele país, a polícia de livraria competia à autoridade eclesiástica. O bispo se achava então em Madri. Ao regressar, tomando conhecimento da relação dos livros, ordenou que eles fossem apreendidos e queimados em praça pública pela mão do carrasco. A execução da sentença foi marcada para 9 de outubro de 1861.

Se se houvesse tentado introduzir aquelas obras como contrabando, a autoridade espanhola teria o direito de dispor delas à sua vontade, mas desde que absolutamente não havia fraude, nem surpresa, como o provava o pagamento espontâneo dos direitos, fora de rigorosa justiça que se ordenasse a reexportação dos volumes, uma vez que não convinha se lhes admitisse a entrada. Ficaram, porém, sem resultado as reclamações apresentadas por intermédio do cônsul francês em Barcelona. O Sr. Lachâtre me perguntou se valeria a pena recorrer à autoridade superior. Opinei por que se deixasse consumar o ato arbitrário; entendi, porém, acertado ouvir a opinião do meu guia espiritual.

Pergunta (à Verdade) – Não ignoras, sem dúvida, o que acaba de passar-se em Barcelona, com algumas obras espíritas. Quererás ter a bondade de dizer-me se convirá prosseguir na reclamação para restituição delas?

Resposta – Por direito, podes reclamá-las e conseguirias que te fossem restituídas, se te dirigisses ao Ministro de Estrangeiros da França. Mas, ao meu parecer, desse auto de fé resultará maior bem do que o que adviria da leitura de alguns volumes. A perda material nada é, a par da repercussão que semelhante fato produzirá em favor da Doutrina. Deves compreender quanto uma perseguição tão ridícula, quanto atrasada, poderá fazer a bem do progresso do Espiritismo na Espanha. A queima dos livros determinará uma grande expansão das ideias espíritas e uma procura febricitante das obras dessa Doutrina. As ideias se disseminarão lá com maior rapidez e as obras serão procuradas com maior avidez, desde que as tenham queimado. Tudo vai bem.

P. – Convirá que eu escreva a respeito um artigo para o próximo número da Revista?

R. – Espera o auto de fé.

9 de outubro de 1861

Auto de fé em Barcelona

Esta data ficará assinalada nos anais do Espiritismo, por motivo do auto de fé praticado com os livros espíritas em Barcelona. Eis aqui um extrato da ata da execução:

Neste dia, nove de outubro de mil oitocentos e sessenta e um, às dez horas e meia da manhã, na esplanada da cidade de Barcelona, no local onde são executados os criminosos condenados ao derradeiro suplício e por ordem do bispo desta cidade, foram queimados trezentos volumes e brochuras sobre o Espiritismo, a saber: O livro dos espíritos, por Allan Kardec etc.

Os principais jornais da Espanha deram conta minuciosa do fato, que os órgãos da imprensa liberal do país muito justamente profligaram. É de notar-se que na França os periódicos liberais se limitaram a mencioná-lo sem comentários. O próprio Século, tão ardoroso em estigmatizar os abusos do poder e os menores atos de intolerância do clero, não achou uma palavra de reprovação para esse ato digno da Idade Média. Alguns jornais da pequena imprensa acharam mesmo no caso motivo para risota. Pondo de parte o que diz respeito à crença, havia ali uma questão de princípio, de direito internacional, que interessava a todo o mundo, sobre a qual não teriam tão levianamente guardado silêncio, se se tratasse de certas outras obras. Eles não se furtam de censuras, quando está em causa a simples exigência de uma estampilha para venda de um livro materialista; ora, o restaurar a Inquisição as suas fogueiras com a solenidade de outrora, às portas da França, apresentava bem maior gravidade. Por que, então, semelhante indiferença? É que estava em jogo uma Doutrina a cujos progressos a incredulidade assiste com pavor. Reivindicar justiça para ela fora consagrar-lhe o direito à proteção da autoridade e aumentar-lhe o crédito. Seja como for, o auto de fé em Barcelona não deixou de produzir o esperado efeito, pela repercussão que teve na Espanha, onde contribuiu fortemente para propagar as ideias espíritas (Veja-se a Revista Espírita de novembro de 1861, Resquícios da Idade Média — O auto de fé de Barcelona).

O acontecimento abriu ensejo a muitas comunicações da parte dos Espíritos. A que se segue foi dada espontaneamente na Sociedade de Paris, a 19 de outubro, quando regressei de Bordeaux.

“Fazia-se mister alguma coisa que chocasse com violência certos Espíritos encarnados, para que se decidissem a ocupar-se com essa grande Doutrina, que há de regenerar o mundo. Nada, para isto, se faz inutilmente na Terra e nós que inspiramos o auto de fé em Barcelona, bem sabíamos que, procedendo assim, forçávamos um grande passo para frente. Esse fato brutal, inaudito nos tempos atuais, se consumou tendo por fim chamar a atenção dos jornalistas que se mantinham indiferentes diante da agitação profunda que abalava as cidades e os centros espíritas. Eles deixavam que falassem e fizessem o que bem entendessem, mas obstinavam-se em passar por surdos e respondiam com o mutismo ao desejo de propaganda dos adeptos do Espiritismo. De bom ou mau grado, hoje falam dele; uns, comprovando o histórico do fato de Barcelona; outros, desmentindo-o, ensejaram uma polêmica que dará volta ao mundo, de grande proveito para o Espiritismo. Essa a razão por que a retaguarda da Inquisição fez hoje o seu último auto de fé. É que assim o quisemos.” Um Espírito (19)

(19) N.E. (à 14a ed).: Segundo a Revista Espírita, novembro de 1861, Resquícios da Idade Média — O auto de fé de Barcelona, a mensagem seria de São Domingos.

Nota – De Barcelona enviaram-me uma aquarela feita in loco por um artista distinto, representando a cena do auto de fé. Mandei fazer do quadro uma redução fotográfica. Possuo também um pouco de cinza apanhada na fogueira, em que se encontram fragmentos ainda legíveis de folhas queimadas. Conservei-os numa urna de cristal. (20,21)

22 de dezembro de 1861

(Em minha casa: comunicação particular – Médium: Sr. d’A...)

Meu sucessor

Tendo uma conversação com os Espíritos levado a falar do meu sucessor na direção do Espiritismo, formulei a questão seguinte:

Pergunta – Entre os adeptos, muitos há que se preocupam com o que virá a ser do Espiritismo depois de mim e perguntam quem me substituirá quando eu partir, uma vez que não se vê aparecer ninguém, de modo notório, para lhe tomar as rédeas.

Respondo que não nutro a pretensão de ser indispensável; que Deus é extremamente sábio para não fazer que uma Doutrina destinada a regenerar o mundo assente sobre a vida de um homem; que, ademais, sempre me avisaram que a minha tarefa é a de constituir a Doutrina e que para isso tempo necessário me será concedido. A do meu sucessor será, pois, mais fácil, porquanto já achará traçado o caminho, bastando que o siga. Entretanto, se os Espíritos julgassem oportuno dizer-me a respeito alguma coisa de mais positivo, eu muito grato lhes ficaria.

Resposta – Tudo isso é rigorosamente exato — eis o que se nos permite dizer-te a mais.

Tens razão em afirmar que não és indispensável; só o és ao ver dos homens, porque era necessário que o trabalho de organização se concentrasse nas mãos de um só, para que houvesse unidade; não o és, porém, aos olhos de Deus. Foste escolhido e por isso é que te vês só, mas não és, como, aliás, bem o sabes, a única entidade capaz de desempenhar essa missão. Se Assim, aconteça o que acontecer, o Espiritismo não periclitará.

Enquanto o trabalho de elaboração não estiver concluído, será, pois, necessário sejas o único em evidência: fazia-se mister uma bandeira em torno da qual pudessem as gentes agrupar-se. Era preciso que te considerassem indispensável, para que a obra que te sair das mãos tenha mais autoridade no presente e no futuro; era preciso mesmo que temessem pelas consequências da tua partida.

Se aquele que te há de substituir fosse designado de antemão, a obra, ainda não acabada, poderia sofrer entraves; formar-se-iam contra ti oposições suscitadas pelo ciúme; discuti-lo-iam, antes que ele desse provas de si; os inimigos da Doutrina procurariam barrar-lhe o caminho, resultando daí cismas e separações. Ele, portanto, se revelará, quando chegar o momento.

Sua tarefa será assim facilitada, porque, como dizes, o caminho estará todo traçado; se ele daí se afastasse, perder-se-ia a si próprio, como já se perderam os que hão querido atravessar-se na estrada. A referida tarefa, porém, será mais penosa noutro sentido, visto que ele terá de sustentar lutas mais rudes. A ti te incumbe o encargo da concepção, a ele o da execução, pelo que terá de ser homem de energia e de ação. Admira aqui a sabedoria de Deus na escolha de seus mandatários: tu possuis as qualidades que eram necessárias ao trabalho que tens de realizar, porém não possuis as que serão necessárias ao teu sucessor. Tu precisas da calma, da tranquilidade do escritor que amadurece as ideias no silêncio da meditação; ele precisará da força do capitão que comanda um navio segundo as regras da Ciência. Exonerado do trabalho de criação da obra sob cujo peso teu corpo sucumbirá, ele terá mais liberdade para aplicar todas as suas faculdades ao desenvolvimento e à consolidação do edifício.

