As manifestações ostensivas
de Espíritos produzindo fenômenos, "assombrando" , causando sustos,
podem ser encontradas em todas as épocas da história dos diferentes povos.
Significa isso, que sendo a
mediunidade faculdade humana, sempre se exteriorizou produzindo consciente ou
inconscientemente acontecimentos materiais, movimentos de corpos inertes,
ruídos etc.
Esses médiuns, esses seres
produziam e produzem esses fenômenos , são classificados na Literatura
Espírita, em médiuns de efeitos físicos que para melhor entendimento são
divididos em:
Médiuns
involuntários: são os que exercem sua influência sem
querer. Não têm nenhuma consciência do seu poder e quase sempre o que acontece
de anormal ao seu redor não lhes parece estranho.
Médiuns
facultativos: são os que têm consciência do seu poder e
produzem fenômenos espíritas pela própria vontade. Essa faculdade, embora
inerente à espécie humana , não se manifesta em todos no mesmo grau.
Colocados nessa ordem, ressalta-se a importância de transitar o médium da condição de medianeiro involuntário do plano espiritual, para conscientemente colocar-se à disposição para que o bem possa estar entre todos. Para isso, era necessário que o tempo, elemento imprescindível nesse processo, favorecesse o despertar da consciência, tornando-a apta à assimilação de novos conhecimentos que do Mundo Espiritual seriam derramados sobre a Terra.
A intervenção ostensiva do Plano Espiritual, no Plano Físico, pode ser admitida como embaixada portadora de metas decisivas, a definir-se em três períodos essenciais: aviso, chegada e entendimento.
Após o preparo, a Terra
recebe o aviso da existência do mundo espiritual. A seguir, a chegada, por meio
da qual os Espíritos se materializaram perante nossos sentidos e o homem usando
seu livre-arbítrio, necessitou acionar o seu entendimento, dando início ao
processo de espiritualização que lhe permitirá ascender aos mundos superiores.
O primeiro período caracterizado como aviso, acontece a partir de 1744 quando então Emmanuel Swendenborg, um homem extraordinário, de vastos conhecimentos, desenvolve a própria mediunidade, estabelecendo franco contato com o mundo espiritual. Outros fatos viriam através de Edward Irving, o pastor escocês, do curioso episódio dos "shakers" nos Estados Unidos, Andrew Jackson Davis, mostrando fenômenos independentes entre si, porém seguindo um grande plano, que no dizer de Arthr Conan Doyle, era uma invasão organizada. Esta, como que fizera o papel de "batedores" das patrulhas de reconhecimento e preparação de terreno.
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Emmanuel Swendenborg |
Estes homens viam, ouviam, escreviam, falavam de outro mundo aonde os que lá chegavam através da morte, eram recebidos por seres que os encaminhavam na nova vida. A morte a ninguém mudava, não existia pena eterna, enfim, novas ideias, nas quais o homem comum não percebia a revelação espiritual aí contida.
Ainda nesse período, em 31
de março de 1848, Andrew J. Davis escreve em seu diário: "Esta madrugada
um sopro quente passou pela minha face e ouvi uma voz suave e forte dizer -
Irmão, um grande trabalho foi começado. Olha, surgiu uma demonstração viva!
Fiquei pensando o que queria dizer esta mensagem".
Exatamente nessa madrugada
começavam os fenômenos na casa da família Fox, com as filhas do metodista John
Fox e que marcaram o início das investigações espíritas no mundo.
Era a chegada, e no vilarejo
de Hydesville (Estado de Nova York, Estados Unidos), inicia-se publicamente a
chegada dos comandos de sobrevivência. São os ruídos, as pancadas, batidas e
palmas convencionadas, através das quais pergunta formuladas pelas meninas Fox,
eram inteligentemente respondidas. Por esse "método", o Espírito
Charles Rosna, o mascate, relata como ali havia sido morto e sepultado. A
imprensa, o público, a curiosidade é tão intensa que a família Fox se vê
forçada a mudar para a cidade realizando agora as sessões públicas no Hotel
Barnum em Nova York.
Entre 1853 e 1855, a
"dança das mesas", que se levantavam sobre um dos pés, rodando,
respondendo perguntas através de batidas combinadas, elevando-se no ar,
projetando-se em direção ao solo, constitui-se um inusitado passatempo, uma
diversão obrigatória. Chega a ser considerada “o maior acontecimento do
século".
