Por falar em milagres...O
nosso caríssimo Ademar, solicita-nos algumas palavras sobre este seu trabalho
"Em torno dos Milagres". Trata-se de breves comentários sobre os
"milagres" produzidos por Jesus, o Mestre Galileu. Realmente, diante
de tal poder sobre o mundo, remanejando as leis, dominando-as, só poderia haver
perplexidade dos homens que classificaram de pronto todos os fenômenos testemunhados
de miraculosos, estupefacientes, sobrenaturais.
Na verdade, ocorreram fatos
extraordinários para o homem ignorante das dimensões do poder espiritual em
relação aos sistemas materiais, fisiológicos ou não. Esses fatos estão conforme
à capacidade de observação da própria humanidade, que é limitada no saber e no
sentir, visto que a própria vida é um espetáculo imperdível.
A humanidade, insegura, corre à procura de apoio, ao primeiro sinal de que há "milagres". Porém, olhemos uma plantinha a florir, uma ave a construir o seu ninho, o mamífero a alimentar seu filhote e a vida a fluir em nossas veias. Essas coisas são milagres!
De qualquer modo, o trabalho
do estimado Ademar é muito útil, porque ele retoma "o fio da meada"
para poder repetir, com o Cristo de todos nós, que é possível ao homem o
domínio do mundo temporal pelo Espírito: "Porque em verdade vos digo que,
se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: passa daqui para
acolá - e há de passar; e nada vos será impossível" (Mateus, 17:20). Jesus
falava de possibilidades e de capacidades inerentes ao espírito eterno que
estão adormecidas em nós. E o Ademar, com bases seguras na obra de Allan
Kardec,
muito oportunamente volta ao
assunto, diante dos incrédulos e desconfiados judeus, como se Ele ainda tivesse
de dizer: "Qual é mais fácil? dizer: os teus pecados te são perdoados; ou
dizer: Levanta-te, e anda? " (Lucas, 6:23).
Diga Ademar, levanta bem
alto a tua voz, pela palavra escrita, o quanto puderes, para reafirmar ao
Mundo, com seu testemunho de espírita, que os "milagres" são
realidades previstas nas leis universais e que, para quem está com Deus, não
existem obstáculos materiais intransponíveis. Eis aí a fé, aí está a Religião,
aquela que, no dizer do Espírito Emmanuel, "é a força que alarga os potenciais
do coração". Assim, prezadíssimo leitor, passemos a página e observemos,
com detalhes, os argumentos do autor.
L. Palhano Jr. Vitória-ES
-1992
Considerações Preliminares
Estamos apresentando uma
pesquisa muito singela à respeito dos fenômenos que foram equivocadamente
inseridos na órbita do maravilhoso e sobrenatural.
Temos por objetivo a busca
de informações lógicas e seguras que nos enveredem pelos caminhos do
entendimento racional das ocorrências catalogadas como miraculosas.
Afirmamos, com plena
convicção, que os milagres não existem. Todos os fenômenos que foram
classificados como milagrosos deixaram de sê-lo a partir do momento em que
foram devidamente compreendidos dentro da perfeição das leis naturais.
Qualquer ocorrência
verificada no universo, está vinculada aos ditames das leis divinas. Nada
ocorre sem a determinação das leis sábias e imutáveis de Deus.
Poderemos não compreender a
maneira pela qual o fenômeno está ocorrendo; poderemos não entender as causas
do fenômeno mas dai a dizer que se trata de uma ocorrência sobrenatural, sem
explicação, sem qualquer possibilidade de ser entendida através dos recursos
científicos vigentes vai uma distância muito grande.
Todo aquele que acredita em
milagre, talvez ainda não tenha parado para analisar que a crença no mesmo leva
a considerar que Deus não possui a inteligência suprema; a aceitação de uma
ocorrência miraculosa depõe intensamente contra a ideia da imutabilidade das
leis divinas. Para esclarecer melhor esta questão temos que perceber que o
milagre significa uma derrogação das leis naturais. Ora, para que ocorra o
chamado milagre, as leis naturais necessitam sofrer uma alteração bastante
profunda a fim de que a ocorrência miraculosa possa existir, isto significa
dizer que quando a divindade institui as leis que regem o comportamento de
todas as coisas não estava previsto aquela ocorrência. Ante o exposto, fica claro
que a inteligência divina não foi suficientemente perfeita ao criar as leis já que
para ocorrer determinados fenômenos as mesmas precisam ser alteradas.
As narrativas evangélicas
nos dão conta de diversos fenômenos realizados por Jesus, quando de sua
peregrinação pelo planeta Terra. Tais fenômenos foram chamados de miraculosos.
Mas podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que o Mestre galileu jamais
realizou qualquer tipo de milagre, pelo simples fato de que eles não existem.
Jesus se utilizou de sua imensa evolução espiritual, de seus profundos
conhecimentos a respeito dos mecanismos das leis naturais e produziu fenômenos
fantásticos com o único objetivo de demonstrar que Ele era realmente o messias
esperado.
Aqueles que defendem a tese
de que Jesus realizou milagres, baseiam-se no fato de que ao realizá-los, Jesus
estaria demonstrando o seu poder e que se não aceitarmos tal ideia, estaríamos
desconsiderando sua grandiosidade espiritual.
Acreditamos, que o fato de
os fenômenos produzidos por Jesus serem naturais não diminue em nada a noção
que possuímos da superioridade espiritual do Mestre.
Pelo contrário, pois somente
Ele possuía os conhecimentos necessários capazes de produzir tais fenômenos.
Através dessas anotações
iniciais, esperamos esclarecer ao amigo leitor o objetivo maior desta obra e
desejamos, sinceramente, que a mesma sirva como elemento de pesquisa e estudo.
Ademar Faria Junior
Linhares, 25 de maio de 1997
Os fluidos
"O Fluido Cósmico
Universal é, como já foi demonstrado, a matéria elementar primitiva, cujas
modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos corpos da
Natureza". (A GÊNESE, cap. XIV, item, n° 2)
Conforme as informações e
análises da ciência, fluido é o termo usado para designar a fase não sólida da
matéria, podendo apresentar-se em três subfases distintas: pastosa, líquida e
gasosa.
Na Doutrina Espírita, com
base nas obras básicas da Codificação, o termo adquiriu uma conotação bastante
abrangente, vindo a designar ordens de matéria ultrarrarefeita e formas de
energia.