P. – Poderás dizer-me se a escolha do meu sucessor já está feita?

R. – Está, sem o estar, dado que o homem, dispondo do livre-arbítrio, pode no último momento recuar diante da tarefa que ele próprio elegeu. É também indispensável que dê provas de si, de capacidade, de devotamento, de desinteresse e de abnegação. Se se deixasse levar apenas pela ambição e pelo desejo de primar, seria certamente posto de lado.

P. – Frequentemente se há dito que muitos Espíritos encarnariam para ajudar o movimento.

R. – Sem dúvida, muitos Espíritos terão essa missão, mas cada um na sua especialidade, para agir, pela sua posição, sobre tal ou tal parte na sociedade. Todos se revelarão por suas obras e nenhum por qualquer pretensão à supremacia.

(20) Nota do autor: A Livraria espírita ainda os conserva.

(21) N.E. (à 13ª  ed).: Zêus Wantuil, no artigo Centenário de um auto de fé, em Reformador de 1961, informa que a urna foi destruída pelos nazistas na Segunda Grande Guerra. o seu desempenho se interrompesse por uma causa qualquer, não faltariam a Deus outros que te substituíssem.

Ségur, 9 de agosto de 1863 (Médium Sr. d’A...)

Imitação do evangelho

Nota – Eu a ninguém dera ciência do assunto do livro em que estava trabalhando. Conservara-lhe de tal modo em segredo o título, que o editor, Sr. Didier, só o conheceu quando da impressão. Esse título foi, a princípio: Imitação do evangelho. Mais tarde, por efeito de reiteradas observações do mesmo Sr. Didier e de algumas outras pessoas, mudei-o para o de O evangelho segundo o espiritismo. Assim, as reflexões contidas nas comunicações seguintes não podem ser tidas como fruto de ideias preconcebidas do médium.

Pergunta – Que pensais da nova obra em que trabalho neste momento?

Resposta – Esse livro de doutrina terá considerável influência, pois que explanas questões capitais, e não só o mundo religioso encontrará nele as máximas que lhe são necessárias, como também a vida prática das nações haurirá dele instruções excelentes. Fizeste bem enfrentando as questões de alta moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos. A dúvida tem que ser destruída; a terra e suas populações civilizadas estão prontas; já de há muito os teus amigos de além-túmulo as arrotearam; lança, pois, a semente que te confiamos, porque é tempo de que a Terra gravite na ordem irradiante das esferas e que saia, afinal, da penumbra e dos nevoeiros intelectuais. Acaba a tua obra e conta com a proteção do teu guia, guia de todos nós, e com o auxílio devotado dos Espíritos que te são mais fiéis e em cujo número digna-te de me incluir sempre.

P. – Que dirá o clero?

R. – O clero gritará — heresia —, porque verá que atacas decisivamente as penas eternas e outros pontos sobre os quais ele baseia a sua influência e o seu crédito. Gritará tanto mais, quanto se sentirá muito mais ferido do que com a publicação de O livro dos espíritos, cujos dados principais, a rigor, poderia aceitar. Agora, porém, tu entraste por um novo caminho, no qual não poderá ele acompanhar-te. O anátema secreto se tornará oficial e os espíritas serão repelidos, como o foram os judeus e os pagãos, pela Igreja Romana. Em compensação, os espíritas verão aumentar-se-lhes o número, em virtude dessa espécie de perseguição, sobretudo com o qualificarem, os padres, de demoníaca uma Doutrina cuja moralidade esplenderá como um raio de sol pela publicação mesma do teu novo livro e dos que se seguirão.

Aproxima-se a hora em que te será necessário apresentar o Espiritismo qual ele é, mostrando a todos onde se encontra a verdadeira doutrina ensinada pelo Cristo. Aproxima-se a hora em que, à face do céu e da Terra, terás de proclamar que o Espiritismo é a única tradição verdadeiramente cristã e a única instituição verdadeiramente divina e humana. Ao te escolherem, os Espíritos conheciam a solidez das tuas convicções e sabiam que a tua fé, qual muro de aço, resistiria a todos os ataques.

Entretanto, amigo, se a tua coragem ainda não desfaleceu sob a tarefa tão pesada que aceitaste, fica sabendo que foste feliz até o presente, mas que é chegada a hora das dificuldades. Sim, caro mestre, prepara-se a grande batalha; o fanatismo e a intolerância, exacerbados pelo bom êxito da tua propaganda, vão atacar-te e aos teus com armas envenenadas. Prepara-te para a luta. Tenho, porém, fé em ti, como tu tens fé em nós, e sei que a tua fé é das que transportam montanhas e fazem caminhar por sobre as águas. Coragem, pois, e que a tua obra se complete. Conta conosco e conta sobretudo com a grande alma do Mestre de todos nós, que te protege de modo muito particular.

Paris, 14 de setembro de 1863.

Nota – Eu solicitara para mim uma comunicação sobre um assunto qualquer e pedira que ela me fosse enviada para o meu retiro de Sainte-Adresse.

“Quero falar-te de Paris, embora isso não me pareça de manifesta utilidade, uma vez que as minhas vozes íntimas se fazem ouvir em torno de ti e que teu cérebro percebe as nossas inspirações, com uma facilidade de que nem tu mesmo suspeitas. Nossa ação, principalmente a do Espírito Verdade, é constante ao teu derredor e tal que não a podes negar. Assim sendo, não entrarei em detalhes ociosos a respeito do plano de tua obra, plano que, segundo meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e completamente. Compreendes agora por que precisávamos ter-te sob as mãos, livre de toda preocupação outra, que não a da Doutrina. Uma obra como a que elaboramos de comum acordo necessita de recolhimento e de insulamento sagrado. Tenho vivo interesse pelo teu trabalho, que é um passo considerável para a frente e abre, afinal, ao Espiritismo a estrada larga das aplicações proveitosas, a bem da sociedade. Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já se lhe pode ver a cúpula a desenhar-se no horizonte. Continua, pois, sem impaciência e sem fadiga; o monumento estará pronto na hora determinada.

Já tratamos contigo das questões incidentes do momento, isto é, das questões religiosas. O Espírito Verdade te falou das rebeliões que já se levantam na hora, presente. São necessárias essas hostilidades para manter desperta a atenção dos homens, que tão facilmente se deixam desviar de um assunto sério. Aos soldados que combatem pela causa, incessantemente se juntarão combatentes novos, cujas palavras e escritos hão de causar sensação e levarão a perturbação e a confusão às fileiras dos adversários.

Adeus, caro companheiro de antanho, discípulo fiel da verdade, que continua através da vida a obra a que outrora, diante do Espírito que te ama e a quem venero, juramos consagrar as nossas forças e as nossas existências, até que ela se achasse concluída. Saúdo-te.”

Observação – O plano da obra fora, de fato, completamente modificado, o que sem dúvida o médium não podia saber, pois que ele estava em Paris e eu em Sainte-Adresse. Tampouco podia saber que o Espírito Verdade me falara da atitude de revolta do bispo de Argélia e outros. Todas essas circunstâncias eram bem urdidas para me comprovar que os Espíritos tomavam parte em meus trabalhos.22

22 N.E. (à 15a  ed).: Ver o Apêndice no final da obra.

Paris, 30 de setembro de 1863 (Médium: Sr. d’A...)

A Igreja

Eis-te de volta, meu amigo, e não perdeste o teu tempo. À obra ainda, pois não deves deixar se enferruje a tua bigorna. Forja, forja armas bem temperadas; repousa do trabalho feito, empreendendo trabalhos mais difíceis. Todos os elementos serão postos ao teu alcance, à medida que for necessário.

É chegada a hora em que a Igreja tem de prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira por que pratica os ensinos do Cristo, do uso que fez da sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que levou os espíritos. A hora é vinda em que ela tem de dar a César o que é de César e de assumir a responsabilidade de todos os seus atos. Deus a julgou, e a reconheceu inapta, daqui por diante, para a missão de progresso que incumbe a toda autoridade espiritual. Somente por meio de uma transformação absoluta lhe seria possível viver, mas resignar-se-á ela a essa transformação? Não, pois que, então, já não seria a Igreja; para assimilar as verdades e as descobertas da Ciência, teria de renunciar aos dogmas que lhe servem de fundamentos; para volver à prática rigorosa dos preceitos do Evangelho, teria de renunciar ao poder, à dominação, de trocar o fausto e a púrpura pela simplicidade e a humildade apostólicas. Ela se acha nesta alternativa: ou se suicida, transformando-se; ou sucumbe nas garras do progresso, se permanecer estacionária.