Ouvem-se batidas
surpreendentes aqui e ali, mãos luminosas acenam por a toda parte, vozes
ressoam entre lábios selados, mensagens rápidas são transmitidas, de maneira
direta, e entidades materializam-se ante os experimentadores, tomados de
assombro.
Iniciava-se o terceiro
período, o do entendimento, que é obra encetada com Allan Kardec, que esclarece
a posição da doutrina e do fenômeno, como quem separa o trigo da vestimenta de
palha, estabelecendo rumos, criando obrigações e definindo responsabilidades.
Assim, o prof. Hippolyte
Léon Denizard Rivail, através de um trabalho criterioso e bem conduzido,
amparado pelo bom senso e mente lúcida, estrutura a Doutrina Espírita a partir
da análise dos fenômenos que aconteciam sob a orientação do Mundo Espiritual,
descobrindo o véu que mantinha a humanidade distanciada da verdade,
solidificando o Espiritismo como a Terceira Revelação, o Consolador Prometido
por Jesus, que viria quando o homem tivesse desenvolvimento intelectual
preparado para o Entendimento.
Essa a importante revelação de nossa época. Mostra a possibilidade de comunicação com os seres do mundo espiritual, dando a conhecer o mundo invisível que nos cerca e em cujo meio vivemos sem suspeitar, mostrando leis que o regem, a natureza e o estado dos seres que o habitam e consequentemente, o destino do homem após a morte.
Tendo aparecido numa época
de emancipação e madureza intelectual, onde o homem queria saber o porquê e o
como da cada coisa, o Espiritismo surgiu, através de um ensino direto, mas
também como fruto do trabalho e do livre exame, deixando ao homem o direito de
tudo submeter ao cadinho da razão.
Pelo método aplicado na
observação dos fatos, pelas respostas que oferece às indagações do Espírito
humano, com reflexos inevitáveis no modo de proceder das criaturas, dizemos que
o Espiritismo é uma doutrina de tríplice aspecto - científico, filosófico e
religioso.
Ciência: No
estudo dos fenômenos que concorreram para a codificação do Espiritismo, Kardec
da mesma forma que nas ciências positivas, aplicou o método experimental. Não
criou nenhuma teoria pré-concebida e nem apresentou como hipótese a existência
e a intervenção dos Espíritos, concluindo pela existência destes quando ela foi
evidenciada pela observação dos fatos.
A parte experimental do
Espiritismo está contida em "O Livro dos Médiuns" editado em 1861,
que segundo Allan Kardec, "...contém o ensino especial dos Espíritos sobre
a teoria de todos os gêneros de manifestações, os meios de comunicação com o
Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os
escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo”.
Filosofia: As
bases da Doutrina Espírita foram estabelecidas pelo Codificador através da
análise e seleção das comunicações dos Espíritos, usando os critérios da
universalidade e concordância do ensino dos Espíritos , à luz da razão.
Nascia uma nova filosofia
apoiada na ciência, cujas consequências morais, do mais alto alcance, preparam
a humanidade para uma nova era, onde os valores espirituais preponderarão sobre
os valores materiais.
A Filosofia Espírita está
consubstanciada em "O Livro dos Espíritos", publicado em 18 de abril
de 1857.
Religião:
Aspecto Moral - O Espiritismo, não tendo formas exteriores de adoração, nem
sacerdotes, nem liturgia, nem dogmas, não é entendido por muitos como religião
e nesse sentido não é mesmo. Todavia, tendo como exemplo o Cristianismo no seu
nascedouro, Jesus por modelo e guia, oferece um conjunto de princípios capazes
de transformar o homem para melhor.
A
Doutrina Espírita como ciência e filosofia dá ao homem o
conhecimento dos grandes enigmas da vida, dentro de princípios lógicos. Através
dela ficamos sabendo o que somos, de onde viemos, para onde iremos após a morte
do corpo físico, o objetivo de estar encarnado, o porquê das vicissitudes da
vida, onde o homem num viver diferenciado, em que se renova, toma a vida
direcionando-a para um viver centrado em Jesus, portanto um viver religioso e
não prescrito por fórmulas de religião.