Na época que ocorreu a
codificação da Doutrina Espírita, o estudo dos gases levou os pesquisadores e
cientistas a valorizarem tanto os fluidos, que estes vieram a ser a solução
para tudo que extrapolasse a percepção visual humana.
Donde se observa a presença
constante da ideia dos fluidos magnéticos, elétricos e nervosos, nas obras
espíritas.
Acontece que os Espíritos
responsáveis por trazer a Terceira Revelação à humanidade utilizaram-se dos
conhecimentos vigentes à época e os adaptaram ao seu vocabulário. O objetivo
das entidades veneráveis era inaugurar uma nova fase na humanidade e não modificar
conhecimentos relativos no campo das ciências.
Na atualidade, é possível
utilizar as informações legadas por Planck e Einstein para entender a natureza
dessas substâncias cada uma no seu sentido mais restrito como ondas, radiações,
luz, etc... Os Espíritos utilizaram a terminologia que era humanamente
entendível, apesar de não desconhecerem explicações mais corretas.
No capítulo dos fluidos,
merece citação especial o Fluído Cósmico Universal, que é objeto de estudo na
Doutrina Espírita. A crença na existência de um elemento primitivo no Universo
está presente nas concepções filosóficas de vários povos. Os gregos, por
exemplo, buscavam uma interpretação do Kosmos e para tanto utilizavam-se de
concepções surgidas na escola jônica que afirmavam que existiria um elemento
primitivo que seria o gerador de todos os demais. Tal elemento seria o Arqué
que, na ideia de Tales de Mileto seria a água e que segundo Anaximandro o Arqué
seria uma substância muito mais etérea a qual designou de Apeiron.
O que o Espiritismo fez foi
dar comprovação a essas crenças e identificar a presença desse Fluido Cósmico
nos espaços interatômicos e siderais, na origem de todas as substâncias e na
interação entre criatura e Criador.
O Fluído Cósmico Universal
pode ser entendido como sendo a matéria prima existente no universo, da qual se
utiliza a divindade para processar os mais diversos tipos de fenômenos que tem
por objetivo promover o crescimento do espírito.
O Perispírito
"O perispírito, ou
corpo fluídico dos Espíritos, é um dos mais importantes produtos do fluido
cósmico; é uma condensação desse fluido em tomo de um foco de inteligência ou alma".
(A GÊNESE, cap. XIV, item I, n° 7)
"Semeia-se o corpo
animal, ressuscitará corpo espiritual. Há corpo animal e há corpo espiritual."
(I Epístola de Paulo aos Coríntios; 15:44).
A fim de que se possa
estabelecer bases seguras nas pesquisas em tomo da sobrevivência do Espírito
após a morte física, toma-se necessário a compreensão do mecanismo pelo qual o
espírito mantém a sua individualidade ou seja, como se processa a manutenção da
sua forma em se encontrando separado do seu veículo físico.
Vale ressaltar também, que o
adequado entendimento dos fenômenos psíquicos tem por base a visão de que o
espírito possui um instrumento que lhe mantém a forma, dando-lhe recursos dos
mais variados, responsáveis diretos na produção de diversos fenômenos.
A crença na existência de um
envoltório do espírito encontra raízes profundas nas concepções filosóficas e
religiosas dos mais diversos povos em épocas recuadas da história. Os hindus
lhe deram o nome de LINGASHARIRA; entre os egípcios ficou conhecido como KA ou
BAI; na Grécia foi denominado de OCHÉMA; para Pitágoras o corpo espiritual
recebeu o nome de EIDOLON; os ocultistas das mais diversas escolas definiram
este corpo espiritual como sendo o corpo astral.
Na Doutrina Espírita, graças
as judiciosas definições de Allan Kardec, encontramos uma definição que
elucida, de maneira racional, a questão do corpo espiritual:
"Há no homem três
coisas:
1) O corpo ou ser material
análogo aos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2) A alma ou ser imaterial (1)
, espírito encarnado no corpo;
3) O laço que prende a alma
ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito."
"Tem assim o homem duas
naturezas: pelo corpo, participa da natureza dos animais, cujos instintos lhe
são comuns; pela alma participa da natureza dos espíritos." (2)
Constitui o perispírito (3) um dos mais importantes resultados da condensação do Fluido Cósmico Universal em tomo dos seres inteligentes do Universo, isto é, os Espíritos. O Espírito retira do meio onde se encontra os elementos que compõem o seu perispírito. O corpo espiritual, desse modo, varia de composição e densidade de acordo com o grau de adiantamento ou evolução dos Espíritos diversificando-se também com a natureza do mundo em que habita.
Quando o Espírito emigra de
um mundo, seu corpo fluídico adaptar-se-á aos
elementos característicos do
novo mundo onde habitará, transformando-se.
Tendo um constituição
molecular semimaterial, o perispírito é o agente intermediário entre o corpo
físico e o Espírito, sendo que nele se registram todas as informações relativas
às atividades desenvolvidas pelo Espírito. Devido à sua plasticidade, ou seja,
à sua sensibilidade ao pensamento, assume formas variadas, obedecendo sempre
aos comandos do Espírito, que possui a inteligência como um de seus atributos.
O conhecimento do
perispírito trouxe a explicação necessária para o entendimento completo das
manifestações espíritas e dos fenômenos equivocadamente chamados de
miraculosos, dando-nos a oportunidade de perceber a naturalidade dessas
ocorrências, em contraposição à ideia do extraordinário e sobrenatural que
ainda impera em relação a esses assuntos.
As estrelas e os magos
"Malgrado ao prodigioso
número dessas estrelas e de seus sistemas, malgrado as distâncias
incomensuráveis que as separam, elas pertencem todas à mesma nebulosa estelar
que os mais possantes telescópios mal conseguem atravessar e que as concepções
da mais ousada imaginação apenas logram alcançar, nebulosas que, entretanto, é
simplesmente uma unidade na ordem das nebulosas que compõem o mundo
astral". (A GÊNESE, cap. VI, n° 39)
"E, tendo nascido Jesus
em Belém da Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos vieram do
Oriente a Jerusalém, dizendo: onde está aquele que é nascido rei dos
Judeus? porque vimos adorá-lo. E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a
estrela que tinha no Oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve no
lugar onde estava o menino." (Mateus, II, 1:9)
Apesar de não se constituir
numa narrativa que evidência um milagre praticado pelo Cristo, existe uma
necessidade de se buscar uma explicação racional para este acontecimento.
