61. A 20 de outubro de 1863, na Sociedade de Estudos Espíritas de Turim, o professor Morgari relatou um fato muito interessante ocorrido em Fossano, quando o Espírito de determinada mulher dirigiu tocantes palavras ao professor P..., seu marido. Depois de falar-lhe, a pranteada esposa manifestou o desejo de ver os filhinhos do casal, que dormiam, naquele momento, em aposentos contíguos. A mesa passou então a mover-se com grande rapidez e penetrou no aposento mais próximo, onde uma das crianças, menina de três anos, dormia profundamente. Acercando-se de seu berço, a mesa se ergueu e se inclinou, no ar, para a criancinha que, sempre a dormir, lhe estendeu os braços e exclamou: “Mamãe! oh! mamãe!” Inquirida pelo pai, a menina confirmou que a estava realmente vendo. (Págs. 70 e 71)
62. O testemunho de uma criança de três anos
reconhecendo sua mãe não poderá ser suspeito, nem mesmo aos mais cépticos.
“Ninguém - assevera Delanne - poderá ver aí qualquer sugestão, pois que a
criança dormia e era aquela a primeira vez que seu pai e sua tia se ocupavam
com o Espiritismo. O que aí há é a confirmação da crença de que a mãe
sobrevivia no espaço e continuava a prodigalizar seu amor ao marido e aos
filhos.” (Pág. 71)
63. Outras manifestações interessantes foram
registradas pelo dr. Moroni, co-autor do livro Alguns ensaios de mediunidade
hipnótica, publicado em 1889. Servia de instrumento ao dr. Moroni, para
descrever os Espíritos que se manifestavam por meio da mesa, uma mulher chamada
Isabel Cazetti. Em muitas ocasiões foi-lhe dado verificar que eram contrárias
às crenças dos assistentes as indicações que a sonâmbula ministrava. E esta
descrevia às vezes um Espírito que não era o evocado e, com efeito, a mesa
deletreava um nome diverso do Espírito que fora chamado. (Págs. 71 e 72)
64. Após transcrever algumas manifestações verificadas pelo Dr. Moroni, Delanne conclui que: I) Tais experiências provam que são mesmo os Espíritos, e não entidades quaisquer, que se manifestam. II) As pretensas explicações baseadas na transmissão do pensamento do evocador ao médium não se podem aplicar a fatos como o descrito no item anterior, uma vez que o médium anuncia um nome diferente do evocado e no qual os assistentes não pensam. III) As circunstâncias em que se dão os fenômenos e as mensagens ditadas pelo comunicante afastam a idéia de que o autor da manifestação seja um ser híbrido, formado dos pensamentos de todos os assistentes, nem tampouco elementais ou influências demoníacas. (Págs. 72 e 73)
65. Na verdade, informa Delanne, são as almas
dos mortos que afirmam a sua sobrevivência por ações mecânicas sobre a matéria.
Não apresentam eles uma forma indeterminada, mas a forma do corpo terreno que
tiveram durante a encarnação. A inteligência se lhes conservou lúcida e vivaz e
eles revelam-se em plena atividade após a morte. “Temos em nossa presença -
atesta o autor desta obra - o mesmo ser que vivia outrora neste mundo e que
apenas mudou de estado físico, sem nada perder da sua personalidade de
outrora.” (Pág. 73)
