1. A ciência espírita prova que a alma não é uma entidade ideal, uma substância imaterial sem extensão, mas sim que é provida de um corpo sutil, onde se registram os fenômenos da vida mental e a que foi dado o nome de perispírito. O “eu” pensante é inteiramente distinto do seu envoltório, mas Espírito e perispírito são inseparáveis um do outro. (Pág. 12)
2. Foi pela observação que os espíritas
descobriram a existência do perispírito. Aliás, os magnetizadores já haviam
chegado à mesma conclusão, valendo-se de outros métodos. Assim é que, segundo
Billot, Deleuze e Cahagnet, a alma conserva, após a morte, uma forma corporal
que a identifica, observação confirmada pelos médiuns videntes. (Pág. 14)
3. As narrativas dos sonâmbulos e dos
videntes têm grande valor, mas não nos dão uma prova material. Eis por que os
espíritas fizeram todos os esforços por obter a prova inatacável e o
conseguiram: as fotografias de Espíritos desencarnados, as impressões por estes
deixadas em substâncias moles ou friáveis, e as moldagens de formas
perispirituais. (Pág. 14)
4. Esse caminho foi aberto pelos fenômenos de
desdobramento do ser humano, denominados por vezes de bicorporeidade Há no
momento mais de dois mil fatos, bem verificados de aparições de vivos, mas os
pesquisadores não se limitaram a observá-los e chegaram a reproduzi-los
experimentalmente. (Pág. 15)
5. Descobriu-se, por fim, que o organismo fluídico contém todas as leis organogênicas pelas quais o corpo se forma, o que explica como a forma típica de um indivíduo pode manter-se durante a vida toda, sem embargo da renovação incessante de todas as partes do corpo material. (Pág. 16)
6. A natureza íntima da alma ainda nos é
desconhecida. Quando dizemos que ela é imaterial, devemos entender essa
expressão em sentido relativo e não absoluto, porquanto a imaterialidade
completa seria o nada. Ora, a alma ou o espírito é alguma coisa que pensa,
sente e quer. Assim, quando a qualificamos de imaterial, queremos dizer que sua
essência difere tanto do que conhecemos fisicamente, que nenhuma analogia
guarda ela com a matéria. (Pág. 17)
7. O corpo espiritual reproduz, quase sempre,
o tipo que o Espírito apresentava na sua última encarnação e é provavelmente a
essa semelhança que se devem as primeiras noções acerca da imortalidade. (Pág.
18)
8. Em todas as partes do globo, mesmo entre
os indígenas, a sobrevivência do ser pensante é unanimemente afirmada.
Remontando aos mais antigos testemunhos que possuímos - isto é, aos hinos do
Rigveda - vemos que os homens que viviam nas faldas do Himalaia, no Sapta Sindhu, tinham intuições claras
sobre o além da morte. (Pág. 19)
9. As modernas experiências sobre os
Espíritos que se deixam fotografar ou se materializam mostram que o perispírito
é uma realidade física, tão inegável como o corpo material. Ora, era essa a
crença dos antigos habitantes da margem do Nilo e constitui fato digno de nota
que, no alvorecer de todas as civilizações, topemos com crenças
fundamentalmente semelhantes. (Esta obra surgiu logo após A Evolução Anímica,
que é de 1895.) (Pág. 21)
10. No Egito, antes mesmo das primeiras
dinastias históricas, surgiu a idéia de que somente “uma parte do homem” ia
viver segunda vida. Não era uma alma, era um corpo, diferente do primeiro, mas
proveniente deste, embora mais leve, menos material. Esse corpo, quase
invisível, saído do primeiro corpo mumificado, estava sujeito também a todos os
reclamos da existência: era preciso alojá-lo, nutri-lo, vesti-lo. Sua forma, no
outro mundo, reproduzia - pela semelhança - o primeiro corpo. É o ka, o duplo, ao qual, no antigo Império
- 5004 a 3064 a.C. -, se prestava o culto aos mortos. (Pág. 22)
11. Pelos fins da 18a dinastia - 3064 a 1703
a.C. - os sacerdotes conceberam um sistema em que coubessem essa e outras
hipóteses formuladas sobre esse tema. A pessoa humana foi tida, então, como
composta de quatro partes: o corpo material, o duplo (ka), a substância inteligente (khou)
e a essência luminosa (ba ou baí). Essas quatro partes reduziam-se,
no entanto, a duas, visto que o duplo (ka)