Primeiramente, teremos necessidade
de nos situarmos no espaço/tempo em relação à época em que ocorreu o fato
narrado pelo evangelista Mateus. Percebe- se, evidentemente, um profundo
desconhecimento em relação ao mecanismo de funcionamento dos corpos que compõem
a estrutura do Universo.
O empirismo imperava no que
concerne ao entendimento das ocorrências a nível de Universo; não existia uma
instrumentação apropriada para se entender a natureza de um satélite natural,
de uma estrela, de uma nebulosa, enfim os recursos disponíveis, à época, eram
insuficientes para se entender a grandiosidade e a pluralidade das ocorrências
astronômicas.
Modernamente, devido ao
fantástico desenvolvimento científico e tecnológico, possuímos definições
bastante claras à respeito dos astros que possuem luz própria e que são
detentores de uma dimensão bastante considerável os quais denominamos de
estrelas. Não podemos nos esquecer também, que as estrelas estão sujeitas às
interações gravitacionais criadas pelos demais astros que gravitam pelo espaço
infinito, obedecendo a célebre Lei da Gravitação Universal, formulada por Isaac
Newton, que assim se expressou: matéria atrai matéria na razão direta de suas
massas e na razão inversa do quadrado da distância que as separa.
A partir dessas conclusões
científicas, ficou evidente que aquela estrutura luminosa que guiou os magos em
direção ao local onde o menino Jesus havia nascido não poderia ser, em hipótese
alguma, uma estrela. Não só o tamanho desse astro bem como a força de atração
gravitacional que surgiria entre a estrela e o planeta Terra, podendo causar
uma catástrofe sem proporções, depõem frontalmente contra essa teoria.
A Doutrina Espírita, através
de suas teorias lógicas e espetacularmente coerentes, trouxe-nos o
esclarecimento acerca desse fato, quando nos informa das características do
corpo espiritual ou perispírito, dando-nos condições de entender a narrativa
evangélica com clareza e bom senso.
Um espírito tem condições de
se apresentar na forma de um foco luminoso ou usar parte de seu perispírito
para tal fim, em virtude da plasticidade e da expansibilidade que o mesmo
possui. No caso em análise, a explicação mais cabível e lógica é esta, já que
se trata de um fenômeno perfeitamente inserido nas leis da natureza
descaracterizando, por completo, a idéia do milagre que indicaria uma derrogação
das leis naturais para que se permitisse tal ocorrência.
O Espírito que produziu o
referido fenômeno, como partícipe da tarefa que envolvia a presença de Jesus em
nosso planeta, logicamente, era detentor de conhecimentos e de condições
espirituais, que lhe permitiram realizar as alterações necessárias no seu
próprio perispírito a fim de se apresentar na forma de um corpo luminoso o que
foi interpretado pelos magos como sendo uma estrela.
Bodas de Caná
"Os fluidos não possuem
qualidades "sui generis", mas as que adquirem no meio onde se
elaboram; codificam-se pelos eflúvios desse meio, como o ar pelas exalações, a
água pelos sais das camadas que atravessa. Conforme as circunstâncias, suas
qualidades são como as da água e do ar, temporárias ou permanentes, o que torna
muito especialmente apropriados à produção de tais ou tais efeitos". (A
GÊNESE, cap. XIV, item I, n° 17)
" Disse-lhes Jesus:
enchei de água essas tachas, e encheram-nas até em cima.
E disse-lhes: tirai agora, e
levai ao mestre sala. E levaram.
E, logo que o mestre-sala
provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os
serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, e disse-
lhe: todo o homem põe primeiro vinho bom, e, quando já tem bebido bem, enteio o
inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho." (João, 7:10)
Segundo as narrativas
evangélicas, esta foi a primeira vez que Jesus produziu um fenômeno
surpreendente, tido a conta de um milagre. Para que possamos entendê-lo, à luz
da razão, é necessário observar que existem duas maneiras distintas de
encaminhar o nosso raciocínio.
A água é considerada uma
substância bastante simples mantendo bastante proximidade com o Fluido Cósmico
Universal. Possui uma qualidade especial de absorver, como nenhuma outra
substância, as energias magnéticas que lhe forem dirigidas.
A ação magnética poderá
ocorrer através da imposição das mãos sobre o recipiente onde se encontra
armazenada a água, constituindo-se muna magnetização com fluidos mistos, ou
seja; o fluido animal do indivíduo acrescido do fluido espiritual dos seres
desencarnados que se lhe ajustam psiquicamente ou através da ação direta dos
espíritos sobre a água, doando dos seus fluidos espirituais.
A presença dos fluidos e a
intensidade dos mesmos junto à determinadas substâncias, poderá causar
profundas modificações em suas características físicas. Em se tratando da água,
essas modificações poderão ser ainda mais profundas em virtude de sua grande
capacidade de absorção de energias.
Não podemos afirmar que
ocorra uma modificação na estrutura molecular da água devido a ação dos fluidos
mas sim, uma alteração da energia cinética. Isto quer dizer uma modificação em
termos de velocidade de deslocamento dos elétrons que gravitam em tomo dos
núcleos atômicos que formam as moléculas d'água.
Jesus Cristo, detentor de
fluidos altamente purificados, poderia, portanto, ter agido sobre as águas que
se encontravam nas tachas, conforme o comentário evangélico em epígrafe,
produzindo a modificação desejada, a fim de que aqueles que as experimentassem
percebessem tanto o gosto quanto o cheiro de vinho.
Nada há, portanto, de
miraculoso nessa ocorrência já que as leis naturais não sofreram nenhum tipo de
derrogação para que se verificasse tal acontecimento.
Por outro lado, podemos
também perceber que a narrativa evangélica deixa entrever um ensinamento
semelhante àqueles encontrados nas parábolas. Em nada perturba o aspecto da
mensagem fundamental, que equivocadamente, todas as ocorrências consideradas
miraculosas, encerram.
Os precursores do Cristo, ou
seja, aqueles que vieram lhe preparar os caminhos; os que anunciaram a sua
vinda; os profetas e os legisladores do povo hebreu ofereceram aos homens uma
mensagem que não possuía uma carga tão emotiva e tão repleta de verdades a
respeito da vida espiritual como a que Jesus oferece. Aqueles representariam o
vinho que fora servido em primeiro lugar, não era o bom vinho, enquanto este, o
Cristo, seria o bom vinho e que foi servido depois do vinho de inferior
qualidade.