Aliás, Roma já se mostra cheia de ansiedade e na Cidade Eterna se sabe, por inegáveis revelações, que a Doutrina Espírita causará dor viva ao papado, porque na Itália se prepara rigorosamente o cisma. Não é, pois, de espantar o encarniçamento com que o clero se lança ao combate contra o Espiritismo, impelido pelo instinto de conservação. Ele, porém, já verificou que suas armas se embotam contra essa potência que surge; seus argumentos não têm podido resistir à lógica inflexível; só lhe resta o demônio, mísero auxiliar seu no século XIX.

Ademais, a luta está aberta entre a Igreja e o progresso, mais do que entre ela e o Espiritismo. Ela é batida em toda a linha pelo progresso geral das ideias e sucumbirá sob os seus golpes, como tudo quanto sai fora do seu nível. A marcha rápida das coisas há de fazer-vos pressentir que o desenlace não demorará muito tempo. A própria Igreja parece compelida fatalmente a precipitá-lo. Espírito E.

Paris, 14 de outubro de 1863 (Médium: Sr. d’A...)

(Sobre o futuro de diferentes publicações)

Vida de Jesus por Renan

Pergunta (a Erasto) – Que efeito produzirá a Vida de Jesus, de Renan?

Resposta – Enorme efeito. Grande será a repercussão no clero, porque esse livro derroca os próprios fundamentos do edifício em que ele se abriga há dezoito séculos. Não se trata de um livro irrepreensível, longe disso, porque reflete uma opinião exclusiva, que se circunscreve no círculo acanhado da vida material. Todavia, Renan não é materialista, mas pertence a essa escola que, se não nega o princípio espiritual, também não lhe atribui nenhum papel efetivo e direto no encaminhamento das coisas do mundo. Ele é desses cegos inteligentes que explicam a seu modo o que não podem ver; que, não compreendendo o mecanismo da visão a distância, imaginam que só tocando-a se pode conhecer uma coisa. Por isso é que reduziu o Cristo às proporções do mais vulgar dos homens, negando-lhe todas as faculdades que constituem atributos do Espírito livre e independente da matéria.

Entretanto, a par de erros capitais, sobretudo no que concerne à espiritualidade, o livro contém observações muito justas, que até aqui haviam escapado aos comentadores e que, de certo ponto de vista, lhe dão grande alcance. Seu autor se inclui nessa legião de Espíritos encarnados que se podem classificar como demolidores do velho mundo, tendo por missão nivelar o terreno sobre o qual se edificará um mundo novo mais racional. Quis Deus que um escritor, justamente conceituado entre os homens, do ponto de vista do talento, viesse projetar luz sobre algumas questões obscuras e eivadas de preconceitos seculares, a fim de predispor os Espíritos às novas crenças. Sem o suspeitar, Renan achanou o caminho para o Espiritismo.

Paris, 30 de janeiro de 1866

(Grupo do Sr. Golovine – Médium: Sr. L...)

Precursores da tempestade

Permiti que um antigo dignitário da Táurida abençoe vossos dois filhos. Possam eles, sob a égide das respectivas mães, tornar-se inteligentes em tudo e ser para vós causa de reais satisfações! Desejo que sejam espíritas convictos, isto é, de tal modo se saturem da ideia de outras vidas, dos princípios de fraternidade, de caridade e de solidariedade, que os acontecimentos, que se precipitarão quando eles estiverem em idade de consciência e de razão, não os espantem, nem lhes enfraqueçam a confiança na Justiça divina, em meio das provas por que tem a Humanidade de passar.

Por vezes, surpreende-vos o azedume com que os vossos adversários vos atacam. Segundo eles, sois loucos, alucinados, tomais a ficção pela realidade, ressuscitais o diabo e todos os erros da Idade Média.

Sabeis que responder a todos os ataques seria travar uma polêmica sem resultado. O vosso silêncio prova a vossa força e, se não lhes derdes ocasião de retrucar, acabarão calando-se.

O imprevisto é o que mais podeis temer. Se se desse uma mudança de governo, no sentido do mais intolerante ultramontanismo, certamente seríeis perseguidos, escarnecidos, condenados, expatriados. Mas os acontecimentos, mais fortes que as maquinações em surdina, preparam no horizonte político um temporal bastante violento e, quando a tempestade estalar, tratai de estar bem abrigados, de ser bem fortes e muito desinteressados. Haverá ruínas, invasões, delimitações de fronteiras e, desse naufrágio imenso, que virá da Europa, da Ásia, da América, somente escaparão, ficai sabendo, as almas temperadas, os espíritos esclarecidos, tudo o que for justiça, lealdade, honra, solidariedade.

São perfeitas as vossas sociedades, tais quais se acham organizadas? Tendes aos milhões os vossos párias; a miséria enche incessantemente as vossas prisões, os vossos lupanares, e abastece os cadafalsos. A Alemanha assiste, como em todos os tempos, à emigração de seus habitantes às centenas de milhares, o que não faz honra aos seus governos; o Papa, príncipe temporal, espalha o erro pelo mundo, em vez do Espírito de Verdade, de que ele se constituiu o emblema artificial. Por toda parte a inveja. Vejo interesses que se combatem e nenhum esforço pelo erguimento do ignorante. Os governos, minados por princípios egoístas, pensam em fortificar-se contra a maré que sobe, maré que é a consciência humana, que afinal se insurge, após séculos de expectativa, contra a minoria que explora as forças vivas das nacionalidades.

Nacionalidades! Que a Rússia não encontre terrível escolho, um Cabo das Tormentas, nessa palavra. Bem-amado país, não esqueçam os teus homens de Estado que a grandeza de uma nação não consiste em ter fronteiras indefinidas, muitas províncias e poucas aldeias, algumas grandes cidades num oceano de ignorância, imensas planícies, desertas, estéreis, inclementes como a inveja, como tudo o que é falso e emite sons falsos. Pouco importa que o Sol não se esconda sobre as vossas conquistas, nem por isso haverá menos deserdados, menos ranger de dentes, todo um inferno ameaçador e de fauces escancaradas como a imensidade.

As nações, como os governos, têm o livre-arbítrio; como as simples individualidades, elas sabem dirigir-se pelo amor, pela união, pela concórdia. Entretanto, fornecerão à tempestade anunciada elementos elétricos apropriados a melhor as destruir e desagregar. Innocent.

Em vida, arcebispo da Táurida.

Lyon, 30 de janeiro de 1866.

(Grupo Villon – Médium: Sr. G...)

A nova geração

A Terra freme de alegria; aproxima-se o dia do Senhor; todos os que entre nós estão à frente disputam porfiadamente por entrar na liça. Já o Espírito de algumas valorosas almas encarnadas agitam seus corpos até quase despedaçá-los. A carne interdita não sabe o que há de pensar, desconhecido fogo a devora. Elas serão libertadas, porque chegaram os tempos. Uma eternidade está a ponto de expirar, uma eternidade gloriosa vai despontar em breve e Deus conta seus filhos.

O reinado do ouro cederá lugar a um reinado mais puro; o pensamento será dentro em pouco soberano e os Espíritos de escol, que hão vindo desde remotas eras iluminar os séculos em que viveram e servir de balizas aos séculos vindouros, encarnarão entre vós. Que digo? Muitos se acham encarnados. A sábia palavra deles será uma chama destruidora, que causará devastações irreparáveis no seio dos velhos abusos. Quantos prejuízos antigos vão desmoronar em bloco, quando o Espírito, como uma acha de duplo gume, vier decepá-los pelos fundamentos.

Sim, os pais do progresso do espírito humano deixaram, uns, as suas moradas radiosas; outros, grandes trabalhos, em que a felicidade se junta ao prazer de instruir-se, para retomarem o bastão de peregrinos, que apenas haviam deposto no limiar do templo da Ciência, e daqui a pouco, dos quatro cantos do globo, os sábios oficiais ouvirão, apavorados, jovens imberbes a lhes retorquir, numa linguagem profunda, aos argumentos que eles julgavam irrefutáveis. O sorriso zombeteiro já não constituirá um escudo que valha e, sob pena de desmoralização, forçoso será responder. Então, o círculo vicioso em que se metem os mestres da vã filosofia mostrar-se-á completamente, porquanto os novos campeões levam consigo não só um facho, que é a inteligência desimpedida dos véus grosseiros, senão também muitos dentre eles gozarão desse estado particular, que é privilégio das grandes almas, como Jesus, e que dá o poder de curar e de operar essas maravilhas chamadas milagres. Diante dos fatos materiais, em que o Espírito se mostra tão superior à matéria, como negar os Espíritos? O materialismo será abatido em seus discursos por uma palavra mais eloquente do que a sua e pelo fato patente, positivo e averiguado por todos, visto que grandes e pequenos, novos Tomés, poderão tocar com o dedo.