66. Numa das experiências relatadas pelo Dr.
Moroni, o médium - que estava magneticamente adormecido - exclamou de súbito,
agitando um braço: “Ai!”, acrescentando que fora Isidoro (irmão de Moroni,
falecido alguns anos antes) quem o beliscara. Examinando depois o braço do
médium, Dr. Moroni encontrou ali, efetivamente, uma marca semelhante a um
beliscão. (Pág. 74)
67. O dr. Moroni perguntou-lhe então: “Se é
verdade que meu irmão se acha presente aqui, dê-me ele uma prova disso”. O
médium, sorrindo, respondeu: “Olhe lá”, e apontou com o dedo uma parede que
ficava distante. O médico olhou e viu ali um cabide, dependurado num prego,
mover-se vivamente para a direita e para a esquerda, como se uma mão invisível
o empurrasse num e noutro sentido. (Pág. 74)
68. Notemos que nesse caso a afirmativa do
médium foi confirmada, corroborada por duas manifestações materiais - o
beliscão em seu braço e o movimento do cabide -, o que indica que o fenômeno
não se originou de uma exteriorização do médium, mas da ação de um Espírito que
lhe era estranho. (Pág. 74)
69. Numa carta firmada pelo telegrafista Luís
Delatre em 10-10-1896, ele relata uma experiência de tiptologia realizada em
Meurchin, pequena aldeia do Pas-de-Calais. Iniciada a sessão, um Espírito
vale-se das pancadas para dizer seu nome: Maria José. Presente à reunião, o Sr.
Sauvage exclama: “É minha mãe. Aliás, acabo de ver-lhe o espectro diante de
mim; mas, passou apenas e logo desapareceu”. O Espírito confirmou a assertiva.
(Págs. 76 e 77)
70. Logo depois dessa visão, a mesa se pôs de
novo em movimento, dando pulos tão violentos que assustaram o grupo. Feita uma
oração, a mesa se acalmou e outro Espírito se anunciou através de pancadas,
dizendo ser a primeira mulher do sr. Grégoire, presente à sessão. O médium Sauvage
viu então uma mulher, com uma coifa branca e um lenço por cima. “É a touca que
usou na Bélgica durante a sua enfermidade”, esclareceu Grégoire. (Pág. 77)
71. Luís Delatre revela ainda que na mesma
sessão o sr. Sauvage viu o Espírito de uma anciã, bastante corpulenta, rosto
redondo, maçãs salientes, olhos pardos, cabelos castanhos, que sorria a olhar
para o telegrafista. Era a sua própria mãe, que - valendo-se do sr. Sauvage -
conversou longamente com o filho, dando-lhe provas convincentes da realidade de
sua presença no recinto. (Págs. 77 e 78)
72. Achava-se o sr. Alexandre Delanne em
Cimiez, perto de Nice, onde se encontrou com o professor Fleurot e sua mulher,
ocasião em que dita senhora revelou-lhe um sonho que tivera seis meses antes
com Blaise Pascal. Pelo menos foi esse o nome que se formou por cima da cabeça
de um vulto com quem ela conversara durante o sonho. Para certificar-se de que
vira realmente o grande pensador francês, no dia seguinte ela foi ao mais
afamado livreiro de Nice, para comprar um retrato de Blaise Pascal, mas nenhuma
das gravuras reproduzia os traços do desconhecido que lhe falara. (Págs. 80 e
81)
73. Voltando a ver repetidas vezes, durante o
sono, o mesmo vulto, que lhe prometeu velar por ela durante sua existência
terrestre, a sra. Fleurot perguntou-lhe se, em vida, haveria algum retrato que
reproduzisse sua imagem, inclusive uma pequena deformidade do lábio que ele
trazia na forma espiritual. Pascal disse-lhe que sim: “Procura e acharás!”
(Pág. 81)
74. Após haver vasculhado, em vão, as
livrarias de Marselha e Lião, o casal teve a inspiração de ir a
Clermont-Ferrand, onde ambos viram coroada de êxito a perseverança demonstrada.