Aqueles portanto que tomarem
desse vinho, ou seja, aprenderem as suas mensagens e transportarem para a pauta
das suas atividades diárias estarão convidados a participar da grande festa
espiritual que aguarda todos aqueles que hajam disseminado a paz o amor e a
fraternidade entre os homens.
Entrada triunfal
Entretanto, a vista
espiritual não é idêntica, quer em extensão, quer em penetração, para todos os
Espíritos. Somente os Espíritos puros a possuem em todo o seu poder". (A
GÊNESE, cap. XIV, item I, n° 25)
"E, quando se aproximaram de Jerusalém, e chegaram a Betfagé, ao Monte das Oliveiras, enviou então Jesus dois discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia que está defronte de nós, e logo encontrareis uma jumenta presa, e um jumentinho com ela, desprendei-a, e trazei-mos. E, se alguém vos disser alguma coisa, direis que o Senhor os há de mister; e logo os enviará." (Mateus, XXI, 1:3)
Existe um fenômeno, de
natureza psíquica, que explica de forma bastante clara esse como outros
fenômenos produzidos por Jesus e que estão apresentados nas páginas evangélicas
como sendo miraculosos. Trata-se da Dupla Vista, ou visão espiritual à
distância. Neste tipo de fenômeno, percebe-se claramente que a visão ocorre
completamente desvinculada dos órgãos físicos pois que se trata de uma captação
de imagens realizada pelo espírito.
Não existem obstáculos
materiais que dificultem a atuação do espírito durante o momento em que ele
está visualizando determinadas ocorrências e nem tampouco as distâncias
constituem-lhe dificuldade que o impeçam de realizar os registros das cenas,
ambientes e situações.
Sem os preciosos estudos
realizados por Kardec, à respeito deste assunto, não teríamos condições de
entender, com tanta naturalidade, os fenômenos de Dupla Vista que se encontram
catalogados como milagres.
Não existe milagre algum no
fato de o Cristo ter localizado os animais em Jerusalém, sendo que ainda
estavam distante, mais precisamente em Betfagé, no monte das Oliveiras; ocorreu
um fenômeno natural, perfeitamente enquadrado na órbita das leis sábias e
imutáveis de Deus. Devido a sua inquestionável evolução espiritual, Jesus se
utilizou da visão espiritual ou Dupla Vista, com a maior naturalidade possível,
determinando, com riqueza de detalhes e situação em que os animais se
encontravam ou seja, amarrados, e a sua certeza era tanta que ordenou de,
maneira clara e precisa, que os dois discípulos fossem ao local especificado.
Há de se considerar, que
todos os fenômenos produzidos por Jesus, apresentam objetivos bastante claros.
Em primeiro lugar, temos o fato de que Ele estava lidando com pessoas de uma
grande incredulidade e que seria necessário portanto, impressioná-las através
de manifestações que lhes despertassem a atenção e que atuassem sobre os seus
sentidos.
Em segundo lugar, devemos
considerar que o Rabi Galileu jamais desperdiçou uma oportunidade se quer de
nos transmitir ensinamentos necessários para a nossa caminhada evolutiva.
Vejamos que o fato d'Ele ter solicitado o concurso dos dois discípulos a fim de
que fossem buscar os animais que se encontravam na aldeia, pode ser
transportado aos nossos dias demonstrando, claramente, que todos nós fomos
convidados a oferecer-Lhe os recursos de locomoção necessários a fim de que
possamos permitir que Ele faça uma verdadeira Entrada Triunfal em nossas Vidas,
bastando para tanto a nossa colaboração, no sentido de nos colocarmos à
disposição do trabalho, na grande e abençoada oficina que é o planeta Terra.
Tempestade Aplacada
São devidas as causas
fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes
fenômenos da natureza os que se consideram como perturbação dos elementos?
"Tudo tem uma razão de
ser e nada acontece sem a permissão de Deus".
(O LIVRO DOS ESPÍRITOS, 2o
parte, cap. IX)
"E aconteceu que, num daqueles
dias, entrou num barco com seus discípulos, e disse- lhes: Passemos para a
outra banda do lago. E partiram. E, navegando eles adormeceram; e sobreveio uma
tempestade de vento no lago e enchiam-se de água, estando em perigo. E, chegando-se
a Ele, O despertaram, dizendo: Mestre, mestre, perecemos. E Ele, levantando-se,
repreendeu o vento e a fúria da água; e cessaram, e fez-se a bonança. E disse-lhes:
Onde está a vossa fé? E eles, tremendo, maravilharam- se, dizendo uns aos outros:
Quem é este, que até os ventos e a água manda, e Lhe obedecem?" (Lucas,
VIU; 22:25)
Existem espíritos que tem
tarefas específicas junto aos fenômenos naturais.
Todos os tipos de
manifestações das forças da natureza não presididas pelos espíritos que atuam
especificamente nesse campo controlando a forma e a intensidade das
ocorrências.
Quando presenciamos, por
exemplo, uma tempestade, devemos considerar que existem espíritos que estão a
regular todas as características desse acontecimento, como se fossem hábeis
técnicos que dispõem de conhecimentos amplos à respeito dessa atividade.
São espíritos que ainda não
possuem uma grande evolução mas que conhecem os recursos apropriados que lhes
possibilitem agir sobre os sutis mecanismos das leis naturais. São atividades
ainda atreladas às necessidades imperiosas do mundo físico. Esses espíritos são
utilizados pelos de maior ascensão espiritual.
Na espiritualidade, as
atividades mais direta sobre os elementos materiais são realizadas pelos
espíritos ainda em fase mediana de evolução.
No caso em apreço, temos uma
tempestade que atinge a embarcação em que se encontrava o Mestre Jesus,
juntamente cora alguns discípulos. A intensidade da tempestade induziu ao
pânico os ocupantes da nau, com exceção do Cristo que, segundo o relato,
permanecia em clima de muita tranquilidade repousando no assoalho da
embarcação.
Os discípulos então, em se
dirigindo à Jesus Lhe acordam e afirmam, de forma desesperada, que todos iriam
perecer nas garras da terrível tempestade.
Ao acordar e ouvir o relato
dos discípulos, levanta-se e ordena aos Espíritos que estavam presidindo a
manutenção da tempestade que cessem imediatamente as atividades que mantinham.
De imediato, tanto a fúria das águas quanto a ferocidade dos ventos deixam de
existir e surge a calmaria nas águas do lago.
