Por via materna, era descendente de Frederico II do Sacro Imperador Romano-Germânico, pois o seu avô materno era Manfredo de Hohenstaufen, rei da Sicília, filho de Frederico II. Não existem fontes históricas exatas sobre a data e local de nascimento de Isabel, e portanto este não é um ponto consensual. Sabe-se no entanto que cresceu em Barcelona, onde estava instalada a Corte da Coroa de Aragão.
O seu nascimento é lendário,
pois nasceu envolta numa pele, mostrando a sua ligação com o divino.
Teve cinco irmãos, entre os
quais os reis aragoneses Afonso III e Jaime II, e Frederico II da Sicília. Para
além disso, foi sobrinha-neta de Santa Isabel da Hungria, também considerada
santa pela Igreja Católica. O parentesco vem através da avó paterna Iolanda da
Hungria, meia-irmã de Isabel da Hungria.
Isabel teve influência na política: a sua origem aragonesa assegurava a aliança entre Portugal e Aragão. Serviu de mediadora nos conflitos bélicos que surgiram na família.
Com o tratado de Alcanizes,
os seus filhos Constança e Afonso casaram com os primos castelhanos: Fernando
IV de Castela e Beatriz, também eles irmãos.
A rainha foi canonizada pelo
papa Urbano VIII a 25 de maio de 1625.[2]
Casamento
Rainha Santa Isabel ao lado
de Dom Dinis, com rosas no regaço.
D. Dinis de Portugal tinha
17 anos quando subiu ao trono e, pensando em casamento que na altura era um
complexo evento diplomático, convinha-lhe Isabel de Aragão. As primeiras
conversações tiveram por mediador Filipe III de França, em Toulouse, tendo mais
tarde enviado diretamente uma embaixada a Pedro de Aragão em novembro de 1280.
Formavam-na João Velho, João Martins e Vasco Pires. A embaixada poderá ter
encontrado enviados dos reis de França e de Inglaterra, cujos príncipes também
eram pretendentes de Isabel. O soberano de Aragão preferiu escolher aquele que
já era rei, apesar das desavenças de D. Dinis com o irmão e pretendente ao
trono, Afonso de Portugal, Senhor de Portalegre.
A 11 de fevereiro de 1282,
com aproximadamente 11 anos, Isabel casou-se então por procuração com o
soberano português D. Dinis na capela de Santa Ágata no Palácio real de
Barcelona, tendo Pedro III de Aragão enviado ao Reino de Portugal dois
embaixadores cerca de um mês depois para ratificar o Tratado de casamento.
Deslocaram-se a Portugal Bertrán de Villafranca, camerário da Sé de Tarragona,
e Corrado Lancia, almirante da frota real, incluindo a missiva um convite, que
foi ignorado, para o rei português se deslocar a Barcelona.
A reunião dos recém-casados
teve de aguardar pela estabilização política em Portugal e pelo momento mais
oportuno para Isabel e o seu séquito atravessarem terras castelhanas,
consideradas inseguras.
Por carta de arras datada de
24 de abril de 1282 lavrada em Castelo de Vide, Isabel de Aragão recebeu como
dote, as vilas de Abrantes, Óbidos, Alenquer, e Porto de Mós. Posteriormente
deteve ainda os castelos de Vila Viçosa, Monforte, Sintra, Ourém, Feira, Gaia,
Lamoso, Nóbrega (atualmente Ponte da Barca), Santo Estêvão de Chaves, Monforte
de Rio Livre, Portel e Montalegre, para além de rendas em numerário e das vilas
de Leiria e Arruda (1300), Torres Novas (1304) e Atouguia da Baleia (1307).
Eram ainda seus os reguengos de Gondomar, Rebordões, Codões, para além de uma
quinta em Torres Vedras e da lezíria da Atalaia.
Isabel viajou em direção ao
Vale do Ebro pela antiga Via Augusta, depois Teruel, Daroca, Calatayud seguindo
pelo corredor do vale do Rio Douro até Samora. Entrou em Portugal por Bragança,
tendo sido a boda celebrada em Trancoso, a 26 de junho de 1282. Por esse
motivo, o rei acrescentou essa vila ao dote que habitualmente era entregue às
rainhas (a chamada Casa das Rainhas, conjunto de senhorios a partir dos quais
as consortes dos reis portugueses colhiam as prendas destinadas à manutenção da
sua pessoa). Os festejos prolongaram-se por vários dias, tendo os reis
permanecido na cidade até aos primeiros dias de agosto,[8] altura em que se
mudaram para a Guarda. A finais de setembro encontravam-se em Viseu, entrando
em Coimbra a 15 de outubro para se estabelecerem no Paço Real da Alcáçova (hoje
ocupado pelo Paço das Escolas da Universidade de Coimbra).
