Apesar dos fenômenos ao
nível quântico revelarem uma realidade muito diferente da que estamos
habituados, carecemos ainda de maiores pesquisas antes de afirmar que a Física
Quântica está confirmando os princípios espiritualistas.
A Física Quântica tem sido considerada, no meio espírita, como em alguns grupos religiosos, como sendo aquela que vai confirmar a existência de Deus e do espírito. De fato, os fenômenos ao nível quântico têm feito os cientistas se sentirem incomodados e perplexos já que eles mostram que na realidade os nossos cinco sentidos nos fazem crer numa verdade ilusória. Porém, isso não significa que a Física Quântica esteja admitindo a existência de “algo exterior” ou “além da matéria”, conforme proposto pelas doutrinas espiritualistas. O movimento espírita deve, portanto, ser cuidadoso ao divulgar idéias ligadas aos fenômenos espíritas e àquelas propostas pela Física.
Nesta matéria um importante
alerta é feito: afirmativas como “o perispírito causa a flutuação do vácuo
quântico”, “a Física Quântica prova a existência de Deus” e “o espaço-tempo
negativo representa o mundo espiritual”. Estas afirmativas carecem de
credibilidade tanto científica como espírita, porque não foram obtidas conforme
critérios científicos e da Doutrina Espírita. Não se sabe como essas conclusões
foram obtidas e que passos teóricos e experimentais foram seguidos para
obtenção do resultado final. Para que uma afirmativa seja considerada
científica, não basta que ela envolva um assunto científico e nem que o autor
dessa afirmativa seja cientista. É preciso que seja apresentada uma explicação
mais detalhada e doutrinariamente embasada.
Apesar das nobres intenções
de nossos irmãos que divulgam essas ideias, elas podem trazer consequências
negativas para o movimento espírita. Para entendermos melhor o enfoque do
problema, citamos Kardec (item VII da Introdução de "O Livro dos Espíritos":
“Na ausência de fatos, a dúvida é a opinião do homem prudente”. Esta é a
principal razão pela qual se deve tomar cuidado na divulgação de ideias e
teorias espíritas que utilizem conceitos das outras ciências. Como os paradoxos
da Física Quântica ainda não foram resolvidos pelos cientistas, é prudente
esperarmos pelo desenvolvimento das pesquisas nesta área, de modo que possamos,
como espíritas, nos posicionarmos melhor perante elas. Pelo simples fato de que
nem todos os resultados experimentais da teoria quântica foram totalmente
explicados, não autoriza ninguém a afirmar, por exemplo, que Deus ou o espírito
é que estão por trás desses fenômenos. Esta atitude é equivocada, não
científica e, o que é pior, expõe o Espiritismo a críticas desnecessárias,
afastando as pessoas que trabalham no meio científico e que conhecem bem o
assunto.
Novas descobertas causam
enormes revisões nos modelos teóricos existentes, demonstrando a fragilidade e
o caráter efêmero das recentes teorias da Física.
Comumente critica-se a
comunidade científica por não se interessar pelas questões espiritualistas, no
entanto, essa postura é bastante prudente. Imaginem se a Ciência desse crédito
a toda teoria espiritualista que diz basear-se na Física Quântica para provar a
existência de Deus, do espírito ou qualquer outro princípio. Uma pesquisa
rápida na internet mostra que existem grupos e seitas religiosas que se
utilizam da Física Quântica para darem respaldo aos mais variados assuntos. É
importante saber que a comunidade científica prefere rejeitar tais ideias a se
arriscar com uma que seja completamente equivocada. Não foi isso que Kardec nos
orientou com relação a novas questões? O espírito de Erasto nos orienta: “mais
vale repelir dez verdades que admitir uma só mentira, uma só teoria falsa”.
Por outro lado, esta afirmação não impede ao leitor de estudar e pesquisar seriamente tais fenômenos. Propostas teóricas serão sempre bem vindas. Porém, é preciso que o pesquisador entenda perfeitamente tanto as informações científicas quanto a Doutrina Espírita. É necessário que cada proposta teórica seja consistente tanto com os fenômenos materiais, quanto com os doutrinários aos quais se referem. Um ponto importantíssimo é que qualquer ideia ou sugestão não comprovadas cientificamente deve ser divulgada e declarada como tal e não como uma certeza científica. Isto é importante, pois orienta os futuros leitores quanto ao atual status da pesquisa em determinados assuntos.
Lembremos ainda o ceticismo
de Allan Kardec com relação às mesas girantes antes de conhecer melhor as
causas do fenômeno. Achava ele que se tratava de um frívolo divertimento sem
objetivo muito sério. Mas após constatar o fenômeno, buscou interpretá-lo à luz
dos conhecimentos científicos da época. E, percebendo que os fatos tinham
origem inteligente, Kardec iniciou um longo e paciente trabalho de pesquisa
onde, somente após muita observação, estudo e questionamento, publicou sua
primeira obra, "O Livro dos Espíritos". A ciência
se desenvolveu muito desde então, porém, o exemplo do Codificador permanece tão
atual quanto o foi em sua época. Sigamos o seu exemplo trabalhando na pesquisa
espírita com muita perseverança, paciência, observação, meditação, estudo e, só
então, depois de muita análise e muita autocrítica, é que devemos levar a
público os frutos de nossa pesquisa. Não é necessário pressa, mas sim que
tenhamos cuidado naquilo que estivermos informando. Nada como um pequeno passo
após o outro. As gerações futuras agradecerão nossos esforços de hoje.
Referências
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, FEB, 76a. Edição.
Allan Kardec, Revista Espírita 1861.
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