A autoridade espiritual de
Jesus, permitiu que a sua solicitação, junto aos Espíritos que estavam
controlando a tempestade, fosse prontamente atendida.
Observamos que a mensagem
principal desse acontecimento encontra-se no fato de que muitos ainda alimentam
grande medo, ante as dificuldades que enfrentam no mar da vida, mesmo quando
estão numa embarcação em que o Cristo permanece conosco a fim de nos transmitir
tranquilidade, paz e esperança.
A presença de Jesus em
nossas vidas, deverá representar um antídoto contra o desespero face as
problemáticas cotidianas. Caso isso não aconteça, estaremos demonstrando que a
nossa fé está sendo intensamente vacilante. E o desconhecimento total das
sábias e imutáveis leis de Deus.
Sobre as águas
"Sendo o mesmo o
perispírito, assim nos encarnados, como nos desencarnados, um Espírito
encarnado, por efeito completamente idêntico, pode, num momento de liberdade, aparecer
em ponto diverso do em que repousa seu corpo, com os traços que lhe são habituais
e com todos os sinais de sua identidade". (A GÊNESE, cap. XIV, item H, n°
37)
"E os discípulos,
vendo-O caminhar sobre o mar, assustaram-se dizendo: É um fantasma. E gritaram
com medo. Jesus, porém, lhe falou logo, dizendo: Tende bom ânimo, sou Eu, não
temais. E, respondeu-Lhe Pedro, e disse: Senhor, se és Tu, manda-me ir ter contigo
por cima das águas. E Ele disse: Vem. E Pedro, descendo do barco, andou sobre
as águas, para ir ter com Jesus. Mas, sentindo o vento forte, teve medo; e,
começando a ir para o fundo, clamou, dizendo: Senhor, salva-me! E logo Jesus,
estendendo a mão, segurou-o, e disse-lhe: Homem de pouca fé, por que duvidaste?
(Mateus, XV, 26:31)
Existem duas maneiras
bastante racionais para se explicar mais um dos interessantes fenômenos
produzidos pelo Cristo. A narrativa do evangelista Mateus, nos apresenta, de
forma clara e precisa, que um dos objetivos de Jesus ao realizar essas
manifestações era, justamente, impressionar os sentidos, ainda por demais
grosseiros, dos discípulos e demais pessoas da época desejoso de que O vissem
como o messias do qual as antigas escrituras faziam referências.
Lógico e evidente que Jesus
não era movido por nenhum interesse de promoção pessoal. Na verdade o Seu
interesse maior era justamente de promover a libertação espiritual das almas
que o acompanhavam na ingente tarefa de disseminar a Boa Nova.
Sem a contribuição inigualável
ofertada à humanidade pela Doutrina Espírita, no campo das manifestações
espirituais a maioria dos acontecimentos que são catalogados como miraculosos
ou inexplicáveis ainda estariam gravitando na órbita irregular dos fatos
sobrenaturais.
A primeira explicação para o
fato de o mestre Jesus ter sido visto caminhando sobre as águas baseia- se no
fato de que um Espírito pode ser visto em local distante daquele em que se
encontra o seu corpo físico, enquanto este apresenta-se em estado de Transe,
numa ou noutra intensidade que o caracterize (4) , ou sob a influência do sono,
o que caracteriza o estado de Emancipação da Alma.
Trata-se de um fenômeno que
pode ocorrer com muita espontaneidade ou através de uma indução de natureza
hipnótica por parte de terceiros ou ainda mediante vontade própria do
indivíduo, caracterizando o chamado desdobramento consciente. Nada há de
sobrenatural nesse tipo de ocorrência e temos plena certeza de que Jesus
poderia tê-la produzido em virtude de seu amplo conhecimento à respeito das
leis que regulam essas manifestações.
Por outro lado, podemos
também analisar, que os conhecimentos que dispomos à respeito dos fluidos, dos
mais variados tipos, apresentam condições de nos mostrar que a ação dos mesmos,
sobre os corpos materiais, é tão intensa quanto vasta ao ponto de percebermos
que diversos instrumentos mecânicos se utilizam dos fluidos para o seu adequado
funcionamento na execução das mais variadas tarefas. Nada há de estranho,
portanto, quando vemos um corpo material ser elevado no espaço, sem qualquer
tipo de apoio físico, estando sob ação completa dos fluidos. Tal ocorrência é
perfeitamente verificada nos casos de Poltergeist, em que geralmente os objetos
existentes no ambiente são movimentados sem qualquer participação física das
pessoas ou de instrumentos que poderiam produzir a referida movimentação.
Devemos lembrar também, que o referido fenômeno ocorre em virtude da presença
de alguém que está fornecendo mesmo que inconscientemente, os fluidos
ectoplásmicos (5) que servem de instrumentos para que os espíritos possam agir
sobre a matéria.
Nessas ocorrências, tem-se a perfeita noção de que os efeitos da força de gravidade são totalmente anulados e o corpo levita como se estivesse em local de completa ausência gravitacional. O Cristo poderia portanto ter anulado a ação da aceleração gravitacional sobre a sua indumentária física e caminhado tranquilamente sobre as águas sem o perigo de submergir.
Destacamos dessa narrativa
evangélica, um ensinamento de alto significado para as nossas vidas. Trata-se
do momento em que o Apóstolo Pedro, também caminhando sobre as águas por
aceitação de Jesus, ao se aproximar da figura sublime do Mestre, percebe um
vento forte a lhe desequilibrar e começa a submergir. De imediato, Jesus lhe
estende a mão a fim de socorrê-lo e aproveita o ensejo para lhe admoestar
quanto da demonstração que ele estava oferecendo à respeito da sua falta de fé.
Quantas e quantas vezes nós buscamos seguir o caminho que nos conduz à Jesus e
ao nos depararmos com os primeiros obstáculos começamos a demonstrar, através
do nosso desespero, o quanto a nossa fé é vacilante e assim nos predispomos a
submergir, afundando-nos no lodaçal dos vícios, dos crimes e das paixões
aviltantes.