O velho mundo carcomido estala por toda parte; o velho mundo acaba e com ele todos esses velhos dogmas, que só reluzem ainda pelo dourado que os cobre. Espíritos valorosos, cabe-vos a tarefa de raspar esse ouro falso. Para trás, vós que em vão quereis escorar o velho ídolo. Atingido de todos os lados, ele vai ruir e vos arrastará na sua queda.

Para trás, todos vós negadores do progresso; para trás, com as vossas crenças de uma época que se foi. Por que negais o progresso e vos esforçais por detê-lo? É que, desejando sobrepujar, sobrepujar ainda e sempre, condensastes o vosso pensamento em artigos de fé, clamando para a Humanidade: “Serás sempre criança e nós, que temos a iluminação do alto, estamos destinados a conduzir-te.”

No entanto, já tendes visto ficar-vos nas mãos as andadeiras da infância; e a criança salta diante de vós e ainda negais que ela possa caminhar sozinha! Será chicoteando-a com as andadeiras destinadas a sustentá-la que provareis a autoridade dos vossos argumentos? Não, e bem o sentis, mas é tão agradável, a quem se diz infalível, crer que os outros ainda depositam fé nessa infalibilidade, em que nem vós mesmos acreditais!

Ah! que de gemidos não se soltam no santuário! É aí que, prestando-se ouvido atento, se escutam os cochichos dolorosos. Que dizeis, então, pobres obstinados? Que a mão de Deus se abate sobre a sua Igreja? Que por toda parte a imprensa livre vos ataca e pulveriza os vossos argumentos? Onde estará o novo Crisóstomo, cuja potente palavra reduzirá a nada esse dilúvio de raciocinadores? Em vão o esperais; nada mais podem as vossas mais vigorosas e mais conceituadas penas. Elas se obstinam em agarrar-se ao passado que se vai, quando a nova geração, num impulso irresistível que a impele para a frente, exclama: “Não, nada de passado; a nós, o futuro; nova aurora se ergue e é para lá que tendem as nossas aspirações!”.

“Avante!”, diz ela; “alargai a estrada, os irmãos nos seguem. Ide com a onda que nos arrasta; necessitamos do movimento, que é vida, ao passo que vós nos apresentais a imobilidade, que é a morte. Os vossos santos mártires absolutamente não estão mortos, para que lhes imobilizeis o presente. Eles entreviram a nossa época e se lançaram à morte como à estrada que havia de conduzi-los lá. A cada época o seu gênio. Queremos lançar-nos à vida, porquanto os séculos vindouros, que divisamos, têm horror à morte.”

Eis aí, meus amigos, o que os valorosos Espíritos que presentemente encarnam vão tornar compreensível. Este século não terminará sem que muitos destroços junquem o solo. A guerra mortífera e fratricida desaparecerá em breve diante da discussão; o espírito substituirá a força brutal. Depois que todas essas almas generosas houverem combatido, voltarão ao vosso Mundo Espiritual, para receberem a coroa do vencedor.

Aí está a meta, meus amigos. Por demais aguerridos são os campeões, para que seja duvidoso o êxito. Deus escolheu a nata dos seus combatentes e a vitória é alcançada para a Humanidade.

Rejubilai-vos, pois, todos vós que aspirais à felicidade e que desejais participem dela os vossos irmãos, como vós mesmos: o dia chegou! A Terra trepida de alegria, porquanto vai assistir ao começo do reinado da paz que o Cristo, o Divino Mestre, prometeu, reinado cujos fundamentos Ele desceu a assentar. Um Espírito

Paris, 23 de abril de 1866.

(Comunicação particular – Médium: Sr. D...)

Instrução relativa à saúde do Sr. Allan Kardec

Enfraquecendo-se diariamente a saúde do Sr. Allan Kardec, em consequência de trabalhos excessivos, superiores às suas forças, vejo-me na necessidade de repetir, novamente, o que já lhe dissera tantas vezes: “Precisas de repouso; as forças humanas têm limites que o desejo de que o ensino progrida te leva muitas vezes a ultrapassar. Estás errado, porquanto, procedendo assim, não apressarás a marcha da Doutrina, mas arruinarás a tua saúde e te colocarás na impossibilidade material de acabar a tarefa que vieste desempenhar neste mundo. A tua enfermidade atual não é mais do que resultado de um dispêndio incessante de forças vitais, sem dar tempo a que se efetue a reparação necessária, e a um aquecimento do sangue produzido pela falta absoluta de repouso. Sem dúvida, nós te sustentamos, porém sob a condição de que não desfaças o que fizermos. De que serve correr? Não te dissemos já muitas vezes que cada coisa virá a seu tempo e que os Espíritos prepostos ao movimento das ideias sabem fazer que surjam circunstâncias favoráveis, soando o momento de agir?

Quando se faz preciso que todo espírita concentre suas forças para a luta, pensas que seja do teu dever esgotar as tuas? Não. Em tudo tens que dar o exemplo e teu lugar é na estacada, no momento do perigo. Que farias lá, se, por enfraquecimento, o teu corpo não mais permitisse que teu espírito se utilizasse das armas que a experiência e a revelação te puseram nas mãos? — Ouve-me: deixa para mais tarde as grandes obras destinadas a completar a que está esboçada nas tuas primeiras publicações; teus trabalhos ordinários e algumas pequenas brochuras de urgência bastam para te absorver o tempo e devem constituir os únicos objetos das tuas preocupações atuais.

Não te falo apenas em meu nome; sou aqui o delegado de todos os Espíritos que tão poderosamente têm contribuído para a propagação do ensino, mediante suas sábias instruções. Eles te dizem, por meu intermédio, que esse atraso, que consideras prejudicial ao futuro da Doutrina, é uma medida necessária, de mais de um ponto de vista, quer porque certas questões ainda não se acham completamente elucidadas, quer para preparar os Espíritos a melhor assimilá-las. É necessário que outros tenham limpado o terreno, que se ache provada a insustentabilidade de certas teorias e que maior vácuo se haja produzido. Numa palavra: o momento não é oportuno; poupa-te, portanto; quando for tempo, indispensável te será todo o vigor de corpo e de espírito. Até aqui, o Espiritismo foi alvo de muitas diatribes, levantou muitas tempestades. Julgas, porém, que toda essa agitação esteja abrandada, que todos os ódios se tenham acalmado e tornado impotentes? Desilude-te, o cadinho depurador ainda não expeliu todas as impurezas; o porvir lhe reserva outras provas e as últimas crises não serão as menos penosas e difíceis de suportar.

Sei que a tua situação particular te impõe uma imensidade de trabalhos secundários que te consomem a maior parte do tempo. Os pedidos de toda espécie chovem sobre ti e tu te julgas no dever de atendê-los quanto possível. Farei aqui o que não ousarias fazer por ti próprio: dirigindo-me à generalidade dos espíritas, pedir-lhes-ei, no interesse mesmo do Espiritismo, que te evitem toda sobrecarga de trabalho, capaz de consumir instantes que deves consagrar quase exclusivamente à terminação da obra. Se a tua correspondência algo sofrer com isso, em compensação o ensino ganhará.

Às vezes, necessário se torna sacrificar as satisfações individuais ao interesse geral. É uma medida urgente que todos os adeptos sinceros saberão compreender e aprovar.

A volumosa correspondência que recebes é para ti um precioso acervo de documentos e informações; ela te esclarece sobre a verdadeira marcha e os progressos reais da Doutrina; é um termômetro imparcial; proporciona-te, além disso, satisfações morais que por mais de uma vez te têm sustentado a coragem, mostrando-te a adesão que encontram tuas ideias, em todos os pontos do globo. Sob esse aspecto, a superabundância é um bem, e não um inconveniente, mas com a condição de te auxiliar os trabalhos, e não de os embaraçar, criando-te um acréscimo de ocupações.” Dr. Demeure

Bom Dr. Demeure, agradeço os seus ponderados conselhos. Graças à resolução que tomei de enviar, salvo casos excepcionais, a correspondência habitual a um substituto, ela agora sofre menos e no futuro nada sofrerá, mas que hei de fazer da que se acha acumulada, mais de quinhentas cartas, a qual, a despeito de toda a minha boa vontade, não posso chegar a pôr em dia?

Resposta – É preciso, como se diz em linguagem comercial, lançá-las em bloco à conta de lucros e perdas. Noticiando esta providência pela Revista, os teus correspondentes saberão o que fazer; compreender-lhe-ão a necessidade e a considerarão justificada pelos conselhos que acabamos de dar. Repito, seria impossível que as coisas continuassem como têm ido. Tudo com isso sofreria: a tua saúde e a Doutrina. Convém, quando necessário, saber fazer os sacrifícios indispensáveis. Tranquilizado, doravante, sobre este ponto, poderás entregar-te mais livremente aos teus trabalhos ordinários. Eis o que te aconselha aquele que será sempre teu amigo dedicado. Demeure

Cedendo a tão sábio conselho, pedimos àqueles dos nossos correspondentes com os quais estávamos desde longo tempo em atraso, que aceitassem as nossas escusas e a manifestação do nosso pesar, por não termos podido responder pormenorizadamente, como desejáramos, às suas atenciosas cartas e que se dignassem de receber, coletivamente, a expressão dos nossos sentimentos fraternais.