era parte integrante do corpo material durante a vida, e a essência luminosa (ba) se achava contida na substância
inteligente (khou). A imortalidade da
alma substituía, assim, a imortalidade do corpo, que fora a primeira concepção
egípcia. (Págs. 22 e 23)
12. Na China, o culto dos Espíritos se impôs
desde a mais remota Antigüidade. Confúcio respeitou essas crenças e, certo dia,
entre os que o cercavam, admirou umas máximas - escritas 1.500 anos antes -
sobre uma estátua de ouro, no Templo da Luz, sendo uma delas a seguinte:
“Falando ou agindo, não penses, embora te aches só, que não és visto, nem
ouvido: os Espíritos são testemunhas de tudo”. (Pág. 23)
13. Na China de então se acreditava que os
céus eram povoados, como a Terra, não apenas pelos gênios, mas também pelas
almas dos homens que neste mundo viveram. A par do culto dos Espíritos, estava
o dos antepassados, que tinha por objeto, além de conservar a lembrança dos
avós e de os honrar, atrair a atenção deles para os seus descendentes, que lhes
pediam conselhos em todas as circunstâncias importantes da vida. (Pág. 23)
14. A natureza da alma era bem conhecida dos
chineses. Confúcio atribuía aos Espíritos um envoltório semimaterial, um corpo
aeriforme. Quando o budismo penetrou na China, assimilou-lhe as antigas crenças
e continuou as relações estabelecidas com os mortos. (Pág. 24)
15. O Sr. Estanislau Julien narra assim a
aparição do Buda, devida a uma prece feita por Hiuen-Thsang, que viveu por
volta do ano 650 d.C.: “Tomado de alegria e de dor, recomeçou ele as suas
saudações reverentes e viu brilhar e apagar-se qual relâmpago uma luz do tamanho
de uma salva. Então, num transporte de júbilo e amor, jurou que não deixaria
aquele sítio sem ter visto a sombra augusta do Buda. Continuou a prestar-lhe
suas homenagens e, ao cabo de duzentas saudações, teve de súbito inundada de
luz toda a gruta e o Buda, em deslumbrante brancura, apareceu,
desenhando-se-lhe majestosamente a figura sobre a muralha”. “Ofuscante fulgor
iluminava os contornos da sua face divina.” (Pág. 24)
16. Essa aparição, comenta Delanne, lembra a
transfiguração de Jesus, quando se mostraram Moisés e Elias. Os Espíritos
superiores têm um corpo de esplendor incomparável, visto que sua substância
fluídica é mais luminosa do que as mais rápidas vibrações do éter. (Pág. 25)
17. No antigo Irã - a Pérsia - deparamos com
uma concepção especial acerca da alma. Zoroastro pode reivindicar a paternidade
da invenção do que é hoje chamado o “eu” superior, a consciência subliminal e,
ainda, a paternidade da teoria dos anjos guardiães. (Pág. 25)
18. Segundo o grande legislador, abaixo do
Ser Incriado, eterno, existem duas emanações opostas: Ormuzd e Arimã. O
primeiro tem o encargo de criar e conservar o mundo. Arimã procura combatê-lo e
destruir o mundo, se puder. Dois gênios celestes, emanados do Criador, ajudam
Ormuzd no trabalho da criação, além de uma série de Espíritos, de gênios, de
ferúers, pelos quais pode o homem crer que tem em si algo de divino. O ferúer
é, ao mesmo tempo, inspirador e um vigia e sua missão é combater os maus gênios
produzidos por Arimã. (Pág. 25)
19. Na Judéia, ao tempo de Moisés, os hebreus
desconheciam inteiramente qualquer idéia de alma. Foi preciso o cativeiro de
Babilônia para que esse povo bebesse, entre os seus vencedores, a ideia da
imortalidade e da verdadeira composição do homem. Os cabalistas, intérpretes do
esoterismo judeu, chamam nephesh ao corpo fluídico da alma. (Pág. 26)
20. Os gregos, desde a mais alta Antigüidade,
estiveram na posse da verdade sobre o mundo espiritual. Em Homero, é freqüente
os moribundos profetizarem e a alma de Pátroclo vem visitar Aquiles na sua
tenda. Segundo a maioria dos filósofos gregos, cada homem tem por guia um
daimon particular, que lhe personifica a individualidade moral. A generalidade
dos humanos era guiada por Espíritos vulgares; os doutos mereciam visitados por
Espíritos superiores. (Págs. 26 e 27)
21. Tales de Mileto, que viveu seis séculos e
meio antes da era cristã, ensinava que o Universo era povoado de daimons e de
gênios, testemunhas secretas das nossas ações, mesmo dos nossos pensamentos,