A multiplicação dos pães (1 e 2)
"O ponto intermédio é o
da transformação do fluido em matéria tangível. Mas, ainda aí, não há transição
brusca, porquanto podem considerar-se os nossos fluidos imponderáveis como
termo médio entre dois estados". (A GÊNESE, cap. XIV, item l, n° 02)
"Jesus, porém, lhes disse: não é mister que vão; dai-lhes vos de comer. Então eles Lhe disseram: não temos aqui senão cinco pães e dois peixes. E Ele disse: trazei-mos aqui. E, tendo mandado que a multidão se assentasse sobre a erva, tomou os cinco pães e dois peixes, e, partindo os pães, deu-os aos discípulo à multidão." (Mateus, XIV, 16:19)
"E os seus discípulos
disseram- Lhe: De onde nos viriam, num deserto, tantos pães, para saciar tal
multidão? E Jesus disse-lhes: Quantos pães tendes? E eles disseram :
Sete, e uns poucos de
peixinhos. Então mandou à multidão que se assentasse no chão, e, tomando os
sete pães e os peixes, e dando graças, partiu-os, e deu-os aos seus discípulos,
e os discípulos à multidão." (Mateus, XVI, 33:36)
Ao analisarmos a narrativa
em epígrafe, percebemos com nitidez que trata-se de uma ocorrência maravilhosa,
que teve como protagonistas a figura sublime de Jesus. Sem dúvida, é um
fenômeno maravilhoso, mas jamais miraculoso.
Temos duas maneiras de
explicá-lo, de forma bastante racional, sem termos necessidade de inventar
intervenções mirabolantes da divindade a fim de derrogar suas leis sábias e
imutáveis o que caracterizaria a tese de que Deus não possui o conhecimento
pleno de todas as leis universais A primeira explicação possível, é a que
apresenta uma visão de que a narrativa evangélica possui um sentido alegórico,
como se fosse uma parábola. Na verdade, Jesus não teria executado uma multiplicação
material dos pães e dos peixes mas sim, se utilizado de todo o seu poder de
oratória e de seu contagiante magnetismo pessoal, transmitindo ensinamentos que
seriam verdadeiros alimentos para os espíritos que se encontravam famintos de
justiça e paz. O simples contato com um espírito de tanta elevação como o
Cristo é o suficiente para abrandar as nossas necessidades básicas, pelo menos
por um determinado espaço de tempo. E comum acontecer conosco o fato de nos
esquecermos, ás vezes, de determinadas necessidades, quando estamos envolvidos
em algum tipo de entretenimento que nos esteja agradando.
O mesmo pode ter acontecido
com a multidão que se encontrava em tomo de Jesus. A doçura de suas palavras,
as vibrações incomparáveis que Ele disseminava pelo ambiente e a intensidade de
sua mensagem poderiam ter sido mais que suficiente para manter as pessoas num
clima de completa harmonia, donde a vontade de se alimentar fora deslocada para
plano secundário.
A outra maneira possível de
entendermos essa ocorrência, é através da tese da multiplicação material dos
pães e dos peixes. A partir dos estudos à respeito dos fluidos, toma-se tarefa
fácil compreendermos que Jesus poderia ter se utilizado dos seus amplos
conhecimentos à respeito das leis divinas que regem as atividades a nível do
planeta Terra e manipular o Fluido Cósmico Universal a fim de materializar os
peixes e os pães que seriam necessários para saciar a fome da multidão que com
Ele se encontrava. Tomando como base a ideia de que o Fluido Cósmico Universal
é o elemento primitivo e básico para a formação de todas as substâncias que se
encontram em nosso planeta bem como em todo o universo, percebe-se nitidamente
que os elementos que formam a estrutura do pão e do peixe são formados a partir
de transformações sofridas por esse Fluido. Jesus portanto, ao manipular os
Fluidos presentes em nossa atmosfera fez com que os mesmos se transformassem e
se apresentassem na forma de pães e peixes para serem distribuídos à multidão.
Não existe nenhum problema
em termos duas maneiras diferentes de entendermos mais uma significativa
ocorrência na vida de Jesus. Assim nos expressamos pelo fato de que a mensagem
que existe implícita nesta narrativa é muito mais importante do que o fenômeno
em si. Vejamos que para realizar um trabalho tão grandioso, em favor das
pessoas que ali se encontravam, Jesus não dispensou a prestimosa colaboração
dos discípulos que com Ele se encontravam.
"Quantos pães
tendes?" indagou Jesus aos discípulos. Nessa pergunta, nos deparamos com o
ensinamento magistral legado pelo Mestre galileu de que todos temos alguma
coisa a oferecer para a grandiosa tarefa de implantação do reino do amor e da
paz na face desse planeta, através do trabalho incessante da nossa reforma
interior e da busca contínua de nos amarmos uns aos outros.
A filha de Jairo
"Em certos estados
patológicos, quando o Espírito há deixado o corpo e o perispírito só por alguns
pontos se lhe acha aderido, apresenta ele, o corpo, toda as aparências da morte
e anuncia-se uma verdade absoluta, dizendo que a vida aí está por um fio". (A
GENÊSE, cap. XIV, item I, n° 30)
"E, entretanto, disse- lhes: Por que vos alvoroçais e chorais? A menina não está morta, mas adormecida. E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi, que traduzido é: Menina, a ti te digo levanta-te". (Marcos, V, 39:41)
A proposta desse capítulo é
oferecer ao leitor uma visão bastante esclarecedora à respeito dos fenômenos
das ressurreições. Afirmaremos de início e com toda a convicção que nos é
oferecido pelas pesquisas espíritas, que as ressurreições são impossíveis de
acontecerem. Jamais ocorreu, na face do planeta Terra, nenhum caso de
ressurreição e nem tampouco ocorrerá.
A certeza que possuímos ao
emitirmos tal afirmativa, baseia-se no fato de que as ressurreições são completamente
contrárias as leis naturais. Tais leis determinam que um corpo físico ao
atingir a sua fase final de existência entrega-se ao processo da desorganização
orgânica com a ocorrência da decomposição.
Os elementos que compunham
esse corpo são devolvidos ao laboratório da natureza e reaproveitados na
composição de novos elementos na atividade constante da transformação laboriosa
no reino das formas físicas. Como o Espiritismo possui tríplice aspecto, sendo
o aspecto científico aquele que nos envereda pelo caminho da fé raciocinada, em
contraposição à fé cega que a tudo aceita sem qualquer tipo de análise,
percebemos que as evidências científicas que são ampla e irrestritamente
contrárias à teoria da ressurreição, deverá servir como elemento de orientação
das nossas meditações e aceitações a respeito desse assunto.