Em casa de um negociante de antiguidades, havia um retrato de Pascal, com a
deformação do lábio inferior, tal qual a sra. Fleurot vira em sonho. (Pág. 81)
75. Além de comprovar a real identidade do
Espírito, esse fato justifica por que Pascal dissera à Sra. Fleurot no primeiro
dos sonhos: “Se nos houvéramos apresentado a ti sob uma forma inteiramente espiritualizada,
não nos terias visto, nem, ainda menos, reconhecido”. Embora os Espíritos
adiantados - como ensina Kardec - sejam invisíveis para os que lhes são muito
inferiores quanto ao moral, nada obsta a que eles retomem o aspecto que tinham
na Terra, aspecto que podem reproduzir com perfeita fidelidade, até nas mínimas
particularidades. (Pág. 82)
76. O mesmo fato se deu no caso do retrato do
célebre poeta Vergílio, descrito assim, em 25-9-1884, pela Sra. Lúcia Grange,
diretora do jornal La Lumière e extraordinária médium vidente: “Vergílio -
Coroado de louros. Rosto forte, um tanto longo; nariz saliente, com uma bossa
do lado; olhos azul-cinza-escuros; cabelos castanho-escuros. Revestido de longa
túnica, tem todas as aparências de um homem robusto e sadio”. (Pág. 82)
77. Logo que foi publicado, qualificaram esse
retrato de fantástico e suspeito, porque os traços de Vergílio haviam de ser
delicados, visto que ele fora muito feminil, “mais mulher do que uma mulher”.
Que responder a tais críticas? (Pág. 82)
78. Nada podia ser feito pela vidente, até
que uma inesperada descoberta lhe veio dar razão. “Recentemente - informa
Delanne - nuns trabalhos de reparação que se faziam em Sousse, encontrou-se um
afresco do primeiro século, onde se vê o poeta em atitude de compor a Eneida. O
que lhe revelou a identidade foi o poder-se ler, no rolo de papel aberto diante
dele, o oitavo verso do poema: Musa mihi causas memora.” Conforme a Revue
Encyclopédique de Larousse, a descrição feita pela médium se aplica exatamente
ao grande homem, que nada tinha de efeminado. (Págs. 82 e 83)
79. Encerrando o capítulo, Delanne relata o
caso da aparição de um magistrado que se havia suicidado nas cercanias de sua
casa e, em seguida, considerando não haver dúvidas de que a alma possui efetivamente
um envoltório fluídico, propõe a seguinte questão: - Esse envoltório se
constitui depois da morte ou está sempre ligado à alma? Se está sempre ligado à
alma, há de ser possível comprovar a sua existência durante a vida. Eis o que
ele se propõe a esclarecer no capítulo que se segue. (Págs. 84 e 85)
80. O cepticismo contemporâneo - diz Delanne
- foi violentamente abalado pela conversão ao Espiritismo dos mais
consideráveis sábios da nossa época. A invasão do mundo terrestre pelos
Espíritos se produziu mediante manifestações tão espantosas, que homens sérios
se puseram a refletir e resolveram estudar por si mesmos os fatos. Sob o
influxo dessas idéias, fundou-se então em 1882 na Inglaterra a Sociedade de
Pesquisas Psíquicas, cujos principais resultados foram consubstanciados pelos
srs. Myers, Gurney e Podmore em dois volumes intitulados: Fantasmas dos Vivos.
(Pág. 87)
81. Da Sociedade britânica brotaram um ramo
americano e um francês. Na França, foram membros-correspondentes seus, entre
outros, os Srs. Richet, Ribot, Ferré, Pierre Janet e Liébault. Note-se que,
além da obra citada, a Sociedade publicava mensalmente relatos contidos em
resenhas sob o nome de Proceedings. (Pág. 87)
82. As experiências tiveram por objeto,
primeiramente, verificar a possibilidade de duas inteligências transmitirem uma
à outra seus pensamentos, sem qualquer sinal exterior. Os resultados obtidos
foram notáveis e essa ação de um espírito sobre outro, sem contacto
perceptível, foi denominada Telepatia. (Pág. 88)
83. Mas, de pronto, o fenômeno assumiu outro
aspecto: alguns operadores, em vez de apenas transmitirem seus pensamentos, se
mostraram aos que tinham de recebê-los, havendo, pois, verdadeiras aparições.
