O livro dos espíritos. Questão 370

MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS

CAPÍTULO VII – DA VOLTA À VIDA CORPORAL

Influência do organismo

370. Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?

“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”

a) - Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito?

“O termo - unicamente - não exprime com toda a exatidão o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.”

A.K.: Encarnado, traz o Espírito certas predisposições e, se se admitir que a cada uma corresponda no cérebro um órgão, o desenvolvimento desses órgãos será efeito e não causa. Se nos órgãos estivesse o princípio das faculdades, o homem seria máquina sem livre-arbítrio e sem a responsabilidade de seus atos. Forçoso então fora admitir-se que os maiores gênios, os sábios, os poetas, os artistas, só o são porque o acaso lhes deu órgãos especiais, donde se seguiria que, sem esses órgãos, não teriam sido gênios e que, assim, o maior dos imbecis houvera podido ser um Newton, um Vergílio, ou um Rafael, desde que de certos órgãos se achassem providos. Ainda mais absurda se mostra semelhante hipótese, se a aplicarmos às qualidades morais. Efetivamente, segundo esse sistema, um Vicente de Paulo, se a Natureza o dotara de tal ou tal órgão, teria podido ser um celerado e o maior dos celerados não precisaria senão de um certo órgão para ser um Vicente de Paulo. Admita-se, ao contrário, que os órgãos especiais, dado existam são consequentes, que se desenvolvem por efeito do exercício da faculdade, como os músculos por efeito do movimento, e a nenhuma conclusão irracional se chegará. Sirvamo-nos de uma comparação trivial à força de ser verdadeira. Por alguns sinais fisionômicos se reconhece que um homem tem o vício da embriaguez. Serão esses sinais que fazem dele um ébrio, ou será a ebriedade que nele imprime aqueles sinais? Pode dizer-se que os órgãos recebem o cunho das faculdades.

Efeito e causa

É importante que não se confunda efeito com causa. Os efeitos nos mostram que existe uma fonte de todas essas consequências. Todas as faculdades da alma dimanam dela mesmo e, quando encarnada, ela se serve dos órgãos para se mostrar ao mundo tal qual ela é, na soma de suas qualidades espirituais.

Os efeitos são anúncio de que existe uma causa. Certamente que os órgãos materiais, como instrumentos do Espírito, estando danificados, esse encontra dificuldades para expressar seus sentimentos, e dar sua mensagem falada e por vezes escrita aos seus irmãos em caminho.

E ainda mais, existe a comunicação entre os dois mundos, desde quando o homem é homem; e a matéria fica no meio das duas inteligências, em se servindo na ampliadora, e às vezes condensadora, um reduz e outro amplia suas vibrações, para que exista a sintonia de entendimentos; eis aí a mediunidade.

Se podemos dizer, a matéria é oprimida, para que aconteça sua purificação. O Espírito “intelectualiza a matéria”, e ela avança com o progresso, para fins que os próprios homens desconhecem, embora alguns já tenham uma ideia do que poderá ser a matéria viajando nos milênios incontáveis; pelo que sabemos, o princípio de todas as diversidades dos dons reside no amor, amor esse ainda desconhecido nos liames da carne.

Um exemplo dessa fonte pura se encontra em Jesus Cristo, onde o amor era um celeiro de luz, de modo a tudo fazer com uma simples vontade sua. Paulo, o apóstolo, chegou a compreender esse amor de Jesus, e escreveu alguma coisa sobre ele nos seus sagrados pergaminhos. Os cristãos da atualidade conhecem um pouco desse amor, mas, na feição da teoria. Esse estado d’alma somente é conquistado ou despertado no correr de bilhões de anos, no exercício do bem sem interrupção. A alma somente cresce no Amor. Ele, por enquanto, se encontra dividido no mundo, para que os homens possam suportar essa verdade mais profunda.

As faculdades do Espírito independem dos órgãos; a alma precisa deles para realizar as comunicações na faixa material, e essa comunicação pode ser cerceada pelas decadências dos órgãos em questão. O Espírito encarnado, quando em duras provas, tem os seus órgãos dificultando que ele expresse suas faculdades, que são interrompidas, no sentido de que os sentimentos se eduquem para novas tarefas no porvir. Nunca, porém, da matéria nasceram as faculdades inteligentes; a causa de todas elas se encontra na alma, semente divina de Deus, que se reveste de variados corpos, como se dá na própria natureza.

Pode-se dizer que o universo é o corpo de Deus, tornando-se visível para os habitantes dos vários mundos. Esses mundos, como os Espíritos, são instrumentos da vontade de Deus em todas as direções da vida. Para confirmar a existência desse Pai de amor, basta verificarmos entre as coisas com que lidamos, o que não foi criado pelos homens. Quem as criou? A mecânica do universo e a harmonia da criação parte de uma causa divina, na sublime expressão do amor... E lembremo-nos da palavra de João, o Evangelista: Deus é Amor!

Fonte:

O livro dos Espíritos. Allan Kardec. Tradução de Guillon Ribeiro. FEB, DF.

Filosofia espírita. Psicografada por João Nunes Maia/Miramez. Fonte viva, Belo Horizonte. 10 volumes. 

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