Coube ao Espiritismo, através de Allan Kardec e dos Espíritos que trabalharam na Codificação, dar à mediunidade a ética que pode capacitar o homem a se tornar um trabalhador de Jesus.
Para entender mediunidade
sob a visão Espírita, é necessário regressarmos no tempo, identificando
registros materiais e espirituais que mostram os exercícios de manifestação
espiritual do homem, na longa jornada em que evolui conquistando diferentes
patamares do pensamento, o que permitiu ao Plano Espiritual estabelecer novos
rumos da humanidade, no seu destino à perfeição.
Relembramos que mediunidade é uma faculdade humana natural, através da qual se estabelecem as relações entre o mundo espiritual e o mundo material.
No livro O Espírito e o
Tempo, o prof. Herculano Pires analisa as manifestações mediúnicas através da
história da humanidade e suas civilizações, identificando as fases de
desenvolvimento dessa faculdade, dividindo-as em:
Mediunismo Primitivo, Culto dos Ancestrais, Mediunismo Oracular, Mediunismo Bíblico e, Mediunidade Positiva.
Mediunismo
Termo criado pelo Espírito
Emmanuel, designa as formas, as manifestações primitivas da mediunidade,
constituindo o recurso natural de que o homem dispõe para transcender sua
condição primitiva, elevando-se no plano da mediunidade.
A Mediunidade é o mediunismo
desenvolvido, racionalizado, submetido à reflexão e ao entendimento,
tornando-se instrumento de progresso humano.
Mediunismo Primitivo
É a designação da
mediunidade em sua expressão natural; constitui a fase prática, experimental da
mediunidade. O primeiro fato a ser identificado nessa fase é a captação de uma
força misteriosa que imanta objetos e coisas, podendo atuar sobre as criaturas
humanas. O homem primitivo ainda não desenvolveu suficientemente seu psiquismo
e interpreta todas as coisas de modo rudimentar, sem razão.
Culto dos Ancestrais
Caracteriza-se pela fusão da
experiência e da imaginação com desenvolvimento do seu psiquismo estruturando o
progresso do mediunismo. Dessa fusão surge a mitologia popular, impregnada de
magia e prática do culto dos ancestrais.
Mediunismo Oracular
Nesta fase surgem os deuses
representando as forças da natureza, porém personalizadas, demonstrando maior
capacidade de abstração do homem, com formulação de juízo ético e moral, começando
a romper os liames da organização social para descobrir-se no processo de
tornar-se indivíduo. A representação dessa fase são os oráculos, lugares
sagrados procurados por todos, pois representavam uma força sobrenatural,
transmitida a eles pela pitonisa ou o próprio oráculo. Nessa fase ainda não há
individualização mediúnica, caracterizando-se como fase de transição para o
culto individual dos Espíritos.
Mediunismo Bíblico
Resultante da natural
evolução do homem tribal, o homem gregário já visualiza sua individualização. O
poder do raciocínio o elevou à condição de senhor da sociedade e da natureza,
conseguindo se impor ao invés de se submeter. Descobre sua capacidade, seu
talento para manobrar as circunstâncias com maior habilidade. Surgem as individualidades
dos sábios, dos místicos, profetas; caracteriza-se pela aceitação do
monoteísmo, acentuação dos atributos éticos, estabelecimento de ligações
diretas do Deus individual com o individuo humano, no caso o profeta, que
representa o médium que rompeu o gregarismo psíquico, arvorou-se em senhor de
si mesmo, passou a responder pessoalmente pelos seus pronunciamentos
mediúnicos.
Mediunidade Positiva
Fase em que não mais estamos
no plano místico e misterioso do mediunismo, mas no plano científico, racional
da mediunidade; o homem tornou-se capaz de servir de intermediário entre seres
espirituais e carnais, ambos da mesma natureza.
Como assinala Kardec em “A
Gênese”, essa evolução se realiza num contexto histórico, juntamente com a
evolução mental , moral e espiritual do homem, no processo de desenvolvimento
econômico-social da humanidade. Sem desenvolvimento científico, assinala
Kardec, não se criaria no mundo o clima necessário à compreensão do
Espiritismo.