Do seu casamento com o rei
D. Dinis teve dois filhos:
·
Constança (3 de janeiro de 1290 - 18 de
novembro de 1313), que casou em 1302 com o rei Fernando IV de Castela;
·
D. Afonso IV (8 de fevereiro de 1291 - 28 de
maio de 1357), sucessor do pai no trono de Portugal.
Santa Isabel de Portugal Curando as feridas de uma enferma, Francisco José de Goya y Lucientes, 1799
Relatos
apócrifos
Segundo uma história
apócrifa, D. Dinis não lhe teria sido inteiramente devotado e visitaria as
freiras bernardas do Convento de Odivelas (Mosteiro de São Dinis). Ao saber do
sucedido, a rainha tê-lo-á seguido com as suas aias à noite, iluminando o
caminho com archotes, e ao encontrá-lo apenas terá dito: Ide vê-las, ide
vê-las, que estamos a alumiar o caminho". Com os tempos, de acordo com a
tradição popular, uma corruptela de ide vê-las teria originado o moderno
topónimo Odivelas e alumiar teria passado a Lumiar, a zona onde se teria
encontrado o casal real. Estas interpretações, contudo, além de não serem
suportadas por relatos históricos, também não são sustentadas pelos linguistas.
Rainha
da paz
Em 1320 visitou o Principado
da Catalunha e esteve alojada algum tempo no Panteão Real e Mosteiro de Poblet,
onde já teria estado quando da viagem para se reunir com o rei português em
1282. Voltaria a visitá-lo em 1325, já viúva, o que demonstra o quanto a deve
ter impressionado o cortejo fúnebre do seu avô Jaime I de Aragão em 1278 para o
Mosteiro de Poblet, dois anos após a sua morte em Valência.
Nesta década de 1320, o
infante D. Afonso, herdeiro do trono, sentiu a sua posição ameaçada pelo favor
que o rei D. Dinis demonstrava para com um seu filho bastardo, Afonso Sanches.
O futuro D. Afonso IV declarou abertamente a intenção de batalhar contra o seu
pai, o que quase se concretizaria na chamada peleja de Alvalade. No entanto, a
intervenção da rainha conseguiu serenar os ânimos e, com a paz assinada em
1324, foi evitado um conflito armado que traria instabilidade ao reino.
D. Dinis morreu em 1325 e,
pouco depois da sua morte, Isabel terá peregrinado ao santuário de Santiago, em
Compostela na Galiza, fazendo-o montada num burro, e a última etapa a pé, onde
ofertou muitos dos seus bens pessoais. Há historiadores que defendem a ideia
que lá se terá deslocado duas vezes.
Recolheu-se por fim no então
Mosteiro de Santa Clara-a-Velha em Coimbra, vestindo o hábito da Ordem das
Clarissas mas não fazendo votos (o que lhe permitia manter a sua fortuna usada
para a caridade). Só voltaria a sair dele uma vez, pouco antes da morte, em
1336.
Nessa altura, Afonso
declarou guerra ao seu sobrinho, o rei D. Afonso XI de Castela, filho da
infanta Constança de Portugal, e portanto neto materno de Isabel, pelos maus
tratos que este infligia à sua mulher D. Maria, filha do rei português. A guerra
estalou após o noivado do neto Pedro com Constança Manuel, no ano da morte de
Isabel. No entanto, a paz chegaria somente três anos após a morte da rainha,
com a intervenção da própria Maria de Portugal, por um tratado assinado em
Sevilha em 1339.
Falecimento
e legado
A Rainha Santa Isabel vestida com o seu hábito religioso e com uma representação do milagre das rosas
Isabel faleceu, tocada pela
peste, em Estremoz, a 4 de julho de 1336, tendo deixado expresso em seu
testamento o desejo de ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde
em 1995 foi iniciada uma escavação arqueológica, após ter estado por 400 anos
parcialmente submerso pelo rio Mondego. O seu marido, D. Dinis, repousa no
Mosteiro de São Dinis em Odivelas.
Segundo uma história
hagiográfica, sendo a viagem demorada, havia o receio de o cadáver entrar em
decomposição acelerada pelo calor que se fazia, e conta-se que a meio da viagem
debaixo de um calor abrasador, o ataúde começou a abrir fendas, pelas quais
escorria um líquido, que todos supuseram provir da decomposição cadavérica.
Qual não foi, porém a surpresa quando notaram que em vez do mau cheiro
esperado, saía um aroma suavíssimo do ataúde.
Isabel terá sido uma rainha
muito piedosa, passando grande parte do seu tempo em oração e ajuda aos pobres.