Paris, 25 de abril de 1866.

(Resumo das comunicações dadas pelas Sras. M... e T... em estado sonambúlico)

Regeneração da Humanidade23

Precipitam-se com rapidez os acontecimentos, pelo que já não vos dizemos, como outrora: “Aproximam-se os tempos”. Agora, dizemos: “Os tempos são chegados”.

Não suponhais que as nossas palavras se referem a um novo dilúvio, nem a um cataclismo, nem a um revolvimento geral. Revoluções parciais do globo se hão produzido em todas as épocas e ainda se produzem, porque decorrem da sua constituição, mas não representam os sinais dos tempos.

Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho tem de cumprir-se e neste momento se cumpre, conforme o reconhecereis mais tarde. Não tomeis, porém, os sinais anunciados, senão como figuras, que precisam ser compreendidas segundo o espírito, e não segundo a letra. Todas as escrituras encerram grandes verdades sob o véu da alegoria e, por se terem apegado à letra, é que os comentadores se transviaram. Faltou-lhes a chave para lhes compreenderem o verdadeiro sentido. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do Mundo Invisível, que o Espiritismo vem revelar.Daqui em diante, com o auxílio desses novos conhecimentos, o que era obscuro se tornará claro e inteligível.

Tudo segue a ordem natural das coisas e as Leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não vereis milagres, nem prodígios, nem fatos sobrenaturais, no sentido vulgarmente dado a essas palavras.

Não olheis para o céu em busca dos sinais precursores, porquanto nenhum vereis, e os que vo-los anunciarem estarão a enganar-vos. Olhai em torno de vós, entre os homens: aí é que os descobrireis.

Não sentis que um como vento sopra sobre a Terra e agita todos os Espíritos? O mundo se acha na expectativa e como que presa de um vago pressentimento de que a tempestade se aproxima.

Não acrediteis, porém, no fim do mundo material. A Terra tem progredido, desde a sua transformação; tem ainda que progredir e não que ser destruída. A Humanidade, entretanto, chegou a um dos períodos de sua transformação e o mundo terreno vai elevar-se na hierarquia dos mundos.

O que se prepara não é, pois, o fim do mundo material, mas o fim do mundo moral. É o velho mundo, o mundo dos preconceitos, do orgulho, do egoísmo e do fanatismo que se esboroa. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo dele acabará com a geração que se vai e a geração nova erguerá o novo edifício, que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

(23) N.E.: Ver Nota explicativa, p. 335.

De mundo de expiação, a Terra se mudará um dia em mundo ditoso e habitá-lo será uma recompensa, em vez de ser uma punição. O reinado do bem sucederá ao reinado do mal.

Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso se faz que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que unicamente ao bem aspirem. Como já chegou esse tempo, uma grande emigração neste momento se opera entre os que a habitam. Os que praticam o mal pelo mal, alheios ao sentimento do bem, dela se verão excluídos, porque lhe acarretariam novamente perturbações e confusões que constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o seu endurecimento em mundos inferiores, aos quais levarão os conhecimentos que adquiriram, tendo por missão fazê-los adiantar-se. Substituí-los-ão na Terra Espíritos melhores que farão reinem entre si a justiça, a paz, a fraternidade.

A Terra, dissemo-lo, não será transformada por um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança na ordem natural das coisas. Tudo, pois, exteriormente, se passará como de costume, com uma única diferença, embora capital: a de que uma parte dos Espíritos que nela encarnam não mais encarnarão. Em cada criança que nasça, em lugar de um Espírito atrasado e propenso ao mal, encarnará um Espírito mais adiantado e propenso ao bem. Trata-se, portanto, muito menos de uma nova geração corporal do que de uma nova geração de Espíritos. Assim, desapontados ficarão os que contem que a transformação resulte de efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

A época atual é a da transição; os elementos das duas gerações se confundem. Colocados no ponto intermédio, assistis à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já se assinala no mundo pelos caracteres que lhe são próprios.

As duas gerações que sucedem uma à outra têm ideias e modos de ver inteiramente opostos. Pela natureza das disposições morais, porém, sobretudo pelas disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir à qual das duas pertence cada indivíduo.

Tendo de fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por uma inteligência e uma razão, em geral, precoces, juntas ao sentimento inato do bem e das crenças espiritualistas, o que é sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá tão só de Espíritos eminentemente superiores, mas de Espíritos que, já tendo progredido, estão predispostos a assimilar as ideias progressistas e aptos a secundar o movimento regenerador.

O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, primeiramente, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de qualquer poder acima da Humanidade; depois, pela propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternais do orgulho, do ódio, do ciúme, da cupidez, enfim, a predominância de apego a tudo o que é material.

Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que recalcitram em emendar-se, visto que são incompatíveis com o reino da fraternidade e os homens de bem sofreriam sempre com o contato dessas criaturas. Livre deles a Terra, os outros caminharão desembaraçadamente para o futuro melhor, que lhes está reservado neste mundo, em recompensa de seus esforços e da sua perseverança, enquanto uma depuração ainda mais completa não lhes abre o pórtico dos mundos superiores.

Com referência a essa emigração de Espíritos, ninguém pretenda que todos os Espíritos retardatários serão expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores. Muitos, ao contrário, aí hão de voltar, porque muitos cederão ao império das circunstâncias e do exemplo; neles, a casca está mais estragada do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa da que as viam quando vivos, conforme os numerosos casos que já tendes apreciado. Para isso, terão a ajudá-los os Espíritos bons, que por eles se interessam e que se esforçam por esclarecê-los e por lhes mostrar que errado era o caminho que trilhavam. Pelas vossas preces e exortações, podeis contribuir muito para que se melhorem, porque há perpétua solidariedade entre os mortos e os vivos.

Aqueles, conseguintemente, poderão voltar e se sentirão felizes, porque isso lhes será uma recompensa. Que importa o que tenham sido e feito, se animados de melhores sentimentos se encontram? Longe de se mostrarem hostis à sociedade, serão seus auxiliares úteis, porquanto pertencerão à geração nova.

Não haverá, pois, exclusão definitiva, senão dos Espíritos substancialmente rebeldes, daqueles que o orgulho e o egoísmo, mais do que a ignorância, tornaram surdos aos apelos do bem e da razão. Esses mesmos, porém, não estarão votados a perene inferioridade. Dia virá em que repudiarão o passado e abrirão os olhos para a luz.

Assim, orai por esses endurecidos, a fim de que se emendem enquanto ainda é tempo, visto que se aproxima o dia da expiação.

Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá na sua cegueira e a resistência que virá a opor mascarará, por meio de terríveis lutas, o fim do reinado dos que a constituem. Desvairados, correrão à sua própria perda; provocarão destruições que darão origem a um sem-número de flagelos e de calamidades, de sorte que, sem o quererem, apressarão o advento da era de renovação.

E, como se não se operasse com bastante rapidez a destruição, os suicídios se multiplicarão em proporções inauditas, até entre as crianças. A loucura jamais terá atingido tão grande quantidade de homens que, antes mesmo de morrerem, estarão riscados do número dos vivos. São esses os verdadeiros sinais dos tempos e tudo isso se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como já o dissemos, sem que haja a mais ligeira derrogação das Leis da Natureza.

Contudo, através da escura nuvem que vos envolve e em cujo seio ronca a tempestade, já podeis ver despontando os primeiros raios da era nova. A fraternidade lança seus fundamentos em todos os pontos do globo e os povos estendem uns aos outros as mãos; a barbárie se familiariza no contato com a civilização; os preconceitos de raças e de seitas, que causaram o derramamento de ondas de sangue, se vão extinguindo; o fanatismo, a intolerância perdem terreno, ao passo que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito. Por toda parte fermentam as ideias; percebe-se o mal e experimentam-se remédios para debelá-lo, mas muitos caminham sem bússola e se perdem em utopias. O mundo se acha empenhado num imenso trabalho de gestação que já dura há um século; nesse trabalho, ainda confuso, nota-se, todavia, que predomina a tendência para determinado fim: o da unidade e da uniformidade, que predispõem à confraternização.

Também aí tendes sinais dos tempos. Mas, enquanto os outros são os das agonias do passado, estes últimos são os primeiros vagidos da criança que nasce, os precursores da aurora que o próximo século verá despontar, pois que então a geração nova estará em toda a sua pujança. Tanto a fisionomia do século XIX difere da do XVIII, sob certos pontos de vista, quanto a do XX diferirá da do século XIX, sob outros pontos de vista.