Após essa análise de
natureza científica com ensaios de argumentações filosóficas, outro dos dois
aspectos da Doutrina Espírita, haveremos agora de observar alguns detalhes das
ocorrências evangélicas que ficaram caracterizados como acontecimentos que
representariam casos de ressurreições e portanto miraculosos, já que
significavam algo de aspecto sobrenatural e inexplicável. O fato é que Jesus,
quando de sua peregrinação pelo nosso planeta, não realizou nenhuma
ressurreição. Os casos narrados nos Evangelhos como o da filha de Jairo, o
filho da viúva de Naim e Lázaro foram situações equivocadamente interpretadas como
ressurreições. Eles não estavam mortos, portanto, mesmo que fosse possível, não
poderiam ser ressuscitados; na verdade eles estavam em estado de letargia ou
síncope, também conhecida como o estado de morte aparente. Nessa condição, o
indivíduo possui todas as aparências de que está fisicamente morto, imperceptível
pressão arterial, ausência de temperatura corporal o músculo cardíaco apenas
emfibrila e as atividades cerebrais só conseguem ser detectadas através de
exames de eletroencefalograma. Com todas essas características, é fácil de se
perceber que tomava-se tarefa difícil, na época em que Jesus esteve entre nós,
definir com precisão se o indivíduo encontrava-se realmente morto.
Vejamos que no caso
específico da filha de Jairo, através das informações dos Evangelhos notamos
nitidamente a referência, por parte de Jesus, de que a menina não estava morta
mas apenas adormecida, ou seja, ela se encontrava em estado letárgico ou de
morte aparente. Mas Jesus não poderia se expressar de outra maneira; Ele não
poderia dizer que ela se encontrava em estado de letargia pois que eles não
entenderiam por falta de conhecimento à respeito do assunto.
Analisando o aspecto
espiritual da questão, percebemos que no estado de letargia, o espírito ainda
se encontra ligado ao corpo físico porém, os laços perispirituais que os mantêm
unidos estão bastante tênues, quase rompidos o que determina as características
físicas tão semelhantes ao da morte orgânica. Se durante essa fase for efetuado
um processo de magnetização os laços perispirituais poderão voltar a
normalidade e o indivíduo voltar a sua normalidade.
Foi exatamente assim que o
Cristo procedeu ante os casos de letargia em que Ele fora instrumento de total
doação de recursos magnéticos a fim de se devolver às criaturas a total
plenitude de suas funções.
Temos percebido que muitas
pessoas que são contrárias a tese da reencarnação, tem se utilizado de uma
passagem existente no Novo Testamento com o objetivo de desmoronar, de uma vez
por todas, uma das leis divinas mais maravilhosas das que existem. Vejamos a
narrativa: "E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo
depois disso o juízo". (Epístola aos Hebreus, 9:27)
Se percebermos bem, vamos
entender que essa narrativa não apresenta nada que se contraponha aos
princípios reencamacionistas. Realmente, o indivíduo morre somente uma vez, em
cada existência. E quando isso acontece nós nos encontramos com a nossa própria
consciência, o nosso tribunal interior ou seja o chamado juízo. Portanto, não
abala em absolutamente nada a teoria da reencarnação. Por outro lado,
percebemos que essa narrativa é totalmente contrária a ideia da ressurreição já
que os chamados ressurrectos morreram a primeira vez e Jesus os ressuscitou e
vieram a morrer a segunda vez e o Cristo já não se encontrava mais em nosso
planeta a fim de ressuscitá-los. É notório que existe então uma profunda
contradição nos textos, já que a Epístola aos Hebreus é bastante clara ao
afirmar que o homem só poderia morrer uma única vez.
Porventura, passados
aproximadamente, dois mil anos da vinda de Jesus à Terra têm-se alguma notícia
do destino de Lázaro, da filha de Jairo e do Filho da viúva de Naim? Se alguém
apresentar a proposta de que eles foram ressuscitados em corpos espirituais, já
descaracteriza por completo a definição de ressurreição pois que esta significa
o retomo do corpo na sua forma física e não espiritual. Da mesma forma, podemos
entender que o Cristo não ressuscitou fisicamente. Quando Ele foi visto por
Maria de Magdala, no terceiro dia após a crucificação, Ele estava na sua forma
espiritual pois o seu corpo físico havia se decomposto, logicamente de uma
forma mais rápida em virtude das características um pouco mais sutilizadas dos
elementos materiais que o formavam. Tanto é assim que Maria de Magdala desejou
abraçá-lo, e não lhe foi permitido. Jesus não estava tangível a ponto de ser percebido
pelo tato de Maria de Magdala.
Ao se dirigir à Emaús
encontrou os discípulos reunidos numa casa hermeticamente fechada onde se
discutia o futuro de suas atividades, já que Aquele ao qual seguiam havia sido
crucificado entre os malfeitores e os romanos os buscavam a fim de serem
julgados e sentenciados. De súbito, O viram entrar pela parede e se assustaram
pensando tratar-se de um fantasma e Ele os acalmou identificando-Se. Pela lei
da impenetrabilidade, é lógico que Jesus ao atravessar a parede da casa não se
encontrava com o seu corpo físico.
Diante da dúvida de Tomé,
adensou a sua forma perispiritual a fim de se tomar momentaneamente tangível
para que suas chagas fossem tocadas pelo discípulo duvidoso e no momento em que
se apresentou, às margens do lago, com objetivo de dar as últimas instruções
aos discípulos, ao finalizá-las elevou-se rumo aos planos espirituais donde
viera. Como não existem condições de um corpo físico suportar a diminuições de
pressão e temperatura à medida em que se eleva rumo ao espaço salvo se estiver
protegido por equipamentos específicos, somos levados a crer, de maneira
inabalável, que o Mestre se encontrava na sua forma espiritual. Ante o exposto
fica evidente que não houve a tão decantada ressurreição de Jesus, considerando-se
também que Ele mesmo afirmara que não veio para destruir a lei mas sim para
cumpri-la.
A cura de um obsedado
"Na obsessão, o
Espírito atua exteriormente, com a ajuda do seu perispírito, que ele identifica
com o do encarnado, ficando este afinal enlaçado por uma como teia e
constrangido a proceder contra a sua vontade". (A GÊNESE, cap. XIV, n° 47)
"E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te, e saia dele. Então o espírito imundo, convulsionando-o, e clamando com grande voz, saiu dele." (Marcos, I, 25:26)
Na atualidade grande número
de pessoas são vítimas das consequências desagradáveis da influência obsessiva.
Quando não possuem conhecimento à respeito da questão, são levadas a
tratamentos nos métodos oficiais na área da psicanálise ou da psiquiatria, considerando-se
as mais diferentes escolas, sem lograrem êxito.
