MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO VII – DA VOLTA À VIDA CORPORAL
A infância
385. Que é o que motiva a
mudança que se opera no caráter do indivíduo em certa idade, especialmente ao
sair da adolescência? É que o Espírito se modifica?
“É
que o Espírito retoma a natureza que lhe é própria e se mostra qual era. “Não
conheceis o que a inocência das crianças oculta. Não sabeis o que elas são, nem
o que foram, nem o que serão. Contudo, afeição lhes tendes, as acaricias, como
se fossem parcelas de vós mesmos, a tal ponto que se considera o amor que uma
mãe consagra a seus filhos como o maior amor que um ser possa votar a outro.
Donde nasce o meigo afeto, a terna benevolência que mesmo os estranhos sentem
por uma criança? Sabeis? Não. Pois bem! Vou explicá-lo.”
“As crianças são os seres que Deus manda a novas existências. Para que não lhe possam imputar excessiva severidade, dá-lhes Ele todos os aspectos da inocência. Ainda quando se trata de uma criança de maus pendores, cobrem-se-lhe as más ações com a capa da inconsciência. Essa inocência não constitui superioridade real com relação ao que eram antes, não. É a imagem do que deveriam ser e, se não o são, o consequente castigo exclusivamente sobre elas recai.
“Não
foi, todavia, por elas somente que Deus lhes deu esse aspecto de inocência; foi
também e sobretudo por seus pais, de cujo amor necessita a fraqueza que as
caracteriza. Ora, esse amor se enfraqueceria grandemente à vista de um caráter
áspero e intratável, ao passo que, julgando seus filhos bons e dóceis, os pais
lhes dedicam toda a afeição e os cercam dos mais minuciosos cuidados. Desde
que, porém, os filhos não mais precisam da proteção e assistência que lhes
foram dispensadas durante quinze ou vinte anos, surge-lhes o caráter real e
individual em toda a nudez. Conservam-se bons, se eram fundamentalmente bons;
mas, sempre irisados de matizes que a primeira infância manteve ocultos.
“Como
vedes, os processos de Deus são sempre os melhores e, quando se tem o coração
puro, facilmente se lhes apreende a explicação.
“Com
efeito, ponderai que nos vossos lares possivelmente nascem crianças cujos
Espíritos vêm de mundos onde contraíram hábitos diferentes dos vossos e
dizei-me como poderiam estar no vosso meio esses seres, trazendo paixões
diversas das que nutris, inclinações, gostos, inteiramente opostos aos vossos;
como poderiam enfileirar-se entre vós, senão como Deus o determinou, isto é,
passando pelo tamis da infância? Nesta se vêm confundir todas as ideias, todos
os caracteres, todas as variedades de seres gerados pela infinidade dos mundos
em que medram as criaturas. E vós mesmos, ao morrerdes, vos achareis num estado
que é uma espécie de infância, entre novos irmãos. Ao volverdes à existência extraterrena,
ignorareis os hábitos, os costumes, as relações que se observam nesse mundo,
para vós, novo. Manejareis com dificuldade uma linguagem que não estais
acostumado a falar, linguagem mais vivaz do que o é agora o vosso pensamento.
(319)
“A
infância ainda tem outra utilidade. Os Espíritos só entram na vida corporal
para se aperfeiçoarem, para se melhorarem. A delicadeza da idade infantil os torna
brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que devam fazê-los
progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres e reprimir os
maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão sagrada de que terão
de dar contas.
“Assim,
portanto, a infância é não só útil, necessária, indispensável, mas também consequência
natural das leis que Deus estabeleceu e que regem o Universo.”
Mudanças
A mudança que se opera nas
crianças ao alcançarem a maturidade dos corpos vem da sua liberdade de
expressar o que são. Ao se ajustarem mais os laços da reencarnação, a alma fica
mais consciente do seu estado espiritual, e passa a ser o que realmente é.
O Espírito tem necessidade
de voltar ao corpo quando precisa reparar suas faltas, ou quando a lei o induz
para o devido despertamento espiritual, e é nesse reingresso na carne que Deus
lhes dá a capa de inocência. Desta forma, receberá desde o princípio da sua
nova existência certa dose de carinho, por ser sua presença uma flor que
desabrocha, sorrindo para a vida. Se esse Espírito expressasse imediatamente o
que ele é, talvez suscitasse nos próprios pais antipatia, vibrando neles o
magnetismo que caracteriza sua presença. Mas Deus, como é sábio e justo, dá-lhe
uma candura suficiente para que sobre ele os olhos recaiam com amor, cobrindo-o
de toda a proteção.
As mudanças nas criaturas
são gradativas; essa é a ação das leis de amor, derramando sobre elas a
misericórdia no sentido de que sustentem uma posição melhorada na sua
existência que começa. Se essas crianças ficassem no mundo espiritual,
esquecendo a reencarnação, seriam necessárias certas imposições, drásticas
demais para seu tamanho, no sentido de corrigi-las. Mas a bondade mostra o amor
do Pai Celestial nos dando oportunidades melhores para o prosseguimento do
nosso despertamento.
Deus cobre os Espíritos
inferiores com a inocência e reveste-os com o amor, dando oportunidades às
crianças, quando Espíritos inferiores, de crescerem. Quando esses Espíritos
recebem no lar motivações para melhorarem, nada disso se perde, pois eles
absorvem as lições, por leis que asseguram a vida, e que mais tarde expressarão
como diretrizes de luz nos caminhos para a paz.
Devemos estimar e estudar a
vida e o porquê vivemos na Terra, ajudando as crianças a se libertarem das
contingências perigosas que devem passar como adultos. O corpo é como um cavalo
bem treinado, mas precisa ainda de freio e espora. Quando lerdo a espora deve
funcionar, quando adiantado em demasia, o bridão regula seu ímpeto. As mudanças
da alma são constantes, porque é mudando-se que se processa a vida, somando luz
onde a experiência se expande em atividades nobres.
Os pais devem estar
preparados para receberem todos os tipos de Espíritos que Deus lhes enviará
para a devida educação dos seus impulsos inferiores. Pode nascer num lar, um
Espírito elevado, porém, no meio desses devem vir irmãos cheios de paixões
inferiores, mostrando aos pais a necessidade de trabalhar em favor da própria
humanidade. Quem educa bem o seu filho, colabora para a paz dos que lhes
cercam, para seus pais e para o mundo inteiro. Os pais devem pensar que foram
crianças também, e se não foram bem educados é motivo maior para educar seus
filhos. Educação é a semente de luz que no futuro ilumina quem acendeu essa
claridade.
É na fase de criança que o
Espírito tem mais possibilidade de reformar seus caracteres. O corte das
arestas se processa com mais eficiência nos seres em formação. Não descuidemos
dos filhos e ajudemos aos outros, pois temos muitos meios de servir de
instrumento para a educação daqueles que nos rodeiam.
Não devemos cogitar muito
sobre o porquê de o Espírito voltar à Terra como criança. Devemos, sim, fazer o
que estiver ao nosso alcance para melhorar-lhes os maus pendores,
certificando-nos de que tudo que fizemos de bom, é a luz nos nossos caminhos e
a paz para a humanidade inteira.
Fonte:
O livro dos Espíritos. Allan
Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.
Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes.
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