Através do desenvolver de
suas potencialidades, o homem percebe-se como um ser mediúnico, apto a
relacionar-se com os Espíritos. É inerente ao homem, a ideia da Divindade como
sendo um poder superior que criou o mundo e essa ideia, associada ao assombro
que o mundo misterioso e cheio de seres causava à sua imaginação, desenvolveu
um sentimento mágico, levando-o a estabelecer relações com as coisas e com os
outros seres. A partir daí, desenvolve-se a lei de adoração, que levou a
imaginação primitiva aos ritos do culto solar e lunar, das montanhas, dos
grandes rios e assim por diante.
A reverência aos chefes
poderosos desenvolveu os ritos de submissão, que se estenderam aos pagés e
xanãs, sacerdotes mágicos das tribos e das hordas, dotados de poderes
mediúnicos. Esses processos abriram caminho para desenvolvimento das religiões
mitológicas e das religiões reveladas, estas apoiadas na crença dos
homens-deuses, conhecedores dos mistérios da vida e da morte.
A crença nos poderes divinos
era reafirmada pelos fenômenos produzidos por indivíduos que utilizavam os
próprios recursos mediúnicos.
A diferença entre Mediunismo
e Mediunidade está na conscientização, na ética utilizada para estabelecer as
relações com o Mundo Espiritual. Nas religiões primitivas não havia nem podia
haver reflexão sobre os fenômenos e seu sentido e natureza. Tudo se resumia à
prática dissociada da razão. A Mediunidade é o Mediunismo desenvolvido,
submetido à reflexão religiosa e filosófica e às pesquisas científicas
necessárias ao esclarecimento dos fenômenos, sua natureza e leis.
O Espiritismo através de
estudos e pesquisas, integrou a Mediunidade à sua estrutura, concedendo-lhe os
direitos e valores que lhe são inerentes, reconhecendo a sua importância
fundamental para a vida humana na Terra e o seu desenvolvimento futuro no mundo
espiritual.
Inúmeras vezes mal
interpretada pelas religiões que nela identificam uma natureza diabólica, ou
como campo inferior de manifestações suspeitas e perigosas, é constantemente
atacada e não obstante,cresce sem cessar o interesse pela mediunidade no mundo,
pois o próprio desenvolvimento científico ao deparar com os fenômenos
paranormais, é forçado a reconhecer a realidade dos fenômenos mediúnicos em
todos os campos do Conhecimento.
É necessário que os
espíritas resguardem e defendam a Mediunidade dos sincretismos religiosos que
rondam as Casa Espíritas, produzindo enxertias e práticas distantes da proposta
da Doutrina Espírita.
O homem caminha para o
futuro e necessita desprender-se das grosseiras superstições do longínquo
passado, procurando atender suas necessidades espirituais de maneira lógica,
racional e natural, isentando-se de buscar práticas mediúnicas como solução de
problemas financeiros, políticos, moral e social. Proporcional ao conhecimento
adquirido , o homem terá a responsabilidade por usar e manter essas práticas,
criando vínculos com o plano espiritual utilizado para obter as vantagens
almejadas.
As práticas sincréticas em
que predominam a mentalidade primitiva, são o contrário das práticas espíritas,
que se resumem na prece e meditação, no passe (imposição das mãos), no estudo e
aplicação do Evangelho e no esclarecimento caridoso de Espíritos sofredores ou
vingativos. A Doutrina Espírita é a única que trata os obsessores e os
obsediados como Espíritos doentes, profundamente necessitados de evangelização,
porque todos são filhos de Deus. Demonstram grande ignorância aqueles que
utilizam a palavra Espiritismo para designar as manifestações do animismo
primitivo e do mediunismo selvagem, onde incautos tentam resolver problemas
diversos de seus clientes, mediante pagamentos e barganhas que expressam a
inversão dos valores espirituais; não haveria sofrimento, perseguições, lutas,
violências, injustiças, se o homem pautasse seus atos pelas Leis Divinas,
fazendo ao outro o que deseja para si mesmo, seja esse outro um homem
(encarnado) ou um Espírito (desencarnado).
O Espiritismo é unicamente a
doutrina que está nas obras de Kardec e dos que continuam seu trabalho, sem trair
os seus princípios básicos.
Essas práticas que se
caracterizam como mediunismo e atendiam às necessidades primárias dos homens
primitivos; se aplicadas ao homem civilizado, representam um retrocesso
evolutivo de sua mentalidade e personalidade, causando desajustes psicológicos
e mentais naqueles que se envolvem em suas práticas.
Devemos entender o
mediunismo como instrumento natural de que o homem dispõe para elevar-se ao
plano da mediunidade, transcendendo suas condições primitivas rumo à perfeição.
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