A grande maioria, que se
submete aos referidos tratamentos, é invariavelmente considerada como portadora
de algum distúrbio mental na área da neurose, psicose ou psiconeurose, sem que
na verdade não possuem em absoluto nada que caracterize tal diagnóstico.
São casos de influência
espiritual perniciosa que pode se classificar como uma simples obsessão, uma
sutil fascinação ou uma complexa subjugação. Tais influências, são responsáveis
por distúrbios comportamentais que os indivíduos apresentam durante a fase em
que se encontra vitimado pela sanha do espírito ou espíritos obsessores que
atuando sobre o psiquismo da vitima lhe orientam na execução dos seus
objetivos.
A obsessão se estabelece à
partir de uma sintonia psíquica que passa a existir entre os envolvidos no
drama. As causas variam ao infinito mas, em linhas gerais, podemos perceber que
existem as questões relacionadas com débitos de outras existências em que a
vítima do passado se apresenta como o algoz no presente agindo intensamente
sobre aquele que julga lhe dever a reparação da falta cometida no passado; os
inimigos que cultivamos na presente existência e que ao desencarnarem se dão
conta de que continuam vivos com amplas possibilidades de interferir na vida
daquele que foi o motivo de suas dores e angústias e as obsessões criadas pelos
espíritos que são inimigos não do indivíduo que estão a perturbar mas sim da
causa nobre por ele abraçada ou seja; são inimigos do bem, não desejam o
crescimento espiritual das criaturas e portanto lhes atormentam.
Os Evangelhos estão repletos
de citações dos casos de obsessões, fascinações e subjugações em que se
consideravam como sendo produzidas pelos espíritos destinados eternamente à
prática do mal como o diabo, o demônio e o satanás.
Hoje, até mesmo por
evidências históricas, é sabido que tais entidades passaram a existir
simplesmente por uma necessidade de dominação das pessoas que se vinculavam às
religiões dominantes. Trata-se da tática do uso do elemento medo que obriga o
indivíduo a se comportar dentro dos padrões pré-estabelecidos sem que se dê ao
trabalho de raciocinar em tomo da questão, sem falar do aspecto mitológico em
se considerando que os judeus e os cristãos sempre copiaram crenças e práticas
dos povos pagãos, com toda a sua gama de símbolos mitológicos.
Na verdade não existem
espíritos destinados eternamente à prática do mal.
Existem aqueles que estão
momentaneamente desviados da senda do bem mas que por força do progresso se
ajustarão as leis divinas no campo da evolução de suas almas. Jesus Cristo ao
se deparar com as pessoas portadoras desses desajustes comportamentais causados
por influências espirituais se dirigia pura e simplesmente ao espírito e lhe
ordenava que se afastasse a fim de se romper o vínculo psíquico que se havia
estabelecido. E lógico que o espírito, em condição de inferior evolução,
obedecia prontamente em virtude da inquestionável ascendência espiritual do
Cristo.
Após tal atitude, os
indivíduos apresentavam melhoras imediatas e passavam a se comportar da maneira
mais natural possível vindo a se integrar novamente as atividades cotidianas.
Trata-se portanto de um fenômeno natural que não apresenta sinais de derrogação
das leis sábias e imutáveis de Deus.
Conclusão
Após essa breve análise dos
acontecimentos ditos milagrosos constantes nos Evangelhos, passamos a
sintonizar com mais efusividade das informações esclarecedoras que a Doutrina
Espírita nos oferece, na sua feição consoladora, criando em nós condições
ideais para entendermos as narrativas evangélicas em toda sua extensão e
pureza. Em se tratando dos chamados milagres, os esclarecimentos que a Doutrina
Espírita tem a nos oferecer são fundamentais, já que temos a necessidade de
interpretar, em Espírito e Verdade, os relatos evangélicos a fim de que estejam
sempre atualizados com as exigências do nosso século.
Muito natural que à época de
Jesus Cristo os homens, vendo os fenômenos que Ele produzia e sem condições de
explicá-los, registraram e legaram para a posterioridade uma série de
acontecimentos que passaram a figurar como algo extraordinário e surpreendente,
sendo, pois, vistos como uma derrogação das leis naturais. Ainda hoje muitas
pessoas se levantam para defender, com todas as forças, os
"milagres", pelo simples fato de não entenderem os mecanismos desses fenômenos.
É mais cômodo enquadrá-los no campo das coisas inexplicáveis.
No atual desenvolvimento
científico e tecnológico em que nos encontramos, no momento em que conseguimos
equacionar vários problemas até então insolúveis, graças ao surgimento do
Espiritismo temos em nossas mãos toda um série de informações que nos permitem
explicar com lógica e bom senso aquilo que os evangelistas, no passado, e que
os homens menos afeitos ao estudo, na atualidade, chamam de fenômenos
milagrosos.
Vale ressaltar que jamais
poderíamos entender esses fenômenos se não fosse a grandiosa contribuição
oferecida pelo Espiritismo que nos dá conta da grandiosidade e do perfeito
equilíbrio das leis universais que regulam o comportamento de todas as coisas.
Não encontraríamos elementos suficientes para encaixar todos os fenômenos na
órbita das leis naturais se não fossem as justas e ponderadas contribuições dos
Espíritos Superiores e de Allan Kardec que permitiram uma visualização exata
dos fundamentos das leis de Deus.
Portanto, quando afirmamos que os "milagres" não existem, que todos os fenômenos pertencem às leis naturais, assim o fazemos estribados nos mais puros e lúcidos conceitos da ciência espírita que, caminha lado a lado, e às vezes adiante, com a ciência dos homens, não se detendo porém onde esta para, prosseguindo sua caminhada, descortinando para a humanidade os novos horizontes de luzes e bênçãos que hão de nos possibilitar o encontro com o equilíbrio, a harmonia e a paz tão desejada.
(1) - Na pergunta n° 82 de O Livro dos Espíritos, os Espíritos afirmaram que o termo mais exato para defini-los seria incorpóreo. (Nota do autor)
(2) - O Livro dos Espíritos - Introdução - VI. 63.
(3) - Neologismo criado por Allan Kardec para definir o corpo espiritual. (Nota do autor)
(4) - O transe é um estado anômalo da consciência e que se apresenta nos seguintes graus de intensidade: superficial, hipnogógica c profundo.
(5) - Substância fluídica que emana dos orifícios naturais do corpo do médium de efeitos físicos.
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