Foi reconhecendo as consequências
morais que decorrem dos ensinos dos Espíritos, que Allan Kardec publicou em
1864, “O Evangelho segundo o Espiritismo”. A moral espírita é a moral do
Evangelho, entendido este no seu sentido lógico e não desfigurado, quer pela
letra, quer pelo dogma. As matérias contidas nos Evangelhos podem ser divididas
em cinco partes:
1 - Os atos comuns da vida
do Cristo;
2 - Os milagres;
3 - As profecias;
4 - As palavras que
serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja;
5 - O ensino moral.
Se as quatro primeiras
partes têm sido objeto de discussões, a última permanece inatacável. Diante
desse código divino, a própria incredulidade se curva.
É esse ensino moral o objeto
de "O Evangelho segundo o Espiritismo", porque constitui uma regra de
conduta, que abrange todas as circunstâncias da vida privada e pública, o
princípio de todas as relações sociais fundadas na mais rigorosa justiça. É,
por fim, e acima de tudo, o caminho infalível da felicidade a conquistar, uma
ponta do véu erguida sobre a vida futura.
“...Religião é o sentimento
Divino, cujas exteriorizações são sempre o amor, nas expressões mais sublimes.
Enquanto a Ciência e a Filosofia operam o trabalho da experimentação e do
raciocínio, a Religião edifica e ilumina os sentimentos”.
As primeiras se irmanam na sabedoria,
a segunda personifica o amor, as duas asas com que a alma humana penetrará, um
dia, nos pórticos sagrados da espiritualidade".
"... Somente no
Espiritismo encontramos essa unidade tríplice do saber, em que ciência,
filosofia e religião, embora mantendo cada qual a sua autonomia, se fundem num
todo dinâmico, em que livremente se processa a simbiose, necessária à produção
da síntese.
Mas como é possível essa
harmonia do "todo dinâmico", num mundo em que todas as umas das
formas do conhecimento revelam a tendência de absorver as demais? Nenhuma
explicação nos parece mais feliz, mais precisa e mais didática, do que a
formulada pelo espírito de Emmanuel, no livro "O Consolador” recebido
mediunicamente por Francisco Cândido Xavier. Interpelado a respeito do aspecto
tríplice da doutrina, respondeu nestes termos: "Podemos tomar o
Espiritismo, simbolizado desse modo, como um triângulo de forças espirituais .
A ciência e a filosofia vinculam à Terra essa figura simbólica, porém, a
religião é o ângulo divino, que a liga ao céu. No seu aspecto científico e
filosófico, a doutrina será sempre um campo de investigações humanas, como
outros movimentos coletivos, de natureza intelectual, que visam ao
aperfeiçoamento da humanidade. No aspecto religioso, todavia, repousa a sua grandeza
divina, por constituir a restauração do Evangelho de Jesus Cristo,
estabelecendo a renovação definitiva do homem, para a grandeza do seu imenso
futuro espiritual."
Estas reflexões levam ao
entendimento, onde compreendemos que ao estudar a mediunidade à luz da Doutrina
Espírita, buscamos uma nova proposta de vida, estabelecendo rumos, definindo
responsabilidades.
Se já estamos na fase do
entendimento, cabe entender que milhares de pessoas ainda se atém no aviso,
isto é, no sobrenatural, no maravilhoso, no milagre. Outras tantas, detém-se na
chegada insegura ainda entre a esperança, a convicção e a certeza. Desse modo,
daqueles que entendem, espera-se um viver embasado na fraternidade, de tal
forma que, onde quer que estejam, irradiem conforto moral, paz, estímulo ao
Bem, estimulando a renovação e a luta que leva a crescer.
Assim ao distanciar-se o homem
das práticas primeiras, tornar-se o canal para que os amigos espirituais
atinjam o Plano Físico, em cumprimento das promessas do Cristo, de modo a
reunir todas as criaturas na lei do bem e habilitá-las, convenientemente, para
a continuidade do serviço de hoje, no grande futuro ou no grande além, ante a vida
maior.
Bibliografia: |
ALLAN KARDEC - O Que é o Espiritismo, Prólogo; O Evangelho segundo o Espiritismo, Introdução; Revista Espírita 1867 - Setembro, Caracteres da Revelação Espírita; O Livro dos Médiuns, questões 160 e 161. XAVIER, FRANCISCO / EMMANUEL - Seara dos Médiuns, Aviso, chegada e entendimento; O Consolador, questão 260. PIRES, J. HERCULANO - O Espírito e o Tempo, III Parte- Doutrina Espírita cap. I O triângulo de Emmanuel. DOYLE, A. CONAN - História do Espiritismo. cap. I ao VI. |
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