Capítulo
13 – Companheiro libertado
Neste Capítulo, André
participa do grupo que vai ajudar no desencarne de Dimas. Este irmão é espírita
e médium. Na sua vida na Terra, ele mostrou amor e dedicação aos ensinamentos
de Jesus e de Kardec. Entretanto, ele está desencarnado antes do que fora
programado pela Espiritualidade.
"Desfavorecido de
qualquer vantagem material no princípio, conheceu ásperas obrigações para
ganhar a intimidade com as leituras mais simples. Entregue ao serviço rude, no
verdor da mocidade, constituiu a família, pingando suor no sacrifício diário.
Passou a vida em submissão a regulamentos, conquistando a subsistência com
enorme despesa de energia. Mesmo assim, encontrou recursos para dedicar-se aos
que gemem e sofrem nos planos mais baixos que o dele. Recebendo a mediunidade,
colocou-a a serviço do bem coletivo. Conviveu com os desalentados e aflitos de
toda sorte. E porque seu espírito sensível encontrava prazer em ser útil e em
razão dos necessitados guardarem raramente a noção do equilíbrio, sua
existência converteu-se em refúgio de enfermos do corpo e da alma. Perdeu,
quase integralmente, o conforto da vida social, privou-se de estudos
edificantes que lhe poderiam prodigalizar mais amplas realizações ao idealismo
de homem de bem e prejudicou as células físicas, no acúmulo de serviço
obrigatório e acelerado na causa do sofrimento humano. Pelas vigílias
compulsórias, noite a dentro, atenuou-se-lhe a resistência nervosa; pela
inevitável irregularidade das refeições, distanciou-se da saúde harmoniosa do
estômago; pelas perseguições gratuitas de que foi objeto, gastou fosfato
excessivamente e, pelos choques reiterados com a dor alheia, que sempre lhe
repercutiu amargamente no coração, alojou destruidoras vibrações no fígado,
criando afecções morais que o incapacitaram para as funções regeneradoras do
sangue. É verdade que não podemos louvar o trabalhador que perde qualquer órgão
fundamental da vida física em atrito com as perturbações que companheiros
encarnados criam e incentivam para si mesmos; no entanto, faz-se preciso
considerar as circunstâncias em jogo. Dimas poderia receber, com naturalidade,
semelhantes emissões destrutivas, mantendo-se na serenidade intangível do
legítimo apóstolo do Evangelho. Todavia, não se organiza de um dia para outro o
anteparo psíquico contra o bombardeio dos raios perturbadores da mente alheia,
como não é fácil improvisar cais seguro ante o oceano em ressaca. Cercado de
exigências sentimentais, subalimentado, mal dormido, teve as reiteradas
congestões hepáticas convertidas na cirrose hipertrófica, portadora da
desintegração do corpo."
Portanto, por muito ter amado e ajudado o próximo, Dimas não é considerado como suicida pelas Leis de Deus.
A narração feita por André do desencarne de Dimas pode se resumida nos seguintes pontos:
1. Liberação
dos laços que prendem o corpo físico ao plexo solar ou esplênico -
este chacra fica localizado um pouco acima do umbigo e corresponde no corpo
físico ao baço e ao pâncreas.
"Aconselhando-me
cautela na ministração de energias magnéticas à mente do moribundo, começou a
operar sobre o plexo solar, desatando laços que localizavam forças físicas. Com
espanto, notei que certa porção de substância leitosa extravasava do umbigo,
pairando em torno. Esticaram-se os membros inferiores, com sintomas de
esfriamento."
2. Liberação
dos laços que prendem o corpo físico ao plexo cardíaco -
este chacra corresponde no corpo físco ao coração e está relacionado às
emoções.
"... com passes
concentrados sobre o tórax, relaxou os elos que mantinham a coesão celular no
centro emotivo, operando sobre determinado ponto do coração, que passou a
funcionar como bomba mecânica, desreguladamente. Nova cota de substância
desprendia-se do corpo, do epigastro à garganta, mas reparei que todos os
músculos trabalhavam fortemente contra a partida da alma, opondo-se à
libertação das forças motrizes, em esforço desesperado, ocasionando angustiosa
aflição ao paciente. O campo físico oferecia-nos resistência, insistindo pela
retenção do senhor espiritual."
3. Liberação
dos laços que prendem o corpo físico ao plexo frontal ou cerebral -
este chacra
é responsável pelo controle
da inteligência, dos sentidos e das glândulas endócrinas, via hipófise.
"O Assistente
estabeleceu reduzido tempo de descanso, mas volveu a intervir no cérebro. Era a
última etapa. Concentrando todo o seu potencial de energia na fossa romboidal,
Jerônimo quebrou alguma coisa que não pude perceber com minúcias, e brilhante
chama violeta-dourada desligou-se da região craniana, absorvendo,
instantaneamente, a vasta porção de substância leitosa já exteriorizada. Quis
fitar a brilhante luz, mas confesso que era difícil fixá-la, com rigor. Em
breves instantes, porém, notei que as forças em exame eram dotadas de movimento
plasticizante. A chama mencionada transformou-se em maravilhosa cabeça, em tudo
idêntica à do nosso amigo em desencarnação, constituindo-se, após ela, todo o
corpo perispiritual de Dimas, membro a membro, traço a traço. E, à medida que o
novo organismo ressurgia ao nosso olhar, a luz violeta-dourada, fulgurante no
cérebro, empalidecia gradualmente, até desaparecer, de todo, como se
representasse o conjunto dos princípios superiores da personalidade,
momentaneamente recolhidos a um único ponto, espraiando-se, em seguida, através
de todos os escaninhos do organismo perispirítico, assegurando, desse modo, a
coesão dos diferentes átomos, das novas dimensões vibratórias."
4. Não é feito o desligamento do plexo
coronário - isto será feito apenas no dia seguinte. Esta medida visava
atender às necessidades de Dimas que ainda não se encontrava completamente
preparado para o desencarne.
"Dimas-desencarnado
elevou-se alguns palmos acima de Dimas-cadáver, apenas ligado ao corpo através
de leve cordão prateado, semelhante a sutil elástico, entre o cérebro de
matéria densa, abandonado, e o cérebro de matéria rarefeita do organismo
liberto."
O companheiro de André
explica o que acontecerá com o Dimas até que a desencarnação seja completada.
"Por enquanto,
repousará ele na contemplação do passado, que se lhe descortina em visão
panorâmica no campo interior. Além disso, acusa debilidade extrema após o
laborioso esforço do momento. Por essa razão, somente poderá partir, em nossa
companhia, findo o enterramento dos envoltórios pesados, aos quais se une ainda
pelos últimos resíduos."
Enquanto lia este texto, eu
me lembrei de que Chico Xavier recomendou esperar 72 horas antes de fazer a
cremação de um corpo. Se para um Espírito como Dimas a libertação não foi
fácil, imagine para nós que ainda nos apegamos tanto aos bens materiais.
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