Como os experimentadores não eram espíritas, nem admitiam a existência da alma
qual a define o Espiritismo, viram-se constrangidos a formular uma hipótese: o
paciente impressionado não tem uma visão real, mas apenas uma alucinação, isto
é, imagina ver uma aparição. A visão é, pois, subjetiva, interna e não
objetiva. Daí lhe chamarem alucinação verídica ou telepática. (Págs. 88 e 89)
84. Se fosse possível passar em revista todos
os fenômenos de ações telepáticas referidas nos dois livros e nos Proceedings,
seria fácil, diz Delanne, demonstrar que a hipótese da alucinação não consegue
explicar todos os fatos. Cinco provas da objetividade de algumas dessas
aparições podem destacar-se dessas narrativas, como bem acentuou o grande
naturalista Alfred Russel Wallace: 1o - A simultaneidade da percepção do
fantasma por muitas pessoas; 2o - Ser a aparição vista por diversas
testemunhas, como se ocupasse diferentes lugares, por efeito de um movimento
aparente, ou então ser vista no mesmo lugar, sem embargo do deslocamento do
observador; 3o - As impressões que os fantasmas produzem nos animais; 4o - Os
efeitos físicos que a visão produz; 5o - O fato de as aparições poderem ser
fotografadas, ou de terem-no sido, quer fossem visíveis, ou não, às pessoas
presentes. (Pág. 89)
85. Claro que em certos casos, assevera
Delanne, a aparição é uma alucinação pura e simples, produzida pelo pensamento
do agente. As circunstâncias que acompanham a visão é que devem servir de
critério para julgar-se da objetividade da aparição. (Pág. 91)
86. Dentre os fatos de aparições espontâneas,
o livro As Alucinações Telepáticas, tradução resumida dos Fantasmas dos Vivos,
publicada em francês pelo sr. Marillier, mestre da Escola de Altos Estudos,
contém o relato feito pela sra. Pole Carew a 31-10-1883 envolvendo a escocesa
Helena Alexander, que, momentos antes de falecer, recebeu a visita de sua mãe,
que ainda estava encarnada. (Págs. 91 e 92)
87. Era madrugada quando a sra. Reddell, que
cuidava de Helena, então acamada, ouviu abrir-se a porta do quarto e viu entrar
uma velha muito gorda, vestindo uma camisola de dormir e uma saia de flanela
vermelha, tendo à mão um castiçal de cobre, com uma vela acesa. Quando,
avisados da morte de Helena, os parentes vieram para assistir aos funerais, a
Sra. Reddell reconheceu a velha que estivera no quarto: era a mãe de Helena
que, desdobrada, fora visitá-la. (Págs. 92 e 93)
88. Se a aparição fosse apenas uma alucinação
telepática, indaga Delanne, como pôde abrir a porta da casa e do quarto? É que
não houve alucinação, mas uma aparição verdadeira, a mostrar que o duplo é a
reprodução exata do ser vivo e que o corpo físico do agente se achava imerso em
sono durante a manifestação. (Págs. 94 e 95)
89. Um fato que se passou com o grande poeta
alemão Wolfgang von Goethe reforça esse entendimento. O poeta estava em Weimar
com seu amigo K... quando, de súbito, viu Frederico, outro grande amigo,
residente em Frankfurt, que lhe apareceu em plena rua trajando vestes do poeta
e calçando suas chinelas. Quando a aparição se desfez, Goethe percebeu que
tivera apenas uma visão, mas não atinou com a sua causa. Teria o amigo morrido
repentinamente? (Págs. 95 e 96)
90. Ao chegar em casa, uma surpresa:
Frederico ali estava, vestido com roupas do poeta e tudo então se explicou. Ele
chegara à casa de Goethe todo molhado da chuva e por isso vestira as roupas do
amigo. Depois, adormecera numa poltrona e sonhara ter ido ao encontro do poeta
e que este o interpelara assim: “Tu, aqui em Weimar?” Desde esse dia, Goethe
acreditou noutra vida após a terrena. (Pág. 96)
Fonte:
A alma é imortal, Gabriel Delanne, traduzida por Guillon Ribeiro. FEB, 6a edição.
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