além de nossos guias espirituais. Sócrates e Platão, como achassem
excessivamente grande a distância entre Deus e o homem, enchiam-na de
Espíritos, considerando-os gênios tutelares dos povos e dos indivíduos e os
inspiradores dos oráculos. (Pág. 27)
22. Entre os primeiros cristãos é conhecida a
descrição que Paulo de Tarso faz do corpo espiritual, imponderável e
incorruptível. Orígenes, em seus Comentários sobre o Novo Testamento, afirma
que esse corpo, dotado de uma virtude plástica, acompanha a alma em todas as
suas existências e em todas as suas peregrinações, para penetrar e enformar os
corpos mais ou menos grosseiros que ela reveste. (Pág. 29)
23. Orígenes e os Pais alexandrinos propunham
a si mesmos a questão de saber qual o corpo que ressuscitaria no juízo final e
resolveram-na, atribuindo a ressurreição apenas ao corpo espiritual, como o
fizeram Paulo e mais tarde o próprio Santo Agostinho, figurando como
incorruptíveis, finos, tênues e ágeis os corpos dos eleitos. (Pág. 29)
24. A escola neoplatônica de Alexandria foi
notável de mais de um ponto de vista. As vidas sucessivas e o perispírito
faziam parte do seu ensino e Plotino afirma claramente a reencarnação, como
meio de progresso do espírito. (Págs. 31 e 32)
25. Após referir, de modo ligeiro, o que
Dante, Milton e Leibnitz disseram sobre o corpo fluídico da alma, Delanne
transcreve parte das idéias que Charles Bonnet inseriu em seu livro Ensaio
analítico. Segundo Bonnet, uma vez que o homem é chamado a habitar
sucessivamente dois mundos diferentes, sua constituição originária tem de
conter coisas relativas a esses dois mundos. “O corpo animal - diz Bonnet -
tinha que estar em relação direta com o primeiro mundo, o corpo espiritual com
o segundo.” (Págs. 33 a 35)
26. Comentando o assunto, Delanne diz que no
organismo humano existe o corpo destinado a uma vida superior e é graças a ele
que podemos conservar o tesouro das nossas aquisições intelectuais. “Mais
adiante - acrescenta ele - comprovaremos que o perispírito é uma realidade
física tão certa quanto a do organismo material: ele é visto, tocado,
fotografado. Numa palavra: o que não passava de teoria filosófica, grandiosa e
consoladora, mas sempre negável, é exato, tornou-se um fato científico, que
oferece àqueles remígios do espírito a consagração inatacável da experiência.”
(Pág. 38)
27. Não são novos os fenômenos estudados pelo
Espiritismo. Eles produziram-se em todos os tempos e sempre houve casas
mal-assombradas e aparições. O magnetismo foi, contudo, o primeiro a fornecer
os meios de penetrar-se no domínio inacessível do amanhã da morte. (Pág. 40)
28. O sonambulismo, descoberto por de
Puységur, constituiu o instrumento de investigação do mundo novo que se
apresentava. Submetidos a esse estado nervoso, puderam os sonâmbulos pôr-se em
comunicação com as almas desencarnadas e descrevê-las minuciosamente. (Pág. 41)
29. Segundo a biografia que o dr. Kerner
escreveu sobre a Sra. Hauffe, mais conhecida sob a designação de A vidente de
Prévorst, ela não precisava adormecer para ver os Espíritos. Quando a
interrogavam, a vidente dizia ter sempre junto de si um anjo ou daimon que a
advertia dos perigos a serem evitados por ela e por outras pessoas. Era o
Espírito de sua avó, Schmidt Gall. (Pág. 41)
30. A avó apresentava-se revestida, como
todos os Espíritos femininos que lhe apareciam, de uma túnica branca com cinto
e um grande véu igualmente branco. “As almas - dizia ela - não produzem sombra.
Têm forma acinzentada. Suas vestes são as que usavam na Terra, mas também
acinzentadas, quais elas próprias. As melhores trazem apenas grandes túnicas
brancas e parecem voejar, enquanto as más caminham penosamente. São brilhantes
os seus olhos. Elas podem, além de falar, produzir sons, tais como suspiros,
ruge-ruge de seda ou papel, pancadas nas paredes e nos móveis, ruídos de areia,
de seixos, ou de sapatos a roçar o solo. São também capazes de mover os mais
pesados objetos e de abrir e fechar as portas.” (Pág. 41)
Fonte:
A alma é imortal, Gabriel Delanne, traduzida por Guillon Ribeiro. FEB, 6a edição.

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