A fé inata será um dos caracteres distintivos da nova geração, não a fé exclusiva e cega que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortifica, que os une e confunde num sentimento comum de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

O Espiritismo é a senda que conduz à renovação, porque destrói os dois maiores obstáculos que se opõem a essa renovação: a incredulidade e o fanatismo; porque faculta uma fé sólida e esclarecida; desenvolve todos os sentimentos e todas as ideias que correspondem aos modos de ver da nova geração, pelo que, no coração dos representantes desta, ele se achará inato e em estado de intuição. Assim, pois, a era nova vê-lo-á engrandecer-se e prosperar pela força mesma das coisas. Tornar-se-á a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

Daqui até lá, que de lutas terá ainda de sustentar contra os seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que — coisa singular! — se dão as mãos para abatê-lo. É que os dois lhe pressentem o futuro e, em consequência, a ruína de ambos. Essa a razão por que o temem; já o veem erguendo, sobre os destroços do velho mundo egoísta, a bandeira em torno da qual se reunirão todos os povos. Na divina máxima: Fora da caridade não há salvação, eles leem a sua própria condenação, porquanto essa máxima é o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Ela se lhes apresenta como as palavras fatais do festim de Baltazar. Entretanto, deveriam bendizer essa máxima, porquanto os defende de todas as represálias da parte dos que os perseguem. Tal, porém, não se dá: uma força cega os impele a rejeitar a única coisa capaz de salvá-los.

Que poderão contra o ascendente da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, ficai certos, porquanto ele está nas Leis da Natureza, não podendo, por isso mesmo, perecer. Observai a multiplicidade de meios por que a ideia se espalha e penetra em toda parte; crede que esses meios não são fortuitos, mas providenciais. O que, à primeira vista, devera ser-lhe prejudicial é exatamente o que lhe auxilia a propagação.

Dentro em breve, surgirão campeões que em voz alta se proclamarão tais, entre os de maior consideração e mais acreditados, os quais, com a autoridade de seus nomes e de seus exemplos o apoiarão, impondo silêncio aos que o detratem, pois ninguém ousará tratá-los de loucos. Esses homens o estudam em silêncio e aparecerão quando for chegado o momento oportuno. Até lá, bom é se conservem afastados.

Dentro em pouco, também vereis as Artes se acercarem dele, como de uma mina riquíssima, e traduzirem os pensamentos e os horizontes que ele patenteia, por meio da pintura, da música, da poesia e da literatura. Já se vos disse que haverá um dia a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã. É uma grande verdade, pois os maiores gênios se inspirarão nele. Em breve, vereis os primeiros esboços da arte espírita, que mais tarde ocupará o lugar que lhe compete.

Espíritas, o futuro é vosso e de todos os homens de coração e devotados. Não vos assustem os obstáculos, porquanto nenhum há que possa embaraçar os desígnios da Providência. Trabalhai sem descanso e agradecei a Deus o ter-vos colocado na vanguarda da nova falange. É um posto de honra que vós mesmos solicitastes e do qual é preciso vos mostreis dignos pela vossa coragem, pela vossa perseverança e pelo vosso devotamento. Felizes dos que sucumbirem nessa luta contra a força; a vergonha, ao contrário, esperará, no mundo dos Espíritos, os que sucumbirem por fraqueza ou pusilanimidade. As lutas, aliás, são necessárias para fortalecer a alma; o contato com o mal faz que melhor se apreciem as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se entregaria a uma despreocupação funesta ao seu adiantamento. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência; as lutas contra o mal desenvolvem as forças morais.

Paris, 27 de abril de 1866.

(Em casa do Sr. Leymarie – Médium: Sr. L...)

Marcha gradativa do Espiritismo. Dissidências e obstáculos

Caros condiscípulos, o que é verdade tem que ser; nada pode opor-se à irradiação de uma verdade; às vezes, podem encobri-la, torturá-la e fazer com ela o que fazem os teredos nos diques holandeses, mas uma verdade não assenta sobre estacarias: ela percorre o espaço; está no ar ambiente e, se foi possível cegarem uma geração, há sempre novas encarnações, há recrutas da erraticidade que trazem germens fecundos, e outros elementos, e que sabem atrair a si todas as grandes coisas desconhecidas.

Não vos apresseis, amigos. Muitos dentre vós desejariam ir a vapor e, nestes tempos de eletricidade, correr tanto quanto esta. Esquecidos das Leis da Natureza, quereriam andar mais depressa do que o tempo. Refleti, porém, e vereis quão sábio é Deus em tudo. Os elementos que constituem o vosso planeta sofreram longa e laboriosa elaboração; antes que pudésseis existir, foi preciso que tudo se constituísse de acordo com a aptidão dos vossos órgãos. A matéria, os minerais, fundidos e refundidos, os gases, os vegetais, pouco a pouco se harmonizaram e condensaram, a fim de permitirem que surgísseis na Terra. É a eterna Lei do Trabalho, que nunca cessou de reger os seres inorgânicos, como os seres inteligentes.

O Espiritismo não pode fugir a essa lei, à lei da elaboração. Plantado num solo ingrato, forçoso é que o cerquem as ervas más e os maus frutos. Mas também todos os dias o terreno é desbravado, os maus ramos são arrancados ou cortados; o campo se destorroa insensivelmente e, quando o viajante, fatigado das lutas da vida, encontrar a fartura e a paz à sombra de um fresco oásis, se dessedentará e enxugará o suor, nesse reino lenta e sabiamente preparado. Aí o rei é Deus, o dispensador generoso, o igualitário judicioso, que bem sabe ser doloroso, mas fecundo, o trajeto que o viajor seguirá; penoso, mas necessário. O Espírito formado na escola do trabalho dela sai mais forte e mais apto para as grandes coisas. Aos que desfalecem, ele diz: coragem e, como suprema esperança, lhes deixa entrever, mesmo aos mais ingratos, um ponto de chegada, ponto salutar, caminho assinalado pelas reencarnações.

Ride das declamações vãs; deixai que falem os dissidentes, que berrem os que não podem consolar-se de não serem os primeiros; todo esse arruído não impedirá que o Espiritismo prossiga imperturbavelmente o seu caminho. Ele é uma verdade e, qual rio, toda verdade tem que seguir seu curso.

16 de agosto de 1867

(Sociedade de Paris – Médium: Sr. M..., em estado sonambúlico)

Publicações espíritas

Nota – O Sr. L... acabava de anunciar que se propunha a fazer obras espíritas para vendê-las a preços fabulosamente reduzidos. Foi a esse respeito que o Sr. Morin disse o que segue, em sono sonambúlico:

“Os espíritas já são hoje numerosos, mas muitos ainda não compreendem o alcance eminentemente moralizador e emancipador do Espiritismo. O núcleo que sempre seguiu a boa estrada continua a sua marcha lenta, mas segura; afasta-se de todos os propósitos preconcebidos e pouco se ocupa com os que vão ficando pelo caminho.

Infelizmente, mesmo entre os que formam esse núcleo fiel, há os que tudo acham magnífico, assim da parte dos outros, como da deles próprios e, facilmente, benevolamente, se deixam levar pelas aparências e vão tolamente prender-se no visco de seus inimigos, de uma personalidade que diz despojar-se, dar seu sangue, seus bens, sua inteligência pelo triunfo completo da ideia. Pois bem! relede a comunicação (comunicação que L... acabava de escrever) e vereis que, da parte de certos indivíduos, tais sacrifícios não podem ser feitos sem segundas intenções.

Importa desconfiar das dedicações e das generosidades de ostentação, como da veracidade de pessoas que dizem não mentir nunca.

Pretender dar uma coisa a preços impossíveis, sem prejuízo, é ocultar especulação. Fazer ainda mais: dar de graça a título de excesso de zelo, a título de brinde, todos os elementos de uma doutrina sublime é o cúmulo da hipocrisia. Espíritas, tomai cuidado!”.

16 de agosto de 1867

(Sociedade de Paris – Médium: Sr. D...)

Acontecimentos

A sociedade em geral, ou, a bem dizer, a reunião de seres, tanto encarnados como desencarnados, que compõem a população flutuante de um mundo, numa palavra — a Humanidade —, mais não é que uma grande criança coletiva que, como todo ser dotado de vida, passa por todas as fases que se sucedem em cada um, desde o nascimento até a mais avançada idade. Do mesmo modo que o desenvolvimento do indivíduo é acompanhado de certas perturbações físicas e intelectuais, peculiares, particularmente, a determinados períodos da vida, também a Humanidade tem suas crises de crescimento, seus transtornos morais e intelectuais. Atravessais uma dessas grandes épocas, que encerram um período e dão começo a outro. Participando simultaneamente das coisas do passado e das do futuro, dos sistemas que ruem e das verdades que se fundam, tende o cuidado, meus amigos, de colocar-vos do lado da solidez, da progressividade e da lógica, se não quiserdes ser arrastados ao sabor das ondas; tende o de abandonar palácios suntuosos na aparência, mas vacilantes em suas bases e que não tardarão a sepultar nas suas ruínas os infelizes que insensatamente não quiserem deles sair, a despeito dos avisos de toda sorte que lhes são prodigalizados.