Por isso mesmo, ainda em vida começou a gozar da reputação de santa, tendo esta
fama aumentado após a sua morte. Foi beatificada pelo Papa Leão X em 1516,
vindo a ser canonizada, por especial pedido da dinastia filipina, que colocou
grande empenho na sua canonização, pelo Papa Urbano VIII em 1625. É
reverenciada a 4 de julho, data do seu falecimento.
Com a invasão progressiva do
convento de Santa Clara-a-Velha de Coimbra pelas águas do rio Mondego, houve
necessidade de construir o novo convento de Santa-Clara-a-Nova no século XVII,
para onde se procedeu à trasladação do corpo da Rainha Santa.
No dia 27 de Outubro de
1677, ocorreu a trasladação do corpo da Rainha Santa Isabel do túmulo de pedra,
onde jazia desde 1336, para o túmulo de prata mandado fazer por D. Afonso de
Castelo Branco, 41.º Bispo de Coimbra, 6.º Conde de Arganil, que chegou a ser
vice-rei de Portugal.
No dia 29 de Outubro de 1677,
ocorreu a trasladação do corpo da Rainha Santa Isabel, já no túmulo de prata,
desde o velho Mosteiro (Santa Clara-a-Velha) para o novo Mosteiro (Santa
Clara-a-Nova).
O seu corpo encontra-se
incorrupto no túmulo de prata e cristal.
No século XVII, a rainha D.
Luísa de Gusmão, regente em nome de seu filho D. Afonso VI, transformou em
capela o quarto em que a Rainha Santa Isabel havia falecido no castelo de
Estremoz.
Atualmente, inúmeras escolas
e igrejas ostentam o seu nome em sua homenagem. É ainda padroeira da cidade de
Coimbra, cujo feriado municipal coincide com o dia da sua memória (4 de julho),
e também em outras localidades fora de Portugal, como é o caso da província
filipina de Basilan. Alfredo Marceneiro dedicou-lhe o fado Rainha Santa, com
letra de Henrique Rego. Desde a criação em 1819 da diocese de San Cristóbal de
La Laguna também chamada diocese de Tenerife (Ilhas Canárias), Santa Isabel de
Portugal é co-padroeira da mesma e da catedral diocesana por Bula do Papa Pio
VII.
O seu túmulo, bem como o
Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, está confiado à guarda da Confraria da Rainha
Santa Isabel.
A
lenda do milagre das rosas
A história mais popular da Rainha Santa Isabel é sem dúvida a do milagre das rosas. Segundo a lenda portuguesa, a rainha saiu do Castelo de Leiria numa manhã de Inverno para distribuir pães aos mais desfavorecidos. Surpreendida pelo soberano, que lhe inquiriu onde ia e o que levava no regaço, a rainha teria exclamado: São rosas, Senhor! Desconfiado, D. Dinis terá inquirido: Rosas, em Janeiro? D. Isabel expôs então o conteúdo do regaço do seu vestido e nele havia rosas, ao invés dos pães que ocultara.
A época exata do
aparecimento desta lenda na tradição portuguesa não está determinada. Não
consta de uma biografia anônima sobre a rainha escrita no século XIV, mas
circularia oralmente pelo país nas últimas décadas desse século. O mais antigo registro
conhecido é um retábulo quatrocentista conservado no Museu Nacional de Arte da
Catalunha.
O primeiro registro escrito
do milagre das rosas encontra-se na Crônica dos Frades Menores:
“levava uma vez a Rainha
santa moedas no regaço para dar aos pobres (…) Encontrando-a o Rei lhe
perguntou o que levava, (…) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu o Rei não
sendo tempo delas.— Crônica dos Frades Menores, Frei Marcos de Lisboa, 1562
Em meados do século XVI a
lenda já tinha sido amplamente difundida, e foi ilustrada por uma pintura anônima,
conhecida por Rainha Santa Isabel, no Museu Machado de Castro de Coimbra, e por
uma iluminura da Genealogia dos Reis de Portugal de Simão Bening sobre desenho
de António de Holanda. No século XVII surgem mais dois trabalhos anônimos
retratando a rainha, a pintura a óleo no átrio do Instituto de Odivelas e o
retábulo do Mosteiro do Lorvão.
Note-se que da sua tia
materna, Santa Isabel da Hungria, assim como de Santa Cacilda e de Santa Zita,
se conta uma lenda muito idêntica à do Milagre das Rosas.
Também reza-se a história
nos Açores que pela sua bondade ao alimentar os pobres se criou as tradicionais
Festas de Espírito Santo que ocorrem nas ilhas dos Açores entre Maio e Setembro
de cada ano.
Fonte: Wikipédia, a
enciclopédia livre
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