Todas as frontes se anuviam e a calma aparente de que gozais apenas serve para acumular maior quantidade de elementos destruidores.

Algumas vezes, antes da tempestade que destrói os frutos dos suores de um ano, surgem precursores que permitem se tomem as precauções necessárias a evitar, tanto quanto possível, as devastações. Desta vez, assim não será. Parecerá que o céu, depois de estar sombreado, se aclara; as nuvens fugirão; em seguida, de súbito, todos os furores, por longo tempo comprimidos, se desencadearão com inaudita violência.

Ai dos que não hajam preparado para si um abrigo! Ai dos fanfarrões que forem ao encontro do perigo com o braço desarmado e o peito descoberto! Ai dos que afrontarem o perigo empunhando a taça! Que terrível decepção os espera! A taça que empunham não lhes chegará aos lábios, antes que eles sejam atingidos!

À obra, pois, espíritas, e não esqueçais que todos deveis ter prudência e previdência. Tendes um escudo, sabei servir-vos dele. Tendes uma âncora de salvação, não a desprezeis.

Ségur, 9 de setembro de 1867.

(Sessão íntima – Médium: Sr. D...)

Minha nova obra sobre a gênese

(Comunicação espontânea)

Primeiro, duas palavras com relação à obra em preparo. Como já o temos dito muitas vezes, urge pô-la em execução sem demora e apressar-lhe quanto possível a publicação. É preciso que a primeira impressão já se tenha produzido nos espíritos, quando estalar o conflito europeu. Se ela tardasse, os acontecimentos brutais poderiam desviar das obras puramente filosóficas a atenção geral; e como essa obra se destina a desempenhar um papel na elaboração em curso, necessário se torna não deixe de ser apresentada em tempo oportuno. Entretanto, não conviria, por isso, restringir-lhe os desenvolvimentos. Dá-lhe toda a amplitude desejável; cada uma das suas menores partes tem peso na balança da ação e, numa época tão decisiva como esta, nada se deve desprezar, quer na ordem material, quer na ordem moral.

Pessoalmente, estou satisfeito com o trabalho, mas a minha opinião pouco vale, a par da satisfação daqueles a quem ela transformará. O que, sobretudo, me alegra são as consequências que produzirá sobre as massas, tanto no Espaço, quanto na Terra.

Pergunta – Se nenhum contratempo sobrevier, a obra poderá aparecer em dezembro. Prevês obstáculos?

Resposta – Não prevejo dificuldades intransponíveis. A tua saúde seria a principal; por isso é que te aconselhamos incessantemente que não te descuides dela. Quanto a obstáculos exteriores, nenhum pressinto de natureza séria. Dr. D...

22 de fevereiro de 1868.

(Comunicação particular – Médium: Sr. D...)

A gênese

Em seguida a uma comunicação em que o Dr. Demeure me deu conselhos muito sábios sobre modificações a serem feitas no livro A gênese, para a sua reimpressão, da qual ele me concitava a cuidar sem demora, eu lhe disse: — A venda, até aqui tão rápida, sem dúvida esfriará; foi um efeito do primeiro momento. Creio bem que a quarta e a quinta edições custarão mais a esgotar-se. Todavia, como é preciso certo tempo para a revisão e a reimpressão, cumpre que eu não esteja desprevenido. Poderias dizer-me de quanto tempo, mais ou menos, disponho para tratar disso?

Resposta – É um trabalho sério essa revisão e eu te aconselho que não tardes muito a começá-lo. Será melhor que o tenhas pronto antecipadamente, do que ficarem à tua espera. Contudo, não te apresses demais. Sem embargo da aparente contradição das minhas palavras, tu de certo me compreendes. Põe-te desde já a trabalhar, porém não lhe consagres excessivo tempo. Faze-o com o devido vagar; as ideias se te apresentarão mais claras e o teu corpo lucrará, fatigando-se menos.

Deves, entretanto, contar com um esgotamento rápido dos volumes. Quando nós te dizíamos que esse livro seria um grande êxito entre os que tens tido, referíamo-nos simultaneamente a êxito filosófico e material. Como vês, eram justas as nossas previsões. Importa estejas pronto para qualquer momento; as coisas se passarão com maior rapidez do que supões.

Nota – Numa comunicação de 18 de dezembro, fora dito: Será, certamente, um grande êxito entre os teus êxitos. É notável que, com o intervalo de dois meses, outro Espírito repita exatamente as mesmas palavras, dizendo: Quando nós te dizíamos etc. Essa palavra nós prova que os Espíritos agem de acordo e que, às vezes, um só fala por muitos.

Paris, 23 de fevereiro de 1868.

(Comunicação íntima dada ao Sr. C..., médium)

Acontecimentos

Ocupa-te desde já com o trabalho que tens esboçado sobre os meios de seres um dia útil aos teus irmãos em crença e de servires à causa da Doutrina, porque será possível que os acontecimentos que se desenrolarão não te deixem lazeres bastantes para te consagrares ao referido trabalho.

Esses próprios acontecimentos darão lugar a fases durante as quais o pensamento humano poderá produzir-se com absoluta liberdade. Nesses momentos, os cérebros em delírio, baldos de qualquer orientação sã, gerarão enormidades tais, que a notícia do próximo aparecimento da besta do apocalipse a ninguém espantaria e passaria despercebida. A imprensa vomitará todas as loucuras humanas, até se esgotarem as paixões a que ela terá dado nascimento.

Semelhante época será favorável aos espíritas. Eles se arregimentarão, prepararão seus materiais e suas armas. Ninguém pensará em molestá-los, por isso que eles a ninguém causarão embaraço. Serão os únicos discípulos do Espírito, os outros serão discípulos da matéria.

Paris, 4 de julho de 1868.

(Médium: Sr. D...)

Meus trabalhos pessoais. Conselhos diversos

Vão em bom andamento os teus trabalhos particulares; prossegue na reimpressão da tua última obra; faze a tua tábua geral para o fim do ano; é coisa de utilidade e, quanto ao mais, descansa em nós.

Está apenas em começo a impulsão que A gênese produziu e muitos elementos, abalados por ela, se colocarão, dentro em pouco, sob a tua bandeira. Outras obras sérias também aparecerão, para acabar de esclarecer o juízo humano sobre a nova Doutrina.

Aprovo igualmente a publicação das cartas de Lavater. É uma coisa pequenina, mas destinada a produzir grandes efeitos. Em suma, o ano será fecundo para todos os amigos do progresso racional e liberal.

Também estou de inteiro acordo em que publiques o resumo que pretendes fazer sob a forma de catecismo ou manual, mas acho que o deves esmiuçar cuidadosamente. Quando estiveres para dá-lo à publicidade, não esqueças de me consultar sobre o título; terei talvez uma boa indicação a te oferecer e cujos termos dependerão dos acontecimentos já verificados.

Ao te aconselharmos ultimamente que não levasses muito tempo para remodelar A gênese, dissemos que terias de fazer-lhe acréscimos em diversos pontos, a fim de preencheres algumas lacunas e de condensares, aqui e ali, a matéria, a fim de não tornares mais extenso o volume.

Não foram perdidas as nossas observações e muito nos alegrará o colaborarmos na remodelação dessa obra, como nos alegrou o termos contribuído para a sua execução.

Recomendo-te hoje que revejas com atenção sobretudo os primeiros capítulos, cujas ideias são todas excelentes, que nada contêm que não seja verdadeiro, mas algumas de cujas expressões poderiam prestar- -se a interpretações errôneas. Salvo essas retificações, que te aconselho a não deixares de lado, porque os antagonistas se lançam às palavras, quando não podem atacar as ideias, nada mais preciso indicar-te sobre o assunto. Aconselho, entretanto, que não percas tempo; é preferível que os volumes esperem pelo público, do que este por eles. Nada deprecia mais uma obra do que a interrupção da sua venda. Impacientado por não poder satisfazer aos pedidos que recebe, o editor, a quem assim escapam ocasiões de vender o livro, se desinteressa das obras do autor imprevidente. O público se cansa de esperar e a má impressão que daí resulta custa a apagar-se.

Por outro lado, não é mau que gozes de uma certa liberdade de espírito para acudir às eventualidades que possam surgir ao teu derredor e para dispensares teus cuidados a estudos particulares que, segundo os acontecimentos, podem ser suscitados atualmente ou relegados para tempos mais propícios.

Tem-te, pois, pronto para tudo; desembaraça-te de todos os óbices, quer para te consagrares a um trabalho especial, se a tranquilidade geral o permite, quer para estares preparado a qualquer acontecimento, Extratos, in extenso, do livro das Previsões concernentes ao espiritismo se complicações imprevistas vierem tornar necessária, de tua parte, uma determinação súbita. O ano próximo começará em breve; é preciso, pois, que, pelos fins deste, dês a última demão à primeira parte da obra espírita, a fim de teres livre o campo para a conclusão da tarefa que concerne ao futuro.

Fora da caridade não há salvação

Estes princípios, para mim, não existem apenas em teoria, pois que os ponho em prática; faço tanto bem quanto o permite a minha posição; presto serviços quando posso; os pobres nunca foram repelidos de minha porta, ou tratados com dureza; foram recebidos sempre, a qualquer hora, com a mesma benevolência; jamais me queixei dos passos que hei dado para fazer um benefício; pais de família têm saído da prisão, graças aos meus esforços. Certamente, não me cabe inventariar o bem que já pude fazer, mas, do momento em que parecem esquecer tudo, é-me lícito, creio, trazer à lembrança que a minha consciência me diz que nunca fiz mal a ninguém, que hei praticado todo o bem que esteve ao meu alcance, e isto, repito-o, sem me preocupar com a opinião de quem quer que seja. A esse respeito trago tranquila a consciência; e a ingratidão com que me hajam pago em mais de uma ocasião não constituirá motivo para que eu deixe de praticá-lo. A ingratidão é uma das imperfeições da Humanidade e, como nenhum de nós está isento de censuras, é preciso desculpar os outros, para que nos desculpem, de sorte a podermos dizer como Jesus Cristo: “atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado”. Continuarei, pois, a fazer todo o bem que me seja possível, mesmo aos meus inimigos, porquanto o ódio não me cega. Sempre lhes estenderei as mãos, para tirá-los de um precipício, se se oferecer oportunidade.

Eis como entendo a caridade cristã. Compreendo uma religião que nos prescreve retribuamos o mal com o bem e, com mais forte razão, que retribuamos o bem com o bem. Nunca, entretanto, compreenderia a que nos prescrevesse que paguemos o mal com o mal . (Pensamentos íntimos de Allan Kardec, num documento achado entre os seus papéis)

Projeto – 1868

Um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação da Doutrina seria a falta de unidade. O único meio de evitá-la, senão quanto ao presente, pelo menos quanto ao futuro, é formulá-la em todas as suas partes e até nos mais mínimos detalhes, com tanta precisão e clareza, que impossível se torne qualquer interpretação divergente.

Se a Doutrina do Cristo deu lugar a tantas controvérsias, se ainda agora tão malcompreendida se acha e tão diversamente praticada, é isso devido a que o Cristo se limitou a um ensinamento oral e a que seus próprios Apóstolos apenas transmitiram princípios gerais, que cada um interpretou de acordo com suas ideias ou interesses. Se Ele houvesse formulado a organização da Igreja cristã com a precisão de uma lei ou de um regulamento, é incontestável que houvera evitado a maior parte dos cismas e das querelas religiosas, assim como a exploração que foi feita da religião, em proveito das ambições pessoais. Resultou que, se o Cristianismo constituiu, para alguns homens esclarecidos, uma causa de séria reforma moral, não foi e ainda não é para muitos senão objeto de uma crença cega e fanática, resultado que, em grande número de criaturas, gerou a dúvida e a incredulidade absoluta.

Somente o Espiritismo, bem entendido e bem compreendido, pode remediar esse estado de coisas e tornar-se, conforme disseram os Espíritos, a grande alavanca da transformação da Humanidade. A experiência deve esclarecer-nos sobre o caminho a seguir. Mostrando-nos os inconvenientes do passado, ela nos diz claramente que o único meio de serem evitados no futuro consiste em assentar o Espiritismo sobre as bases sólidas de uma doutrina positiva que nada deixe ao arbítrio das interpretações. As dissidências que possam surgir se fundirão por si mesmas na unidade principal que se estabeleceria sobre as bases mais racionais, desde que essas bases sejam claras, e não vagamente definidas. Também ressalta destas considerações que essa marcha, dirigida com prudência, representa o mais poderoso meio de luta contra os antagonistas da Doutrina Espírita. Todos os sofismas quebrar-se-ão de encontro a princípios aos quais a sã razão nada acharia para opor.

Dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar. O desenvolvimento cada dia maior, que ela toma, multiplica as nossas relações, que somente tendem a ampliar-se, pelo impulso que lhe darão a nova edição de O livro dos espíritos e a publicidade que se fará a esse propósito. Para utilizarmos de maneira proveitosa essas relações, se, depois de constituída a teoria, eu tivesse de concorrer para sua instalação, necessário seria que, além da publicação de minhas obras, dispusesse de meios para exercer uma ação mais direta. Ora, creio fora conveniente que aquele que fundou a teoria pudesse ao mesmo tempo impulsioná-la, porque então haveria mais unidade. Sob esse aspecto, a Sociedade tem necessariamente que exercer grande influência, conforme o disseram os próprios Espíritos; sua ação, porém, não será, em realidade, eficiente, senão quando ela servir de centro e de ponto de ligação donde parta um ensinamento preponderante sobre a opinião pública. Para isso, faz-se mister uma organização mais forte e elementos que ela não possui. No século em que estamos e tendo-se em vista o estado dos nossos costumes, os recursos financeiros são o grande motor de todas as coisas, quando empregados com discernimento. Na hipótese de que esses recursos, de um modo ou doutro, me viessem às mãos, eis o plano que eu seguiria e cuja execução seria proporcional à importância dos meios e subordinada aos conselhos dos Espíritos.

Estabelecimento central

O mais urgente seria prover a Sociedade de um local convenientemente situado e disposto para as reuniões e recepções. Sem lhe dar um luxo desnecessário e, ademais, sem cabimento, precisaria que nada aí denotasse penúria, mas apresentasse um aspecto tal, que as pessoas de distinção pudessem estar lá sem se considerarem muito diminuídas. Além do alojamento particular onde eu habitasse, deveria possuir:

1o ) Uma grande sala para as sessões da Sociedade e para as grandes reuniões;

2o ) Um salão de recepção;

3o ) Um compartimento destinado às evocações íntimas, espécie de santuário, que não seria profanado por nenhuma ocupação estranha;

4o ) Um escritório para a Revista, os arquivos e os negócios da Sociedade.

Tudo isso disposto e preparado de maneira cômoda e condizente com a sua destinação.

Criar-se-ia uma biblioteca composta de todas as obras e escritos periódicos franceses e estrangeiros, antigos e modernos, relacionados com o Espiritismo.

O salão de recepção estaria aberto todos os dias e a certas horas, para os membros da Sociedade, que aí poderiam conferenciar livremente, ler os jornais e consultar os arquivos e a biblioteca. Os adeptos estrangeiros, de passagem por Paris, seriam aí recebidos, desde que fossem apresentados por um sócio.

Estabelecer-se-ia correspondência regular com os diferentes centros da França e do estrangeiro. Haveria um empregado secretário e um auxiliar de escritório.

Ensino espírita

Um curso regular de Espiritismo seria professado com o fim de desenvolver os princípios da Ciência e de difundir o gosto pelos estudos sérios. Esse curso teria a vantagem de fundar a unidade de princípios, de fazer adeptos esclarecidos, capazes de espalhar as ideias espíritas e de desenvolver grande número de médiuns. Considero esse curso como de natureza a exercer capital influência sobre o futuro do Espiritismo e sobre suas consequências.

Publicidade

Dar-se-ia maior desenvolvimento à Revista, quer aumentando-se-lhe o número de páginas, quer tornando-se-lhe mais frequente a publicação. Agregar-se-lhe-ia um redator remunerado.

Uma publicidade em larga escala, feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro, até as localidades mais distantes, o conhecimento das ideias espíritas, despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder, diante do ascendente da opinião geral.

Viagens

Dois ou três meses do ano seriam consagrados a viagens, em visita aos diferentes Centros e a lhes imprimir boa direção.

Se os recursos o permitissem, instituir-se-ia uma caixa para custear as despesas de viagem de certo número de missionários, esclarecidos e talentosos, que seriam encarregados de espalhar a Doutrina.

Uma organização completa e a assistência de auxiliares remunerados, com os quais eu pudesse contar, libertando-me de uma imensidade de ocupações e preocupações, me dariam o lazer necessário para ativar os trabalhos que ainda me restam por fazer e aos quais o atual estado das coisas não permite que eu me consagre tão assiduamente como fora preciso, por me faltar materialmente o tempo e por não serem suficientes para tanto as minhas forças físicas.

Se porventura me estivesse reservado realizar este projeto, em cuja execução eu teria de me haver com a mesma prudência de que usei no passado, indubitavelmente alguns anos bastariam para fazer que a Doutrina avançasse de alguns séculos.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário